Acordei e rapidamente fechei os olhos de novo, a claridade cegava meus olhos. Levantei-me, sabendo que não conseguiria continuar deitada. O relógio ao lado da cama indicava 10h am e todas ainda estavam dormindo. Fiz uma rápida higiene matinal e fui para o meu lugar preferido nos sábados de manhã: biblioteca.

O castelo descansava num silêncio profundo. Era de se esperar que os efeitos do baile durassem pelo menos até segunda. Com metade dos alunos de ressaca, a tranquilidade era quase palpável.

Sentei-me a mesa do corredor de “Artes das Trevas”, peguei o primeiro livro que ao meu lado. Não prestei muita atenção nas palavras, minha mente vagou espontaneamente pela noite anterior.

Só consegui pensar em uma coisa: Annie e James.

E, é claro, Albus.

Estava voltando para o Salão da Sonserina quando o encontrei.

Albus estava com a mesma garota que tinha saído do baile, ele sussurrava alguma coisa em seu ouvido enquanto a prensava na parede do corredor. Passei direto, tentando ignorar meu estomago que se embrulhou ao vê-lo.

Continuei andando então me assustei ao sentir meu pulso sendo puxado e meu corpo se chocando com o do meu primo.

– Idiota – Disse sentindo o hálito dele invadir minha boca.

– Eu adoro quando você me xinga – Albus me provocou.

– Vai te catar, Albus!

– Também te amo, minha ruivinha preferida.

Afastei-me ofendida.

– Preferida? Por acaso você tem ouras ruivas?

Ele revirou os olhos divertido e percebi que ele estava magoado por algum motivo. Um motivo com o mesmo sobrenome que ele, Potter.

Albus me puxou pela cintura e eu me deixei levar. Ele sempre esteve lá por mim quando eu precisasse me distrair um pouco. Era a minha vez de estar lá por ele.

Engoli em seco ao me lembrar do que aconteceu depois.

Levei minha mão a boca sentindo o gosto dos lábios de meu primo. Primo. Fechei os olhos e deixei minha mente se inundar em lembranças. Lembranças de quando eu era pequena e estava ou no meu aniversário ou no dele e tinha o famoso “Com Quem será” no final da música, nós morríamos de vergonha, mas sempre demos o primeiro pedaço de bolo um para o outro.

Suspirei com saudades daquela época.

– Psiu.

Pulei assustada no banco e coloquei a mão no peito controlando a minha respiração.

– Quer me matar do coração?!

– Desculpa interromper o seu momento flashback. Pensando em alguém especial, Rosie?

– Vai se fuder, Malfoy! – Encostei de novo na cadeira e coloquei os pés em cima da mesa relaxando – Acordou cedo?

– Não, ainda estou dormindo. Isso é só uma fantasia minha da sua cabeça, daqui a pouco vamos começar a fazer sexo.

– Ew, eu não quero saber os seus sonhos molhados sobre mim, seu pervertido!

– Quem disse que eu estou falando de sonhos? - Scorpius perguntou malicioso.

Intuitivamente joguei uma caneta que estava perto de mim no loiro provocativo.

– AI! Sabia que você podia ter acertado o meu olho e nunca mais ia olhar para os meus lindos e sedutores olhos cinza-gelo?

– Nossa! Eu morreria! – Disse irônica.

Elri como se dissesse “Até parece que não” e sentou ao meu lado, colocou os pés na mesa do mesmo jeito que eu e passou o braço ao meu redor. Me deixei ser abraçada e percebi que ainda estava morta de sono. Fechando os olhos, era como se eu tivesse nove anos de novo.

– Em quem você estava pensando, Rose?

– Quem disse que eu estava pensando em alguém? – Tentei desviar.

– Eu. Em quem você estava pensando?

Sentei-me ereta e o encarei.

– Eu simplesmente estava lendo o livro.

– E o livro fala sobre...? – Scorp pegou o livro antes que eu pudesse saber o real assunto dele.

– Anh... Artes das trevas – Respondi sabiamente.

– Hahaha, engraçadinha – O loiro pegou o livro que tinha escondido atrás do corpo e leu o real assunto dele – Dementadores E Suas Maldiçoes.

Congelei. Dementadores. Maldições. Maldições de dementadores. Um vulto negro cobriu minha visão e algumas manchas vermelhas passavam de um lado para o outro.

“O tempo está acabando, tic toc”

– Rose? Rosiie! Tá tudo bem?

Sacudi a cabeça e apertei os olhos com força, quando os abri novamente, era apenas Scorpius de novo.

Scorpius e seus profundos olhos cinzas, seus cabelos louros desalinhados e sua baby-look verde meio transparente que dava uma maravilhosa visão de seu abdômen sarado. Dei uma meio-sorriso e me aconcheguei em seus braços, pedindo para que ele guardasse o tal livro. Não conseguia olha nem a capa.

– Rose, o que você está escondendo? – Ele perguntou sério.

–Por que você acha que esta acontecendo alguma coisa?

– Porque sempre esteve. Desde quando nós nos conhecemos, eu sei que você tem um segredo e sei que isso te machuca. Por que não me conta? Achei que confiasse em mim.

Suas palavras foram muito para mim, deixei minhas lágrimas escorrem calmamente enquanto Scorp secava-as com seus dedos.

– Me deixe te ajudar, minha ruivinha.

Um nó se fechou em minha garganta. Tantos anos... De todas as pessoas, Scorpius era a que tinha o direito de saber. Voltei a encará-lo e senti meu mundo – o pouco que restava dele – desabar.

– Scorp, eu... Só me prometa uma coisa.

– Qualquer coisa.

– Não vai ficar com medo de mim.

– Por que eu... – Ele se calou ao perceber que eu estava falando sério. Muito sério. – Prometo.

Engoli em seco e sequei mais algumas lágrimas, decidida a não chorar mais, e abri a boca para começa a contar.

– Finalmente eu te achei!

Sabe o que as pessoas dizem sobre “tirar um peso das costas”? Não é só uma maneira de expressão. Esse tal “peso” em questão, esse mesmo que estava me derrubando, foi soprado para longe de mim como uma pena.

– Matt? O que está fazendo acordado há essa hora?

Matthew pareceu desconcertado quando viu que Scorpius não estava sozinho. Ainda mais quando percebeu o vermelho em meu rosto e o sorriso de alivio em meus lábios.

– Eu... Atrapalho?

Scorp se preparou para responder, mas eu o cortei.

– Claro que não, nós só estávamos falando sobre o livro.

Ele estreitou os olhos desconfiado, mas ignorou.

– Scorp, a gente tem que... – Matt gesticulou com a mão para algum lugar fora da biblioteca.

– Matthew! – Exclamei assustada – Você está traindo o meu primo?! Com o Malfoy?!

Matthew Zabine me olhou com raiva e mostrou o dedo do meio para mim, em resposta, mostrei os dois dedos.

– Eu tenho dois!!

– Eu tenho três, e aí? – Ele provocou numa tréplica maliciosa.

– Me deixa sair daqui antes que a situação piore! – Malfoy disse saindo.

Observei-o desaparecer pelos livros enquanto sentia meu olho umedecer novamente.

– Vai me contar o que aconteceu? – Matt perguntou se sentando à minha frente.

– Scorpius quer... Ele quer saber o que aconteceu.

– Você contou?

– Não posso.

– Por que não? – Ele segurou a minha mão solidário – Sabia que a gente fez um Verdade ou Desafio nas férias e ele disse que a pessoa que mais marcou a vida dele foi uma menina que ficou um tempo na casa dele quando ele tinha 9 anos?

Levantei a cabeça a tempo de vê-lo arquear as sobrancelhas para mim em sinal de apoio. Em seguida, ele foi atrás do amigo, me deixando sozinha com meus pensamentos e um livro assustador.