Day By Day - Oneshots escrita por Jungie


Capítulo 1
Biologia (TaeNy) - Parte 1


Notas iniciais do capítulo

Taeyeon é a novata vinda de uma família humilde do interior, muito inteligente e estudiosa. Quando Tiffany, uma das garotas mais populares do colégio, precisa de aulas particulares de Biologia, quem melhor que a número um da classe para ensiná-la?



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/205759/chapter/1

– E então Taeyeon, está gostando do seu colégio? Já fez novos amigos? – disse o meu pai do outro lado da mesa enquanto Jiwoong enfiava um pedaço monumental de carne na boca e Hayeon brincava com a comida.


– Uhum, papai – sorri e assenti com a cabeça. – Não conheço muita gente ainda, mas isso vem com o tempo, não é?


– Estou feliz que esteja se dando bem – minha mãe passou a mão pela minha cabeça e afagou meus cabelos. – Tinha medo de você não se enturmar e isso prejudicar seus estudos.


– Claro que não, mãe! – ajeitei os óculos e alarguei meu sorriso.


Na verdade, eu estava odiando tudo.


Meus amigos de Jeju me alertaram de que os adolescentes das escolas de Seul podiam ser cruéis. Ouvi histórias de calouros que eram jogados no lixo, tinham o lanche derrubado no meio do refeitório, e outros que até mesmo eram espancados pelos mais velhos apenas por serem novatos.


Felizmente esse tipo de bullying físico não acontecia comigo por eu ser garota, mas é claro que eu não saía livre. As fofocas e burburinhos sobre mim correram desde o primeiro dia de aula. Eu e minha família éramos recém-chegados do interior e nunca estivemos em uma situação financeira muito favorável, apenas agora que papai arranjou um bom emprego na capital foi quando as coisas começaram a melhorar.


Já que sempre fomos pobres, minhas roupas eram muito menos glamorosas se comparadas às das outras garotas na escola. E ainda tinham esses malditos óculos remendados com esparadrapo... Por causa disso tudo e das minhas boas notas, ganhei o humilhante apelido de “nerd pobretona”.


Tudo bem, a parte de nerd nem me incomodava tanto. Afinal, o mundo é dos nerds, não? Inteligência é sexy.


Mas parece que ser uma “pobretona” anulava isso tudo.


Se a primeira semana já não havia sido muito legal, as próximas foram como um teste de resistência. Quase todo dia havia alguém para me lembrar de que eu não posso comprar um sapato caro ou um celular decente. Na escola eu conseguia engolir o choro, mas em casa passava alguns bons minutos aos prantos.


Eu não falava nada para a minha família por não querer ser inconveniente; afinal, só eu sabia o quanto eles batalharam pela minha educação e não iria desperdiçar minha vaga em um ótimo colégio só por causa de alguns idiotas que me perturbavam. Se eu quisesse garantir um bom futuro para eles, precisava aguentar firme.


As coisas começaram a melhorar quando fiz amizade com Yuri e Yoona, duas garotas da minha série, mas de salas diferentes. Foi algo bem repentino: um dia elas sentaram junto a mim no refeitório e começaram a me bombardear de perguntas, no dia seguinte já andavam comigo como se nos conhecêssemos há séculos. Porém eu não reclamava, elas eram divertidas e olhavam feio para qualquer um que viesse me insultar. Pela primeira vez eu sentia como se pertencesse a algum lugar naquele colégio, e não era a lata de lixo.


Eu não sei se Yuri e Yoona tinham algo a ver com aquilo, mas dias depois os insultos pararam drasticamente. As pessoas que costumavam me apelidar passavam por mim como se nunca tivessem me visto, provavelmente encontraram outro calouro infeliz para importunar. Porém quando eu achava que tudo havia terminado, as mesmas três pessoas continuavam a me encher o saco.


Jessica, Tiffany e Hara. As três faziam parte da “elite” da escola e adoravam esbanjar seu dinheiro, sua beleza e o fato de terem muitos dos garotos da escola em seus pés. Yuri me disse que Jessica e Tiffany eram melhores amigas desde a sexta série e ambas nasceram nos Estados Unidos, filhas de empresários bem sucedidos. Estavam entre as mais populares do colégio já não sabiam mais nem desde quando.


Já Hara era o patinho feio das três quando se tratava de dinheiro – o que não era exatamente um insulto, já que certamente ainda vivia em um patamar superior ao da maioria dos outros alunos. Yoona me informou de que ela era a mais “pegadora”, já que Jessica e Tiffany preferiam manter relacionamentos duradouros (“Depende da sua definição de duradouro, né!”, acrescentou Yuri) com os garotos mais desejados do colégio.


Resumindo, as três eram a materialização das panelinhas de garotas malvadas que eu via naqueles filmes americanos com meus amigos em Jeju. E eu era a pobre vítima da vez.


Mas tudo bem, eu iria superar. Afinal, podia não ter tanto dinheiro quanto elas, mas tinha dignidade, respeito e inteligência. E isso bilionário algum podia comprar.


Os dias foram se passando e os insultos nunca cessavam. Jessica e Hara pareciam dedicar uma parte da semana a criar novos apelidos e maneiras de tentar me atingir apenas por pura diversão. Tiffany, porém, parecia fazê-lo apenas por influência das amigas; sempre achei que ela tinha um quê de ingenuidade e já suspeitava que não era lá muito esperta. Principalmente quando a percebi tentando colar de mim em um teste de Biologia e vi seu papel em branco mesmo depois de uma hora.


E o que aconteceu em uma segunda-feira que não parecia nada promissora foi uma das situações mais improváveis que eu poderia imaginar.


Enquanto andava pelo corredor em busca de Yuri e Yoona, ouvi alguém me chamar. Fiquei apreensiva, já que aquela voz definitivamente não pertencia a nenhuma das duas e era fina demais para ser de uma professora. Olhei ao redor e não identifiquei a dona da voz (ou dono, talvez fosse um pobre garoto que ainda não atingiu a puberdade).


“Aqui dentro, na sala vazia!”, disse a pessoa misteriosa. Vi a porta entreaberta ao meu lado e enfiei apenas a cabeça para dentro, tentando ver quem era.


Imagine a minha surpresa quando dei de cara com Tiffany lá dentro.


A primeira coisa que passou pela minha cabeça foi fugir e não dar atenção. Por que uma das minhas três inimigas declaradas me chamaria para um lugar desses se não fosse para aprontar algo comigo? Mas o olhar cauteloso e levemente envergonhado de Tiffany me fez concluir que ela realmente não tinha más intenções. Talvez eu fosse me arrepender disso, mas entrei na sala e fechei a porta cuidadosamente.


– Você é inteligente, não é? – perguntou Tiffany rapidamente, como se estivesse com pressa de sair dali.


– Acho que sim? – respondi confusa. Aonde ela queria chegar?


– Eu não queria estar aqui pedindo isso, mas... eu preciso de aulas particulares. Minhas notas em Biologia estão tipo, horríveis, e se papai souber disso ele vai me matar! Bem, não exatamente me matar, mas ele vai tirar minha mesada, o que é motivo pra eu querer me matar! – choramingou Tiffany. Ela falava rápido e sem pausas, o que novamente me fez lembrar das patricinhas dos filmes.


– Depois de tudo que você e suas amigas fizeram comigo você ainda espera que eu te ajude! – retruquei. Sentia-me mais confiante em ser agressiva quando as outras duas não estavam por perto.


– Desculpa! Eu só te chamei daqueles nomes porque a Sica e a Hara iriam estranhar se eu não chamasse! – Tiffany fez beicinho. – Eu pago bem! Sei que você é pobre e precisa de dinheiro. – Tiffany não parecia nem perceber que sua frase poderia soar ofensiva. Parece que era realmente ingênua mesmo.


– Muito obrigada pela oferta, mas eu tenho meus princípios.


Virei-me para ir embora, mas quando botei a mão na maçaneta da porta fechei os olhos e respirei fundo. Tiffany tinha bastante dinheiro e estava disposta a pagar o quanto fosse para que seu papai não lhe cortasse a generosa mesada que devia receber toda semana. Para alguém que se julgava tão inteligente, seria bem estúpido recusar essa oportunidade. Deveria deixar meu orgulho de lado e aceitar.


– Tudo bem – larguei a maçaneta e voltei antes que ela pudesse resmungar algo. – Quanto você me oferece?


– O quanto você quiser! – Tiffany realmente parecia estar desesperada.


– Bem... que tal 20 mil won por aula? – sentia-me mal de pedir tanto, mas tinha que me aproveitar da situação.


– Ah, só isso? Pensei que iria pedir mais. – Tiffany pareceu aliviada. Achei até engraçado; o que era tanto para mim era tão pouco para ela. – Pode ser na sua casa? Não quero que nem papai e nem ninguém da escola saiba que estou tendo aulas com você. Sem ofensas!


– Não me ofendi – murmurei. O pior foi eu realmente não ter me ofendido mesmo. – Olha, eu meio que tenho algumas dúvidas quanto a isso... Minha família é um pouco grande e lá em casa fica cheio, não é um ambiente propício para estudar.


– Ah, você tem vergonha da sua casa, é isso?


– N-Não é isso!


Agora sim eu tinha ficado ofendida. Apesar de, no fundo, ela estar um pouquinho certa.


– Não esquenta com isso, eu prometo que não rio de nada! – ela sorriu. – Podemos começar amanhã?


– C-Claro...


– Ótimo! – Tiffany alargou seu sorriso e bateu palmas animadamente. Dinheiro aparentemente era mais importante para ela do que para mim. – Vou te mandar um papelzinho com o meu celular na aula hoje, aí você me diz o seu endereço, tá? Vejo você amanhã! – acenou. – E ah, saia primeiro. Irão pensar coisas se sairmos juntas.


– Tudo bem...


No que eu fui me meter?


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!