Believe escrita por emeci


Capítulo 2
1 - E nós choramos, vivemos, aprendemos e tentamos




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1º Capítulo

“(…) And we cry, and cry, and cry, and cry (…)And we try, and try, and try, and try (…)”


Eu só tinha a certeza do bater do meu coração naquele momento. O ouvia forte, rápido, descontrolao. Meu cérebro tentava organizar as palavras que a garota de cabelos loiros, apanhados num rabo-de-cavalo, olhos castanhos escuros e que deveria ter cerca de vinte anos, me dissera. Eu ouvia, na minha mente, as palavras, repetidamente, mas não poderia ser. Eu não queria acreditar nelas. Eu não acreditava nelas. A minha respiração estava rápida e o batimento do meu coração continuava firme. O chão, por baixo dos meus pés tinha desaparecido. Era como se milhões de agulhas me perfurassem a pele e me destruíssem a alma. Era isso que eu estava sentindo. Aquilo não era certo. Aquilo não poderia ter acontecido. Não comigo. Não agora. Ela relamente não tinha dito aquilo que eu pensava, certo? Era só uma partidinha de mau gosto da minha mente cansada. Tinha sido só imaginação minha, não era? Respirei fundo e me aproximei mais da janela transparente da bilheteria que me separava da garota. As palmas das minhas mãos suavam e eu estava com medo. Estava com medo do que aconteceria a seguir. Aquilo realmente não poderia ser verdade. Fechei os olhos por um momento e voltei a abri-los. A garota continuava lá, com aquele olhar piedoso, e uma cara triste. Meu espanhol poderia não ser ótimo, mas teria que servir. Afinal, o português e o espanhol, eram bastante parecidos.

Encarei a jovem mulher, no fundo dos seus olhos e disse, quase num sussurro:

–-Como?

A minha voz estava angustiada, tal como eu. Me recusava a acreditar que ouvira aquelas palavras rudes, tão inocentes, mas tão fortes ao ponto de me despedaçar. Que fariam uma simples pessoa encolher os ombros e dizer Que pena! Fica para a próxima, mas que a mim me afetavam de uma maneira louca. A garota, cujo o nome no uniforme dizia se chamar Amira, disse, também me olhando.

–-Lamento… - ela suspirou, passando as mãos pelo cabelo, como se dizer aquilo, lhe custasse - Mas os bilhetes para o concerto do Justin Bieber acabaram.

Fechei os olhos, deixando de ver qualquer coisa, e os meus lábios se contraíram numa linha fina. Lá estavam elas. Aquelas palavras que me matavam por dentro. Outra vez. E desta vez, elas relamente tinham sido ditas. Por aquela garota de cabelos loiros. Eu tinha visto os lábios dela se mexerem. Eu tinha visto os olhos dela a olharem para mim com pena. Eu tinha ouvido o som que provinha da sua garganta passar a barreira de vidro que nos separava. Fiquei chocada, mais uma vez, ouvindo somente o bater do meu coração. Ele estava acelerado, sem rumo, totalmente perdido, assim como eu. O mundo tinha desaparecido. Agora não tinha sido só o chão. Tinha sido os sons das conversas de outras Beliebers atrás de mim, a cara de Amira, tudo ficara preto por um momento. Tinha sido engolida pelo medo. As palavras ecoavam na minha cabeça, me deixando ainda pior. Os bilhetes esgotaram. Os bilhetes esgotaram. Os bilhetes esgotaram! Continuei encarando a garota, esperando uma reacção, que disesse que estava apenas brincando, mas não. Ela apenas ficou me encarando. E eu sabia que nunca ia esquecer esse momento. Ia ficar guardado na minha mente como um dos piores da minha vida. Aquele momento em que você deseja morrer, aquele momento em que tudo pára e deixa de existir razão. Aquele momento, em que você percebe que toda a luta, todo o esforço não te serviram de nada. Nada. Aquele momento, em que tudo o que você sonhou, não vai passar disso, de um sonho.Nunca ira esquecer o movimento dos lábios dela, dizendo aquelas palavras.

Porquê eu? Porquê a mim? Continuava em estado de choque, sem saber o que fazer. Como reagir perante aquela situação. Ainda não acreditava. Aquilo não estava acontecendo. Claro que não. Era só um maldito pesadelo que parecia real. Como todos os pesadelos iria ter um fim, e eu ia acordar. É, era exactamente isso que ia acontecer. Só precisava esperar. Olhei Amira mais uma vez e obriguei minhas pernas a se moverem. Elas pareciam estar coladas ao chão. Já nem me lembrava como se andava. Respirei fundo e elas lá foram. Queria distância daquele lugar. Daquele momento. Do sentimento que fazia meu coração se apertar. Meus pés se arrastavam no chão de calçada, vagarosamente. O vento, por mais leve que fosse, batia na minha face. Eu queria chorar naquele momento. Eu queria me jogar no chão e gritar para o mundo como eu me estava sentindo. Mas simplesmente não havia palavras. Me tinha esqucido de quem era e do que queria. Tudo o que passava pela minha mente eram imagens dele. Dele e do seu sorriso. Dele e da forma que ele me fazia sentir.

Ao me lembrar disso, me lembrei também do porquê que estava ali, noutro país, noutra cidade. Para cumprir o meu sonho. Sonho esse que era impossível. E que, em simples segundos tinha deixado de exitir. Como é que o mundo lá fora poderia estar inteiro e o meu desmoronando? Como é que o estádio, em tons de cinzento, onde o show se realizaria poderia estar intocável? Como é que as árvores continuavam verdes? Como é que as pessoas continuavam andando, se eu mal respirar conseguia? Como é que tudo parecia tão certo, e ao mesmo tempo tão errado? O bater do meu coração continuava forte. Eu precisava me sentar. Precisava descançar. Quer emocionalmente, quer fisicamente. Minhas pernas doíam e eu não sabia o que fazer. Precisava esclarecer dúvidas, achar respostas a perguntas. Precisava de uma razão, de encontrar um único sentimento que transmitisse tudo o que eu estava sentindo. Sem tempo para me decidir, sem ar para sobreviver, observei um banco de madeira, perto da entrada de um pequeno parque, próximo aos camarins. Algumas Beliebers estavam lá, daquele lado, sorrindo. Senti todo o meu corpo e mente implorar por aquele banco. Passei a mão no meu cabelo castanho cachedo como se aquilo me fizesse acordar daquele pesadelo. Como se aquilo fizesse o tempo voltar a trás e eu ter chegado a Espanha minutos mais cedo. Porque bastava apenas isso. Minutos, segundos e eu tinha conseguido. Mas não. O mundo me odeia. Tudo me odeia. Me aproximei cada vez mais do banco, já sentindo a vista ficar turva. Já sentindo a visão ficar desfocada. Os olhos com lágrimas, o coração quebrado. Não era justo! Nada do que eu estava passando era justo! Porquê eu? Porquê a mim?

Derrotada, me agachei sentindo meu corpo todo desfalecer sobre o banco rugoso, sentido o cansaço se apoderar de mim. As pernas estavam moles, e quase sem forças, devido ao tempo que aguentaram o peso do meu corpo na fila. A minha cabeça doía devido às poucas horas de sono que tinha tido, por causa da ansiedade. Eu tinha sonhado noites acordada com esse momento. O momento em que teria à minha disponibilidade um retângulo feito de papel, que era o ingresso para o ver. A ele, o meu ídolo. O garoto de dezasseis anos que eu amava incondicionalemte. O amor de uma fã, totalmente louca, por um garoto super encantador. Respiei fundo várias vezes tentando impedir e adiar a dor e as lágrimas salgadas e amargas que estavam por vir. Porém, ao ver que o sol nem se tinha escondido perante minha tristeza, ao ver que nem o céu tinha ficado cinzento, ao ver que estava ali, totalmente sozinha sem um ombro amigo que me compreendesse e me disesse que tudo ia ficar bem, não deu para adiar mais. Coloquei meus pés que se encontravam dentro de minhas all-starts pretas, bem juntinhos a mim, abraçando meus joelhos, cobertos pelas calças roxas, com força e enterrando minha cabeça neles, fechando os olhos. A escuridão me rodeava. Odiava tudo e todos naquele momento. Não queria conversas, não queria soluções, não queria problemas, só queria ele. O Justin e sua voz que me acalmava. Só queria os braços dele à minha volta. Antes de me libertar da nuvem de sentimentos irreconheciveis que me rodeava, tirei minha bolsa roxa do meu ombro e a abri. Sabia o que me ia fazer ficar melhor. Já que não o podia ter fisicamente, o tinha emocionalmente. Retirei meu mp3, coloquei os phones nos ouvidos e o liguei. Respirei fundo mais algumas vezes, mas as lágrimas eram mais fortes e começaram a escorrer. Minhas mãos tremiam e meu coração batia mais forte que qualquer outra coisa. Eram lágrimas de ódio. O que eu tinha feito de tão mal assim? O que eu tinha feito ou dito para mecerem essa dor? Era como se me tivessem retirado a alma e a tivessem esmagado bem na minha frente. Era como se eu já não fosse eu. Tinha ódio de todas as Beliebers que tinham seus bilhetes nas mãos e estavam contentes. Tinha ódio das pessoas que estavam sorrindo naquele momento. Tinha ódio da mulher da bilheteria. Tinha ódio de mim mesma por não ter chegado mais cedo. Por não ter lutado mais. Por não ter feito acontecer. Por me ter iludido. Me odiava. A mim, àquele estádio em que o show se realizaria e em que eu não poderia entrar, àquela rua, àquelas árvores que balançavam numa dança alegre, ao sol… Queria gritar com todo o mundo. Queria dizer palvrões, me revoltar. Queria mostrar o quão injusto aquilo era. Queria mostrar o dedo do meio para quem me fizesse cara feia. Queria deixar de ser eu. Queria deixar de ser boazinha, de me preocupar com os sentimentos dos outros. De me preocupar com os outros. Porque os bonzinhos nunca recebem nada m troca. As pessoas pensam que é fácil fazer a coisa certa quando a coisa errada é muito mais fácil. Mas não é. Nada fácil… Nada mesmo.

Aí a música começou a tocar. A minha música preferida. “Down to the Earth” e então eu ouvi a sua voz. A ouvi, não só com os ouvidos, mas com o coração e com a alma. E então, apenas em um segundo, toda aquela raiva deu lugar a uma tristeza profunda. A um beco sem saída. Eu continuava com os olhos fechados, mas sentia as lágrimas escaparem deles com cada vez mais força, mais intensidade. Elas eram a saudade e a tristeza personificadas. A rejeição e o medo. O medo de nunca o ver, de nunca lhe tocar. Abracei os meus joelhos com mais força, precisando de conforto. Minhas mãos estavam frias apesar do calor que fazia. Senti os soluços piedosos saírem da minha garganta.

Nada daquilo era justo. Mas estava acontecendo. A vida nunca tinha sido justa comigo. Afinal, para quê que eu tinha lutado tanto? No meio da angústia flashes de momentos passaram pela minha mente. De toda aquela história como Belieber. De todo aquele amor por Justin Drew Bieber. A primeira vez que vi um vídeo dele, “Only Less Lonely Girl” e o repeti cinco vezes seguidas porque era muito fofo; quando andei pela rua com uma t-shirt que dizia “I Love JB”, igual à que eu trazia hoje; a primeira vez que o defendi, armando um escandalo no meio da aula, porque um colega o chamara de gay; quando coleccionei 500 fotos dele no meu computador; o meu primeiro poster e a alegria que foi tê-lo a enfeitar as paredes do meu quarto; quando soube todas as músicas dele de cor e tantos outros. Ao refeltir sobre isso, ainda na penumbra da escuridão devido aos meus olhos fechados, soube que voltaria a fazer tudo aquilo, mesmo que o fim fosse essa dor infinita que me inflamava. Porque os mometos como Belieber, tinham sido os mais marcantes, os mais queridos, os mais inesquecíveis que eu tinha vivido até agora.

Respirei fundo, tentanto aceitar a realidade. Tentando manter os pés aqui, na Terra. As lágrimas ainda escorriam mas eu me mentalizava que, se calhar, não era para acontecer hoje. Se calhar, nunca seria para acontecer. Se calhar, eu não estava pronta. Era um sinal. Sim, devia ser isso. Eu não era boa o suficiente para o ver. Eu não era boa o suficiente para nada. Aquela era a hora, que eu imaginava que tudo iria estar certo, que eu iria estar feliz, que tudo teria uma razão de ser. Mas não. Era exactamente o contrário. Como nos tempos antes de eu amar o Justin. Respirei fundo. Eu tinha tentado deletar todo o meu passado antes de o conhecer da minha memória. Tinha tentado não pensar naquilo que eu fui, naquilo que eu fiz, naquelo que eu deixei os outros fizessem. Mas eu estava tão vulnerável naquele momento, tão carente, que foi impossível.

Porque antes de o conhecer, há cerca de um ano e qualquer coisa, eu era uma pessoa diferente. Alguém que precisava de ajuda. Alguém que precisava de amor. Não que meus pais não me amassem, mas eu passava por coisas que eles não sabiam. Que eu escondia deles. Para minha segurança. Porque com catorze anos, eu tinha que me livrar da merda que era a minha vida de alguma maneira. Eu tinha que afugentar a dor que era ser ninguém. Eu tinha que afastar o medo que era tê-las por perto. E a auto-mutilação, era uma dessas maneiras. Institivamente, passei o meu polegar da mão direita, pela cicatriz no meu pulso esquerdo. Era um corte pequeno, mas tinha sido o mais pequeno. Desenhava duas letras perfeitas. Aquele, tinha sido o meu último corte. Porque, a partir daquele momento, eu não ia precisar mais daquilo. Eu não ia mais precisar de fugir da dor. Porque eu o tinha conhecido. O Justin.

Era uma noite fria, escura, sem estrelas. E eu estava sentada diante da minha secretária, com o braço esquerdo repousado nela e com a mão direita segurando um bisturi. Lágrimas de dor e de arrependimento escorriam pelo caminho que elas tão bem conheciam – a minha face. A porta estava trancada e eram nove da noite. Meus pais e minha irmã tinham saído para fazer qualquer coisa. Aquele dia tinha sido horrível, assim como a cena que se lhe segiuiria. Soluços escapavam pela minha boca. Estava ali, com o entuito de me desfazer de tudo o que tinha passado durante aquelas vinte e quatro horas. E seria a última vez. Porque eu já não precisava daquilo. Eu o sabia. Não precisava de me cortar, nunca mais. Seria mesmo a última vez. Não só a última vez que me cortaria, como a ultima vez que deixava que elas me humilhassem e a última vez que choraria por elas.

Decidida e já habituada, fui aproximando o bisturi da minha pele. Cada vez mais… e quando finalmente tocou, fiz pressão. Sabia o que tinha em mente. Que corte tinha em mente. Que desenho tinha em mente. O traço que tinha de fazer, como tinha que fazer. Mais lágrimas escorriam pela minha cara, molhando minha t-shirt e minhas calças jeans. Eu estava me odiando naquele momento. Me odiava por deixar que elas fizessem isso comigo. Me odiava por ser tão quebrável, tão fraca; me odiava por me cortar. Por deixar que aquela lâmina perfurasse a minha pele, como estava acontecendo nesse momento. Porém, daquela vez era diferente. Era como uma despedida. Era como um sacrifico. Era como para mostrar, que, a partir daquele dia, eu ia mudar, para melhor. Ia ser eu, sem medo, sem receio. Apenas eu. E acreditar nos meus sonhos. Porque era isso que ele me tinha ensinado.

Naquela noite, eu me livrei de todas os monstros imaginários que me perseguiam, me livrei de todas as mágoas, de todas as tristezas, de todas as coisas que me punham para baixo. Mas não foi mais me magoando a mim mesma. Foi com ele, e com a voz dele, que, para mim, significava o mundo. Ao me relembrar daquela época e daquele momento, duas ou três lágrimas descerram desde os meus olhos. A cicatriz que eu tinha no pulso, era em forma de “JB”. Aquele tinha o meu último corte. Como que para me lembrar que, somente ele, me conseguiu desistir daquela estúpida ideia que era me magoar a mim mesma. A partir daquela noite, eu mudei para melhor. Comecei a fazer o que realmente gostava, comecei a vestir o que queria, comecei a ser quem queria ser. O medo delas era passado. Pelo contrário, não me atormentavam mais, ou não tanto como antes. E percebi que tinha amigas com quem podia contar para todos os momentos, que tinha uma família linda e que conseguia ser feliz. Tudo graças a ele.

Então, ao me lembrar de quem eu tinha sido e de quem eu sou, soube que não podia desistir. Não ali, não hoje. Que não podia ir a baixo. Que não podia me lamentar. Que ia fazer os impossíveis e os possíveis para o ver. Nem que fosse durante um segundo. Porque era isso que eu sempre pedira. Vê-lo. Limpei as lágrimas e vi os meus lábios formarem um sorriso. Pus os meus pés novamente no chão e senti uma corrente de energia me preencher. Precisava me mexer, precisa agir. A minha t-shirt branca que dizia “I Love JB” estava molhada devido às lágrimas e eu estava cansada. Porém, já que não ia vê-lo no show, ia vê-lo noutro sítio qualquer. E eu sabia onde.

*****

Tinha chegado, finalmente, à barra de metal que separava o meu corpo da entrada para os camarins. As minhas pernas doíam e pediam urgentemente por um sofá. Um sofá bem macio e confortável. No entanto, isso ficaria para mais tarde. Suspirei, pondo os braços do lado de fora da barreira que me chegava ao peito, sentindo a diferença térmica entre a minha pele quente e o metal frio. Nada estava resultando como eu queria. Nada estava dando certo. Senti a visão ficar turva, novamente, mas tratei de engolir as lágrimas que eu pensava se terem esgotado. Não ia chorar outra vez. Apenas me ia conformar com a realidade. Não era para acontecer. Com o objectivo de esquecer o quanto eu me sentia uma merda naquele momento, olhei para o meu lado esquerdo, procurando alguém com que pudesse conversar. Deveriam ser cerca das quatro da tarde e, enquanto ele não chegasse, eu não tinha a menor vontade de ficar encarando o céu azul e as paredes cinzentas da lateral do estádio de Madrid. Tudo bem que até poderia ser interessante, mas bater um papo furado e fazer uma nova amizade, era bem melhor. Havia várias Beliebers, tanto a trás de mim, como dos meus lados. Elas também estavam esperando por ele. A maioria era Espanhola e eu sabia disso porque cochichavam e dialogavam entre si. Éramos todas diferentes. Umas liras, outras morenas. Umas altas, outras mais baixas. Das mais diversas nacionalidades, alturas, e com as mais diferentes vidas. Porém, todas estávamos ali por um motivo. Pelo mesmo motivo. Por aquela voz. Por aqueles olhos. Por aquele cabelo. Por ele.

Talvez houvesse alguma portuguesa, ou mesmo brasileira por ali. Ou uma inglesa. No entanto, só me restava esperar, porque, caso saísse daquele lugar, nunca mais o voltaria a ter. E sejamos sinceras, o meu lugar era óptimo. Tinha uma boa visibilidade para a estrada e sabia quando algum carro se aproximava. E, se Justin, realmente ainda não tinha chegado, teria que passar por ali, para entrar e se vestir para o show. Só o pensamento de que eu o veria, substituía todo e algum sentimento mau que estivesse sentindo. E fazia com que um sorriso bobinho me surgisse nos lábios. Tal e qual ao que eu tinha nesse preciso momento. Estava ansiosa. Não via a hora em que o visse, cara a cara, no mundo real. Sentindo, respirando, vivendo. Seria muita emoção. Como eu deveria agir? O que devia fazer? E se ele olhasse para mim?

Então, enquanto eu me perdia em meus sonhos e pensamentos, senti um embate forte do meu lado esquerdo, fazendo com que a bolsa que tinha no meu ombro, caísse e fizesse um barulho ligeiramente desagradável, se encontrando com o chão. Meu consciente despertou e minha cabeça rapidamente se virou para encarar a bolsa, caída pela calçada. Uma voz um tanto fininha e preocupada, se desculpava.

–-Ah Meu Deus! Desculpa a sério! – olhei para baixo e reparei que era uma garota que falava, enquanto apanhava a minha bolsa. Ela nem reparou, mas um sorriso me tomava conta dos lábios. Aquela garota falava português! Português igual ao meu! Eu a compreendia! – Toma aqui está sua bolsa. – ela disse ma estendendo.

Eu a encarei com um sorriso, a olhando nos olhos. Os olhos dela eram castanhos, um pouco mais claros que os meus. Os cabelos delas eram ondulados, lhe chegando aos ombros, de um castanho super clarinho. Ela usava óculos pretos e também tinha um sorriso no rosto. Deveria ter cerca de quinze anos, ou perto disso. E ela era muito fofa!

Não sei o que se passou, só sei que os olhos dela se abriram de espanto e que depois ela bateu com a mão na testa, num sinal de esquecimento.

–- Caraca, eu aqui falando e você sem perceber nada do que estou dizendo. – ela se lamentou, abanando a cabeça de um lado para o outro, talvez um pouco envergonhada. Eu ri, ela era engraçada. – Como é que se diz “Desculpa” em espanhol mesmo? – Ela perguntou me olhando.

–-Eu não sei. – respondi, escolhendo os ombros. – Nunca tive aulas de espanhol, só de francês. – comentei, com um sorriso, tirando a bolsa da mão dela e a colocando no meu ombro esquerdo.

Ela sorriu também. Talvez eu não precisasse procurar alguém com quem conversar, talvez essa garota muito fofa e um pouco louca estivesse disposta a me fazer companhia até que ele chegasse.

–-Olá, sou a Carol. – Eu disse, me apresentando, um pouco tímida, pondo um dos meus indomáveis cachos atrás da minha orelha, e olhando meus all-stars, pretos.

–-Olá, prazer! Sou a Mafalda. – Ela suspirou, pondo a mão no peito – Ainda bem que eu encontrei outra portuguesa. – ela disse, arrumando, alguns fios de seu cabelo. – Sério. Estava imaginando que teria que ficar aqui olhando para o céu, durante sei lá quantas horas até que o Justin chegasse. – Eu sorri, ainda olhando para baixo. Normalmente, era tímida, como estava naquele momento. Não me abria com as pessoas logo na primeira vez que as conhecia. Talvez por precaução, ou por medo. Senti os olhos de Mafalda sobre mim. – Então, Carol, você é mesmo portuguesa? – Ela perguntou se pondo ao meu lado e apoiando as mãos na barra, como eu estava.

Sorri. Pelo jeito ela também tinha encontrado um bom lugar. E, quem sabe, talvez ficasse ali mesmo, para minha sorte. Mafalda parecia uma pessoa simpática, porém um estranho, é um estranho.

Então Carol? Não era você que queria fazer uma nova amizade? Aí tem, uma garota simpática, Belieber e portuguesa… O que você quer mais?

–-É. – eu respondi, encolhendo os ombros sem muito interesse, ainda reflectindo sobre meus pensamentos. Nunca gostei muito de viver em Portugal. As pessoas são um tanto quanto frias e egoístas. É bastante difícil você encontrar alguém que não te julgue logo na primeira vez que vê você. E, para além do mais, é um país super pequeno, com pouca população. Não tem nada assim de muito atractivo e eu me pergunto porque não nasci nos Estados Unidos. Digo, seria tudo muito mais fácil, não é mesmo? - Vivo no Norte de Portugal, e você Mafalda?

–-Verdade? – Ela perguntou entusiasmada, com um brilho no olhar. – Eu também! – quase guinchou, radiante, fazendo com que seus pequenos cachos balançassem. Aquela garota não devia estar nem ligando ao facto de nós estarmos sendo observadas por um monte de Espanholas que nos olhavam como se fossemos aliens por não perceberem nada do que dizíamos. Porém, tal coisa também não me incomodava nem um pouquinho. – De que cidade? – Ela perguntou curiosa.

Eu sorri, voltando a encara-la. Respirei fundo. Ali, podia ser quem eu quisesse, que nada me aconteceria. Podia rir, podia dançar, podia gritar, que ninguém me julgaria. Ali, eu era livre. Livre para ser eu. Livre para me expressar, para me soltar. Não havia nada a temer. Encarei minhas mãos por um instante, brincando com elas. Não há nada a temer, repeti de novo para mim. Então, sorri, encarando a garota na minha frente que me olhava ansiosa.

Não finja ser ninguém que não é. Os verdadeiros amigos te aceitaram sem pedirem para você mudar. Apenas seja feliz – a frase, que, uma vez, minha mãe me disse ecoou na minha cabeça e meu sorriso se alargou ainda mais.–Ah, você já está querendo saber de mais, não, menina Mafalda? – eu perguntei com um sorriso, brincando com ela. Sendo eu. Fazendo o que eu queria fazer.

Mafalda riu e eu ri junto. Ela parecia super divertida. E era fácil conversar com ela. Quando me dei conta, falámos sobre nossas vidas e eu descobri que ela era um ano mais nova que eu – tinha catorze e eu tinha quinze. Ela me contou que seu pai morava em Espanha e, como o Justin não ia a Portugal, que ela decidiu vir. Eu lhe contei que aquela era o meu presente de quinze anos, porque, apesar de os ter feito anos em Abril e estarmos em Junho, eu já tinha pedido a minha mãe. E como meu pai, tinha umas reuniões por aqui, ela deixou e ele me trouxe. Lhe contei que ia ficar em Madrid três semanas, mas como estávamos nas férias de Verão, não havia problema. Os assuntos iam e vinham. Nos sentámos no chão de pedra, devido ao cansaço, para não perder o lugar e continuamos fazendo perguntas uma à outra.

Fizemos um jogo e chegamos à conclusão que eu era a mais louca sobre o Bieber. Fazíamos gracinhas, cantávamos – ou gritávamos – as músicas dele, fazendo com que as outras Beliebers cantassem connosco. Eu estava me sentindo bem. Muito bem. Uma nova eu. Ou talvez, o eu que estivesse escondido há algum tempo. Aquele eu que vivia para fazer loucuras e que tinha uma risada escandalosa. Aquele eu que brigava por chocolate e batia o pé no chão quando estava zangada. Aquele eu que tinha vivido adormecido desde que elas entraram na minha vida. Aquele eu querido meigo, mas ao mesmo tempo divertido e brincalhão. Eu. Simplesmente eu.

Nenhuma de nós tinha namorado. Ela, porque achava os rapazes um tanto infantis, e eu, porque tinha acabado o meu relacionamento no fim das aulas. As coisas estavam diferentes entre mim e o meu – agora – ex-namorado. Continuávamos amigos e percebi que era assim que eu queria que ficássemos. Gostava muito do Guilherme, sabia que podia contar para ele todos os meus segredos e que ele nunca me julgaria. Nos compreendíamos e nos adorávamos, mas, simplesmente decidimos dar um tempo, para conhecer novas pessoas. Mafalda – ou Maffy, como eu a comecei a tratar carinhosamente – era super divertida e super meiga. Ela me contou que adorava toda a turma dela e que, quando as garotas tinham um problema ela sempre as ajudava. Acabei zoando ela, na brincadeira, a chamando de nerd, quando ela confessou que ficava nervosa com os exames e testes da escola e que estudava muito para eles. Eu ria muito das piadas que ela contava e ela ria das coisas sem sentido que eu falava. Parecíamos duas loucas, mas no fundo, estávamos divertindo para caramba. O tempo ia passando e nem nos dávamos conta. Era como se já nos conhecêssemos há muito tempo e fossemos velhas amigas de infância. Jogámos ao stop e a outros joguinhos legais, enquanto fazíamos perguntas aqui e ali. Ela me perguntou o que eu gostava de fazer nos meus tempos livres. Lhe disse que escrevia textos, com um pouco de vergonha. A escrita era como um refúgio para mim. Tudo acontecia como eu queria. As garotas que eu queria ser, os garotos que eu queria ter. Os locais que eu gostava de visitar, momentos que nunca vivi. Era uma forma que eu tinha de me ausentar de todo aquele mundo injusto. Uma forma de me fazer sorrir ao imaginar uma futura cena, uma forma de me livrar de todas as complicações que corriam na minha vida. Porque todo o mundo é viciado em algo que lhes ajuda a esquecer os problemas. Ela ficou entusiasmada e comentou que adorava ler. Desde pequenina que gostava. Perguntou se eu tinha trazido algum texto e eu acenei com a cabeça. Comigo, na minha carteira, estava um dos textos que eu mais gostava. “O amor de uma Belieber”. Falava de como era todo esse sentimento, todo o bem que Justin fazia, explicava o orgulho que era ser fã. Os olhos de Mafalda brilharam e ela rapidamente tirou as quatro folhas que estavam na minha bolsa. Comentei que o texto estava em inglês, e ela disse que isso não era um problema. Enquanto ela lia, eu olhava para as minhas unhas, nervosa. Normalmente, não deixo as pessoas lerem aquilo que escrevo. É como se fosse uma propriedade minha. São os meus sentimentos, as minhas emoções, os meus pensamentos. Porém, com ela, não me importei. Algo me dizia que eu podia confiar naquela garota fofa e querida. Quando ela acabou, tinha lágrimas nos olhos e me abraçou. Me surpreendi, não só com o abraço inesperado, mas também com o comentário dela. Ela gesticulava com as mãos enquanto dizia que nunca tinha lido algo tão lindo e tão verdadeiro. Agradeci e arrumei o texto, com um sorriso tímido. Depois, como estávamos com fome, comemos biscoitos e riamos de mais outras besteiras. No meio de toda aquela confusão, ela perguntou, me encarando nos olhos, acabando de comer um dos biscoitos.

–-Então, em que lugar você está no show? – os olhos dela brilhavam. O sorriso que estava nos meus lábios desapareceu, dando lugar a um olhar triste. Olhei para minhas mãos, brincando com elas. Não sabia se estava pronta para falar aquilo em voz alta. A ferida ainda estava aberta e o sangue não tinha saído todo. Ainda doía, era recente. Custava. Mas eu já tinha lhe contado tanta coisa… E, talvez, me fizesse bem desabafar com alguém. Talvez me ajudaria a passar por cima de tudo aquilo.

–-Eu…er… - tentei ganhar coragem, suspirando – não consegui bilhetes para o show. Eles esgotaram na minha vez. – disse, quase num sussurro. Porém, sabia que Maffy tinha ouvido. Tentei não mostrar a dor que aquelas palavras provocaram em mim, assim que as disse, mas penso que não deu muito resultando. Meus olhos se encheram novamente de água, e eu me vi obrigada a inclinar a cabeça para trás, num gesto desesperado, como que para impedir que as lágrimas que lá estavam instaladas, escorressem. Respirei fundo várias vezes. Verbalizar aquele acontecimento tinha-o tornado muito mais real. Como um tiro no peito. No entanto, eu me recusaria a chorar.

Ok, tinha acontecido. Todo mundo tem azares na vida. Nem sempre as coisas correm como nós queremos. E ái? Damos a volta por cima. Sem dramas, sem loucuras. Só… superamos.

Voltei a olhar para Mafalda que tinha um sorriso triste nos lábios. Ela também me encarava, e num impulso, me abraçou. A abracei também, e a única coisa que eu conseguia pensar, era o quanto precisava daquele abraço. Daquele carinho. Dalguém que me apoiasse como ela estava fazendo. Então, soube que Mafalda era uma pessoa com um enorme coração, e que estava adicionada à minha lista de pessoas que eu considerava “amigos de verdade”. Quando nos afastámos, as lágrimas já tinham ido embora, e um sorriso sincero se formava em meus lábios.

–-Obrigada. - disse. Que poderia mais dizer? Eu realmente precisava de uma demonstração de amor. De me sentir bem, e ela me estava ajudando. Muito.

Ela sorriu, e ajeitando os óculos, me estendeu um papel rectangular. Eu ergui o sobrolho, pegando nele. Quando vi do que se tratava o meu coração deu um pulo. Apertei o papel nas minhas mãos, tentando, em vão, parar que elas tremessem. O que era aquilo? Porque é que aquilo estava nas minhas mãos? Nas minhas mãos?! Porque é que eu o segurava?

Era um bilhete para o show do Justin. Respirei fundo, não acreditando. Olhei para Mafalda, com uma certa falta de ar. A garota com os cabelos ondulados me sorria, encarando minha expressão. Eu continuava em choque. Sem feições. Totalmente inexpressiva. O que é que ela queria dizer com aquele gesto? Me entregar o bilhete dela, assim, sem mais nem menos. Tentei raciocinar. Ela estava mo dando? A mim?!

–-Você está me dando isso? – perguntei, um pouco fora de mim, com a voz alterada. A racionalidade não me acompanhava. Como é que aquela garota, que me tinha conhecido hoje, me estava oferecendo aquilo? Simplesmente não podia ser. Não havia mais pessoas assim, hoje em dia. Não estava certo! Aqueilo era dela! Não meu. Nunca meu. Da Maffy. Simplesmente dela. D-E-L-A!

Ela sorriu, um tanto envergonhada, encarando as mãos que estavam unidas sobre suas pernas, no entanto sua voz saiu firme.

–-Você precisa mais disso do que eu. – ela respondeu séria. – Você… Você realmente o ama. – Ok, eu continuava perplexa. O que é que ela estava dizendo?! Que eu amo o Justin?! Mas é claro! E ela, também não sente o mesmo que eu? Também não o ama? Afinal ela estava ali para ver o show certo? – Depois do texto que você fez sobre, como é ser uma Belieber, eu… - ela fez uma pausa passando a mão pelo cabelo, provavelmente tentando encontrar as palavras certas – eu me sentiria culpada se você não fosse nesse concerto. – ela disse, com um grande sorriso nos lábios. – nem precisa me dar o dinheiro, apenas…

–-Eu não posso. – disse, olhando para ela, com um sorriso fraco. Não estava acreditando. Os olhos dela me encaravam inquisidores. Eu realmente queria aquilo. Eu realmente queria entrar naquele show. Mas não assim. Maffy, também deveria ter sofrido muito por aquilo. E eu realmente não podia aceitar. Não era certo. Não podia. Por mais que quisesse, aquilo era dela. Era o sonho dela. E eu ficava contente por ela o ter realizado. – Desculpa, Maffy. – disse lhe entregando o papel, com todo o cuidado – mas isso é seu e eu não posso aceitar. – disse com um sorriso sincero. Porque se ela tinha tão bom coração assim, para me dar aquele bilhete, isso só provava que ela merecia estar lá na hora do show e não eu. Aquele bilhete, não era uma coisa que se podia dar. Era nosso. E aquele era dela. Totalmente dela. Ela é que tinha lutado por ele, feito sacrifícios por ele, poupado por ele. Se eu aceitasse, seria a pessoa mais egoísta do mundo. E isso eu realmente não sou.

–-Mas… - ela ia começar, mas eu a interrompi, com um riso.

–-Mas nada garota! – gargalhei, tentando fazer com que ela deixasse de insistir. Aquilo me quebrava o coração, porém, as coisas certas sempre custam, não é mesmo? É dela e ponto final. – Deixa de ser teimosa! – eu quase gritei, ainda com um sorriso gigante no rosto. A verdade é que estava me sentindo péssima, porque a parte mais egoísta de mim dizia para eu aceitar aquela porcaria logo e vazar daquele lugar. No entanto, essa minha parte invejosa nunca tinha ganho nenhuma batalha e nunca ganharia, muito menos agora. Eu tinha um coração, e ela também. E se o coração dela era assim tão bom para me oferecer aquele magnifico presente, então o meu seria bom o suficiente para saber recusar. - Isso é seu e você vai naquela porra de show e vai pensar em mim o tempo inteirinho – ela riu, assim como eu – Mas você vai. E… - eu pairei, dramatizando, coçando o queixo como se buscasse por uma solução – nem que eu tenha que alugar um helicóptero e aterrar no palco, eu entro lá! – eu disse e ela gargalhou comigo. Sabia que não ia ser assim. Eu não ia no show. Porém, só queria que ela deixasse de se sentir culpada sobre aquilo, porque, de alguma forma, eu sabia que ela se sentia culpada por ter bilhete e eu não. Mas, a vida é assim mesmo… Um dia há de chegar a minha vez, eu espero. Podia não ser hoje ou amanhã, mas eu ia vê-lo hoje e isso é que importava.

–-É, eu estou vendo, amanhã nos noticiários. – ela riu, fazendo voz grossa, imitando um jornalista - Concerto de Justin Bieber foi invadido por um helicóptero. - As duas caímos na risada. Minhas bochechas doíam e a cada segundo que passava, eu gostava mais de Maffy.

Estávamos tão embrenhadas na conversa que nem reparamos que o céu tinha escurecido. Confusa, olhei em volta. Todas as Beliebers já estavam de pé. Olhei para Mafalda que me entendeu e nos levantámos de um pulo. Apoiei meus braços na barreira e então todas elas começaram a gritar. Meu coração pulou. Num reflexo, mexi no meu cabelo. Eu tinha esse hábito quando estava nervosa. E naquele momento eu estava super nervosa. Toda aquela atmosfera, todos aqueles gritos, todos aqueles pensamentos intermináveis, todo aquele amor… Me estavam tirando do sério. Maffy, não gritava, assim como eu. Apenas sorria e se balançava de um lado para o outro como se estivesse dançando. Ela estava do meu lado esquerdo, mais perto da estrada do que eu. Mais perto do carro que eu. Mais perto dele que eu. Minha respiração ficou acelerada. No entanto o pique da loucura foi quando eu vi uma carrinha preta fazendo a cortada a direita e parar perto de nós. Uma carrinha preta com os vidros escuros. Gritos loucos e histéricos nos rodeavam. Olhei para Maffy, que também olhou para mim, no mesmo instante. Os olhos dela brilhavam e tinha um enorme sorriso no rosto. Eu estava do mesmo jeito. Ansiosa. Nervosa. Feliz. Não perdi nem mais um segundo e meus olhos se voltaram mais uma vez para a carrinha preta ligeiramente afastada de mim.

E então a porta detrás se abriu. Muito devagar e sem fazer barulho. E novamente, aquela corrente eléctrica percorreu meu corpo. Eu queria correr, me livrar daquele formigueiro que me deixava inquieta. Queria pular, queria gritar. E quando eu vi, as sapatilhas brancas saindo para fora do carro, assim como o resto dele, me deixou quase inconsciente.

Há momentos que não devem ser descritos porque nem todas as palavras do mundo vão ser realistas o suficiente para mostrar o que você sentiu, o que você pensou, o que você viu.

E aquele momento em que ele saiu da carrinha foi um deles. Eu deixei de ouvir os gritos, deixei de sentir o chão por baixo de meus pés, deixei de respirar, deixei de pensar. Não explicação humanamente possível. Não havia apenas um sentimento. Eram vários, todos misturados, todos pedindo para sair. Lágrimas de emoção queriam brotar dos meus olhos. Um sorriso rasgado que não conseguia transmitir toda a minha felicidade se instalara no meu rosto. Toda eu estava focada nele. Toda eu lhe pertencia. De uma forma estúpida, mas verdadeira. Não havia mundo, não havia problemas. Não havia nada. Apenas Carol e Justin Bieber. Uma Belieber louca e o seu ídolo. Bem na sua frente.

Os cabelos loiros, com algumas madeixas naturais mais escuras, balançavam suavemente devido à brisa que voava no ar. Os olhos eram castanhos, de um castanho doce como o mel. E na cara, ele tinha um sorriso. Aquele sorriso. Aquele sorriso que me deu forças para continuar. Aquele sorriso que me deixava totalmente desnorteada, aquele sorriso que me fazia acreditar que tudo era possível. Que aquilo era possível. Ele trazia uma t-shirt preta, com uma camisa desabotoada ao xadrez por cima. As calças eram pretas e contrastavam com a cor das sapatilhas. Como poderia alguém ser tão perfeito? Como poderia alguém ser tão lindo? Como poderia alguém me fazer sentir assim? Tão vulnerável às emoções, tão feliz, tão realizada?

Lágrimas de felicidade escorriam pelo meu rosto. Elas estavam quentes, apesar de poucas. Transportavam amor, saudade, paixão, sonhos. Transportavam duas histórias que, naquele momento se estavam cruzando. A minha e a dele.

E, nesse momento, um segundo passou. Tudo o que eu tinha pedido era para vê-lo durante um segundo. E ali estava eu, no mundo real, sem saber o que agir, o que fazer, enquanto o via. E dois segundos passaram e ele, simplesmente, continuou ali, parado sobre o meu olhar.

Os meus sentidos tinham voltado, mas os sentimentos continuavam no seu auge. Agora, eu tinha noção dos gritos que nos rodeavam, ainda dez vezes mais fortes daquilo que estavam cerca de um minuto atrás. Maffy, apertava minha mão, com um grande sorriso no rosto, totalmente focada nele. Todas nós estávamos da mesma maneira. Loucas, vidradas. Totalmente viciadas nele. Havia uma nova atmosfera no ar. Um novo cheiro, novos sentimentos. Tudo era novo. E eu me perguntei como apenas um segundo poderia ter mudado minha visão do mundo. Tudo estava colorido e naquele momento ninguém me podia deitar abaixo. Ninguém estava mais feliz do que eu estava. Ninguém sentia o que eu estava sentindo com aquela intensidade. Ninguém.

Justin começou a caminhar, fazendo mais gritos ecoarem. Os passos dele eram calmos, com as mãos nos bolsos. Minha voz tinha ido para o espaço. Por mais que também quisesse dar uma de louca e psicopata naquele momento, eu não conseguia. Me sentia mole. Me sentia realizada. Aquilo, aquele momento, era tudo pelo qual eu tinha sonhado. Meu coração atingia os limites da maior velocidade e eu perguntei se mais alguém conseguia ouvi-lo. Aquele tum-tum estava tão ritmado, tão rápido, tão apaixonado. Ele percorreu com o olhar toda a plateia, passando os olhos por mim. Passando os olhos por mim. Minha racionalidade já me tinha largado há muito mas eu sabia que o fato de ele ter olhado para a zona onde eu estava, era importante, não era?

Então, ele foi-se aproximando mais, sempre com aquele ar descontraído, das Beliebers que estavam da minha esquerda, fazendo com que eu o perdesse de visão. Afinal, havia um monte de cabeças com os mais variados tipos de cabelos e acessórios que dificultavam a minha visão. Respirei fundo tentando me acalmar e perceber tudo o que estava acontecendo.

Carol, você o viu! Você o viu!

Meu sorriso aumentou mais ainda. Aquilo não era um sonho, ou melhor, era, mas eu não estava dormindo. Era o mundo real e eu realmente estava ali. A pequenos metros dele. Respirando o mesmo ar que ele. O meu ídolo, o garoto por quem eu tenho um amor inquebrável. Justin Drew Bieber. Meu olhar se perdia entre as várias cabeças, tentando encontrá-lo de novo. Tudo o que eu desejava há muito tinha acontecido, mas isso não significava que era o fim. Mafalda quase que dava pulinhos bem perto de mim. Foi então que eu percebi. Ele estava tocando nelas. Tocando. E vinha caminhando em nossa direcção para nos tocar. Já nada era normal. Eu estava nas nuvens, no céu. Desesperada por um toque, coloquei minha mão para fora. E enquanto ele não chegava várias falas, imagens ou cenas, ia passando pela minha mente, ao mesmo tempo que o meu coração batia.

Tum-tum, tum-tum.

“There’s gonna be one less lonely girl…”

Estava hipnotizada pela voz daquele garoto que passava no ecrã. Era o cabelo loiro, eram os olhos castanhos. Ele era tão lindo! Quantos anos teria? Qual seria o seu nome?

Tum-tum, tum-tum.

“When I met you girl

My heart went knock (knock)…”

«Aquele garoto na revista é bonito» ela disse. Eu sorri. «O nome dele é Justin Bieber. E ele não é bonito, é lindo!» – exclamei no meio da rua.

Tum-tum, tum-tum.

Ele estava cada vez mais perto. Sentia os gritos aumentarem. Sentia as lágrimas a escorrerem. Senti a emoção. A felicidade. E pedi, para que aquele momento nunca mais acabasse.

Tum-tum, tum-tum.

“I'll never say never, I'll fight to forever…”

«Você nunca vai conhecer o Justin» - a vadia disse, com desdém. Eu sorri, cínica, não mostrando o quanto aquelas palavras me afectavam. «Claro que vou! Pode escrever. E quando isso acontecer, eu vou saber que por mais que tenha que lidar com pessoas como você, tudo tem uma recompensa.»

Tum-tum, tum-tum.

“Baby, baby, baby oooh
Thought you'd always be mine…”

Corri para o meu quarto, cantando e dançando. Queria mostrar o quão feliz eu estava. Porque afinal, Justin ia a Madrid, e eu, ia vê-lo.

Tum-tum, tum-tum.

Foi então, que o vi, mais uma vez. Tão perfeito, tão belo. Podia ser impossível, mas ele era mais bonito do que nas fotos. Muito mais bonito do que nos meus posters, nas minhas pulseiras, nas minhas t-shirts. Porque ele era Justin Bieber. Ele ia autografando papéis, tirando fotos e tocando nas mãos de algumas Beliebers. E eu, só queria que ele fizesse o mesmo comigo, por mais egoísta que esse pensamento fosse. Por mais errado, pois havia Beliebers que nunca o iam ver. Mas, há um momento, em que a sua felicidade depende do seu egocentrismo, e aquele, era um deles.

Tum-tum, tum-tum.

“I just need somebody to love!”

Estava em frente ao meu computador. Precisava escrever um texto. Ou melhor, eu queria escrever um texto. Um texto sobre ele, sobre minha inspiração, sobre o meu mundo. Descrever todos aqueles sentimentos que eu sentia quando ouvia a voz dele, o sorriso dele. Se apenas em fotos eu me sentia vulnerável ao seu olhar, imagina na vida real? E qual seria o nome do texto. Sorri, clicando com meus dedos finos as letras do teclado, enquanto escrevia “O Amor de uma Belieber”.

Tum-tum, tum-tum.

“I’m overboad and I need your love…”

«Durma com os anjos» minha mãe me disse, me dando um beijo na testa. Logo tive uma ideia louca e engraçada. Me levantei da cama, com um sorriso sapeca no rosto e, de pijama, caminhei até meu armário, começando a descolar um dos posters do meu Biebs que nele estavam grudados. «O que você está fazendo?» mamãe perguntou enquanto e avaliava com o olhar. Eu sorri para ela e após ter o poster solto nas minhas mãos, fui ele para a cama, com cuidado para não rasgar o papel. Olhei para minha mãe e com um sorriso vitorioso, disse «Você disse para eu dormir com os anjinhos, mamãe». Ela sorriu de uma forma calorosa e abanou a cabeça negativamente. Depois, apagou a luz do meu quarto.

Tum-tum, tum-tum.

Fui incapaz de conter o meu mais largo sorriso quando reparei que ele estava apenas a meros metros de mim, sorrindo também. Ele parou de autografar o caderninho de uma outra Belieber que gritava histericamente e deu mais alguns passos. Droga! Porque eu não tinha trazido um caderno também? Num impulso, apertei a mão de Mafalda, que apertou a minha de volta. Sentia um friozinho na barriga só de o ver tão perto.

Tum-tum, tum-tum.

“Back down to the earth…”

«De todas as músicas do Justin, qual a que você mais gosta, mana?» Minha irmã de dez anos perguntou. Eu suspirei, não sabendo o que responder. Gostava de todas elas. No entanto havia duas em especial que mexiam comigo. «Talvez a “Down to the Earth” e “Favorite Girl”» respondi, com um sorriso.

Tum-tum, tum-tum.

I wait on you, forever, any day, U smile, I smile…”

Me deitei na cama, com um grande sorriso. No dia seguinte, seria o dia. O meu dia. O dia que eu nunca iria esquecer. O dia em que eu finalmente ia ver a pessoa que eu amava. Ah, Biebs, como eu posso amar tanto alguém que nem conheço? Como você conseguiu roubar meu coração apenas com sua linda voz relaxante e seu olhar que me faz derreter? Não apenas amor de fã. É amor de Belieber.

Tum-tum, tum-tum.

Meu coração batia rápido demais para minha própria sanidade. Ele se aproximou mais. Muito mais. A distância entre nós podia ser quebrada muito rápido, se eu não me controlasse. Justin caminhou entre várias Beliebers, apenas lhes tocando, sem dar autógrafos. Sorria, que nem um doido, obviamente contente por estar ali connosco. Suspirei. Ele era tão perfeito. Entendi mais a minha mão, tentando me acalmar. Ele tinha passado por umas Beliebers que estavam próximas a Mafalda. Depois, pela Belieber que estava ao lado dela lhes tocando. Estava quase na minha vez. Mais lágrimas doces e perfumadas escorreram pela minha face. E quando ele ia passar pela Mafalda ele simplesmente parou à frente dela. Quis dar um gritinho histérico. Ele tinha parado bem na frente de Mafalda com um enorme sorriso. Olhando para ela. Se eu quisesse, e se me esticasse, lhe conseguiria tocar no ombro, no entanto não o ia fazer. Queria ver aquela cena enquanto me orgulhava por ser amiga da garota que tinha feito Justin parar e lhe sorrir. Eu sempre disse que ela era linda e fofa. E querida. Ela realmente merecia aquele momento. Mafalda, ao contrário das outras, não gritou, apenas sorriu. Aquele sorriso verdadeiro. E eu sabia que ela estava tão – ou mais – feliz que eu. Justin se aproximou dela e pegou no caderno que ela tinha nas mãos, autografando. Fui incapaz de não reparar que, quando ele sorria, mostrando sua boca linda, duas covinhas delineavam as bochechas rosadas. Eu estava no céu. Eu estava no céu, vendo meu anjo. Sorri ainda mais, enquanto várias correntes quentes e que me transmitiam segurança percorriam meu corpo. Quando ele entregou o caderno a minha amiga lhe tocando na mão, ele voltou a sorrir, assim como ela. Uma lágrima escorreu do meu rosto. Será que ele me ia tocar também?

No entanto, o que me chocou foi o que ele perguntou a seguir, passando as mãos pelos cabelos, olhando fixamente para minha amiga.

–-So… - ele perguntou – do you have tickets for the show? (Então… você tem bilhetes para o show?)

Reprimi um grito alto de felicidade que se instalara no meu peito. Não sabia se estava no auge da felicidade por ter ouvido a voz linda e suave dele, ou se por ele ter perguntado a Maffy se ela tinha bilhetes. No meio de tantas Beliebers ele lhe perguntou! Que máximo! Respirei com mais força, observando Mafalda. Ela apenas sorria. Como é que ela podia estar tão calma, na frente dele? Então Mafalda falou, me apanhando totalmente desprevenida.

–-I have.(eu tenho) – ela disse, apontando para si. – But she doesn’t. (Mas ela não) – apontando para mim.

Senti meus olhos se arregalarem, mas rapidamente voltei ao normal. A única coisa que vi de seguida foi Justin se virar para mim, me olhar e o sorriso que ele tinha nos lábios se abrir ainda mais. Minhas pernas tremeram e eu soube que, se não tivesse apoiada na barra de metal, que tinha caído. Ele se aproximou de mim, fazendo com que a minha respiração ficasse ainda mais acelerada. Toda eu estava arrepiada. E, quando meus olhos pararam nos seus, naquela cor doce de mel misturada com castanho de chocolate eu me perdi. Tinha eu descoberto o paraíso? Não sentia mais meu corpo e minha cabeça girava. Pera aí, eu estava respirando?

Soltei o ar que tinha prendido com a aproximação dele. Mais gritos há minha volta. Se a beleza fosse crime, ele estaria em prisão perpétua. Nossos olhos continuavam se fitando. O tempo não importava. O mundo não importava. Eu estava com meu sonho realizado. Muito mais que isso. Eu estava o vendo, de perto, analisando e guardando na memória cada linha perfeita do seu semblante divino. Os lábios rosados, carnudos; as bochechas lisinhas, dando vontade de passar a mão; o cabelo caía docemente sobre a testa.

No entanto ao ver que ele estava sorrindo para mim, parei com a minha observação detalhada e voltei para a realidade, se é que aquilo estava realmente acontecendo. Eu sorri também, ao ver o sorriso dele. Era sempre assim, e por mais que eu quisesse não sabia como controlar. Para falar a verdade, eu nem sabia o que devia sentir. O que devia fazer. Só sabia que toda a dor que estava sentindo momentos atrás se tinha evaporado para um outro mundo, uma outra dimensão. Toda eu era cores, alegria, festa, flores e amor. Ele estava tão próximo que eu era capaz de o abraçar. Não estava próximo o suficiente, porque, naquela hora, toda minha consciência tinha voado para longe, assim como minha racionalidade, mas estava mais próximo do que eu algum dia pensei que nós estaríamos.

–-Your friend said to me, that you don’t have tickects for my show… (A tua amiga me disse que você não tinha bilhetes para o meu show…)- ele disse, com aquela voz calma, com aquela voz que me fazia delirar, continuando com o mesmo sorriso enquanto ainda me olhava. – Is that true? (Isso é verdade?) - ele perguntou, com um novo sorriso torto que fazia com que arrepios quentes e bons percorressem minha coluna, enquanto erguia o sobrolho, como se, duvidasse de mim na realidade.

Eu apenas limitei a acenar com a cabeça. Não sabia onde raio a minha voz se tinha enfiado. Devia estar perdida, algures, porque ela simplesmente não saía de minha boca. Eu me sentia uma idiota, ali, na frente dele, vivendo o momento dos momentos, sem dizer nada. Mais que poderia eu fazer quando era apenas ele a causa de tudo aquilo?

Ele olhou para baixo e tirou qualquer coisa do bolso da calça jeans. Era um papel. Um papel rectangular. Então, mais uma vez, o maldito coração aumentou de ritmo, pela décima quinta vez naquele dia. Depois de hoje, eu provavelmente teria um ataque cardíaco. Porém isso, não era relevante. Eu estava me cagando para o que aconteceria depois. Eu queria saber sobre o agora. Sobre eu e ele e aquela conversa demasiado boa e curta para ser real. Sobre seus sorrisos que me deixavam zonza e sobre seus olhares que me deixavam corada. Sobre seu cabelo perfeito loiro, com todos os fios alinhados e seus braços que eu tinha vontade de abraçar. Sobre sua boca chamativa e sua voz doce falando comigo. Sobre eu ele.

–-That’s curious… - ele colocou a mão direita no queixo como se estivesse pensando - Because, right now, in my hand, I have one ticket to give to one beautiful girl. Do you know one pretty girl that doesn’t have tickets? (Isso é curioso… Porque, agora mesmo, eu tenho um bilhete na minha mão para dar a uma garota linda. Você conhece alguma garota bonita que não tenha bilhete?)

Eu neguei com a cabeça, ainda encantada com a voz dele. Podia ouvi-la o resto da minha vida que não me cansaria. Toda a eternidade que não me cansaria.

–-Oh, forget it. I just foud her. – ele me estendeu o rectângulo feito de papel, pondo-o na minha mão. Eu apenas olhava para o papel, sem saber o que dizer. Sem saber o que sentir. Ora olhava para o bilhete que significava toda a minha luta até ali, ora olhava para o garoto mais lindo do mundo. Uma lágrima de pura felicidade escorreu, solitária pelo meu rosto. Ele tinha me chamado de linda? Ele me estava dando aquele bilhete? Nem que eu quisesse, eu conseguiria descrever o que sentia naquele momento. Não havia palavras que bastassem. Adjectivos ou advérbios os suficientes que explicassem tudo o que se passava no meu corpo e coração.

–-Thank you. – disse eu, num sussurro, uma vez que era o volume máximo que eu conseguia fazer a minha voz alcançar sem tremer ou tropeçar nas palavras. Aquelas duas palavras, apesar de serem pequenas e rápidas de dizer, transportavam todos os sentimentos que eu estava sentindo naquele momento. Transportavam toda a felicidade, toda a alegria, toda a sensação de ter um sonho realizado. Vinham do meu coração, que eu já não podia chamar de meu, uma vez que o dividia com o anjo à minha frente, sem ele ao menos saber.

Justin sorriu ainda mais e se aproximou ainda mais, estendendo os braços para mim. Num impulso, minhas mãos largaram a grade e meus braços o abraçaram. Foi desajeitado devido à barra que nos separava mas mesmo assim foi um abraço. O nosso abraço. O meu sonho. Coloquei a minha cabeça, na curva do seu pescoço sentindo o seu perfume Dolce&Gabana. Não me importei de estar sendo ousada. Aquela seria minha única oportunidade de o abraçar, então, mais valia vivê-la por completo. E quando senti os braços quentes dele me rodearem pelos ombros, enquanto minhas mãos descansavam em seu pescoço, eu fechei os olhos. Porque as coisas mais belas da vida são para serem sentidas e não vistas. E eu sentia sua pele em contacto com a minha. Seu cheiro nas minhas narinas, o sorriso puro e sincero dos meus lábios, uma lágrima fugitiva em meu rosto, meu coração palpitante e todos os calafrios gostosos que faziam minhas pernas tremerem, meu corpo se arrepiar.

Porque, de alguma forma inexplicável, eu me sentia segura como nunca antes me tinha sentido. Sentia que toda aquela luta tinha valido a pena. Que todos os esforços, lágrimas frustradas e decepções tinham um motivo. Porque tudo o que é mau não dura para sempre. Eu me sentia protegida, inteira completa. E ainda com os seus braços à volta dos meus ombros, eu senti que uma parte minha era dele, e que ele era o meu sonho. O meu mais belo e perfeito sonho.


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