Perfect Two escrita por oliverqueens


Capítulo 5
Vai e Volta


Notas iniciais do capítulo

Narrador: Sam Evans



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O meu acidente foi na Sexta-feira. Já era Segunda. Alguns membros do clube Glee souberam do ocorrido e foram me visitar, durante o Sábado e Domingo. Rachel, Quinn, Puck, Finn, Santana, Brittany e Rory, principalmente. Só que quem eu mais queria que se manifestasse diante daquilo, não aparecera, tampouco ligara. Blaine. Eu não sabia o que era, mas algo me conduzia diretamente a ele. O sentimento de culpa, de ter mentido, tudo isso pesava em minha cabeça.

Infelizmente, naquela Segunda eu tive que ir à escola, mesmo com o rosto ainda machucado. Havia levado alguns pontos nos lábios, o que me preocupava bastante. E se eles nunca voltarem a ser como antes? O nariz estava normalizado, porém um dos olhos era cercado por uma grande mancha arroxeada, consequência do tombo. Essa dor física, todavia, não me doía como doía a dor psicológica. Poxa, Blaine Anderson estava na minha cabeça. Eu estava enlouquecendo. Caminhar pelos corredores do Mckinley era diferente. Eu estava perdendo Blaine aos poucos. Mesmo que eu ainda não tivesse visto/falado com ele desde Sexta à noite, por telefone, eu sabia que ele não se sentiria nenhum pouco satisfeito estando no mesmo lugar que eu.

Repentinamente, fui surpreendido por um choro baixo, que não vinha de muito longe. Olhei alguns armários ao lado do meu (havia parado ali para pegar um livro) e vi alguém com o rosto escondido atrás da portinhola de um armário. Não precisava ver o rosto para identificar quem era, o visual denunciava: Era Kurt.

– Kurt? O que aconteceu? – Perguntei e percebi o rapaz fechar o seu armário. Os olhos dele viraram-se para me visualizar, bastante marejados.

– É Blaine. – Ele disse, enxugando os olhos com um lenço sedoso, de cor avermelhada.

– O que aconteceu? – Perguntei, não sabendo se ficava preocupado ou feliz. Egoísta da minha parte, mas agora eu não queria Blaine perto de Kurt e sim ao meu lado.

– Ele quer voltar para a Dalton. Não sei o que aconteceu, estou muito preocupado. Acho que é algo comigo, não sei... – Kurt continuava choramingando. – Preciso ir, Sam. – E saiu dali, me deixando sozinho.

– ESPERA, KURT! – Berrei, mas o garoto entrou em uma sala que foi fechada imediatamente.

Encaminhei-me para uma sala de aula, pois eu também tinha períodos para serem cumpridos. A aula era de Inglês e por mais que aquela disciplina fosse de extrema importância para meu aprendizado, eu não estava ligando nenhum pouco. Ocupei um lugar ao fundo da classe e fiquei brincando com a mola do meu caderno, apoiando o cotovelo no tablado da carteira e o queixo sobre a palma da mão, muito pensativo. Havia tantas coisas rondando minha mente, mas tudo por um único motivo: Blaine, Blaine, Blaine. Até quando? As razões que levariam, provavelmente, ele a sair da escola eram várias: Alguma decepção amorosa, falta de ânimo, brigas com Kurt, poder ter a oportunidade de quebrar a cara de Sebastian pelo fato dele ter insistindo tanto em mim e a mais possível razão entre todas: Eu. Era óbvio, eu havia decepcionado Anderson muitíssimo e eu não estava nada confortável com aquela situação. Levantei o braço desocupado:

– Professora, posso sair? Estou enjoado. – Pedi, inventando qualquer coisa de antemão.

– Sim, senhor Evans. Tente não demorar. – Permitiu a mulher e me levantei, saindo pela porta e indo diretamente para a sala do clube Glee. Estava vazio, nem os típicos instrumentistas estavam ali para auxiliar as canções. Não vi problemas em pegar o violão emprestado e com o auxílio do pé, puxei uma cadeira para perto. Ergui uma das pernas e apoiei o pé no assento desta cadeira, acomodando o violão sobre minhas coxas. Comecei a deslizar a paleta pelas cordas do instrumento, preparando-o. Pigarreei algumas vezes, afinal preparar minha voz também era muito importante.

– Vamos lá... – Falei para mim mesmo, sorrindo de modo torto. Então, comecei a provocar, de novo, o ritmo da música escolhida. Dear John, Taylor Swift. – Long were the nights when my days once revolved around you, counting my footsteps, praying the floor won't fall through, again. My mother accused me of losing my mind, but I swore I was fine… – Enquanto eu cantava, realizava algumas pausas, breves ou não, para tentar acompanhar o ritmo do violão. – You paint me a blue sky and go back and turn it to rain. And I lived in your chess game, but you changed the rules every day, wondering which version of you I might get on the phone tonight. – Cantei mais uma parte, sentindo uma incrível dor devastar meu coração e a mente, ao ver que alcançava o refrão. – Well I stopped picking up, and this song is to let you know why. Dear John, I see it all now that you're gone. Don't you think I wa… – Parei de repente, atropelando-me no refrão. Fechei os olhos com força, sentindo uma lágrima brotar e, então, esta escorregou. – Droga! Não sei o resto. Ou é Blaine demais para uma única cabeça. – Reclamei, deixando o violão no local anterior e saindo da sala, indo na direção do banheiro masculino.




Terça-feira. Mais um dia de aulas. Eu havia chegado mais tranquilo à escola, porém aquela tranquilidade toda não fora duradoura. Alguém soprara meu chão firme para longe, me deixando em uma cratera profunda, devastado. Próximo ao armário de Kurt, ficava o armário de Blaine e quem estava diante do armário dele? Sim, Blaine. Mas ele estava diferente e o armário dele parecia ser esvaziado. Realmente, estava sendo... É, Blaine iria embora. Tomei coragem e me aproximei. Não podia ficar preso em marcha-ré para sempre. Se eu não passasse a tomar iniciativas, ninguém tomaria.

– Oi, Blaine. – Chamei-lhe a atenção.

Ele girou o rosto e me fuzilou com aqueles olhos escuros, retraindo aquelas sobrancelhas tão bem feitas. Engraçado, todos os detalhes dele passavam a me atrair agora. Mas me atrair de uma forma psicológica. Nada muito físico. Mas é claro, se eu tivesse a minha oportunidade, beijaria sem pensar duas vezes aqueles lábios carnudos.

– Oi, Sam. – Respondeu, com frieza.

– Não seja assim comigo. Eu quero te pedir desculpas! Fui muito ruim com você, mentindo e... Ah! Como essa palavra tem martelado minha cabeça. ''Mentira''! – Tornei a falar, cabisbaixo.

– É bom que você se reconhece assim. Uma perfeita mentira. – Blaine retorquiu em tom amargurado, jogando uma pilha de livros dentro de uma saca grande.

– Está indo aonde? – Perguntei, ignorando a ofensa.

– Dalton. Vou voltar para lá. – Ele me informou, mexendo comigo. Mais e mais vezes.

– Não! Você não vai. – Interpelei, segurando o pulso dele com força.

– Minha vida está em constante declínio, Evans. Tenho perdido coisas diariamente. Meu namorado, sua confiança, minha vontade, tudo vai! Preciso ir para a minha antiga escola, me recuperar... – Ele disse. O que me deixava ''feliz'', é que ele estava falando comigo. Pensei que, depois daquele episódio no bar, ele nunca mais se dirigiria a mim. Engoli em seco.

– Você tem a mim! –

Ele riu sarcasticamente, revirando os olhos e, depois, escondendo o tom opaco, entristecido, desses, atrás das pálpebras.

– O quê? – Questionei.

– Não tenho você. Pensei que tinha. Mas você me perde tão fácil... Valeu, por tentar. – Ele altercou, muito irônico e triste. Me deu as costas e partiu, pendurando aquela saca cheia de materiais em um dos ombros másculos dele.

Sebastian, Sebastian, Sebastian! Por que eu estava pensando naquele garoto imaturo agora? É claro. Ele era bonito e com Blaine na Dalton, não perderia uma oportunidade de tentar ficar com ele, ainda mais que ambos eram solteiros. Blaine, porém, transparecia muito romantismo e não era do tipo que ficava por ficar. Sabe-se lá o que Sebastian faria para tentar derrubar esse lado cavalheiro de Blaine Anderson. O embriagaria, o seduziria até a última chance que tivesse, forjaria alguma mentira pesadíssima que contraísse a ira do moreno... Eu pensava demais. Nem parecia eu.




Sem a maior vontade do mundo – nada anormal, andava assim desde ontem – assisti a todas as aulas daquele dia e depois parti para casa, sobrecarregado de deveres. Eram tantos e eu não sabia por qual começar. Havia vários livros e o meu material de anotação espalhados pela mesa da sala de jantar, onde eu estava sozinho, tentando resolver aqueles complexos cálculos químicos. Não conseguia ter foco. A imagem (criada por mim) de Blaine e Sebastian, ambos uniformizados com a vestimenta da Dalton, surgia na minha cabeça toda hora, fazendo-me afogar em um emaranhado de pensamentos confusos. Fui movimentar meus lábios, para tentar xingar, mas acabei gritando de dor. Ainda estava com os pontos, devido ao corte de dias atrás. Fechei uma das mãos em punho, batendo-a com força contra a madeira da mesa. Certo, eu estava sem controle. Retirei meu celular do bolso da jeans e mandei uma mensagem para Blaine, em que dizia: ''Eu preciso de você. ): ''. Não propositalmente, mordi o lábio inferior e abandonei aqueles exercícios. Subi para meu quarto, onde fiquei durante horas deitado na cama, ouvindo as músicas mais dor-de-cotovelo que estavam no meu celular. Usava fones.

– Eu preciso arrumar um jeito de tirar o Blaine da Dalton! Além da saída dele me prejudicar, está prejudicando a todos do clube Glee. A voz masculina dele é a melhor entre todos os caras de lá. E com ele na Dalton, bem... As Regionais para eles estarão ganha! E eu preciso dele comigo, para ver aquele sorriso enorme todos os dias, iluminando as horas do meu dia que restarem. Preciso... Sentir a presença dele do meu lado em uma cadeira no clube, simplesmente preciso! É difícil explicar, expor sentimentos. – Falava comigo mesmo, como se refletisse em voz alta.




Permiti que os próximos dias passassem, tentando torná-los o mais natural possível, mas era complicado. O sofrimento diário de Kurt com a perda de Blaine me afetava muito e meus sentimentos sobre o atual Rouxinol, novamente, estavam muito nebulosos. Outra coisa que passara a pesar em minha consciência era o fato de ser Sexta-Feira. Exatamente uma semana depois do acidente naquele bar que eu queria esquecer totalmente. Balancei a cabeça negativamente, me auto-reprovando. ''Deixa de ser idiota, Evans'', pensei. No clube Glee, a rotina foi bastante normal e tranquila. Conversamos um pouco e depois o professor Schuester convidou Rachel, Finn e Mercedes para cantarem alguma música, na expectativa de confortar o inconsolável Hummel. Will, pensava eu, escolhera os três por serem os mais próximos de Kurt, depois de Blaine. Por falar em Blaine (vocês devem estar cansados de mim, por tanto falar nele), ele não respondeu a minha SMS que mandei para ele na Terça-feira. Continuei bastante distraído, não prestando atenção alguma à letra da canção entoada, que agora estava na voz maravilhosa de Mercedes Jones.

– Dispensados. – Ouvi o professor falar e todos, calmos ou não, foram retirando-se daquele ambiente que não tinha um clima nada leve.

Parti dali e fui para casa, onde tomei um banho demorado e, posteriormente, tomei meu rumo até a Dalton Academy. Era uma escola muito luxuosa, pelo o que eu já ouvira falar, e estava com um pouco de receio do que poderia encontrar lá. Rejeição, o mais provável. Chegado lá, não fui tão mal recepcionado. O problema fora arranjar um tempo para falar com Blaine Anderson. Ele estava ocupado com algo que não me falaram o que era e disseram que transmitiriam a ele que havia alguém querendo vê-lo, porém, manti-me anônimo, não queria afastar Blaine antes mesmo de poder ter a oportunidade de vê-lo, outra vez, perto de mim. Pediram-me para aguardar e me conduziram a uma sala vazia, com muitas poltronas e estantes de livros, com janelas grandes que abriam vista para uma paisagem muito verde. O tempo de espera foi muito extenso e eu estava muito entediado. Não queria mexer nos objetos espalhados por ali, com medo de danificar algum. Então, cerca de uma hora completa depois, aguardando, Blaine cruzou as portas abertas daquele salão, trajando a farda própria da Dalton. Ele ficava tão lindo naquele terno com detalhes em vermelho. Suspirei e o vi reprovar minha presença com um aceno negativo da cabeça.

– Não vá, deixa eu falar com você. – Disse antes dele contestar qualquer coisa a mais e me levantei do estofado ocupado. Ele ficou parado, me olhando e permitiu que eu me aproximasse. Eu podia perceber que ele estava bastante frágil, assim como eu. Já de frente a frente com ele, com poucos centímetros afastando nossos corpos, estendi meus braços e segurei as mãos de Blaine entre as minhas. Senti a maciez daqueles dedos pressionando os meus. Nisso eu podia perceber que ele me queria próximo, por mais que tivesse raiva e mágoa acumulada. – Eu...

– Não fala, Sam. Deixa eu falar. –

– C-c-erto... – Permiti, concordando com a cabeça, acariciando as mãos do garoto com gestos dos meus polegares.

– Eu vim para cá com a intenção de esquecer por completo o Kurt, o que tem dado bastante resultado. E principalmente... Estou aqui para tentar esquecer VOCÊ! – Ele começou a falar, dando ênfase em sua voz bastante masculina quando se referiu a mim.

– EU? Por quê EU? – Perguntei com curiosidade e surpresa.

– Você tem estado dentro do meu coração e da minha cabeça, Sam... Desde aquela nossa conversa depois da apresentação nas Seletivas. Você me tocou, com toda sua doçura e capacidade enorme de ser sincero. Em contrapartida, eu notei que você sabe mentir muito bem! E isso me machuca, obviamente. Você não merece ser perdoado. Estava aos amassos com Sebastian e eu lhe disse: Ele é perigoso. E é. Ele ligou para você, depois daquele acidente que você sofreu lá naquele local impuro? Eu ia lá frequentemente, mas desde que te vi lá... Deixei disso. Com você eu não quero ter lembranças ruins, só as melhores. E sobre perdoar... – Falava, como uma narração.

Ouvindo-o falar, com tanta calma, pureza... O discurso de Blaine fora uma dose e tanto para eu me apaixonar por ele ainda mais. Espera! Eu estava apaixonado por ele? Corei ao perceber aquilo. Então era paixão.

– Não vai falar nada, Sam? –

– É... Claro. Eu vim aqui com um propósito! –

– Qual é ele? –

Fez-se silêncio. Eu devia mesmo falar aquilo, devia? Vê-lo na Dalton e não no Mckinley... Aquilo precisava de reparo. Urgente.

– Volte pro Mckinley. Pelo clube Glee! – Pedi, com a voz suplicante.

Blaine soltou minhas mãos naquela hora e eu tive a sensação de estar perdido sem aquele toque sobre a minha pele. Ele estava muito sério e ainda se via traços de decepção no rosto empalidecido dele.

– Não vou voltar. – Ele me respondeu.

– Auch! – Exclamei, surpreso.

– Não vou voltar pelo clube Glee...

– Ok, então. Sinto, assim, que minha vinda aqui e espera foram em vão. Mas foi bom poder te ver e principalmente, tocar. E te ouvir. E tudo mais. –

– Eu vou voltar, Sam! –

– Vai? – Abri um enorme sorriso, fazendo os pontos me provocarem uma leviana dor, mais tranquila das que eu costumava sentir.

– Vou. Por você. Satisfeito? – Blaine, dizendo aquilo, me deixou sem opções. A única maneira de retribuir aquilo foi abraçando-o com bastante força. O perfume dele invadiu minhas narinas e me embriagava tão bem quanto os efeitos de um álcool. A sorte era que o aroma do garoto não era nada prejudicial para mim. Talvez mais viciante que qualquer bebida, só que com um significado enorme, o que as bebidas não tinham na minha vida: Significado.

 Sem palavras, continuei o diálogo:

– E sobre perdoar... – Chamei-lhe a atenção.

– É! Quem gosta de alguém, perdoa. – Falou o moreno.

– Na verdade, é quem ''ama'', não quem ''gosta''. – O corrigi.

– Então eu amo você. –

O ápice para mim. Tornei a abraçá-lo, sem, no entanto, entregar-me aos beijos com ele. Não. Limitei-me a cercá-lo com meus braços, na região da metade das costas e ele fez o mesmo em mim. 


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