POV Miku

Eu não via a hora do baile chegar. A sala de música estava arrumada. O baile seria lá, por ela ser grande o bastante e ter acesso para os jardins. As horas se aproximavam e fui me vestir. Eu escolhi um vestido preto, longo e rodado, com detalhes em branco. Minha máscara era preta, as laterais eram brancas e uma fita servia de amarração para ela não cair de meu rosto. Ela era parecida com a máscara do violinista misterioso. A única diferença era que a dele tinha detalhes dourados.

Estava prendendo meu cabelo do jeito de sempre quando ouço Mikuo me apressando. Prendo a rosa azul em meu cabelo e desço as escadas. Mikuo me esperava, totalmente pronto, no fim da escadaria. 

- Você está linda, Miku! - Mikuo me ofereceu o braço.

- Digo o mesmo de você. - e fomos de braços dados até o salão.

Muitos casais já estavam lá. Nem todas as pessoas estavam acompanhadas. Como todos possuiam cabelos e comportamentos diferentes, era possível descobrir quem era quem. Alguns casais se destacavam mais, por serem meus amigos.

Os gêmeos Kagamine estavam rindo de tudo que acontecia. Megpoid Gumi e Utatane Piko conversavam animadamente em uma das mesas. Akaito conversava com Miki, que estava  mais vermelha do que um pimentão. Akita Neru e Hiyama Kyoteru estavam no canto da sala, conversando baixo. Sakine Meiko e Yowane Haku estavam bebendo vinho, cada uma com uma taça cheia na mão, tomando longos goles e enchendo a taça novamente.

Assim que cheguei com Mikuo, fomos para uma das mesas. Eu olhava em volta e não via nenhum sinal do Kaito. Fiquei um pouco desapontada mas tentei não deixar evidente. Eu olho para a entrada da sala e vejo um casal mais do que inesperado. Kamui Gakupo entrava no salão de braços dados com Megurine Luka. Todo mundo sabia que Gakupo era um galanteador nato e que Luka era extremamente fechada. Acho que unindo os dois, o casal ficaria balanceado. Eu ria do casal quando foi anunciado que o baile começaria.

No princípio, todos estavam participando do baile. Len e Rin dançavam com uma sincronia impressionante. Gumi e Piko estavam tímidos, estranhando a proximidade. Luka parecia querer estapear Gakupo, que cada vez mais a puxava para mais perto de si. Neru e Kyoteru dançavam como se fossem bonecos, perfeitamente bem, mas rígidos. Akaito e Miki não dançavam, se trombavam. Miki pisava no pé do Akaito porque tentava ignorá-lo, de tanta vergonha que estava. Akaito tentava acalmar Miki, que por sua vez ficava mais nervosa ainda. Meiko e Haku dançavam juntas, sem largar as taças. A cada passo que davam, uma pausa era dada para beberem.

Eu dançava com Mikuo apenas por educação. Minha vontade era de voltar para o meu quarto. Eu fui interrompida e tomada para dançar com Len, Gakupo, Kyoteru, Piko e até mesmo com Akaito. Eu tinha cansado de dançar e todos os outros casais também. Gumi e Piko estavam brincando de algo, Miki e Akaito foram para algum outro lugar da casa, Neru e Kyoteru pegaram no sono, os Kagamine apostavam quem comia mais e Meiko e Haku bebiam cada vez mais. Cada uma estava bebendo uma garrafa de vinho sozinha, e elas já estavam na décima.

Mikuo foi dar uma volta e me deixou sozinha. A próxima valsa seria para decidir quem seria o rei e a rainha do baile. Eu brincava com a rosa azul quando vi alguém entrar no salão. Ele usava uma máscara preta com detalhes dourados. Sua roupa seguia o mesmo padrão. Ele veio em minha direção e, sem falar palavra nenhuma, me pediu a dança. Eu me levantei, ele fez uma reverência, se ajoelhou e beijou as costas da minha mão. Fomos para o meio do salão e nos pusemos a dançar. Depois de rodopios e passos improvisados, a valsa acaba. Nós dois somos escolhidos com rei e rainha do baile. Ele se recusa a tirar a máscara e eu também não tiro a minha. Fomos coroados e ele me levou para o jardim.

POV Kaito

Arifureta koigokoro ni ima wana wo shikake ru

"O barulho do relógio"

Wazuka na sukima nozokeba

"É mais alto quando você está lutando"

Eu sabia que estava me expondo ao ir no baile mas, mesmo assim fui. E agora era a hora de colocar o plano em prática. Eu levei a Miku ao jardim e fui pegar as taças de vinho, para um brinde. Tirei a Cantarella do bolso e virei o frasco inteiro dentro de uma das taças. Miku a bebeu, sem nem perceber. Será que isso era certo? Eu devia mesmo seguir os conselhos do Akaito?

Agora não dava tempo para arrependimentos. Miku começou a perder a consciência e teria caído no chão se eu não a tivesse segurado. Eu a levei para uma parte do jardim, mais afastada ainda do salão.

O rosto sereno da Miku me fazia pensar. Eu queria mesmo forçá-la a me amar? Eu deveria mesmo continuar com essa ideia ridícula? Quanto mais eu olhava para a Miku, mais eu via o quanto ela cresceu. A pequena menina que sempre ria de tudo se tornou uma mulher responsável, mas com o mesmo jeito ingênuo de ser. Ao meu ver, ela continuava a mesma doce e frágil criança de quando me apaixonei, mesmo não sabendo o que era na época. Aquele pequeno sentimento cresceu, se alimentando da esperança, mesmo que mínima, que eu sempre tive de um dia ficarmos juntos.

O amor que eu sinto pela Miku é algo que eu construi, que eu fui fortalecendo com o passar dos anos. Eu iria mesmo privá-la da sua livre e espontânea vontade? Eu era egoísta a ponto de não querer dividí-la com ninguém, nem mesmo consigo mesma? Lágrimas começaram a descer pelo meu rosto, enxergando apenas o rosto da pequena Miku adormecida ao invés de ver quem realmente ela se tornou. Eu tinha me tornado um monstro? Se o amor é algo bom, então por que sofremos quando amamos? Eu lutava com meus sentimentos, tendo as lágrimas de companhia, enquanto o tempo passava num piscar de olhos.