Olhos De Sangue escrita por Monique Góes


Capítulo 21
Capítulo 20 - Guerreiro Sangrento


Notas iniciais do capítulo

Oi pessoal!
O que eu posso dizer, li e respondi os reviews que mandaram, adorei cada um deles! *------*
Esse capítulo é um dos meus preferidos, apesar de... Bom. Um personagem muito especial para mim aparece aqui, então espero que gostem.



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Agradeci no outro dia quando Raquel acordou, tão bem que parecia que a febre do dia anterior fora um sonho. Arrumamos as coisas rapidamente e tapei um pouco mais a brecha que abrira no dia anterior em minha mente. Pelo pouco que vira, Hideo ainda não parara de andar, achei então que só pararia de andar quando desmaiasse.

Seguindo a orientação de Undine, seguimos para o sul durante dois dias, subindo numa trilha por uma montanha com um rio sob ela, e quando a montanha tornou-se plana, havia uma imensa e densa floresta sobre ela. Caminhamos por um bom tempo, até que de tarde, quando as árvores enfim sumiram, avistei Gazelle, mas reparei que havia algo errado. Uma fumaça negra saía da cidade, e vi várias construções destruídas.

A cidade fora destruída pelo Despertado?

Cautelosamente, me aproximei da cidade. Não tinha nenhuma Aura ao meu alcance, mas senti Raquel pegar em minha mão e segurá-la com força. Me virei para ela e vi que estava pálida.

- Raquel, o que foi? – perguntei.

- E-eu me lembrei de quando a minha cidade foi destruída. – disse quase que num sussurro. – Colocaram fogo nas casas... Elas ficaram assim...

-... Não pense nisso. – falei, tentando fazê-la não lembrar daquilo. – Não acho que tenha algo que poderia fazer mal aí. Não sinto nada, e as pessoas se mantêm afastadas. Mas teremos que entrar aí, preciso ter certeza que essa é a cidade que estamos procurando.

Ela só assentiu, mas não largou minha mão. Também não me importei em afastá-la, deveria ser ruim lembrar-se de algo como isso, ainda mais que, considerando que a cidade fora destruída há quatro anos, Raquel tinha apenas seis naquela época.

Adentrando na cidade, era possível se ver que as casas estavam completamente destroçadas, quando passei por frente de um prédio em ruínas, vi um destroço enorme com uma poça de sangue sob ele e uma mão feminina saía por debaixo dele, juntamente com cabelos castanhos aloirados. Pobre mulher. O cheiro de corpos em putrefação, sangue, fumaça e fuligem era o suficiente para que qualquer um girasse os calcanhares e fosse embora dali, mas eu estava – admito – curioso diante aquilo tudo.

Continuei andando, mas não parecia ter sequer uma alma viva ali. Havia sangue – tanto fresco quanto seco - nas paredes, as casas destruídas, alguns corpos, mas nada. Então senti uma fraca Aura doce, açúcar queimado com um cheiro que somente agora vi que era de erva cidreira. Era a Aura daquele cara de três dias atrás.

Em compensação era somente sua Aura que estava ali presente, e estava parada. Suspirei diante a sensação de perigo que aparecera novamente, mas segui a Aura. Talvez ele pudesse me dizer o que acontecera.

Andamos até o que poderia ser uma praça quando estava inteira, mas agora tudo o que restava era uma fonte com a escultura quebrada, e a água vazava lentamente de um pequeno buraco aberto em sua lateral e sobre uma pedra, ele estava sentado, abraçando as pernas contra o peito, de costas para nós. Seu cabelo continuava naquele corte reto um pouco acima da nuca e ia crescendo a medida que se aproximava de emoldurar seu rosto, e dessa vez usava roupas completamente negras, com uma camisa sem mangas de um tecido um tanto brilhante por cima de uma camisa negra um tanto fina de mangas compridas. Ele se enrijeceu e virou somente o rosto para mim.

- Ah... É você, bem que senti o cheiro. Bom, olá. – ele olhou então para a Raquel. – Qual é a da garota aí?

Raquel recuou lentamente. Será que a sensação de perigo atingia até humanos comuns?

- Aqui é Gazelle? – perguntei, ignorando a pergunta. – O que aconteceu aqui?

- É, aqui é a cidade de Gazelle. – respondeu, apoiando o queixo em uma das mãos. – Não sei o que aconteceu, já estava aqui quando cheguei... Mas então, qual é a da garota?

- Ela está me acompanhando. – respondi.

- Ahhh, então era por isso que estava pegando água naquele balde? – perguntou, virando-se um pouco e pousou a cabeça nos joelhos. – Você deveria ter medo dele, sabia? – disse num tom um tanto infantil para Raquel.

- Claro que não. – falei. – Não faria mal nenhum a ela.

- Oh, é sério? – sorriu. – Mas...

Quando dei por mim, ele havia sumido. Pisquei, sua Aura também havia sumido como fizera antes. Ele havia se movido em alta velocidade, e eu não fazia a mínima ideia de para onde ele fora. Um braço apareceu por cima de meu ombro repentinamente e aquele cara estava atrás de mim. Ele levantou o braço até meu pescoço e o apertou com força, me enforcando, não com força o suficiente para que parasse de respirar, mas respirava com muita dificuldade. Pus as mãos no antebraço que ele usava para me prender e o puxei com força, mas ele simplesmente travara-o com uma força incrível, o suficiente para que não conseguisse me soltar.

- Como você pode dizer isso, se o cheiro de um Despertado está entranhado em você? – Disse em meu ouvido.

- Yu... – Raquel começou, mas a interrompi.

- Não se aproxime! – exclamei com dificuldade diante o aperto em meu pescoço. Acabei grunhindo diante o esforço, mas ele simplesmente não soltava. Que força monstruosa era essa?!

Senti sua outra mão subir por meu ombro e quando vi, ele cravou dois dedos em meu ombro a ponto de cravar em minha carne. Grunhi pela dor e quando vi, ele pousou o queixo em meu ombro e diante mim, pois os dois dedos entre os lábios, e então piscou.

- Seu sangue tem um gosto estranho. – falou e me deu uma olhada, ignorando o meu olhar de raiva. – Tem certeza que é humano?

- Cala a... – comecei e ergui um cotovelo para acertá-lo, ele me soltou na hora, então girei e ergui a perna em um chute enquanto girava, mas ele saltou e girou no ar com os joelhos abraçados como um acrobata e pousou distante de mim.

Ele apenas riu e se levantou e ergueu o braço na altura do rosto, mostrando uma fina corrente onde seu símbolo estava preso.

- Você é Yudai, número 9, que recentemente fracassou em uma missão a Despertado por um erro de cálculo da Ordem. Estou certo? – disse. – Mas você sabe quem eu sou?

- Claro que não. – bufei irritado e seu sorriso abriu-se mais, mas deixou de ser aquele sorriso feminino que demonstrava. Era ameaçador, agressivo e sombrio. Era o tipo de sorriso que eu imaginaria que um psicopata fizesse quando fosse matar sua vítima, ou um predador – apesar de animais não sorrirem – ao encurralar suas presas. Aquele sorriso era o suficiente para que eu sentisse medo. Muito medo, mas mantive-me firme.

- Ah... Você é mal educado, sabia? – falou e quando eu estava prestes a dar-lhe uma resposta realmente mal educada quanto ao fato de ele ter me furado e bebido meu sangue há menos de dois minutos – aliás, ele estava sendo tão mal educado quanto eu - ele continuou, destruindo lentamente sua supressão de Aura. – Eu sou Nicholas, o número 2 da Ordem.

Quase fiquei sem reação quando sua Aura demonstrou toda sua visibilidade, seus olhos se tornaram felinos, pareciam sedentos por sangue e morte, era um olhar que jamais vira um híbrido fazer, o que normalmente o fazia eram Despertados, o que me emudeceu e me deixou ainda mais temeroso diante do que poderia fazer. Nicholas se preparava para o ataque, e sua Aura era enorme, mesmo que não estivesse elevando-a. A única coisa que se passou por minha mente foi: Eu estou ferrado. Mas havia algo estranho em seu olhar. Apesar de... Doentiamente sedento por sangue, ainda dava para ver... Pureza nele. Que porcaria é essa que eu tô pensando?!

- Vamos jogar um jogo? – perguntou e fiquei confuso com o tom quase inocente em que a pergunta fora proferida. Como diabos cara com um olhar claramente febril por morte conseguia manter uma voz inocente e pura?!

- O quê?! – Perguntei e quando vi, ele já havia tirado o símbolo de sua corrente e o transformara em uma claymore. Mas... De onde veio aquele sangue que a manchava?

Só então senti uma dor lacerante em minhas pernas e caí no chão, não conseguindo me apoiar nelas. Quando ele me atacara? Eu não conseguira ver, nem prever seu movimento por sua Aura, mas ele fizera uma série de golpes profundos em toda a extensão de minha perna, tornando impossível que eu me mantivesse de pé.

- Yudai! – Raquel gritou no momento em que caí, mas quando foi se aproximar, Nicholas deu-lhe um chute, que a fez cair vários metros atrás.

- O que você está fazendo?! – gritei para Nicholas. – Ela é uma garota de dez anos!

- Bom... – começou ainda no mesmo tom inocente, ignorando o que acabara de gritar. – As regras do jogo são assim, eu vou começar a tentar acertar essa menina, e a cada 120 segundos, irei aumentar um pouco a velocidade. Começarei de uma velocidade em que ela possa desviar, mas acho que ela irá durar uns... Dez minutos, no máximo. – virou-se e sorriu para mim. – Nesse meio tempo, você deverá se concentrar e curar cada uma das feridas em sua perna, pois apenas uma é o suficiente para inutilizar seus movimentos, e se você não se concentrar, não conseguirá curá-los. Se você curar sua perna e salvar a menina, você ganha o jogo, mas se você não conseguir, ela morre e eu venço. O que acha?

Pelos deuses... Anita avisara que ele era sedento por sangue, mas ele falando aquelas coisas, eu não teria as mínimas dúvidas que ele fosse um psicopata. Trinquei os dentes diante a dor e falei quase que rosnando para ele:

- Você não se lembra que a Ordem mata aqueles que matam humanos?

Seu sorriso tornou-se ainda maior e ainda mais agressivo, psicótico e sombrio, que aliado a sua pele pálida e aos olhos felinos, não ajudou em nada.

- Sei sim... Mas a Ordem só vai saber se tiverem testemunhas, não é? E se eu eliminar a única testemunha? – falou num tom perigoso. – Bom, deixa para lá... Vamos começar... Agora!

Ele atacou Raquel a esmo, sem olhar, numa velocidade claramente humana, e vi seus lábios contando o tempo inaudivelmente. Grunhi, tinha que conseguir me curar o mais rápido que podia, e comecei a elevar o calor da Aura, concentrando-o num corte, fechando-o e passando para o outro. Quando estava no terceiro, escutei um grito de dor de Raquel e uma risada baixa de Nicholas. Trinquei os dentes, tentando ao máximo me manter concentrado naquela situação, e quando estava no sétimo, veio outro, então continuei até terminar com todos da perna direita, e passei para a esquerda. Os gritos começaram a se tornar mais frequentes, minha vontade era de saltar cortar a cabeça daquele cara, mas no estado em que minha perna estava, não conseguiria fazer isso. Aumentei mais ainda minha Aura, sentindo o calor começar a tomar meu rosto como em resposta aos arabescos que surgiam nele, para que conseguisse fechar os cortes mais rapidamente. Quando fechei um superficialmente, outra Aura apareceu.

Uma Aura de Despertado, e soube onde ela mirava.

Saltei e me atirei para o local onde Raquel e Nicholas estavam, apenas a agarrei e a tirei de onde estava no momento em que vários tentáculos atacavam a ela e a Nicholas. Me atirei para longe de lá e tive o cuidado de cair por cima das minhas costas, não por cima de Raquel, enquanto Nicholas desviava dos ataques com perfeição. Ousei olhar para ela e senti muita raiva de Nicholas, ela estava coberta de sangue de vários cortes, tinha um em sua bochecha que sangrava profusamente, sua blusa alaranjada estava rasgada em alguns pontos que também sangravam profusamente, assim como em sua calça marrom.

Aquele Despertado era forte. Muito, pois se eu não tivesse me jogado no chão, provavelmente iria perder minha cabeça, meus ombros, e provavelmente todos os membros de minha cintura para cima, pois todas as casas que estavam ao nosso redor foram imediatamente reduzidas a monte de entulho. Ouvi um grito, e somente então vi que ainda tinha alguém vivo, e fora pego por um dos tentáculos. Ele levantou e vi um menino não muito mais novo que Raquel.

Ia pegar minha espada, mas foi tudo tão rápido que não tive tempo de me mover, apenas para gritar à Raquel:

- Não olhe!

Mas ela não teve tempo de tapar os ouvidos para impedir-se de escutar os gritos do garoto ao começar a ser mastigado. Droga! Nem ao menos tempo de pegar a espada e cortar aquela coisa, eu poderia ao menos ter salvado o garoto. Nicholas pareceu mais entediado com aquela cena do que com alguma coisa pelo garoto que acabara de morrer.

Olhei então para o Despertado, e ele era grande, do tamanho que qualquer casa de uns dois andares. Tinha várias pernas, como uma centopeia, mas da ponta erguia-se um enorme tronco humano, porém, no lugar dos braços, haviam os tentáculos que atacaram anteriormente, e se arrastavam pelo chão pesadamente, sua cabeça era curvada, o pescoço com quase cinco metros de extensão, de onde pendia sua cabeça.

- Um Despertado... – Nicholas disse com um sorriso encantado, acompanhado por uma expressão psicótica, substituindo a expressão entediada. – Bem na hora.

Apesar da imensa Aura do Despertado, senti que ele não era páreo para Nicholas sozinho. Eu não sou do tipo que foge de uma luta, mas uma única vez iria abrir uma exceção. Peguei Raquel com cuidado para não tocar nos ferimentos e disparei de lá. Raquel exclamou, mas comecei a correr a toda velocidade que conseguia, nem me importei com as coisas que ficaram no chão, apenas disparei a toda velocidade, até tudo começar a se tornar apenas um borrão a minha volta.

- Ei, não vá fugi... – Nicholas começou, porém foi atacado.

A luta não iria durar muito, podia sentir, mas o quanto antes teria que nos afastar o máximo que podia. Nicholas não era como os outros guerreiros da Ordem, isso estava claro. Ele gostava de sangue, destruição, morte. Rapidamente saí da cidade e adentrei na floresta, o mais rápido que consegui. Todo o percurso que fizéramos em quase um dia e meio, eu estava cobrindo em minutos, estava chegando na trilha em que começava a descida quando senti.

Nicholas.

Ele já tinha derrotado o Despertado, agora estava vindo atrás de nós.

Droga! Porque ele era assim?!

Ele era forte, apesar da construção corporal claramente “delicada”, mas o que eu poderia fazer? Raquel estava comigo, estava machucada, droga, as coisas estavam dando muito errado, estava tudo piorando. Ele derrotara o Despertado tão rápido que chegava a ser assustador, e considerando o estado de sua Aura, ele não sofrera um mísero dano. Mesmo que eu omitisse minha Aura, ele conseguiria sentir meu cheiro, seria somente uma questão de tempo que ele me encontrasse. Eu... Eu teria que salvar ao menos Raquel.

Vi todas as possibilidades que poderiam ter, analisei cada uma, mas somente uma iria dar certo com certeza, mas... Ela não iria aceitar, eu sabia que não, mas teria que fazer isso. Freei, fincando meus pés na terra e pus ela no chão.

- Yudai? – perguntou desesperada.

Ia começar a falar, mas as palavras ficaram entaladas em minha garganta. Respirei fundo e me forcei-as para fora.

– Vá embora Raquel.



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Notas finais do capítulo

É... Eu tentei muito, mas esse foi o máximo que saiu do Yudai Despertado óò Acho que ficou até bom.
Eu adiei bastante este momento, mas para a história andar de verdade, tive de fazer isso óò
Bom, me considerem louca, mas adoro o Nicholas. Sei lá, a psicopatia dele, o jeito de garota (quando ele quer) e tudo mais...
Mas para quem estiver curioso sobre a aparência do Nick, estou fazendo um desenho dele com cara de psicopata. Acho que irei postar um novo cap sexta, e lá eu ponho a foto. ^^



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