DEZESSETE.

Sua cabeça estava latejando, e as imagens de Johnny com a tal Lacey não saiam de dentro dela nem com gelo sobre a testa. Lizzy havia criado demais imagens a respeito de Christ e apesar de saber da história com a mulher, não pode deixar de duvidar também. E se ela fosse a vitima na história? Nada comprovava que ele era o santo. Era um famoso no final das contas, isso era fato.

– Lizzy!

Fechou os olhos desejando ter vindo de outra dimensão aquela voz.

– Eu sei que você está ai. Me atende, por favor!

Mas o que fez foi se afundar ainda mais no sofá, levando um susto segundos depois ao escutar a porta de correr vidrada deslizar. Sentiu vontade de sair correndo simplesmente, não se lembrava como havia desenvolvido aquela covardia toda.

– Porque você entrou Johnny? Isso é invasão de domicílios, sabia?- disse sem se mover do lugar, assim como também não fez questão de encará-lo, agora sentado a sua frente, sobre sua mesa de centro.

– Desculpa, mas você precisa me escutar.

– Johnny, você não precisa me explicar nada... A gente nem é nada um do outro!

Não queria dizer assim tão curta e grossa, mas disse e Johnny engoliu em seco.

– Você precisa saber por que... Porque eu quero que você seja.

Deixando a bolsa térmica congelada cair de lado, Lizzy estalou os olhos ao teto, absorvendo o que tinha acabado de escutar.

– Pode me escutar agora, Lizzy Marie?

– Odeio meu segundo nome.

– Ótimo. Mais uma coisa que sei sobre você.

– Johnny, sem ofensas, mas aquela garota deixou bastantes coisas claras.

– Só se for a sua imaginação. Não há nada de claro naquilo Lizzy, e se você me deixar falar eu agradeço.

Se sentando ereta finalmente no sofá, se pôs a olhar Johnny; este vendo que teria a atenção dela respirou fundo, disposto a acabar com toda aquela ladainha, que pra falar a verdade já estava beirando a novela mexicana.

– O motivo de eu ter levado um tapa, é o mesmo motivo de ela ter sentindo vontade de te estrangular àquela hora Lizzy...

– Johnny...

–  Me escuta Marie! Eu disse a ela que estava apaixonado por outra pessoa. Eu disse que estava apaixonado pela mulher que havia me salvado semanas atrás.

Foi como se uma bomba nuclear tivesse caído sobre o coração de Lizzy, pois ela o sentiu bater mais forte a cada palavra emitida pelo pequeno que a encarava com tanta sinceridade aos olhos. E foi o suficiente para que as palavras lhe sumissem da mente, assim como seu corpo tomou a forma automática. Não esperava que tivesse simplesmente as melhores das reações, era assim que a garota reagia quando o baque era muito forte, se tornava uma máquina que não conseguia nem mesmo piscar os olhos.

– Se você falasse alguma coisa iria ser bem melhor...

– Eu não sei Johnny!

– Meu deus, Lizzy! Você não gosta de mim, é isso? Tudo bem, acho que posso sobreviver com isso, mas não posso sobreviver sabendo que você me acha um puto de um falso mentiroso!

– Não Johnny! Por favor, não é isso...

– Então o que é?

– Não é tão simples assim pra mim...

– Lizzy você se tornou nesses últimos dias motivo de muitas coisas pra mim. Eu não sei mais acordar pela manhã sem ir até a praia... Ir até a praia porque eu sei que você estará lá. Olhando o mar com tanta paixão que eu nunca vi ninguém mais o fazer. Sei lá me sinto um idiota ao parar pra perceber que depois que te conheci, não consegui olhar para nenhuma outra pessoa mais...

Lizzy não pode evitar se chocar com as palavras que acabara de ouvir. Não tinha dúvidas que despertara dentro de seu interior um sentimento que não sentia há anos, aquele mesmo quando tinha dezessete... Quando se entregou e se machucou profundamente, ainda havia cicatrizes apesar de tudo. Havia muitos segredos e mágoas guardadas em volta do interior de Lizzy, por mais que fosse uma simples mulher de sorriso meigo que observava o mar com intensidade... Que parecesse de bem com a vida tanto quanto o sol era com os dias. Mas era um refúgio e ninguém enxergava aquilo, talvez porque, de fato, ela não deixasse. Mas ainda se sentia fraca demais para deixar que finalmente outra pessoa fizesse aquele inverno que parecia nunca acabar sumir de dentro de si. Sabia desde o inicio que aquilo poderia acontecer... Mas foi como fechar os olhos e sonhar por uma noite. Havia ocorrido tão rápido que ainda estava absorvendo os fatos.

– Não... Eu não quero me apaixonar de novo, Johnny.

– É por causa da Lacey que você esfriou desse jeito? Eu não gosto daquela mulher, Lizzy!

– Não, não é. Quero que saiba disso. – Ela era tão frágil quando se tratava de seus sentimentos, esses já defeituosos. - Me desculpa Johnny!

– Eu sou um idiota mesmo! – disse enfim, ignorando as fisgadas em seu peito. Saiu sem se despedir, passando pela porta como um furacão.