Eu estava de frente para o espelho, usando um roupão branco e com os cabelos molhados, eu estava preocupada, pois já era noite e em breve a Sra. Hoult iria chegar e eu ainda não fazia ideia nem do que eu ia vestir. Ouvi batidas na porta e a voz de David.

– Ever, eu posso entrar?

– Pode.

– Ainda não está pronta? - ele pergunta franzindo a testa.

– Eu não sei o que vestir, quer dizer, eu tenho este vestido que é sofisticado e é o que eu deveria usar, é recatado e chique, mas também tem este e eu o adoro, mas é simples. Ela vai me odiar Davi.

Olho desesperada para David e percebo que ele está rindo de mim, semicerro os olhos e fico emburrada, mas não por muito tempo já que ele me abraça e beija meu ombro.

– Não se preocupe, ela não é sua sogra.

– Ah não? Então talvez você devesse se afastar um pouquinho e parar de me roubar beijos nas horas mais inesperadas. - ele ri, mas não se afasta, tira meu cabelo do pescoço e beija de leve.

– Você só tem que ser você e usar o que você quiser. - reviro os olhos, já que ele não ajudou em muita coisa, mas sorrio ficando de frente para ele, anseio pelo dia que possamos ficar juntos de verdade, sem nos escondermos, mesmo sabendo que vamos sofrer preconceito por causa da diferença de nossas idades, eu não me importo.

– Obrigada, eu vou fazer isto.

– Ownt você tem sardas. - ele diz caçoando de mim e eu soco seu peito.

– Para, quase não dá pra ver.

– Dona Constance Hoult chegando meus caros amantes não tão secretos assim. - ouvimos a voz irritante de John do lado de fora do quarto.

David abriu a porta e falou alguma coisa para o irmão antes de descer as escadas.

– Ansiosa para conhecer a sogrinha Ever? - perguntou John em seu costumeiro tom de voz divertido, ele entra em meu quarto com aquela cara de coruja, sim, eu acho que ele parece uma coruja.

– Ela não é minha sogrinha corujinha enxerida. - digo divertida para John que ri alto.

– Claro que não e eu vou virar padre, tudo bem Ever, David já me ameaçou para eu não contar para a nossa mãe.

Eu cruzo os braços olhando para John, ele é irmão mais velho de David, os dois estão na mesma banda há muito tempo, conhece meu tutor bem melhor do que eu. Arqueio as sobrancelhas tendo uma ideia bem interessante, afinal estou um pouco curiosa quanto a isto já há algum tempo.

– John, você sabe que eu gosto muito de você.

– O que você quer? - ele pergunta já que não é bobo nem nada.

– É só uma perguntinha boba, você sabe, no quarto do David tem um porta-retratos com uma foto dele com uma mulher, ele deixa essa foto abaixada. Quem é ela?

– Se é uma perguntinha boba, por que não pergunta pra ele?

– Já perguntei, mas ele desconversa e nunca me responde. - eu suspiro. - Acabo achando que ele ainda gosta dela, ela deve ter sido alguém muito importante na vida dele.

– E foi. - confirma John. - mas não acho que ele ainda goste dela, você devia perguntar para ele.

– Qual é o nome dela? O que ela fez para ele? Faz muito tempo?

– Ever, eu não posso ficar te respondendo essas coisas, é o David quem tem que falar, aliás, eu nunca falei nada porque gosto muito de você e do meu irmão, mas você tem 17 anos, ele tem dez anos a mais que você, ele já passou por muita coisa e a ultima coisa de que precisa é que você o machuque, entendeu? É melhor terminar de se arrumar.

Ele sai do quarto me deixando curiosa, desconfiada e cheia de perguntas e duvidas. Termino de me arrumar e desço as escadas quando ouço algum movimento no andar debaixo e uma voz desconhecida que provavelmente era de Constance Hoult.

Desço as escadas e vejo David abraçando a mãe, uma senhora de cabelos completamente brancos, mas ainda muito nova, cheia de vitalidade, ela tinha os olhos de David e era de dar um pouquinho de medo.

Após ela cumprimentar Mary, Peter e John, ela se virou para mim, olhou-me de cima abaixo e com um olhar que eu não soube ler, disse sem nenhum sorriso:

– Walker... Ever Walker, esta então é a garota que você está cuidando David?

– Sim mãe, esta é Ever, ela é um anjo de menina.

– É um prazer Sra. Hoult.

– Por favor, chama-me de Constance, estou curiosa para te conhecer Ever. Você tem quantos anos?

– 17. - digo tímida.

– Ah, eu não sei pra que tomar a guarda de uma garota de dezessete anos, mas vai entender meu filho, não é?

– Sim, é muito difícil de entender ele. - eu digo olhando para David que me lança um sorriso furtivo, mas logo disfarçamos. - mas, é claro, eu sou muito grata a ele por tomar minha guarda, embora sinta falta de New Jersey e do meu pai.

– Eu sinto muito por sua perda. - diz Constance. - mas é natal, falemos de coisas boas, como está indo a banda meus garotos?

A noite é divertida, Constance, John e David são uma família diferente, mas certamente que se amam muito. Eles colocaram musica, cantaram, Constance tocou musicas natalinas no piano, fizemos um belo show, uma mistura de piano, com a guitarra de John, a minha voz e a de David cantando Jingle Bell Rock, com Mary e Peter de coro. Diverti-me como nunca antes. David e eu dançamos e depois fomos para a ceia.

– Ever. - começou Constance. - E como vai à escola? Está em seu ultimo ano imagino?

– Sim, eu sou uma ótima aluna, sempre fui aplicada, apesar de que este ano tive alguns probleminhas e passei para o ultimo ano pelo conselho.

– David estava saindo com a professora dela. - acusou John.

– Obrigada John, foi por pouco tempo. - disse Davi com aquela cara de inocente.

– É, você podia ter esperado acabar o ano para terminar com ela Davi, assim eu ficava com uma ótima nota em Biologia. - digo divertida para Davi que parece se segurar para não dar uma resposta tipo “mas não era você que estava se mordendo de ciúmes e queria que eu terminasse com ela?”, eu sabia que ele estava pensando nisto e ele olhou para mim com os olhos semicerrados, o que me fez reprimir uma risadinha.

– Ah, mas que bom que passou, levamos o estudo a sério, David largou a escola no ensino médio, mas eu o ameacei, disse que não pagaria aulas de musica se ele não voltasse.

– Tsc tsc tsc que feio. - digo divertida.

– Ever não pode falar nada mãe, quando ela veio pra cá, ela odiava o David a ponto de aprontar bastante, sair e passar a noite fora, sair com os drogadinhos da escola. - John abre sua bendita boca novamente.

– John! E eu não faço mais isto. - John era o maior boca aberta que eu já tinha conhecido.

Depois disto, nos divertimos contando algumas coisas que John tinha aprontado também, nós nos deliciamos com um ótimo banquete e trocamos presentes. A noite fora maravilhosa e Constance era muito divertida.

Por fim fui dormir, cansada e feliz. Desmaiei e nem vi como, mas não dormi por muito tempo, acordei era umas três horas da madrugada, morrendo de cede e ainda sonolenta, tudo naquela grande casa estava escuro, mesmo assim, calcei as pantufas e desci as escadas bocejando.

Fiquei surpresa ao encontrar a luz da cozinha acesa e vozes sussurradas vindas do outro cômodo, uma das vozes era de David sem duvidas e a outra era a voz forte de Constance, hesitei um pouco e pude ouvir um pouco do que falavam.

– Você não pode estar falando sério. - dizia a voz forte, porém sussurrada de Constance. - David ela tem 17 anos, como pode estar apaixonado?

– Ela é... Mãe ela é diferente, meiga e responsável, ela não liga se eu sou cantor de rock e rico, na verdade ela queria mesmo era voltar para New Jersey, ela não é interesseira, ela me fez mudar.

– Ah é? Você também dizia tudo isto sobre a outra e quando pretende contar a Ever? Quando pretende contar a Ever que...

Não consegui ouvir o que Constance disse depois, mas estava certo que tinha alguma coisa ali que eu precisava saber, então entrei na cozinha olhando da mulher de cabelos acinzentados para David cujos olhos azuis claros estavam arregalados e levemente vermelhos.

– O que eu tenho que saber? O que você tem para me contar?

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