– Veio se despedir da sua filha? Own, que fofo. Você deve ser o pai do ano.

　

Esperei ele dizer alguma coisa. Mas Hermes continuou calado.

　

– Agora é o momento que você diz " você não precisa fazer isso". - resmunguei. Ele não disse o que eu desejava e nem iria dizer. Eu sei que ele também não tinha como impedir, porém isso tudo soa... errado... injusto.

　

– Eu sinto muito. - Hermes disse.

　

– Mentira. - falei sorrindo. - Mas não tem problema. Não é necessário eu estar viva para que eu consiga vingança.

　

– Vingança? Ainda se trata sobre isso. Você têm alguma ideia sobre o que você está prestes a fazer?

　

– Nesse momento eu me considero sortuda por ter uma pequena parte do dom da visão do futuro. Eu sei que nessa guerra que vocês, os deuses, irão envolver todos do nosso mundo, os planos não irão sair como o esperado. Deuses irão te trair.

　

– Talvez você não acredite, filha. Mas o lado do bem sempre vence, e nós somos esse lado.

　

– Continue repetindo isso para si mesmo.

　

– Allison... - ele começou com uma expressão triste.

　

– Percebe o quanto tudo isso é fodido. Não importa o quão grande é o meu sacrifício, Gaia irá retornar.

　

– Hera têm um plano, juntar as duas raças.

　

Duas raças? De que? A não ser...

　

– Nem pensar... OS ROMANOS!??? - minha risada sarcástica ecoou pela floresta. - Até parece que isso vai funcionar.

　

– Não desejo te perder, Allison. Mas não tenho escolha.

　

– Escolha? - questionei - A vida de sua filha sendo jogada fora... e para que? Para uma chance de alguns semideuses talvez sucederem em uma missão impossivel? Vou ter que sacrificar a minha própria vida para ganhar alguns meses para os semideuses que possuem uma pequena chance de derrotar Gaia.

　

Hermes se calou. Eu sabia muito bem o por quê. Esse seria meu último momento de vida. O que quer que seja que eu gostaria de falar eu deveria dizer agora, ou calar-me para sempre.

　

– Se você sabia sobre o meu destino por que não me deixou morrer na noite do incêncio? - perguntei.

　

– Pelo mesmo motivo de qual não tentei matar o seu irmão. Se há uma coisa que aprendi é que você não pode desistir e nem virar as costas para sua família, mesmo quando ela vira as costas pra você. - Hermes respondeu.

– Não somos uma família. Nunca fomos e nunca seremos. - soltei todo o ar do meu pulmão assim que eu percebi algo. - Acha que eu não terei uma vingança? Está errado. Porque enquanto você estiver comemorando o possivel fim dessa guerra que está por fim, minha memória vai estar sempre te assombrando. Realmente espero que você viva por um longo tempo, e que eu seja o seu lembrete de tudo que os semideuses têm que sacrificar pelo bem do Olimpo. Eu vou morrer feliz sabendo que existe alguém mais ferrado emocionalmente que eu nesse mundo. Você.Eu quero que você se lembre o quanto de culpa sua vida carrega. E o melhor de tudo, você vai passar o resto de sua eternidade sabendo que não fez nada para impedir. Essa é a minha vingança. Eu plenajava te matar, mas agora percebo que não preciso disso. Depois de hoje e depois dessa estúpida guerra você vai continuar aqui desejando sua própria morte por causa do sofrimento que seu coração carrega. E não haverá nenhum modo de toda essa dor parar porque... você é imortal. Aproveite sua imortalidade sozinho e eternamente Hermes.

　

Meu punho se fechou quando encarei meu pai e vejo que ele estava chorando.

– E quer saber de mais uma coisa? Não me importa onde eu vou parar depois disso. Quando você estiver em apuros durante essa guerra eu vou estar observando a queda do Olimpo. Não farei absolutamente nada exatamente como você fez enquanto Luke morria. E agora eu! - gritei.

　

Quando olhei para atrás de Hermes percebi o penhasco que caia até a parte mais fundo e obscura do lago do acampamento.

　

Foi quando meu coração se apertou e eu comecei a soluçar. Lágrimas caiam rapidamente por todo o meu rosto.

　

Eu não quero fazer isso.

　

Por que eu tenho que fazer isso?

　

– Espero que no fundo de seu coração saiba que eu te amo, filha. - falou Hermes.

　

Não tenho tempo para ficar com mais raiva dele.

　

As dúvidas começaram a entrar na minha mente: Como é? O outro lado? Para onde eu vou parar? Elísio? Tártaro?

　

Será que encontrarei Luke?

　

Com esse pensamento meu coração acalmou. Minha respiração ficou surpreendentemente normal.

　

Caminhei até a borda do penhasco. Uma pedra pesada e enorme estava do lado de uma corda á minha direita.

　

Hermes realmente se preparou. Hunf.

　

– Tenho dois últimos pedidos. - falei me virando para encará-lo. - Primeiro, ninguém pode me encontrar antes que a guerra contra Gaia termine, e ninguém deve saber que eu estou morta até lá. Segundo, eu não quero você aqui.

　

– Ally... - Hermer se aproximou.

　

– Você não entende? EU NÃO QUERO VOCÊ AQUI! Minha vida inteira eu tive que conviver com seus erros e sua sombra. Não permitirei que minha morte envolva você.

　

– Realizarei seu pedidos. - sussurrou. E no momento seguinte ele não estava mais lá.

　

Tentei fazer tudo o mais rapidamente possível. Antes que eu perdesse a coragem.

　

Prendi uma ponta da corda no meu tornozelo e a outra ponta amarrei na pedra.

　

Segurei a rocha na altura do meu coração.

　

Pulei.

　

Foi tudo tão rápido. Ao mesmo tempo muito devagar.

　

Senti a água pouco a pouco me consumir por inteira.

　

O peso da rocha me afundava. Eu não me debatia ou tentava voltar para a superfície. Não tinha objetivo.

　

Aquela baboseira de que você vê sua vida passando na frente dos seus olhos é mentira.

　

Rapidamente senti a água entrar no meu pulmão.

　

Meu último pensamento foi que eu morri do último jeito que pensei que iria morrer.

　

Feliz.