Após toda a adrenalina ter passado, Liam viu o homem sair detrás do arbusto. Joffrey tinha um sorrisinho no rosto, e sua mão continuava sobre a boca de Elizabeth. 

– Belo trabalho, peão, você facilitou muito o meu trabalho, fico te devendo essa – Joffrey falou e jogou a menina sobre os seus ombros e saiu em direção a um carro. 

Liam apenas observava, ele tinha uma ideia do que fazer. Rapidamente, encaminhou-se para o próprio carro e baixou a luz dos faróis antes de dar inicio a caçada, afinal, ele era um caçador.

Perdera a conta de quanto tempo estava andando atrás daquele carro, até que finalmente ele parou. Pelo que o rapaz viu, era tudo apenas um bosque vazio, mas bosques não possuem uma chaminé. Liam verificou os bolsos e sorriu. A maçã continuava ali, então saiu do carro e começou a esgueirar-se por entre as árvores até chegar a uma cabana.

[...]

Elizabeth estava amarrada a uma cadeira com um pano tapando sua boca, para evitar gritos. Seus olhos azuis iam abrindo-se lentamente, vendo todo aquele local em que se encontrava, parecia ser o interior de uma cabana mal cuidada e inabitada há anos, e então seus olhos pousaram sobre ela. 

Melissa estava sentada em uma cama luxuosa que ela havia pedido para Joffrey botar naquela cabana, com a sua taça de vinho na mão ela abriu um enorme sorriso, a pondo de lado, vendo que a garota havia acordado.

– Elizabeth! Vejo que já está acordada! – Melissa falou. – Oh, perdoe-me pelos modos, sou Melissa Campbell. Ela retirou da boca da garota o pano. 

– O que você quer de mim? – Elizabeth perguntou.

– Sua morte – Melissa respondeu de maneira rápida. 

– Mas por quê? – Elizabeth perguntou. 

– Você sabe quem é o seu pai? – Melissa perguntou. 

– É claro que sei, Jerad Salling, mas que tipo de pergunta é essa? – Elizabeth respondeu. 

Melissa soltou um riso. 

– Eu me refiro ao seu verdadeiro pai, John Campbell, meu marido – ela falou. 

Elizabeth arregalou os olhos diante de tal declaração, tudo bem que ela sabia que Jerad não era seu pai biológico, porém ele cuidou dela desde pequena, mas saber sobre o verdadeiro de uma hora para outra e soltando uma notícia assim de modo tal natural, a garota achou que estava ficando louca!

John Campbell...

John Campbell...

Por que esse nome soava familiar?

“Ah, você não me falou o seu nome” 

“John, John Campbell” 

O homem do cemitério. Ele era John Campbell, seu pai. Mas espere... 

– Como eu sei que não está brincando? – Elizabeth perguntou.

 – Eu pareço estar brincando? – Melissa respondeu com outra pergunta. – Olhe como está, Liz. 

– Me explique exatamente o porquê de eu estar amarrada aqui? – Elizabeth indagou um tanto nervosa, mas sem nunca deixar isso transparecer em seu tom de voz. 

Melissa mexeu em algumas gavetas e aproximou-se da garota sorrateiramente, pondo-se ao lado dela.

– Eu já lhe disse, para ver você morrer – dizendo isto, Melissa injetou uma pequena quantidade daquele veneno na garota. 

Ela viu os olhos dela fecharem-se por um segundo e depois voltarem a abrir novamente.

– Mas vamos fazer isso de um modo lento – ela ergueu-se. – Não vamos levar isso para o lado pessoal, tudo bem, mas é só que com você no meu caminho, o meu John nunca mais será só meu, espero que compreenda o porquê de eu querer te ver morta. 

– Eu poderia viver fora do seu caminho – Elizabeth sugeriu. Mesmo com aquela pequena quantidade de veneno, ela já começava a sentir seus efeitos lentamente. 

– Claro que poderia, mas John não iria deixar isso acontecer – Melissa falou injetando mais outra quantidade de veneno. 

A visão de Elizabeth começara a embaçar, era como se o cômodo estivesse se movimentando, uma luz mais intensa penetrasse naquela sala há poucos minutos era escura, e agora ela julgava estar vendo uma figura atrás de Melissa, ela parecia com Elizabeth, mas a diferença, era que essa tinha um ar a mais de inocência. 

– Mãe? – Elizabeth chamou. A garota sorriu e assentiu para ela. 

– As alucinações já começaram? – Melissa falou, mas aquela voz mal chegava aos pensamentos de Elizabeth que continuava a fitar aquela imagem que não passava de uma brincadeira feita pelo seu cérebro.

Seus olhos abriam e fechavam várias vezes, ela virou a cabeça para aonde Melissa estava. Continuava a sorrir. 

– Eu não gosto de concorrências, digamos que seu pai será meu, e apenas meu – Melissa falou. – Só é uma pena que ele não tenha te conhecido, eu tenho certeza de que ele iria gostar de você tanto quanto amou a sua mãe.

[...]

              Liam aproximava-se daquela cabana, seu grande desafio seria passar por Joffrey, que parecia não abrir mão da guarda daquele local. Liam suspirou pesado e foi em direção há algumas árvores que haviam ali por trás, quando estava relativamente próximo de Joffrey, ele saiu das árvores sorrateiramente e tocou o ombro do homem, que virou-se instantaneamente para ver quem era. 

– Surpresa! – exclamou antes de desferir um golpe contra o nariz do homem que caiu devido à intensidade do soco. 

Liam sacudiu as mãos, o golpe fora mais forte do que ele esperava, agora seria uma ótima hora para planos. 

Ele subia as escadas com certo ressentimento, e se Elizabeth já estivesse morta? E se ela estivesse acordada? E se Melissa estivesse enchendo a cabeça da garota? Não, essa última não era possível, Liam conhecia muito bem a garota para saber que ela não sofria fácil influência.

[...]

– Liz, não durma ainda meu bem, vai perder a parte mais interessante da história – Melissa disse pondo-se de pé, depois de ter injetado mais uma parte daquele veneno na garota. 

– Acredite, eu não quero dormir – ela respondeu sonolenta. 

Aquele veneno era um dos piores, além de causar a morte aos poucos e alucinações, ele já tinha uma grande quantidade em seu organismo, que dificultava tudo, desde a compreensão do que Melissa falava. 

– Ótimo, agora que eu já te contei como descobri sobre você, vou te contar uma história parecida com a Snow White. A Rainha era muito feliz com o Rei, até que a Princesa aparece para estragar tudo, a rainha contrata um Caçador bem próximo da Snow White para que ele fizesse o trabalho, mas adivinhe? Ele não faz, porque começa a pensar por si e fica com medo – Melissa começou com um tom de voz doce, angelical, e terminou como algo macabro – Então a Rainha viu que tinha que fazer o trabalho ela mesma. 

Elizabeth continuava a fitar Melissa, aquela mulher era mais possessiva e determinada do parecia. 

– Acho que você já sabe que eu sou a Rainha, John é o Rei, você é a pequena e indefesa Snow White, e o nosso Caçador é ninguém menos que Liam Thompson! 

Aquelas palavras atingiram Elizabeth, Liam fora contratado para matá-la? Era isso? Seu cérebro informava que havia entendido corretamente, mas seu coração queria negar isso de todas as formas. Que pequeno objeto fraco é o coração que insiste em querer acreditar que os que nós gostamos são os melhores, e o de Elizabeth estava assim. Ela não poderia e não queria acreditar em nenhuma palavra do que esta mulher falava, mas Liam havia confessado que já havia matado alguém antes, sua mãe, mas não foi porque que ele quis.

– Duvidando de mim, queridinha? – Melissa perguntou. 

– Liam não pode ter tentado me matar! Digo, eu saberia se ele tentasse, não? – Elizabeth falava nervosa. 

– Tsc, tsc... Não acredito que o mesmo está acontecendo com você? Como se já não fosse o suficiente o Caçador gostar da Caça, agora o inverso também acontece – Melissa disse. 

– Liam não poderia ter tentado me matar, ele não fez isso – Elizabeth murmurava, provavelmente tentando convencer a si mesmo. 

– Faça como o mundo ao seu redor, Liz, acredite naquilo que quer, veja o que suporta, e se sobreviver a esses venenos, o que eu duvido, me conte quantas vezes caiu. 

– Você é um ser cruel e sem coração! - Elizabeth exclamou. 

– Muito obrigada – Melissa respondeu.

– Eu nunca fiz nada a você e mesmo assim tenta me matar. Mas quanto ao Liam? Ele não tinha nada haver com o que acontece aqui – por alguma razão, Elizabeth continuava a defendê-lo.

– Na verdade, ele tinha, foi o pai dele que te encontrou – Melissa respondeu e logo após aplicou um pouco mais daquele veneno na veia da garota, que estava ficando cansada.

Por um segundo, Elizabeth imaginou ter visto a porta abrindo e Liam a atravessando, mas chegou à conclusão de que era apenas o seu cérebro brincando com ela, e então fechou os olhos.