Antagônicos escrita por StrawK


Capítulo 7
Silêncio e Barulho


Notas iniciais do capítulo

Não betado. Desculpem eventuais erros de digitação.
Espero que apreciem. ^^



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Cheguei em casa me sentindo extremamente ridículo; minha calça molhada e manchada cheirava a café e meus cabelos provavelmente se encontravam um verdadeiro caos de tanto que eu passava a mão sobre eles, exasperado.


Encarei meu reflexo no enorme espelho do meu banheiro, quase entrando em desespero ao confirmar meu estado lastimável. Parecia que eu havia acabado de sair de uma garrafa.


Retirei minhas roupas e liguei o chuveiro na temperatura fria. A água gelada agiu em meu corpo como um relaxante; de repente eu não estava mais tão irritado. A única coisa que eu queria era deitar e dormir, mesmo com meu estômago reclamando por alimento.


Depois que vesti meu pijama, coloquei minha calça de molho numa bacia com água e sabão em pó e minha camisa no cesto de roupas sujas. Não havia mais nada que eu pudesse organizar naquele apartamento e isso me aborreceu. Eu precisava organizar... Alguma coisa. Qualquer coisa.


Eu ainda tinha uma hora e meia para descansar para que pudesse levantar às treze e então almoçar. Programando meu relógio biológico para que isso ocorresse, deitei em minha cama e suspirei. Assim que fechei os olhos, meu celular tocou. Atendi.


— Não me diga que aconteceu o que eu acho que aconteceu — a voz de Neji era calma e arrastada.

— Não direi.


— Diga o que aconteceu. Havia mais de dez chamadas perdidas no meu celular e quando ouvi as mensagens de voz, era você me dizendo para comparecer à delegacia.

— Você saberia o que aconteceu se não estivesse com essa maldita ressaca.


— Não ache que me orgulho disso — ouvi seu riso sem humor do outro lado da linha.


— Não acho. E por isso mesmo que é tão divertido.


— Me conte o que aconteceu, Sasuke — Neji falou com uma ponta imperceptível de impaciência.


Respirei fundo e me perguntei se realmente valeria a pena reviver aqueles momentos insanos em minha mente.


— Uma... Garota — falei entredentes, enquanto meu indicador e polegar massageavam minhas têmporas.


Neji ficou mudo. Ou esperava que eu continuasse a narração, ou estava perplexo demais tentando entender o que uma garota tinha a ver com meu telefonema da delegacia.


Eu realmente não sabia por onde começar. Tudo o que aconteceu foi tão surreal que me perguntei diversas vezes se não passou de um sonho ruim.


— Ela disse que eu era... Chato — eu estava mesmo perturbado. Por que diabos resolvi contar logo isso?


A linha ficou muda novamente e quando eu estava prestes a desligar o celular e esquecer essa porcaria toda, ele se pronunciou:


— Não consigo imaginar você sendo preso por agredir uma garota que te insultou.


— Não agredi ninguém. Você sabe que eu nunca faria isso.


— Então?


Acabei contando minha trágica aventura matinal, obviamente, não com riqueza de detalhes; mas contei o que ele precisava saber, que era sobre a doida da bicicleta, as velhinhas hiperativas que me confundiram com um pervertido e minha prisão com um quase espancamento gratuito. Ocultei a parte do banho de café quente e suco de laranja, porque seria humilhação demais.


— Sasuke... — A voz de Neji soou apática depois de alguns segundos. — Me explique como tudo isso acontece e você consegue ficar mais preocupado com o insulto do que com o processo imbecil que você responderá. A não ser que a maluca da bicicleta seja o seu protótipo de mulher ideal, não há motivo para se incomodar com isso.


— Não estou incomodado — apertei o aparelho em minha mão. — E não, ela não passa nem perto do meu modelo de mulher, mas sim totalmente o contrário. Ela manipula as situações ao seu redor de uma forma, que no fim eu até me vi “devendo uma” à ela.


Ou duas. Não sei quantas vezes ela disse esses absurdos.

— Isso é engraçado de várias formas. Você geralmente despreza e ignora essas garotas. Espere... Não me diga que ela é bonita.

— Não vejo como essa resposta possa influir em meu julgamento sobre ela.

— Fiz uma pergunta.

— Sim — respondi à contra-gosto, estreitando os olhos. Era bonita de um jeito inteiramente estranho, mas tinha que admitir que ela não era horrível. — Mas totalmente sem classe. Passa longe de ser uma dama. Nem você se interessaria por ela.


Ou talvez sim, visto sua recente bebedeira por aquela garçonete que me chamou de Sr. Probleminha.

— Já parou para pensar que essa tal lady que você quer encontrar... Era sua mãe? Já reparou como você a descreve?


— Cale a boca e abra seu e-mail — precisei encerrar o assunto. Ele já estava começando a delirar.


Depois de instantes, ouvi-o praguejar baixinho e imaginei que ele estivesse em frente à tela do computador. Não pude evitar um sorriso.


— Delete essa mensagem vergonhosa e esqueça que a leu — Neji pronunciou indistintamente.


— Farei isso quando me mandar o número da Karin.


Ele resmungava os números para mim quando um som de música alta irrompeu o ambiente, vindo do apartamento vizinho.


“Help, I need somebody,
Help, not just anybody.
Help, you know I need someone.

Help!”


Percebi que alguém acompanhava a música, cantando divertidamente.

— O novo vizinho resolve atacar novamente? — Neji perguntou.

— Bingo. Resolverei isso mais tarde. Agora só preciso dormir um pouco.


— Boa sorte.

— Não preciso. Já esgotei a minha cota de azar por hoje.

.

_______________oOo_______________

.

Eu ia aproveitar minha tarde daquele domingo estranho para terminar de pintar meu apartamento — alugado — novo com a ajuda dos meus amigos queridos.


Só que ao contrário.


A parte dos amigos, quero dizer; porque eles eram uns bêbados sem coração que esqueceram que prometeram me ajudar hoje.


Subi novamente no banquinho de madeira para dar uns retoques na minha parede lilás linda e mais uma vez, deixei a tinta do pincel respingar no meu macacão. Provavelmente minha cara estivesse suja também e eu nem queria pensar no estado que o meu cabelo se encontrava, mesmo estando amarrado em duas marias-chiquinhas. Será que aquele tipo de tinta sai fácil do cabelo? Ele já estava na altura dos ombros desde que tive de cortá-lo quando grudaram um chiclete nele.


Se minha mãe me visse assim, ia surtar. Ela sempre reclamava da maioria das minhas roupas. Não que eu não gostasse de aparentar ser uma dama esnobe de vez em quando; era até divertido, mas salto alto era um grande desafio à minha coordenação. Entretanto não era tão grave assim; apesar de não usar terninhos e saltos com freqüência — quase nunca — eu meio que tinha um estilo legal. Pelo menos era isso que o Sai vivia me dizendo.


Espera. Pensando bem, era o Sai; então eu provavelmente teria mesmo que reavaliar meu guarda-roupa, porque ele era um cretino adulador dissimulado. Mas eu gostava dele mesmo assim — provavelmente porque eu gosto de todo mundo, mesmo.


Eu estava pensando nessas coisas porque enquanto pintava a parede já havia gastado todo meu estoque de pensamentos inteligentes, então agora restaram esses.


Desci do banquinho e admirei meu trabalho.


— Nada mal, não acha, gato? — perguntei para o animal com cara de poucos amigos a meu lado, que simplesmente me ignorou, dando as costas.

Olhei em volta já prevendo o trabalho que teria para arrumar tudo e suspirei. Havia feito um bom progresso nos últimos três dias; agora tinha meu próprio cantinho, ao invés de morar com Temari. Dei sorte de conseguir alugar um apartamento tão bom por um valor bem inferior, só porque ele pertence ao Gaara — irmão da Temari — que voltou para a casa dos pais porque era mais próxima à Universidade que ele freqüentava.


Continuei a cantarolar a música que tocava em meu aparelho de som, que estava ligado desde que cheguei, enquanto começava a limpar a sala. Eu não gostava de ficar sozinha, mas quando ficava, era a música que me fazia companhia.

Ouvi o toque da campainha e revirei os olhos. Tinha certeza que era Konohamaru, um garoto de uns doze anos que morava no segundo andar que passou a perseguir-me desde que cheguei ao condomínio, dizendo estar apaixonado.

– Pela última vez, Konohamaru! — Gritei, antes mesmo de atender a porta. — Eu não quero me CASAR com você! Não quero MORAR com você! E não estou usando lingerie vermelha¹!

Dizendo isso, escancarei a porta e deixei o queixo cair ao me deparar com um par de olhos negros me observando, céticos. Definitivamente, aquela pessoa não se parecia nem um pouco com o garotinho pervertido.

— Senhor... Uchiha? — Consegui balbuciar.


Devo dizer que ver o Uchiha assim, arrumado, de cabelo ainda úmido pelo provável banho recém tomado estava bem mais interessante que hoje de manhã, quando estava todo bagunçado e com aquele olhar assassino para cima de mim. Agora aparentava estar bem mais relaxado. Ou não deixou transparecer o quanto estava surpreso ao ver a mim e meu macacão sujo de tinta lilás.


— Você... — Ele grunhiu. — Isso só pode ser uma brincadeira de muito mau gosto. Então VOCÊ é a minha nova vizinha...

Olha, eu ainda não tinha conseguido fechar a boca. O Senhor Chato estava na minha porta! Fala sério, qual a chance de isso acontecer?

— Hum... — Consegui soltar, bem inteligente. — Logo, você é meu vizinho — Eu era um gênio, não? De repente, me deu uma vontade louca de dar risada. — Hey, isso até que é engraçado!


Ele levantou uma sobrancelha e passou as mãos pelos cabelos, num ato que alguma escritora de romance de banca² descreveria como definitivamente sexy. Mas eu não era uma escritora de romance banca, então só reparei que os cabelos dele eram espetados de uma forma engraçada na parte de trás.

— Posso entrar? — Ele perguntou, sem rodeios.

Daí que eu nem estranhei ele se convidando para meu apartamento, só que ao contrário. Ele não disse que queria distância depois do incidente no café da manhã? Mas o que eu poderia fazer a não ser abrir a porta e dar passagem para que ele pudesse entrar e repudiar minha desorganização em pensamento?

O Uchiha examinou a bagunça do local, como se achasse um absurdo eu mesma fazer a reforma.


— Realmente não esperava que meu novo vizinho barulhento fosse você. Mas já que não posso fazer nada a respeito disso, é bom que deixemos claras algumas regras — o tom dele era contrariado, porém contido.

Permanecemos de pé, um de frente para o outro, já que não havia lugar para sentar naquela sala bagunçada. Aproveitei a oportunidade para examiná-lo melhor.


Mas que inferno. Ele era tipo... Bonito. Arrogantemente bonito. E provavelmente me odiava, então eu decidi que ele era feio.

— Regras — repeti. — Que tipo de regras?

— Não se preocupe, são coisas simples. Nada muito complicado de entender — ele estava me chamando de burra? — Como, por exemplo, parar de martelar e quebrar coisas em horários inapropriados e ouvir suas músicas em volume baixo — falava como um militar, também. Pff...

— É que é tudo tão silencioso e sem vida nesse apartamento aí ao lado que eu pensei que estivesse desocupado...


— Pois não está. E gostaria de paz e tranqüilidade, indiscutivelmente.

— Sim, senhor capitão! — Fiz continência, só para irritá-lo.


— Você existe, mesmo? — perguntou, abismado com minha retardatice.


Tipo, eu quase perguntei se ele queria apertar para ver se eu era real, mas deixa pra lá.

— Algo mais? — Indaguei, com falso ar de nobreza, enquanto retirava uma das luvas de borracha que usei para pintar a parede. Na verdade só estava de luvas porque a Temari tinha feito minhas unhas no sábado e se ela as visse arruinadas com tinta, eu ia apanhar.

Me atrapalhei um pouco ao retirar a segunda luva, e num movimento brusco, a puxei, esticando-a como um elástico, fazendo com que ela voasse violentamente, como um estilingue até o rosto do Uchiha.


Plaft, foi o barulho.


O som tosco da luva batendo contra o rosto dele foi o único som durante longos segundos. Acho que não foi uma dor insuportável, mas vi quando seus olhos lacrimejaram e o nariz se avermelhou.

Arregalei os olhos e aproximei-me, colocando a mão sobre seu rosto.


— Caramba, eu estilinguei você! — Eu sabia que o verbo estilingar não existia, mas não me importei em explicar isso quando ele levantou uma sobrancelha ao som da palavra. — Hum... Me desculpa. Machucou?


Se eu fosse assassina de aluguel, não teria tanto êxito no meu trabalho quanto tenho em esculhambar as pessoas sem querer, sendo uma simples estudante de arqueologia.


Eu teria muito mais pena se ele não estivesse todo revoltadindo, me olhando com desprezo e instinto homicida. No entanto, eu estava lá, alisando o nariz feio dele e cantarolando aquelas musiquinhas de “sara quando casar”, quando percebi seu rosto se abrasando. Não sabia se era pela ardência da luvada ou por vergonha das musiquinhas que eu cantava. Que engraçado. Eu acho que ia corar também.


Tive que me afastar, sem jeito, porque aquele perfume ruim dele estava me enjoando.


— Eu... — Ele falou, engolindo em seco. — Espero que tenha entendido.

Sim, eu entendi. Entendi que devo ter mais cuidado ao retirar luvas de borracha perto de outras pessoas e que não devo mais me aproximar dele se não quiser morrer asfixiada com aquele perfume fedido.


O Uchiha saiu do meu apartamento mastigando palavras para si mesmo, como o bom velho resmungão que era.


Dei de ombros, certa de que agora sim ele devia realmente me odiar.

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CONTINUA

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Notas finais do capítulo

¹Frase inspirada no filme 'Enquanto você dormia' com Sandra Bullock.
²Para quem não sabe, romance de banca são aqueles livrinhos tipo Sabrina, Julia, Bianca, etc...
Esse ficou um cadim maior. =)
Obrigadíssima pelos REVIEWS.
Besitows,
StrawK!