Flashback Off

– Gosta de lembrar o quê, vô? – A mais velha perguntou. Não pensou que eu contaria tais cenas para garotas tão jovens!

– Veja bem, quando duas pessoas se amam muito…

– Pare, já entendi tudo! A mamãe disse que teremos essa conversa brevemente. – Suspirei aliviado.

– Então ótimo, posso continuar a história?

– Mas vovô, por que o príncipe tem seu nome? – A voz baixinha questionou.

– Não gosta do meu nome?

– Gosto! É o nome mais bonito do mundo inteiro! – Abriu os bracinhos até não poder mais.

– Só está dizendo isso pra garantir seu presente de Natal. Ao contrário de mim, que só ganho dez dólares por me matar de estudar.

– Você ganha o que merece. E fugir pela janela não te fez merecer tudo aquilo.

– Argh! Por que você sempre fica do lado dela?! – Levantou e saiu batendo os pés.

– Espere aqui querida, sim? – Disse, antes de ir procurar a garota emburrada. Encontrei-a sentada nas escadas. Com dificuldade, sentei-me ao seu lado e toquei seu ombro.

– Eu não quero conversar.

– Nem eu. Vamos ficar aqui, só sentindo a brisa.

– Está brincando?

– Não mesmo. – Fechei os olhos e esperei que as coisas acontecessem naturalmente.

– Eu fugi por uma boa razão.

– Qual?

– Tem um garoto…

– Entendi tudo. Você se apaixonou por ele, ele por você.

– Parece sua história. Não sabia que tudo isso havia acontecido com o senhor…

– Tenho boas histórias para contar. Eu já vivi tudo o que está vivendo, por isso te entendo. E saiba que uma coisa que aprendi durante minha adolescência, era não escolher lados. Sua irmã é menor que você, é comum que ganhe mais atenção. Não quer voltar e ouvir o resto da história?

– Obrigada, e sim, eu estou muito curiosa! – Mordeu o lábio e olhou para mim - Eu te amo.

– Eu também te amo, princesinha. – Beijei sua testa.

– Vovô, eu tenho quase dezesseis!

– Mas continua sendo a garotinha que morria de medo de joaninhas, dentro do meu coração. – Ela revirou os olhos, sorrindo. Levantou-se primeiro, em seguida me ajudando. – E mais uma coisa: Quem quer que seja esse garoto, ele é muito sortudo de uma garota como você estar gostando dele.

– É um bom avô.

– Obrigado! – Gargalhamos. – Está pronta para fortes emoções?

– Sempre. – Sentei-me no balanço novamente, tomando fôlego. Afaguei a cabeça da loirinha ao meu lado e sorri ao ver seus olhinhos curiosos.

– E aí vovô, vai continuar ou não? – Cruzou os braços e balançou os pezinhos.

– Estou só me recordando da onde paramos… pode me lembrar?

– Hum, você parou na parte em que ela o viu mexendo nos papéis! Será que a coisa vai ficar feia? – Disse-me com um ar misterioso.

– Acredite, se a coisa já estava feia antes disso – Olhei para a mais velha, piscando a ela – Imagine agora.