Um Desconhecido escrita por Daijo


Capítulo 6
Capítulo 6




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O mês passou sem que eu percebesse. Minha mãe passara esse período, correndo de um lado para outro com as preparações do casamento. Eu pouco me interessei por isso, só fiz questão de escolher o vestido e o buquê.

Durante esses preparativos, eu mal tive contato com meu noivo. Ele só tinha tempo para seus negócios. Já não me importava com isso. Infelizmente, teria a vida inteira para suportá-lo.

No ‘grande dia’, acordei como se fosse um dia normal, a não ser por um desânimo que eu não costumava ter. Desci para tomar café, e deparei-me com minha mãe andando para lá e para cá, parecendo uma louca.

- Isso são horas de acordar? – indagou ela, quando me viu.  

Eu achei estranho, olhei para o relógio e eram sete horas.

- Eu deveria ter acordado mais cedo? – perguntei, confusa.

- Claro que não! Você deveria dormir até mais tarde hoje. – esclareceu, tentando me empurrar de volta para a escada. – Tem que estar perfeita hoje. Descanse!

- Por favor, mamãe. – pedi revirando os olhos e indo para a sala de jantar. – Vou tomar meu café. – Escutei ela resmungar algo, que eu não soube identificar.

Sentei-me a mesa e encontrei Julia radiante.

- Hoje é meu dia. – resmunguei exasperada.

- É claro que é. – disse ela, servindo-me leite. – Seu casamento! E onde vai ser a lua de mel?

- Não teremos lua de mel por enquanto. – respondi sem ânimo. – Devido a algumas complicações da empresa dele. – Ah, como eu queria que aquela porcaria explodisse.

- Sinto muito senhorita. – Julia fez uma cara de pena.

- Não sinta, pois nem eu sinto. – disse amargurada.

Após terminar o café, fui para meu local de tranqüilidade. Não tinha nada para ler, já que havia terminado meu livro.

Sentei-me a sombra da árvore e fechei meus olhos. Divaguei sobre todos os momentos bons que vivi naquela propriedade.

Minha infância solitária, em companhia apenas de livros e uma vez ou outra dos primos. Na adolescência era raro eu permanecer ali; vivia em um internato, onde só sai aos vinte anos. Foi ai que eu fiquei sabendo do casamento.

Seria difícil abandonar aquela casa e as lembranças. Sei que era algo natural da vida, mas seria mais fácil se eu estivesse indo embora de bom grado.

Permaneci um bom tempo ali embaixo daquela árvore, que praticamente crescera comigo.

Chorei. Desabafei todas as minhas angústias naquele momento. Prometi a mim mesma que nunca mais derramaria uma lágrima sobre aquele assunto.

Almocei, e para mim a comida não tinha nenhum gosto. Quase não vi meus pais, estavam atarefados com os últimos preparativos. Não tive nem a companhia de Julia.

Passei o resto da tarde no escritório de papai, revendo algumas fotos, relendo algum livro e, ora ou outra, me tornando reflexiva.

Às cinco horas voltei para sala. Ao som dos berros de minha mãe, que já havia voltado, fui tomar banho. Esse superou qualquer um dos que eu já tinha tomado. Digno de uma rainha. Só achei que a água estava perfumada demais; estava me enjoando.

Sai da casa de banho e encontrei minha mãe me esperando. Ela já havia desembrulhado o vestido. Ela sorriu ao ver-me. Pude ver a felicidade e o orgulho estampado em seu rosto. Sorri ao ver que ao menos ela estava feliz com aquilo.

Vesti-me. Antes que pudesse ver como tinha ficado, ela sentou-me na cama. Começou a maquiar-me. Logo Julia chegou para dar opinião.

Depois de alguns minutos, maçantes, elas terminaram o trabalho. Levantei-me e Julia trouxe o espelho até mim.

Eu parecia uma boneca de porcelana. Minha pele já era branca, com aquele pó ficou mais ainda. As bochechas rosadas e a boca vermelha, pintada igual a uma boneca. Achei ridículo. Elas queriam mostrar meu último dia de ingenuidade?

Desci meu olhar para o vestido branco. Feito de seda, com alguns bordados distribuídos pelo torso. Eu não quis um véu. Na verdade, por mim, casaria-me de preto; pareceu-me que esta cor era perfeita para a ocasião.

- Agora só falta o cabelo. – disse minha mãe, tirando-me dos meus pensamentos.

Elas acabaram o penteado às seis e cinco. Um simples coque a nuca, com uma mecha ondulada solta.

O casamento era às seis e meia.

Minha mãe e Julia foram se arrumar. Meu pai já estava na igreja a minha espera.

Últimos detalhes acertados, partimos para a cerimônia.

Com vinte minutos de atraso, chegamos à igreja. Meu pai estava do lado de fora conversando com um de seus sócios. Ao ver-me, abriu um largo sorriso.

- Está linda. – disse ele, puxando-me para um abraço. O seu sócio entrou depressa na igreja. Minha mãe e Julia seguiram-no, dando-me antes o buquê de rosas vermelhas.

Papai largou-me e estendeu o braço. Eu aceitei com um leve sorriso. Notei uma solitária lágrima descendo pelo seu rosto.

- Não chore papai. – pedi, enxugando sua lágrima com meu dedo. – Era isso que o senhor queria.

- Desculpe minha filha. É que estou muito emocionado.

Escutamos o primeiro toque da música soar. Era hora de entrar.

Dei, então, adeus a minha liberdade.

 


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Notas finais do capítulo

Pode-se dizer que a partir de agora entramos em outra fase da história. E adianto que aparecerão novos personagens, que terão participação importante nessa história.

Era só isso.. até o próximo capítulo então



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