29/11 - Quinta-Feira

Eu não estaria escrevendo isso aqui, agora, se não fosse importante.

Apenas tenho que tomar cuidado para a Profª. Meyri não ver que estou escrevendo ou Rony reparar em algo. Sim, estou na aula de biologia e sim, isso é quase um suicídio de reputação (escrever no diário na sala de aula, digo).

Ah não, consegui distinguir algumas pessoas me olhando com uma cara estranha, afinal, meu fichário está jogado na carteira e eu estou escrevendo em um caderno pequeno sem olhar para a matéria no quadro.

Enfim, eu tive que escrever porque, como sempre, me aconteceram coisas inusitadas (leia-se: micos para o portfólio da Alex!).

Que raiva! Ninguém esqueceu o episódio da tv! A unica sorte que eu tive é que a Bina está doente, não veio pra escola, e se tudo der certo (o que eu duvido muito) quando ela voltar ninguém mais vai se lembrar disso.

Ah droga, porque ninguém se toca que...

Porque diabos meu fichário não está na minha mesa? Ele estava aqui a dois segundos! É melhor eu procurá-lo, porque provavelmente alguém o roubou...

# Alguns minutos mais tarde...

Eu to começando a ficar preocupada.

Em um dia normal eu não iria abandonar Val e Nina para escrever em um diário. Mas eu fiz.

Estranho... muito estranho.

De qualquer forma, aconteceu uma coisa muito estranha, realmente eu...

Ah, não, droga! Bateu o sinal, é melhor eu voltar para sala.

# Mais que mais tarde...

O.k., agora eu escrevo. Mas eu to começando a ficar com medo de certas coisas.

Minha sorte é que o Prof.Stewart faltou, e Thomas, meu colega nessa aula não costuma ser do tipo irritante, mas ele...

Ele está falando com Rony! E se o Rony se dá conta que eu estou escrevendo meu diário? Aposto que ele não iria hesitar em pegar e ler na frente de todo mundo e dar umas gargalhadas da minha cara.

Porém, vou ter que escrever agora mesmo.

Então... eu estava lá procurando meu fichário na aula, até que o achei jogado na lixeira. Quando vi as folhas todas amassadas soltei um grito de raiva.

Acho que deu até pra ouvir lá sala do terceiro ano.

Enfim, xinguei o quanto eu tinha que xingar, peguei meu fichário, e voltei a me sentar na carteira.

Aí veio a surpresa.

Quando abri na matéria de biologia, para copiar o restante da matéria, havia um bilhete ali:

"Alex,

Eu continuo te esperando mas você nunca vem. Seu rosto está na minha cabeça... não sei mais o que pensar."

Fiquei estática. Depois eu comecei a tremer.

Aquilo era o que? Uma bilhete de amor? Não, espera, eu não sou do tipo que recebe bilhetes de amor!

E se...? E se for realmente um bilhete de amor pra mim? Digo, alguém realmente gosta de mim!

Quando olhei para o outro lado e dei de cara com Rony tentando ler meu bilhete:

─ Recebendo bilhetes na aula enquanto eu faço todo o dever Alex? ─ perguntou ele rindo consigo mesmo.

─ Ronald, fala sério, me deixe em paz ─ resmunguei, guardando o bilhete junto com o diário na mochila.

─ Seria maneiro se a Meyri ao menos desconfiasse que você está jogando todo o trabalho para mim, não acha? ─ chantageou, sorridente.

Peguei meu fichário e dei com ele na cabeça de Rony:

─ Cale. A. Boca. E... faça isso agora! ─ ordenei, a cada pausa dando com o fichário nos ombros dele.

─ Se você parar de me agredir, quem sabe ─ disse indignado enquanto voltava a escrever.

─ Você mereceu, seu tosco ─ provoquei.

─ Será que tá difícil? Cala a boca e me ajuda aqui.

Peguei a folha de suas mãos e peguei o lápis. Para variar ele não tinha nem começado a escrever. Formulei cinco perguntas e dei para ele responder.

Bufei de indignação enquanto observava todos da sala, cada um concentrado em sua lição... mas então, eu não era a única a não estar fazendo nada.

Do outro lado da sala, estava Matt, o garoto de quem Nina gostava. Com seu cabelo castanho caindo na testa, ele escrevia alguma coisa em um daqueles post Post-it amarelo.

Então a ficha foi caindo lentamente. Revirei todo a minha mochila até achar o bilhete, então, parecia que uma bomba havia estourado no meu cérebro.

Meu bilhete estava escrito em um Post-it amarelo. Exatamente igual ao de Matt.

Aléxia.