Corações Feridos escrita por hyu_uga


Capítulo 3
Capítulo 3




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Naquela noite Hinata teve um sonho estranho e ao mesmo tempo gostoso.

Sonhou que estava deitada embaixo de uma ameixeira de galhos frondosos e espessos, a luz do sol era filtrada e banhava o uniforme da garota com confetes dourados, no céu de um azul profundo dançavam fiapos de nuvens ao sabor do vento.

Até onde a vista da garota alcançava havia apenas um longo campo de um verde reluzente.

Ali naquele silencio com as costas deitada na grama verde, Hinata sentia-se calma e tranqüila, o vento fazia caricias em seu cabelo e por um momento todas as preocupações do mundo haviam sumido de sua cabeça. Não havia nariz dolorido, ou criticas, ou comparações, havia apenas um silencio constante e hipnótico. Sozinha naquele lugar Hinata sentia-se bem, de alguma forma sentia-se protegida ali, como se naquele lugar ninguém pudesse feri-la, a moça sorriu inconscientemente para um par de nuvens que caminhava no céu, desejou ficar ali naquele lugar, ficar ali para sempre ouvindo apenas o murmúrio do vento e observando o movimento das folhas na copa da arvore. Desejou que aquele momento nunca terminasse que aquela calma durasse para sempre, quase podia sentir a felicidade invadir devagarzinho seu coração.

Mas um movimento no campo chamou sua atenção, a moça viu quando uma figura avançava ate o lugar onde ela se encontrava, caminhava lentamente e vestia roupas negras, negro também era a cor de seu cabelo. Hinata sentiu-se contraria ao ver alguém invadir seu momento, seu recanto, quis expulsar o intruso, mas não conseguia visualizar muito bem seu rosto.

Pergunto a si mesma quem seria aquela pessoa. Nunca chegou a obter a resposta, o relógio despertou anunciando um novo dia.

Hinata abriu os olhos encarando o teto branco de seu quarto, desejou que o sonho não tivesse acabado e que ela continuasse deitada embaixo daquela arvore, o relógio continuava gritando, não adiantava ignora-lo, mais cedo ou mais tarde teria que desliga-lo e continuar sua rotina diária, a vida ainda não havia parado...

OoOoOoOoOoOoO

- O que você fez com seu nariz? – perguntou Kiba lançando a mochila de qualquer jeito sobre a cadeira e olhando Hinata bem de perto.

A moça desviou o rosto, como se com aquele gesto pudesse evitar o olhar contestador do amigo.

Hinata havia pensado e pensado incansavelmente buscando uma desculpa que pudesse dar. Havia mentido pouquíssimas vezes em toda sua vida, e sempre que mentia sentia um remorso quase que incontrolável, mas não queria arranjar ainda mais confusão com Karin, por isso mesmo sabia que o melhor a fazer naquela situação era ficar em silencio. Teria de mentir e tinha de ser convincente.

- Ah isso aqui? – perguntou a garota como se o pequeno curativo em cima do nariz não fosse nada demais – eu acordei no meio da noite, estava com muita sede, meu quarto estava escuro e acabei trombando de frente com uma parede!

Hinata deu uma risada forçada esperando que o amigo acreditasse nela, havia repassado mentalmente mil vezes e esperava que tivesse parecido bastante convincente, tinha tentado controlar o nervosismo o máximo possível para que Kiba não notasse nada de diferente, torcia para não estar vermelha como um tomate.

Kiba levantou uma sobrancelha, fazendo cara de descrença, não podia se considerar um grande amigo de Hinata, a garota sempre mantivera certa distancia, mas ele se importava com ela, Hinata tinha uma aparência frágil, quase como se pedisse em silencio que alguém a protegesse e Kiba ficaria mais do que satisfeito em ser essa pessoa. Pena que a garota não notasse isso, e mesmo depois de tantos anos de convivência eles ainda não haviam saído do estagio 'colegas de classe. '

O rapaz de cabelos cor de chocolate e olhar ferino sabia também que Hinata era muito assediada por varias pessoas, era motivo de chacotas e de zombaria e conhecendo como conhecia o pessoalzinho que freqüentava aquela escola, não duvidada que alguém idiota, ou ate mesmo alguma idiota tivesse partido para algo bem mais agressivo. Kiba sabia que se aquilo que ele desconfiava fosse verdade, então de forma alguma Hinata não iria contar, mas ele tinha seus meios de descobrir.

- Ta certo – disse o rapaz por fim como se tivesse acreditado na historia da moça – toma mais cuidado da próxima vez.

Hinata sorriu acenando um sim com a cabeça, sentindo-se bem mais aliviada pelo amigo ter acreditado na sua historia.

Virou para frente dando de cara com Shino que olhava atentamente em seu rosto, a moça podia sentir aquele contato visual mesmo através dos óculos escuros do colega.

- O que você fez com seu nariz? – perguntou o rapaz de óculos escuros, com uma voz firme.

Kiba riu e começou a contar a historia da 'trombada com a parede' sabia que Shino também se preocupava com Hinata por isso era melhor que a moça acreditasse que os dois haviam acreditado na sua historia maluca de 'trombar com a parede', depois ele e Shino descobriram a verdade e se Hinata precisasse de ajuda dariam a ela.

Enquanto Kiba e Shino conversavam, Hinata viu quando Sasuke entrou na sala, os olhos do rapaz encontraram com os delas antes de desviarem sua atenção para outro lugar.

Sem dizer uma palavra Sasuke sentou-se na carteira ao lado e continuou em silencio, esperando o professor chegar.

De sua carteira a moça de madeixas negras soltou um suspiro deixando o nervosismo diminuir. Sasuke havia simplesmente a ignorado e era melhor assim, Hinata não queria mais confusões e Uchiha Sasuke certamente significava confusão.

Era melhor Sasuke voltar para seu mundo de esplendor e bajulação, e Hinata para seu mundo de silencio, e zombarias, era melhor Sasuke esquecer que havia ajudado uma garota que não fazia parte dos 'populares da escola'.

"É melhor mesmo que ele me esqueça." Pensou a moça em silencio, "até mesmo porque de alguma forma eu ainda não consigo esquecer o que ele me disse."

OoOoOoOoOoOoOoOoO

Quando Sasuke entrou na sala de aula a primeira coisa que seus olhos avistaram foi à garota de cabelos negros, olhos cristalinos e curativo no nariz.

Desviou o olhar para que ela não percebesse que ele a observava.

Não queria admitir para ela, na verdade não queria admitir para si mesmo, mas desde que aquela garota saíra correndo da sua casa debaixo de um temporal ele estava preocupado.

Ficou pensando consigo mesmo no dia anterior, se ela havia conseguido chegar em casa sem mais problemas, perguntou-se se o machucado no nariz dela realmente não havia sido nada demais e se um simples curativo resolveria o problema.

Mas vendo-a naquele momento sentada na cadeira como se nada tivesse acontecido Sasuke sentiu um tremendo idiota por ter se preocupado, sentiu-se um tremendo babaca por te-la ajudado no dia anterior.

Sentia-se extremamente irritado por ter se preocupado com alguém, definitivamente ele estava longe de ser o tipo de pessoa que se preocupa com o que acontecia aos outros. Só havia uma pessoa no mundo que ele se preocupava,e essa pessoa era ele mesmo.

Era melhor esquecer aquela garota e todos os seus problemas, de problemas já bastavam os seus próprios, entregaria para a garota os livros que ela esquecera em casa para e depois nunca mais eles trocariam uma palavra.

O plano parecia perfeito para o rapaz, que viu o professor entrar na sala, dentro de pouco tempo ele estaria definitivamente longe daquele problema e de Hyuuga Hinata.

OoOoOoOoOoOoOoO

Não foi tão simples quanto o rapaz achou que seria.

Aquela situação já estava começando a tirá-lo do serio, toda vez que ele chegava perto de Hinata a garota olhava espantada para ele, e ia em direção contraria sem dar tempo para que ele abrisse a boca para pronunciar uma única palavra.

Hinata estava fugindo dele assim como o diabo fugia da cruz, e ele nem ao menos sabia o porquê.

Não estava acostumado com aquele papel de correr atrás das pessoas, normalmente eram as pessoas que corriam atrás dele, essa era a natureza das coisas, mas aquela garota parecia ignorar completamente aquilo e cada vez que o via mudava de direção, ou começava a conversar com alguém.

"Ela só pode ta zuando com a minha cara" pensou Sasuke muito irritado procurando a garota entre os corredores no intervalo de uma das aulas.

Já estava cansado daquela brincadeirinha de gato e rato, droga ele só queria entregar o maldito livro para aquela garota louca e nunca mais falar com ela.

Kami-sama era pedir algo muito complicado de se realizar.

O rapaz parou no corredor do terceiro andar olhando ao redor, 'nem sinal daquela louca' pensou ele, logo o professor estaria na classe e lá se ia a chance de dizer adeus ao seu problema. "Ela só pode ta querendo se aproveitar de mim." Continuou a pensar o rapaz enquanto andava com passos firmes pelo corredor. "Deve ta querendo que eu vá falar com ela na frente de todo mundo, pra que a escola inteira descubra que eu a levei ontem pra minha casa, e ela possa espalhar pra meio mundo que a gente ta namorando".

Sasuke praguejou baixinho e se amaldiçoou mais uma vez por ter ajudado aquela garota.

" Eu já deveria ter imaginado que ela ia se aproveitar da situação" pensou o rapaz agora olhando para os corredores com menos gente pois logo a próxima aula iria começar. "Todos querem se aproveitar da minha popularidade, porque com ela seria diferente?, "Isso é bom para que eu aprenda a nunca mais ajudar ninguém, você é mesmo um idiota Uchiha Sasuke".

Nesse momento o rapaz virou um corredor e a encontrou.

Ela estava parada debruçada em uma janela, eles estavam no quarto andar e o corredor estava vazio. Lá fora as arvores balançavam com um vento que trazia o calor daquele dia, o vento invadia o corredor fazendo com que os cabelos da garota balançassem naquele ritmo.

Por um momento o rapaz perdeu a fala, e ficou somente a admirando.

Sasuke sabia que Hinata era bonita, mas ali naquele momento parada em silencio olhando a paisagem pela janela. Sasuke achou-a diferente...

Ela tinha um brilho nos olhos cor de perola, a pele do rosto muito branca estava ligeiramente rosada dando pra ela a aparência de uma boneca de porcelana, e ela sorria...

E o sorriso dela o encantava, era um sorriso tímido e discreto, quase imperceptível, mas estava ali a deixando deslumbrante, e encantadora. Uma imagem que Sasuke só podia olhar.

Hinata percebeu que estava sendo observada e encontrou Sasuke olhando para ela, a moça deu um passo para trás e desceu correndo mais um lance de escadas.

- Perai – gritou o rapaz tentando segui-la – eu só quero falar com você. Espera!

Mas ela não esperou.

OoOoOoOoOoOoOoO

Na lousa o professor escrevia num ritmo rápido, o som do giz contra o quadro negro e o murmúrio das conversas era tudo que se podia ouvir dentro da sala.

Aquela era a ultima aula antes que o sinal batesse libertando todos do estupor de mais um dia na escola.

Sasuke havia passado o dia inteiro tentando se aproximar de Hinata, mas a garota o evitara todas as formas possíveis.

Sem saber o motivo daquilo o rapaz se sentia contrariado, queria muito devolver os livros para a Hyuuga e acabar definitivamente com aquela historia, mas estava curioso demais, queria também saber o motivo de toda aquela distancia imposta pela garota.

O rapaz consultou o relógio de pulso, três minutos para que o sinal tocasse. Guardou o material rapidamente sem dar ouvidos ao que professor dizia a classe. Reparou que Hinata também guardava o material, Sasuke sabia que ela era sempre uma das primeiras a deixar a escola.

O rapaz dos olhos cor de ônix estava determinado, iria atrás daquela garota nem que tivesse que seguir ela ate sua casa, devolveria seus livros e perguntaria por que ela o estava evitando, obteria a resposta e nunca mais falaria com ela.

Dessa vez ela não tinha escapatória, se fosse preciso ele correria atrás dela.

O sinal soou despertando todos os alunos que deixaram a sala fazendo um grande estardalhaço, viu quando Hinata se adiantou misturando-se a multidão que tomava conta do corredor, mas mesmo assim não a perdeu de vista.

Para sua surpresa a garota não foi em direção a saída costumeira que dava no pátio, mas há uma saída que dava para quadra e pra o portão que ficava atrás da escola, sabia que alguns alunos saiam por ali mas eram raros.

Reparou que a garota tinha um passo rápido e caminhava com muita pressa, Sasuke perguntou a si mesmo o por que.

OoOoOoOoOoOoOoO

Hinata caminhava muito rápido, sabia que poucos alunos usavam aquela saída do colégio e torcia para que Karin não fosse nenhum deles.

Depois do incidente ocorrido com a garota do terceiro ano, Hinata tinha certeza que era melhor ficar longe de qualquer pessoa que pudesse trazer confusões. Karin se encontrava no topo dessa lista seguida de perto por Uchiha Sasuke.

Lembrando no garoto de cabelos negros, a moça ficou se perguntando o motivo de Sasuke ter tentado falar com ela durante todo aquele dia.

"Provavelmente para me criticar ainda mais" pensou a garota de forma amarga.

Mas Hinata não queria ficar perto de Sasuke, as pessoas reparavam demais nele, ele era alguém que estava em evidencia demais, se ficasse perto dele, se por acaso vissem ela, um simples menina sem nenhum atrativo, que não era nem um pouco popular, bastaria isso para ela ter todo o resto da sua vida sendo zombada dentro daqueles muros, e Hinata sabia que já tinha toda a zombaria que podia suportar. Tinha certeza que aquilo que Sasuke queria lhe dizer, não seria nada de importante.

Deu de ombros e continuou a andar, ouviu o som de passos rápidos logo atrás de si, olhou para trás e viu a figura do próprio Sasuke seguindo-a com cara de pouco amigos.

- Ei Hinata será que da pra me esperar? Eu quero falar com você – disse o rapaz caminhando em sua direção.

A moça teve que admitir que Sasuke estava determinado a falar com ela, era melhor acabar logo com isso e ouvir o que ele tinha a dizer, tinha que aproveitar enquanto o quadra estava vazia e não tinha ninguém os observando.

- O que você quer Sasuke? – perguntou a garota num tom de voz muito mais ríspido do que pretendia.

- Você esqueceu esses livros lá em casa – respondeu o rapaz devolvendo os dois livros para Hinata.

A moça com os olhos cor de perolas pegou os livros, tinha realmente esquecido por completo deles, que bom que Sasuke os tinha devolvido, ficaria com vergonha se tivesse que ter pedido a ele. Sentiu-se aliviada, quando descobriu que era algo tão simples quanto à devolução de livros.

- Obrigada – disse Hinata virando-se para continuar a ir embora.

- Espera ai – o rapaz colocou a mão sobre o ombro de Hinata com um movimento obrigando que ela olhasse em sua direção.

Hinata notou que Sasuke era tranquilamente, uns vinte centímetros mais alto que ela.

- Por que me evitou o dia inteiro hoje na escola? Tem alguma coisa contra mim que eu não saiba Hyuuga? – o tom de voz do rapaz era acusador.

- Não tenho nada contra você Sasuke – respondeu Hinata olhando dentro daqueles olhos gélidos cor de ônix – Apenas não queria confusão, já me basta o que aconteceu ontem.

- E por acaso eu sou sinônimo de confusão? – perguntou o rapaz que estava indignado – se você não se lembra fui eu que te ajudei ontem, não foi por minha causa que você ta com esse nariz todo arrebentado, na verdade eu só quis te ajudar, e você me agradece primeiro esquecendo esses livros ai em casa, depois me ignora quando eu só quero devolver a porcaria dos livros.

Hinata arregalou os olhos diante do discurso do rapaz, os olhos dele brilhavam de forma fria e Hinata sentia todo o corpo tremer, por um momento a cena onde levava um soco no nariz lampejou em sua mente, mais uma vez o sentimento de incapacidade segurava todo seu corpo.

- Quer saber de uma coisa Hyuuga, quem é sinônimo de confusão é você. Eu não deveria ter te ajudado com a Karin, deveria ter deixado ela te bater o quanto quisesse, já que você parecia não ter vontade nenhuma de se defender mesmo – a voz de Sasuke tinha agora um desprezo escancarado – os livros tão entregues, não precisa agradecer.

Hinata sentiu as mãos tremerem, uma espécie de tontura deixava seus pensamentos confusos, era como se visse a cena de um outro ângulo que não aquele onde estava vendo as costas do rapaz se afastar.

De repente todas as palavras ditas contra elas formavam uma cortina em sua mente, o sangue corria muito rápido em suas veias, o coração batia disparado dentro do peito. Tudo ao redor parecia irreal, sem tomar muita consciência do que estava fazendo, a moça segurou um dos livros olhou bem as costas de Sasuke e atirou contra ele com toda sua força, antes que ele ficasse longe do seu alcance.

- AI! – gritou o rapaz mais pela surpresa do que pela dor – o que você pensa que... – mas nesse instante Sasuke parou olhando a garota na sua frente.

Hinata tinha a cabeça baixa com a franja caindo em sua face, não dava para ver seu rosto ou seus olhos, mas ao lado do corpo a garota tinha os punhos fechados, mesmo aquela distancia o rapaz percebeu que ela tremia.

- Você acha que eu não tentei me defender... – disse Hinata e sua voz não passava de um murmúrio e Sasuke teve de prestar atenção para ouvir tudo – mas isso é mentira... ISSO É MENTIRA!

O rapaz arregalou os olhos ouvindo o grito lançado contra ele, estava espantado demais para dizer qualquer coisa.

A garota havia erguido seus olhos e Sasuke pode ver que Hinata lutava para conter as lagrimas, os olhos cor de perolas estavam ainda mais brilhantes parecendo duas estrelas, a garota mantinha o queixo erguido como forma de desafio para o rapaz, os punhos cerrados ao lado do corpo mostravam que ela estava determinada.

- Deve ser muito fácil pra você ficar me julgando – disse Hinata sem desviar seus olhos do rapaz – você deve se considerar o melhor em tudo, e ter capacidade de resolver todos os problemas, provavelmente não deve saber o que é tentar algo e não conseguir, acho que você nunca conheceu a palavra fracasso...

Sasuke estava em silencio ouvindo tudo, de alguma forma aquela palavras faziam com que ele se sentisse mal...

- Com certeza você provavelmente nunca deve ter sido rejeitado pelas pessoas – continuou Hinata no mesmo tom de voz severo – e se alguém um dia arrumar briga com você, então você vai ter inúmeras pessoas te defendendo, porque..., porque você é querido e todos te adoram, você não sabe o que ser zombado ou humilhado, não sabe o que se sentir fraco em relação há outra pessoa ou ate mesmo inferior. Você sempre esteve nesse pedestal onde as pessoas te colocaram com o titulo de "O Melhor", não sabe como é estar naquela situação... se sentindo impotente e incapaz de revidar... você não...

A voz da garota falhou por um instante, e uma lagrima a traiu deslizando em seu rosto marcando a pele excepcionalmente branca.

- Você não sabe como é – disse por fim a garota num tom de voz agora triste e distante – e por isso mesmo que não te dou o direito de me julgar.

Sasuke ainda olhava espantado para a garota, Hinata tinha os olhos banhados pelas lagrimas não derramadas, ainda estava com o queixo erguido, desafiando que dissesse algo há ela. Mas o rapaz não queria dizer nada, as palavras da garota tinham acertado um lugar frágil nele, e mesmo com toda aquela proteção, mesmo com toda aquela casca que ele criara em torno de si próprio para se proteger, para evitar que as pessoas o conhecessem, para evitar demonstrar seus sentimentos, mesmo assim as palavras daquela garota invadiram sua couraça e arranharam seu coração, sentiu-se um tremendo idiota, porque sabia somente ao olhar para aquela garota parada em sua frente, que suas palavras também a havia ferido.

Sasuke não podia culpá-la por aquelas palavras, sabia que provocara sua raiva no momento em que havia dito tudo o que queria a Hinata sem mesmo pensar nas conseqüências.

Os dois ficaram se olhando em silencio... Ambos com os corações feridos.

Sem poder suportar mais um só minuto, Hinata derramou as lagrimas que caíram abundantes sobre seu uniforme marcando ainda mais o rosto, não tentou conter o pranto ou esconde-lo do garoto a sua frente que ela sabia a olhava vendo sua lagrimas caírem.

Hinata sentia-se triste e magoada, e mais uma vez o vazio que sentia em seu peito retornara com uma pontada longa e surda.

Parecia que toda sua vida resumia aos seus choros contidos, e seus fracassos, era como se alegria fosse algo distante do seu mundo e muito longe da sua -se desamparada e irremediavelmente sozinha. Não se importava que Sasuke visse seu choro, não se importava com nada no mundo, apenas queria ficar parada ali chorando por toda solidão que sentia invadir seu peito, já não tinha mais forças para ficar em pé.

- Por favor, pare de chorar – a voz era de Sasuke que havia aproximado sem que ela pudesse perceber – eu não sou bom para consolar as pessoas.

- Eu sei que deveria lhe pedir desculpas – disse o rapaz e dessa vez sua voz era calma e tranqüila – mas também não sou bom em desculpas, mas não vou mais dizer coisas que te deixam nesse estado tudo bem?

Hinata enxugou as lágrimas restantes com as costas das mãos, os olhos agora estavam vermelhos mesmo assim ainda brilhavam. Sasuke achou-a muito parecida com uma criança.

O rapaz apanhou o livro que estava caído no chão, limpou a poeira e entregou a garota que o pegou com a cabeça baixa.

- Vem – disse o rapaz andando na frente segurando a mochila por sobre um ombro somente – eu te acompanho até em casa.

A moça ia abrir a boca e dizer que não precisava, mas quando sentiu os olhos do rapaz sobre os seus percebeu que aquilo não era um convite, e ele iria acompanhá-la de qualquer jeito, entre olhares silenciosos os dois se entenderam.

Hinata deu uma breve corridinha, para acompanhar o rapaz. Reparou que Sasuke caminhava olhando para frente e não dizia nada, achou melhor ficar em silencio também, ficou olhando o perfil dele, seus olhos agora não estavam tão frios, pareciam distantes, longínquos e inatingíveis, olhando de perto Hinata achou que aquele era o rosto de alguém triste, mas achou errado pensar isso dele.

O cheiro de Sasuke agradou muito a garota, era um cheiro masculino de um perfume suave apenas uma nuance mesmo assim perceptível.

No céu o sol já estava bem baixo e não faltava muito para que a noite caísse, a moça percebeu que Sasuke a seguia deixando que ela tomasse a escolha das ruas, continuava a caminhar ao seu lado em silencio.

Um pouco antes de chegarem a rua de Hinata a moça parou olhando a paisagem, morava num bairro alto e lá embaixo estendia-se a cidade com suas milhares de luzinhas iluminando a noite, próximo dali havia uma imensa arvore em cima de uma colina, curiosamente Hinata lembrou que era uma ameixeira. Naquela época do ano as flores ainda não haviam aparecido, e a arvore mostrava apenas folhas grandes de um verde lustroso.

- É uma ameixeira – disse a voz do rapaz no silencio da rua – é uma arvore muito bonita.

Hinata concordou com um aceno de cabeça.

- É sim, é minha arvore favorita.

Caminharam mais um pouco em silencio até Hinata parar em frente há uma casa simples, mas muito elegante Sasuke olhou demoradamente para a casa, parecia ser muito confortável e não tinha nem um pouco do ar solene da mansão Uchiha, particularmente Sasuke preferia casas como aquela.

Hinata o olhava com olhinhos brilhantes, aquela altura a noite já havia caído por completo e no céu um manto estrelado se estendia por sobre suas cabeças. O rapaz achava que aquela garota tinha o brilho das estrelas nos olhos.

- Até amanhã – disse Sasuke simplesmente indo embora calmamente pela rua.

Hinata não respondeu por alguns instantes a sensação de solidão havia sumido enquanto ele estava ao seu lado, desejou que ele pudesse ficar não queria ficar sozinha de novo.

Largou o material no chão e correu em sua direção. Pegou timidamente as mãos do rapaz fazendo com que ele parasse e olhasse para ela.

- Você pode não ser bom em pedir desculpas, mas... – Hinata falava sem olhar para Sasuke na sua frente, mas continuava de mãos dadas com ele – me desculpe de verdade.

- Não precisa se desculpar – Sasuke respondeu rindo – aquela livrada não doeu nada.

A moça ergueu seus olhos e ele entendeu que ela pedia desculpas por suas palavras, um sensação gostosa invadiu seu coração como se de repente um raio cálido de sol tivesse invadido um cômodo escuro trazendo luz e um pouco de calor. Seu coração de um pulo dentro do peito.

- Tudo bem – respondeu Sasuke com toda sinceridade – Até amanhã na escola.

- Até.

Hinata ficou ali parada no meio da rua até ver Sasuke sumir virando a esquina, entrou na casa que estava em silencio, mais uma vez o pai não estava.

Subiu para o quarto e debruçou-se na janela, dali onde estava podia divisar um pedacinho da copa da ameixeira.

Sorriu em silencio tendo uma forte intuição de quem seria a pessoa no seu sonho naquela manhã...

Continua...


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