"Tsukama ete!"

"Venha me pegar!"

Quando uma das lágrimas caiu no rosto da Miku, ela deu um riso abafado, sentindo cócegas.

– M-Miku? Você não está.... - fui interrompido pela Miku.

– Desmaiada? Não. Nem tampouco fui dopada em momento algum. - ela finalmente abriu os olhos.

– Mas.... A Cantarella... - afastei as lágrimas que ainda desciam pelo meu rosto.

– Eu não tomei a Cantarella.

– M-Mas eu te vi.... - eu estava confuso. Eu vi claramente a Miku bebendo o vinho com a Cantarella. E, enquanto o fazia, mantinha um sorriso no rosto.

– Aquilo não era a Cantarella. Eu sou mais esperta do que vocês pensam. - Miku sorria vitoriosa.

– Jamais duvidei disso. Mas como você descobriu?

– Depois que você saiu correndo para o labirinto e sumiu por horas, eu continuei pelo jardim. Quando eu vi o Akaito indo te procurar, eu fui atrás, desconfiada.

*Narração Miku - FlashBack ON*

O Akaito foi procurar o Kaito? Havia algo de errado nisso. Fazia tempo que eu percebia os olhares indiscretos que Kaito me lançava. E eles não continham pudor nenhum. Eu sinto que algo de errado aconteceu alguns anos atrás, mas não sei o que.

Segui silenciosamente Akaito até o centro do labirinto. Akaito conversava com alguém que estava deitado no chão. Kaito. De longe, quase não ouvia a conversa. Akaito falava em um tom de deboche. Eu estava pensando em sair de lá, que se tratava de mais uma das brincadeiras de Akaito, quando ouço o mesmo dizer algo sobre a solução de um problema do Kaito.

– E qual seria a sua solução? - perguntou Kaito, se interessando.

– Apenas dê isso para ela. Isso resolverá todos os seus problemas. - vi Akaito estender um pequeno objeto ao seu irmão.

– O que é isso? - Kaito fitava o objeto.

– Se chama Cantarella. Isso fará a Miku dormir por muito tempo. Coloque tudo na bebida dela, sem ela perceber. - Akaito cruzou os braços atrás da cabeça e se recostou no banco. O Akaito pretendia fazer com que Kaito me dopasse? Ou será que o objeto continha algo mais devastador?

– EU AMO A MIKU! JAMAIS OFERECERIA ALGO QUE CAUSASSE ALGUM MAL A ELA! - gritou Kaito. Parecia que ele estava indignado.

– Você prefere fazer isso ou vê-la subir no altar com outro? Além do mais, o outro é o Len... - Akaito não terminou a frase.

– Eu não tenho nada contra o Len! Só não acho certo que ela se case com alguém que eu sempre considerei meu amigo! - Kaito ficou de pé e eu temia que ele batesse no Akaito.

– De qualquer jeito, fique com a Cantarella. Você que decide... No fim das contas, você não resistirá. A vingança geralmente é maior do que a racionalidade. - Akaito se levantou e eu me escondi em uma das saídas falsas do labirinto.

– Eu não vou usá-la! Jamais farei mal algum para a minha amada Miku! - pude ouvir Kaito gritar. Akaito havia parado perto de onde eu estava, sem nem tomar conhecimento de que estava sendo observado.

– Você usará e se arrependerá, assim como eu. O amor é grande mas o ódio pode ser maior. Espere só até vê-la com o outro... Você não suportará a dor. Realmente, os Shion's não tem sorte no amor.... - Akaito sussurrou, esperando que ninguém o ouvisse. Eu nunca imaginaria que o Akaito se arrependeria de algo, ainda mais de algo relacionado à estranha substância, imagino eu, chamada Cantarella. Quando Akaito finalmente foi embora, soltei a respiração que nem tinha me dado conta que tinha prendido e fui embora daquele lugar.

No dia seguinte, eu estava conversando com Len no jardim sobre nosso casamento até que um Kaito enfurecido começou a brigar com ele. Agora eu podia entender claramente o motivo das atitudes de Kaito, não que eu não suspeitasse antes, masagora eu tinha certeza. Eu estava ficando com medo de que o que Akaito disse fosse verdade. E se o ódio de Kaito fosse maior que seu amor?

Na noite anterior ao baile, acordei com o som de violino. Fui até a sacada e encontrei o mascarado tocando uma música que me levava às lembranças mais antigas de que poderia ter. A música me levou até as memórias de um menino de cabelos azulados tocando para mim, para depois ser levado bruscamente pelos pais.

A luz do luar me permitiu prestar atenção aos pequenos detalhes do mascarado. Tudo me parecia tão familiar, e talvez eu já soubesse inconscientemente quem era, mas uma coisa em especial me fez ter certeza de quem era o mascarado. Seus cabelos. Meu mascarado, meu admirador nem-tão-secreto possuia cabelos azuis como a rosa que recebi do mesmo, ao ir embora. Agora eu tinha certeza de quem era e precisava fazer algo em relação à Cantarella.

No dia do baile, esperei Kaito deixar seu quarto. Pra minha sorte, ele passou a maior parte do tempo na biblioteca. Eu invadi sorrateiramente seu quarto, após pedir para uma das nossas criadas uma cópia da chave. Em cima de sua escrivaninha, um pequeno frasco continha um líquido azul-escuro. É óbvio que aquilo era a Cantarella. Eu peguei o frasco e fui até a cozinha. Eu despejei o líquido na pia e, em seguida, amassei algumas blueberries e coloquei seu suco dentro do frasco. A cor não estava totalmente igual, mas daria pra enganar. Voltei ao quarto do Kaito e coloquei o frasco no mesmo lugar de antes.

Fui para o meu quarto e mudei minha máscara, antes da cor dos meus cabelos, para uma máscara parecida com a do mascarado e esperei a noite chegar. Mal podia esperar para saber se Kaito apareceria no baile e, se ele aparecesse, se eu conseguiria atuar um desmaio.

*FlashBack OFF*

Kaito ainda estava parado, sem reação, assim que terminei de contar o que eu havia feito.

POV Kaito

Miku havia me enganado. Tudo isso para proteger a ela e a mim das minhas loucuras. De repente, ela se levanta e sai correndo em direção ao labirinto. Eu corro atrás dela e ela apenas grita para mim:

– Tsukama ete!