A Grande Busca escrita por Rebeca Bembem


Capítulo 6
O mundo inteiro tem a chave da minha casa!


Notas iniciais do capítulo

ooooolá o/ eu sei que demoro pra postar mais capítulos, mas, sabe como é...sem tempo, sem inspiração =/ Mas espero que gostem desse :D Tá meio grande, mas é pra compensar o outro que ficou minúsculo.



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Quando digo que minha casa não estava do jeito que eu lembrava, eu quero dizer que não estava mesmo do jeito como me lembro de tê-la deixado da última vez. Quero dizer, da última vez que estive aqui a casa estava completamente revirada, de pernas para o ar, tudo estava no chão, jogado. Minha casa estava uma baderna. Porque alguém a havia invadido. Mas quando eu entrei em casa naquele dia, depois de correr um monte com Hugo, ela estava arrumada. Totalmente arrumada. Todos os documentos, cartões postais e todas as receitas médicas e passagens de avião e metrô haviam sumido do chão. Os sofás estavam de volta em seus lugares, e a mesinha entre eles também. O vaso antes quebrado estava perfeitamente intacto em cima da mesinha. "Como é possível que o vaso que estava quebrado no chão esteja inteiro de novo?" eu pensei. "Só pode ser outro vaso... mas é tão parecido...". Finalmente dei mais um passo para dentro de casa e fui em direção à escrivaninha, do outro lado da sala, e abri as gavetas, pra checar se tudo estava mesmo guardado ali. Estava. Tudinho. Enquanto pensava o quanto isso era estranho, e quem podia estar ali e já pensava na possibilidade de finalmente chamar a polícia, ouvi a porta fechando atrás de mim, e Hugo apareceu ao meu lado.

– Qual o problema? - perguntou.

– A casa não... Não devia estar assim. Quero dizer, quando Manoela sumiu, ela estava todinha bagunçada, revirada. Como já deve saber alguém que você provavelmente já sabe quem - olhei pra ele com raiva - invadiu esta casa e roubou minha irmã. Acontece que quando eu e ela chegamos aqui estava tudo uma baderna, e eu não arrumei. Como tudo pode estar tão... limpo? Quem será que fez isso? Hugo, será que as pessoas não podem parar de entrar na minha casa sem permissão?

– Calma. Fique aqui. Eu vou olhar lá em cima - era evidente que ele estava preocupado. Mas eu estava mais.

– De jeito nenhum vou ficar aqui em baixo sozinha. E se alguém entrar pela porta dos fundos ou mesmo por essa aqui da frente, o que eu não duvido nada, já que parece que o mundo tem as chaves da minha casa, o que eu faço? Não, não, não fico aqui. Vamos subir juntos, e dar uma olhada no meu quarto. Quero checar umas coisas.

Só quando pisei em casa de novo, e revivi todos os meus pensamentos durante o "sequestro" de Manoela é que lembrei que precisava urgentemente verificar uma coisa. Os colares. Eu ouvira Hugo e seu pai falando tanta coisa desses colares, sobre dá-los a uma tal mulher chamada Cersei, sobre guardá-los comigo e outras coisas que não entendia, que eu já tinha certeza que eles achavam que os colares estavam perfeitamente seguros comigo. Eu, burra, não havia pensado na possibilidade de eles não estarem comigo. Quero dizer, se conseguiram levar minha irmã, que dificuldade teriam em levar dois pequenos colares? Comecei de novo a ficar com medo, mas não deixei que isso transparecesse. Respirei fundo e fiz cara de corajosa. De jeito nenhum deixaria Hugo pensar que eu era uma bonequinha frágil. Não, eu era forte, por mais apavorada que estivesse, e mostraria isso à ele.

– Tudo bem então, você vem comigo. Fique atrás de mim e não abra a boca - esqueci-me de mencionar, mas mesmo sem percebermos, estávamos falando em sussurros.

Apenas balancei a cabeça em concordância, pois sabia que a minha tensão me impediria de dizer o que quer que fosse. Fomos pela escada da esquerda, mais perto de nós - só pra avisar, existem duas escadas na minha casa, as duas começam na sala de estar e dão em um corredor horizontal no andar de cima, que forma algo parecido com uma "varanda" com "vista" para a sala de estar lá em baixo. Enfim, subimos a escada e seguimos para o meu quarto, que como eu no fundo esperava, estava arrumado. Não falamos nada e seguimos para o quarto de Manoela, também arrumadíssimo. Continuamos andando, e Hugo subiu a escada que dava ao sótão. Ergueu o alçapão e espiou lá dentro. Virou-se pra mim, muito pálido e sussurrou quase inaudivelmente: "Nada".

Fiz sinal para que me seguisse e fui para o meu quarto, ouvindo seus passos atrás de mim. A cama de casal, no centro do quarto, com a cabeceira encostada na parede da esquerda estava feita, arrumada. Com uma colcha que eu não usava a séculos perfeitamente estendida e dois travesseiros fofinhos em cima dela. O guarda-roupa, na parede da direita, estava com todas as portas fechadas. "Isso não é normal" pensei. "Eu nunca deixo as portas ou gavetas do guarda-roupa fechadas". Entrei mais no quarto e me virei, para encarar a cômoda, bem do lado da soleira da porta, com suas gavetas também fechadas, e as caixinhas em cima delas organizadamente uma do lado da outra. Tudo aquilo era muito estranho pra mim. Não só o fato de o meu quarto estar imaculadamente arrumado, o que não é normal, mas também o fato de ele, Hugo estar ali, parado na soleira da porta, pálido, preocupado, encarando meu quarto tão diferente do que estava da última vez que o vira.

"Tenho que me concentrar nos colares. Onde você costumava guardar o seu, Alice?" me perguntei. Sentei-me na cama por um tempo e fiquei quieta, de olhos fechados, envolvida no silêncio, tentando arrumar a bagunça feita na minha cabeça nos últimos quatro dias, para me lembrar de onde eu guardava meu tão precioso colar. O que o meu avô me dera de aniversário de sete anos, um ano depois da morte de meus pais. O de pingente de ametista, roxo, com meu nome gravado em prata... eu precisava lembrar. Se eu estivesse em um dia normal, com a minha antiga vida de volta, com minha avó e meu avô lá em baixo discutindo o que iriam assistir na Tv seria muito mais fácil lembrar. Por que agora não era? Hugo, felizmente não interrompeu meu silêncio, mas permaneceu na porta, vigilante, atento. Sei disso porque abri os olhos quando um súbito lampejo de uma caixinha prata me veio a cabeça. Levantei-me da cama, e fui até a cômoda, abrindo todas as gavetas com cuidado. Até que na última, encontrei a tal caixinha. "É claro!" pensei. Era aqui que eu o guardava, não acredito que tinha esquecido! Com todo o cuidado do mundo, tirei a caixinha do tamanho de uma carta de baralho, mas mais funda, da gaveta e me sentei de novo na cama. Olhei pra Hugo e sussurrei:

– É esta. A caixinha onde o colar estava da última vez - eu disse.

Ele não respondeu. Estava mais pálido que nunca. Parecia que só agora, assim como eu, ele pensava na possibilidade do colar não estar ali, e isso o preocupava. Muito. E ele não era o único com medo ali. Criando coragem não sei como e prendendo a respiração eu abri a caixinha. Lágrimas de desespero ameaçaram encher meus olhos, mas eu não deixei que uma sequer caísse. O colar não estava ali. Eu senti meu coração quebrar em milhões de pedaços e o ar me fugir. Meu corpo todo tremia. Para esconder as lágrimas que agora eu não podia evitar que caíssem, enterrei o rosto nas mãos e respirei fundo, a caixinha deitada em meu colo. Foi quando, com um lampejo se surpresa, avistei um minúsculo pedaço de papel amarelado, habilmente dobrado. Mas antes que eu pudesse dizer isso à Hugo ou pensar no que seria aquele pedacinho de papel no fundo da caixa um barulho vindo do andar de baixo nos assustou. Era o da porta. Agarrei a caixinha com força, puxei Hugo pra dentro do quarto e fechei a porta. A chave ainda estava na maçaneta, então eu nos tranquei ali. Nem pensei que seria muito fácil arrombar aquela porta se eles - quem quer que fossem - quisessem, mas me sentia mais segura assim. Nós dois estávamos morrendo de medo, eu sentia o suor frio dele em minha mão, misturando-se com o meu. Trocamos olhares silenciosos, tentando passar um para o outro uma coragem que não tínhamos. Não nos atrevíamos a respirar alto demais. E o som de duas vozes vindas do andar de baixo ecoou pela casa até nos alcançar, ouvidos grudados à porta, curiosidade a flor da pele: a de um garoto, e a de uma garota.

– Nossa, este já é o terceiro dia desde o sequestro - dizia a garota, com voz tensa.

– Estou começando a ficar preocupado - disse o garoto, com uma voz em processo de mudança pela puberdade.

– Somos dois - respondeu a garota. - Tem mesmo certeza de que Alice não está com eles?

– Tenho - ele disse. - Posso sentir quando algum dos colares cai nas mãos de alguém com más intenções e definitivamente o colar de Alice não está nas mãos de alguém assim. Mas o de Manoela... Ah, nem consigo pensar nisso! Temos que fazer alguma coisa, Raquel!

À menção daquele nome, todos os músculos do meu corpo relaxaram, eu soltei a respiração, e seria capaz de dar um pulo de alívio. Eu conhecia a voz daquele garoto. É claro que conhecia! E a da garota também! Claro! Pedro e Raquel. Dois dos melhores amigos que eu já tive, formavam o casal mais lindo e apaixonado desde... sempre, que eu já conhecera. Ah, era bom demais pra ser verdade! Eles! Ali! Não queria me importar com o fato de que eles falavam normalmente dos colares e do sequestro, quase podia ouvir as engrenagens do meu cérebro trabalhando, tentando descobrir por que eles sabiam tanto do assunto que eu ignorava. Virei para Hugo, com um largo sorriso no rosto e ele olhou pra mim com cara de: "Qual é seu problema?" Eu apenas soltei sua mão da minha e sussurrei:

– Eu os conheço. São meus amigos. Temos que ir lá embaixo. Aposto que foram eles que arrumaram tudo. Raquel sempre foi prestativa, teria feito isso de bom grado. Vamos, agora, eles podem nos ajudar! Devem saber alguma coisa! - mas antes que eu girasse a chave na porta, Hugo pegou no meu pulso, olhou bem pra mim e disse:

– Tem... Tem certeza? Não conheço nenhuma Raquel que saiba de... bem, tudo... Não sei de nenhuma Raquel que esteja na história - eu quis perguntar que história era aquela, afinal, mas pelo olhar em seu rosto percebi que a história era longa, e tudo que eu menos queria no momento era perder um tempo que poderia gastar com Pedro e Raquel, ouvindo o que tivessem a dizer.

– Confie em mim, está bem? Por favor, eu os conheço... São boas pessoas, nunca fariam mal a alguém. Vem, confia em mim... - ele, mesmo que hesitante, concordou com a cabeça.

Nós saímos do quarto, pisando devagar, e seguimos até a "varanda", descendo pela mesma escada que usamos pra subir. As vozes vinham de algum lugar perto da cozinha. Então as seguimos.

– E você tem alguma ideia do que podemos fazer, Pedro? - perguntava Raquel, com voz cansada.

– Eu achei que se ela não estivesse com eles, estaria aqui... Não há pra onde ela possa ir não é? - respondeu Pedro.

– Fala de Alice? É... Isso me deixa preocupada. Se você diz que ela não está com os sequestradores, então devia estar aqui! A não ser que... - ela hesitou, e eu e Hugo chegamos perto da porta da cozinha. Encostamos-nos à parede, prendendo a respiração. Não sei bem porque estava me escondendo, já que os conhecia e não queria ver nenhum dos dois preocupados por minha causa se eu estava ali, tão sã e salva quanto possível. Acho que no fundo, eu queria ouvir o que eles tinham a dizer. Mesmo que soassem estranhas essas coisas malucas saindo da boca de meus dois melhores amigos que até aquele momento eu julgava normais, eu queria ouvir, porque sabia que quando eles me notassem ali, iam parar de falar e eu ia ter que começar a me explicar. Como isso seria muito injusto eu ouvi mais um pouquinho.

– A não ser que o que? Olha, fala logo o que tem pra falar, ok? Precisamos de ideias de onde essa maluca possa estar, e se você tem uma, fala logo! - disse Pedro, com tom ansioso.

– Pedro, será que... bem... a família Garcia não está envolvida nisso? - Raquel disse hesitante.

Nada. Silêncio absoluto. Eu tentava não formar a minha opinião própria sobre o que estava acontecendo, estava só escutando e imaginando a cara de abobalhado que o Pedro-vamos-logo-com-isso estaria fazendo naquele momento pra ter ficado quieto.

– Não quero dizer é claro que eles ajudaram no sequestro de Manoela! Não, não de jeito nenhum! Você sabe que Hugo... hm. é... - continuou ela.

– Apaixonado pela Manoela, eu sei. Você quer dizer que talvez eles estejam com Alice? É isso? Protegendo ela, talvez? Cuidando pra que Cersei não ache seu colar? - olhei para o lado e vi Hugo com a cara abaixada, as bochechas bronzeadas vermelhas. Uma pontada invadiu meu peito, e eu de novo me lembrei de que por mais que gostasse dele, ele pertencia a minha irmã. Devia ignorar todo e qualquer sentimento meu por ele que saísse da zona de amizade. Mas não ia pensar naquilo naquele momento. De novo virei a cabeça para a porta aberta da cozinha e fiquei encarando a porta dos fundos, enquanto ouvia duas cadeiras sendo arrastadas à minha esquerda. Eles estavam se sentando à mesinha.

– Pensei nisso. Lúcio, claro, se souber dos riscos do plano maluco vai se negar a entregar o colar de Hugo. Mas tenho medo de que não saiba dos riscos, mas só das possibilidades. Tenho medo que ele só tenha sido informado que sua mulher pode voltar pra ele e seu filho, e que esteja, nesse momento, levando Alice, Hugo e seu colar até Cersei - disse Raquel, e eu sentia a dor em sua voz.

Mas o que ela disse chamou minha atenção. Não tinha entendido completamente e meesforçava para assimilar as ideias. Esse dito plano maluco que todos estavam falando consistia MESMO em trazer a mãe de Hugo de volta? Então... Isso significava que Hugo tinha um colar também. Pelo jeito todos no mundo tinham um colar importante. E eu achando que eu e Manoela éramos especiais... Doce ilusão... Enfim, era isso que Hugo quis dizer quando falou em: "Não posso deixar essa oportunidade passar", "Não sabe que podemos trazer ela de volta?". Só havia uma coisa que eu não entendia: como alguém podia ser trazida de volta da morte? Ou será que ela não morreu, e está presa em algum lugar por aí, como minha irmã? Mas se esse fosse o caso, por que alguém ia precisar de colares pra libertá-la? Passaram-se alguns momentos de silêncio, que usei para colocar alguns pensamentos em ordem.

Ok. Pelo que eu ouvia, essa tal de Cersei tinha um plano. Os riscos eram graves, grandes. Mas as possibilidades também. E pra esse plano dar certo ela precisa de colares. O meu, o de Manoela, e o de Hugo pelo jeito - nota mental: pedir a Hugo pra ver seu colar. O de Manoela, segundo Pedro, estava nas mãos de alguém com más intenções. Como ele sabia disso, eu não faço ideia. O de Hugo, pelo jeito, estava com ele. Mas e o meu? Pedro disse que definitivamente não estava nas mãos de alguém com más intenções. Não está comigo. Nem com Hugo ou com Lúcio, nem com eles. Então com quem estaria? Tentei deixar de lado a dor que ignorar onde a única coisa que me restava estava causava em mim. Esses homens chamados "sequestradores" vieram a minha casa pegar nossos colares, minha irmã "entrou no caminho" e eles a levaram junto. Tudo bem, até aí eu só organizei tudo que Lúcio, Hugo, Raquel e Pedro falaram às minhas costas. E por tudo isso que eu ouvi, só podia deduzir que: Lúcio, Raquel e Pedro achavam perigoso levar o colar até essa mulher Cersei - nota mental: conhecer essa mulher e lhe dar um colar de presente, já que gosta tanto deles. E eu estava confiando em quem? No ÚNICO que acreditava que isso era o certo a se fazer. Esse rapaz em pé bem do meu lado, que evitava me olhar nos olhos quando olhava pra ele, mas que ainda segurava minha mão, bem apertado, fazendo carinho nela. Antes que eu pudesse ficar louca com tanta coisa em minha cabeça eles voltaram a falar.

– Nossa, isso seria bem ruim - disse Pedro. - É sério. Não podemos deixar que isso aconteça. Vamos agora até a casa deles. Não me lembro bem de onde é. Faz tempo que não vou lá. Você por acaso não sabe onde é, né?

– Eu? - disse Raquel surpresa. - É claro que não! Eu... Pff... Esqueceu que me mantém escondida, seu bobão?

– Ah, é... - ele riu um pouquinho, e eu ouvi duas cadeiras sendo arrastadas. Estavam levantando. Ouvi a risadinha doce de Raquel e passos em direção ao corredor onde nós estávamos estacados. Não queria que me vissem espionando, então puxei Hugo até a soleira da porta e entramos na cozinha.

Eles ficaram surpresos. MUITO surpresos. Raquel levou a mão à boca, ofegante. Pedro arregalou seus grandes olhos azuis o máximo que podia e puxou Raquel pra perto quando viu Hugo. Mas eu tinha que parecer mais surpresa ainda. Afinal, como poderia esperar que meus amigos estivessem ali, na minha casa? Pff, eu tinha que estar MUITO surpresa também. Por isso fingi o máximo que pude, dei um gritinho, um pulinho - bem patéticos, mas fazer o que - e fiquei muda por um instante, encarando bem a aparência dos dois, tentando controlar a enorme felicidade que tinha entrado em mim ao vê-los.

Pedro estava igualzinho. Alto, cabelos loiros desgrenhados - ele nunca me deixa arrumar - olhos grandes e azuis e grandes tênis de skatista, além de uma camisa xadrez e uma calça jeans. Virei-me para Raquel. Igualzinha também. Lindos e brilhantes cachos ruivos lhe desciam às costas. Pequenos e um pouco puxadinhos olhos castanhos, brilhando de algo que parecia felicidade. Uma calça jeans skinni, uma blusa grande com o desenho de um panda e um all star vermelho. Ah que saudade que estava dos dois. Voei no pescoço de Pedro, sem que a força mínima que Hugo fez pra segurar minha mão tivesse algum efeito. Abracei-o com toda a força que pude, dizendo meio debilmente "O que estão fazendo aqui?" ou ainda "Nossa, que saudade, você está bem?". Soltei-me dele e ouvi respostas como "Claro, estou ótimo" e também "Você está bem? Deixou-me muito preocupado, menina". Olhando pra Raquel, já com as mãos caindo ao lado do corpo, eu afirmei com a cabeça, enquanto voava no pescoço dela também. Abracei-a por um tempo, tentando fazer com que soubessem que não precisavam se preocupar comigo, eu estava ótima. Morrendo de fome, mas ótima.

Quando a soltei, o clima ficou pesado de imediato. Notei que Pedro queria esconder Raquel atrás dele, e Hugo a encarava firmemente. Fui ao lado de Hugo e pensei em algo inteligente a se dizer. Geralmente, em momentos como esse, simplesmente ficava quieta e conversava com o olhar, mas agora eu precisava ao menos formar uma frase.

– Olha gente, pelo que posso ver vocês se conhecem, não? - perguntei hesitante.

Hugo e Pedro afirmaram com a cabeça, os dois ainda se encarando friamente. Ótimo. Eles se odeiam, pensei.

– Parece que não gostam muito um do outro, não é? - falei, o mais baixo que pude, começando a ficar com medo daqueles olhares raivosos - O que acham de esquecerem as desavenças e se sentarem comigo e com Raquel lá na sala? Hein? Acho que vocês precisam me esclarecer umas coisas, não acham?

Raquel saiu detrás de Pedro. Não entendia porque ele a escondia. Tudo bem, eles são namorados desde sempre, mas Hugo não ia roubar Raquel só de olhar pra ela. Mas algo me dizia que esse não era o motivo principal. Então Raquel olhou para Pedro, o olhar carregado de "está tudo bem" e disse:

– Ela está certa. Vamos, precisamos conversar. Não vai fazer mal. Confie em mim, querido, tudo vai dar certo. Alice merece ouvir a verdade, vem - e com isso, ela puxou um pouco Pedro pela mão. Ele segurou a dela com muita força, ainda com raiva, mas seguiu para a sala, reservando a mim um pequeno sorriso e um olhar caridoso, enquanto se encaminhavam para lá.

Eu, com certeza, não ia ficar sem comer nem mais um minuto sequer. Estava MORRENDO de fome. Por isso, andei até a geladeira, sem trocar palavra com Hugo, disposta a adiar o máximo possível nossa conversa, com medo de poder ouvir a confirmação do que temia. Ele não estava me levando até Cersei pra me ajudar a resgatar Manoela, como me disse antes. Eu tinha medo que ele confirmasse que, só ficou comigo até aquele momento porque queria meu colar. Só, e unicamente meu colar ele levaria até onde estava minha irmã. Ele só queria salvar sua mãe. E como eu não mais podia ajudar nisso, já que meu colar estava sabe-se lá onde, ele iria me deixar. Mas eu não queria ouvir isso. Não queria pensar nisso. Era horrível demais considerar a ideia de que dessa vez não seria diferente. E que, de novo, aquele que eu amava, iria... embora.



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Notas finais do capítulo

gostaram? REVIIIIIIIIIIEWS?



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