Antagônicos escrita por StrawK


Capítulo 6
Café e Suco


Notas iniciais do capítulo

Yo! Mais um!
Desculpem-me por eventuais erros de digitação.
Obrigada a todos e comentaram e favoritaram!
Boa leitura.



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A música não era irritante.


Eu até gostava de ouvir Beatles de vez em quando; a questão era que ela assobiando Help! em um tom agudo e repetidas vezes estava fazendo eu me arrepender de ter concordado em lhe pagar o café-da-manhã.


Então atingi aquele momento em meus pensamentos em que me perguntava o que eu estava fazendo naquela cafeteria com uma maluca e golpista em potencial.


Era óbvio que não o fiz somente pela promessa de que Sakura – acho que era esse seu nome – sumiria da minha frente, mas sim porque embora eu tenha herdado a personalidade séria de meu pai, minha mãe me presenteou com uma parte – mesmo que pequena - de seu coração mole. O que era uma droga, por que eu comecei a imaginar se ela não era algum tipo de órfã que estivesse passando por dificuldades e não tinha mesmo dinheiro para o café.


— Então... Você falou sério sobre sua promessa. Estou impressionada — Ela estava sentada à minha frente, olhando o cardápio desinteressadamente. —Não achei que fosse do tipo que aceitasse ficar devendo uma para alguém.


Isso e o fato de poder me livrar de uma maluca.


— E não sou. Acontece que meu pai me ensinou a sempre honrar minhas promessas, por mais ridículas que sejam, então acho que você deveria se contentar com o café — Tentei parecer mais nobre em minha explicação.


Nem sabia porquê estava respondendo-a. Era só esperar ela fazer o pedido e então eu poderia dar-lhe as costas e nunca mais vê-la.


— Não seja bobo — ela sorriu. — Eu tenho dinheiro para o café, só estava brincando. Mas como você pareceu se arrepender da sua grosseria na delegacia e me chamou para cá, resolvi aceitar. Ou seja, se eu pagar o meu próprio café, você ainda fica me devendo uma.


Manipuladora. Era isso o que ela era; e eu queria muito manipular minhas mãos naquele pescocinho e torcê-lo até-


— Sakura-chan! Você por aqui em pleno domingo de manhã? — A garçonete, uma garota morena com dois coques laterais e avental verde, se aproximou sorridente.


Olhei-a atentamente, tentando me lembrar de onde reconhecia seu rosto, mas nada me veio à memória.


— Oi, Tenten! — Sakura sorriu novamente. Era irritante o modo com estava sempre sorrindo. — É que hoje precisei resolver uns... Probleminhas.


Tenten. Garçonete.


Me lembraria de não contar ao Neji onde sua amada Tenten estava trabalhando agora, como punição por não ter aparecido na delegacia. Ou talvez eu dissesse; assim, ele com certeza ia perturbá-la no trabalho e ela abriria um processo por assédio. Então ele seria preso e eu não iria à delegacia tentar livrar a cara dele.


Tenten olhou sugestivamente de Sakura para mim e levantou uma sobrancelha, divertida.


— Quem dera que todo probleminha fosse assim — Sim, ela disse isso. — O que vai querer, senhor Probleminha?


Senhor Probleminha. Senhor Probleminha!


Eu deveria levantar e ir embora agora mesmo. E diria ao Neji para esquecer essa Tenten; não tem classe alguma e ainda é amiga da maluca.


Mas não sei porquê estou surpreso. Já deveria saber que todos os malucos se conhecem.


— Um café sem açúcar — pedi em tom sério para ela perceber que não apreciei seu olhar sugestivo nem o apelido ridículo.


— Até o seu café é amargo, né? — Sakura me olhou inocentemente; algo que eu sabia que ela não era, e em troca recebeu meu melhor olhar de indiferença. Reagiu à isso somente levantando as duas sobrancelhas em uma expressão que identifiquei como “não está mais aqui quem falou”.


— E para você, o de sempre, Sakura? — Tenten anotou algo na comanda e quase não esperou pela resposta antes de se dirigir ao balcão.


Alguns segundos se passaram em que Sakura analisava meu rosto, estreitando os olhos verdes — eu já disse que eram verdes? — e eu estava começando a me sentir desconfortável quando ela resolveu se pronunciar.


— Me diga, senhor Uchiha... Você não costuma se divertir muito, não é?


Perguntei-me qual a era a ideia de diversão a que ela se referia; pois continuava sorrindo mesmo depois da manhã infernal que passamos. Ela deveria reclamar de dor de cabeça, visto o curativo em sua testa.


— Suponho que deva achar divertido atropelar pessoas com uma bicicleta e passar uma manhã na delegacia — comentei, calmo. — Mas saiba que você não é exatamente o tipo de termômetro de julgamento de bom-senso social que eu usaria.


­— Caramba, você é bem chato mesmo — falou com naturalidade, não se abalando mais com qualquer resposta mal-criada de minha parte. Parecia me encarar como uma psicóloga. Ou uma pessoa que sofreu lobotomia.


Tenten retornou com os pedidos, depositando-os na mesa e retirou-se em seguida. Encarei a bandeja de Sakura incrédulo.


Suco de laranja gelado, panquecas redondas com cobertura doce, um pedaço de bolo de chocolate e também um pequeno saco plástico transparente com alguns doces que reconheci como goma de mascar.


— Você vai comer isso — apontei seu pedido, incrédulo. Eu preferia constatar a fazer perguntas retóricas.


— Você não sabe o que é bom. – Ela deu de ombros, despejando uma quantidade generosa de açúcar no copo de suco.


— Mas eu sei o que não é bom. Ser atropelado por uma maluca de bicicleta, não é bom. Levar uma maçã na cabeça e ser confundido com um tarado por velhas, não é bom — não sei porquê eu estava falando tanto. — Ser preso com o monstro do esgoto, e ainda ouvir piadas, definitivamente não é bom. E-


— E no entanto, você está aqui, são e salvo, tomando esse café ruim com uma linda garota. Isso não é bom?


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Eu estava mesmo brincando, porém ele demorou um pouco para compreender e ficou um pouco sem graça. Acho que ainda não havia se acostumado à minha espontaneidade – que Temari costumava chamar de falta de semancol — mas se recuperou rápido. Que engraçado.


— Seria, se tivesse ao menos uma linda garota aqui — falou, seco.


Olha, eu não ia me abalar com aquele comentário tão mal-educado porque desde que percebi que Uchiha Sasuke era um daqueles caras odiavelmente chatos eu resolvi... Flutuar. Sim, como minha terapeuta me orientou e como minha tia Tsunade insistia para que eu seguisse. Porque se eu não estivesse leve, pensando em como os olhos dele eram tão escuros que quase não dava para ver a pupila, enquanto ele me insultava, eu teria mesmo sei lá, por acidente, jogado aquele café quente e amargo na cara dele.


Mas eu não faria isso, porque contei até noventa e sete.


O engraçado era que eu não sabia dizer o motivo que me levou a acompanhá-lo à cafeteria, se ele era um sério candidato a me fazer perder toda minha serenidade, que não era muita.


As panquecas maravilhosas com geléia de morango à minha frente me lembraram que eu estava ali porque estava com fome. Até disfarcei o barulho do meu estômago assobiando.


Terminei de comer minhas panquecas e me preparei para atacar o bolo. Ele me olhava de um jeito engraçado, — o Sasuke, não o bolo — acho que imaginado como uma garota pequena conseguia comer tanto. Ou talvez estivesse se perguntando por que meu cabelo era rosa.


— Experiente, está divino — estendi o garfo na direção da boca dele.


— Não quero — ele virava o rosto e eu fazia o garfo seguí-lo com um míssil teleguiado. — Você só pode estar brincando.


— Experimenta só um pouco. Para adoçar a sua vida! — Insisti, só de sacanagem. Eu era uma menina má?


— Não, inferno.


Então, uma das três fatalidades da minha vida — minha mania desastrada — apareceu para me fazer bater o cotovelo na xícara de café ultraquente do Sasuke.


O recipiente virou e o líquido de temperatura elevada se espalhou pelo colo dele. Assim, bem devagar, enquanto ele arregalava os olhos.


— Merda! — O Uchiha praguejou, tentando desgrudar a calça jeans de sua coxa com a ponta dos dedos, semilevantado no espaço entre a mesa e o banco.


— Caramba, eu queimei você — arregalei os olhos. — Espera aí que vou te ajudar.


Eu precisava fazer algo, então a primeira coisa que me passou pela cabeça, foi aliviar o desconforto causado pelo café quente. E foi por isso que eu peguei meu copo de suco de laranja gelado.


— O que você vai fazer? — Ainda deu tempo de ouvi-lo perguntar, coitado.


Ele mesmo se interrompeu quando sentiu o líquido gelado em suas pernas, que eu derramei com um prazer quase imoral.


Acho que ao menos aliviou a dor, por que antes de fazer a cara feia que ele fez para mim, ele suspirou de alívio.


— Agora você me deve mais uma — sorri como um herói que acabara de cumprir uma missão.


— Na verdade... Agora parece que não tive tempo de chegar ao banheiro — rosnou.


— Hum... Não seja exagerado — peguei um dos grandes guardanapos de pano para ele tentar se secar; o que eu duvidava que conseguisse, mas o que valia era a intenção, mas acabou escorregando da minha mão, indo parar embaixo da mesa.


Acho que Sasuke ficou atônito quando me viu desaparecer embaixo da mesa à procura do guardanapo. Deve ter arregalado os olhos quando ao me levantar, bati a cabeça, provocando um barulho maciço. Ao menos não era um barulho oco.


Na verdade eu nunca soube dizer direito a diferença entre barulho oco e maciço, então não tinha como ter certeza. Hum...


— Você é retardada ou o quê? — Ele inclinou o corpo de lado para me ver esfregando a cabeça, quase gritando. — Eu, definitivamente... Quero distância de você.


Dizendo isto, saiu resmungando da lanchonete. Sem pagar a conta, o danadinho.


Fiz minhas contas: salvá-lo de levar um soco do Kankurou-monstro-do-esgoto, livrá-lo da terrível dor da queimação com um suco gelado, e ­se eu pagasse a conta dele agora — o café que derrubei — seriam três.


Bom, ele estava me devendo três, mesmo. Claro que eu não ia cobrar, pois decidi que tampouco queria vê-lo novamente.


Eu não estava mais leve e passava longe da sensação de flutuar; mas eu estava bem satisfeita.


No sentido gastronômico e principalmente, moral.

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CONTINUA

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Notas finais do capítulo

Vocês perceberam que a Sakura está mais malandra aqui, né?
Pois é. Ela continua desastrada e sem sorte, mas às vezes ela vai se aproveitar das três fatalidades de sua vida para fazer de propósito, se a tentativa de se manter leve resolver falhar. Haha
Só ficará um pouco difícil deixá-la tão imprevisível quanto na outra versão, já que aqui teremos os próprios pensamentos dela, mas farei o possível.
Então, o que acharam?
Me digam nos reviews! Leio todos com muito carinho! =3
Besitows,
StrawK