28/11 - Quarta-Feira

Minhas suspeitas se afirmaram. Eu sabia, o meu tombo em rede nacional foi assunto geral na escola. Que droga, e olha que eu tentei ao máximo fingir que nem sabia de nada, usando como defesa as seguintes falas:

"─ Eu caí? Onde? Não, deve ter sido engano"

"─ Ah, não fui eu que caí. Sabe eu tenho uma irmã gêmea com problemas mentais..."

"─ Não, eu não cai. Só estava no chão porque estava cansada... é diferente"

Haviam boas chances de todo mundo ter caído nessa, até que Val soltou a seguinte frase:

─ Sim, éramos nós na tv. Foi hilário quando a Alex voou na direção da jornalista, vocês tinham que ter visto... Ah, é mesmo, vocês viram!

Melhores amigas, as que eu tenho. Como elas puderam me jogar aos leões de East San Francisco?

Mas nem é sobre isso que eu vim escrever. Eu vim relatar em como a minha noite de ontem foi um pesadelo completo.

Tudo começou quando Val me convidou para ir dormir na casa dela, assistir sobre um casal sueco, ou algo assim, e comer uma pizza. Uma das primeiras surpresas da noite é que não era exatamente só eu a convidada.

Estavam lá também, Nina, Dan (um garoto de quem Nina se diz apaixonada até o último fio de cabelo), Max (esse é um doido do segundo ano que é amigo da Val, e por quem ela nutre um certo interesse) e (rufem os tambores para minha infelicidade) Rony.

Sim, tenho total certeza que Val não convidou três garotos de propósito. Não, ela é inteligente o suficiente para esperar que essa festa do pijama do inferno formasse alguns casais.

Bem, ela poderia ter chamado o Caleb, um nerd super fofo por quem eu tenho um certo interesse. Mas nãão, ela tinha que convidar o Rony, porque ele é rico e tem credência na escola.

Enfim, tentei focalizar meus pensamentos em algo que não envolvesse uma festa do pijama que tinha tudo para dar errado.

Mas eu estava errada. A festa não deu errado, ela apenas desandou em um ponto não muito agradável.

Por algum acaso do destino (atá, né, Val?) o filme era de terror. Bem, eu gostei que ela escolheu desse gênero porque eu não consigo sentir medo de coisas que não existem, ou que existem mas a história é idiota demais.

De propósito, Nina conseguiu colocar todos sentados no sofá de forma estratégica, de modo que apenas sobrou um lugar vago ao lado de Rony.

Lancei um olhar maligno para o loiro, que me retribuiu com um olhar assassino. Me sentei do lado dele de má vontade.

O filme não era chato... ele era mil vezes pior que isso. O tal casal sueco que ficou preso em um lance de escadas mal assombrado só sabia gritar de horror e fazer escândalo, bem tedioso.

Quando o maldito filme chegou lá pela metade, todos já estava dormido, apenas eu continuava a lutar bravamente. Mas veja bem, se você estivesse sentada do lado de Ronald Stark você faria o mesmo, não? (não responda).

Meus olhos começaram a pesar, a cabeça tombar para o lado e baba correr pelo canto da boca. Eu precisava continuar acordada, acordada, acor... acorda... a...

Em menos de 1 minuto tudo já tinha se apagado, inclusive eu.

A sensação de quando acordei hoje de manhã foi de que um trator passou por cima das minhas costas, literalmente.

Bem, não foi pior de como eu acordei. Minha cabeça estava apoiada no braço de Rony e seu rosto estava por cima da minha cabeça, sua respiração leve batendo em meus cabelos.

─ (resmungo/parte que não decifrei)... Bina... (resmungo)... Não, vem cá... (resmungo) Bina... Bina... ─ murmurou Rony por cima da minha cabeça.

Era pura alucinação da minha cabeça ou aquele ser desprezível estava sonhando com a Bina? Com a Bianca Castellare?!

─ Sai de cima de mim! ─ resmunguei, tentando empurrar seus braços pra cima ─ Rony, acorda!

─ An? Que? ─ murmurou ele, desorientado. Seus olhos estavam perdidos e o cabelo parecia um ninho de ratos.

Pulei para fora do sofá e ele me olhou confuso.

─ Da próxima vez recuse o convite da Val para "festas do pijama" ─ resmunguei.

Rony parecia estar se divertindo com alguma piada secreta. Ele segurou uma risada e me olhou divertido.

─ Como disse? ─ indagou ele, dando uma risada.

─ É. Não aceite convites da Val, da próxima vez.

Ele veio vindo em minha direção, e parou em uma distancia aceitável. Suas sobrancelhas estavam erguidas e então eu sabia que ele me surpreenderia (porque é isso que acontece, quase sempre).

─ Val não me convidou. Eu vim porque eu quis ─ revelou, colocando as mãos nos bolsos de seu jeans e afastando o rosto para me ver melhor.

Cruzei os braços e o encarei confusa. Como assim ele veio porque ele quis? Porque, afinal, ele quis vir? Fiz essa pergunta a ele.

─ Porque eu soube que você vinha ─ disse ele, pousando uma de suas mãos em meu ombro ─ e eu não perderia a chance de irritar.

Depois dessa frase espetacular ele caiu na gargalhada e saiu da sala, antes que eu pudesse dar um Hadouken em sua cara.

Rony sabia que o que mais eu odiaria em uma festa do pijama era sua presença, afinal.

Aléxia.