Não tive muito tempo para pensar no que estava acontecendo. O caminho foi longo desde a última batida do meu coração até agora. Não posso descrever como cheguei aqui, não me lembro. E por mais que tente parar por um segundo para pensar para onde estou indo, não consigo. Meu cérebro me guia sem me dar a oportunidade de mudar de ideia.

Desde que deixei o mundo dos vivos não sinto mais o medo e a dúvida do que há na vida após a morte. Porém levo um susto quando vejo aonde eu fui parar. Acho que era mais do que justo me enviarem para o Elísio, mas ainda assim estou surpresa. Não sou o tipo de pessoa que merece estar aqui, não sou uma... heroína.

Jamais alguém irá conseguir descrever o Elísio. È algo tão absurdo e perfeito que mesmo que você imagine o lugar mais especial do universo, não se compara.

Estou sentada na ponta de um penhasco observando a vida daqueles que tem a mesma sorte do que eu, encontraram a paz.

Me levanto com cuidado e ao me virar vejo um garoto me observando de longe. È impossivel reconhece-lo dessa distância, mas não é necessário. Sei muito bem quem é.Não me aproximo. E nem ele. O que me deixa irritada.Imagino a razão disso. Será que ele está decepcionado? Será que aquela fantasma idiota mentiu, ele não queria que eu fizesse isso?

Alguns segundos depois ele se aproxima com seu típico sorriso de canto, o mesmo que eu tenho, e isso tira todas as dúvidas que eu ainda tinha.

Ele está diferente do que eu me lembrava. Sua aparência envelheceu e seus olhos parecem cansados. Ele para á alguns metros de distância e não diz nada. Por um momento sua boca se abri como se ele fosse dizer algo, mas muda de ideia e o silêncio prevalece.

Eu pisco e uma lágrima rola pelo meu rosto. Com a voz rouca eu pergunto:

– E agora? O que eu devo fazer?

– Viva. - Luke responde irônico.

Mordo meu lábio com raiva e suspiro tentando não chorar. Rapidamente meu irmão se corrige.

– Esse é um lugar de segundas chances. Você têm a chance de ter aquilo que foi tirado de você no mundo dos vivos.

– Por quê você não decidiu renascer? - perguntei já sabendo a resposta.

– Estava esperando você.

– E quanto a mim, eu tenho essa opção?

– Ainda temos um papel a desempenhar, Ally. - diz Luke desviando o olhar.

Fecho minha mão sentindo minha unha perfurar a pele, e fecho os olhos com força.

– Não me odeie. - ele pediu.

– Nunca. - digo abrindo os olhos.

Um minuto se passa e eu não me movo.

– Não vou abraçar primeiro. - digo.

Ele ri e me puxa para um abraço. Como senti falta daquele sentimento de proteção.

Longe de onde estámos Emanuelle Whiteweather nos observa sorrindo, quando vê que percebi sua presença pisca com um olho e logo desaparece.

– Vamos ter que lutar nessa guerra, não é? - perguntei ainda o abraçando.

Luke se afasta e sorri.

– Sim, mas antes disso. Que tal um almoço?

– Claro, contando que não seja você que cozinhe.

Ele me guia pelo Elísio até a direção de uma pequena casa.

– Bem vinda a sua nova casa. - diz animada Silena Beauregard, filha de Afrodite. Ao seu lado está Charles Beckendorf, filho de Hefesto, ele joga em minha direção um pequenho embrulho de presente. Abro sorrindo agradecida, era um maço de cigarro.

Luke me dá uma cotovelada e ri.

– Bem vinda ao paraíso.