Rachael POV

Para a minha surpresa, funcionou. Consegui sonhar com o que eu queria, só que meu sonho não estava tão nítido quanto o outro. Estava de certa forma escuro e confuso. Eu via duas imagens ao mesmo tempo. Como se um sonho normal tentasse tomar conta da minha "premonição". No final, acabei conseguindo ver mais ou menos o que cairia na prova, só não consegui saber se me daria bem ou não (provavelmente não).

Tenho que me lembrar de pedir uma explicação pra Aly depois. A prova de hoje é biologia, a matéria favorita dela. Só não sei como vou conseguir disfarçar que sei a prova inteira delas... Vão achar que trapaceei e vi a prova antes. Não. Tudo menos ser desonesta. Pensando bem, com esse sonho, estou sendo desonesta com a prova.

Ah, quer saber? Nem tô ligando, não vou estudar e fica assim, só o que sei desde o começo. É a decisão correta. Estou certa?

Tudo feito em casa.

No caminho encontro uma família de mudança. Quem será que é? Não faço idéia, parecem ser estrangeiros.

Ah, a Kayla já chegou, agora só falta a Aly. Acho que vou pedir uma explicação básica pra ela, sim. Sem nada muito específico para não levantar suspeitas.

– Hey, Rach! Hoje resolveu não comer nada no café, menina? Chegou até que cedo hoje. É a ansiedade de perguntar a matéria da prova. Era mesmo?

– Oi Kayla! É que hoje levantei mais cedo por insônia...

– Ah, é? Bom, se é assim...

Apesar da minha desculpa super esfarrapada, ela aceitou isso bem demais. Fala sério, quem é que levanta mais cedo por ter insônia? Ou vai pra escola por não conseguir dormir?

– Estudou bastante pra prova Rach? Digo, decentemente? Claro que não, né?

– Estudar um pouco, sempre, mas "decentemente"...

– Nossa Rach, isso foi uma pergunta retórica. Você acha que eu não sei disso? Era pra você rir e não responder! O que anda na sua cabeça pra você estar tão desligada?

– Ah, Kayla, me desculpa, eu não tive a intenção de...

– E desde quando você pede desculpas?

– Desde que eu senti calor no pólo Sul. Bom dia pessoal! - Essa era a Aly, aparecendo sempre nas piores horas. - Kayla! O que é que você fez pra Rach pedir desculpas?

A Kayla puxou a Aly pra perto e começou a explicar o que tinha acontecido. Não que eu precisasse ouvir tudo de novo, mas elas estavam falando baixo demais.

– Não é nada gente! E me desculpa vocês duas! Desde ontem vocês estão assim! Parece até que vocês estão escondendo alguma coisa de mim!

– Ih... Kaylinha querida, acho sabemos muito a causa do estresse dela... - As duas deram uma rápida entreolhada até que uma se manifestou.

– Alyzinha, você está certa, melhor deixá-la sozinha por enquanto.

Arregalei os olhos. Desde quando elas se tratavam por esse apelidINHOS? Certo, certo, eu podia estar um pouco desligada por causa do sonho, mas elas também estavam agindo de forma suspeita.

– Kayla, Aly, que tal nos esquecermos disso e irmos para dentro?

– Boa idéia, Rach.

– Vamos, eu ainda preciso passar no banheiro.

Revirei os olhos. Essas minhas amigas não se decidem.

Perdi a chance de perguntar pra Aly a matéria e a hora da prova chegou. Não fui tão mal, mas não tão bem. Perfeito. Pelo menos pra mim.

O que se seguiu não foi esperado, não para essa época do ano. O professor que estava na sala disse que no dia seguinte um novo aluno chegaria. Na época de provas é muito estranho.

– Sei que é estranho alguém entrar nessa época do ano, mas nosso novo colega vem de longe e está aqui apenas para intercâmbio. Sejam bons com ele. Ele ficará por aproximadamente dois meses.

Ouvi vários murmúrios pela classe.

– Como será que é esse aluno novo?

– Será que ele é bonito?

Nem prestei muita atenção nas pessoas ao meu redor. E fiquei pensando em como ele seria. Não. Não, não, não, não. Rachael Kettel. Você jurou não pensar em garotos. Você não quer se apaixonar pr alguém! Eu não quero. Simplesmente não quero! É isso!

– EI! RACHAEL!

– AII! O que foi Kayla? Pra que ficar gritando assim?!

– É que você não estava respondendo. Em que planeta você estava, hein? Em Halley?

– Kayla...

– Que foi Aly?

– É que Halley não é um planeta... É um cometa.

– É?

– É.

– Ah, é. Verdade. Enfim, Rachael, no que você estava pensando? Será que podia ser nesse aluno novo? Por acaso você o conhece?

– Não estava pensando em nada! E nem conheço esse menino ou seja lá o que ele for!

– Ih, ficou estressada de novo, Rach?

– Claro que não! Isso é coisa de vocês.

– Tem razão, coisa da gente, não é, Kayla?

– Lógico, Aly.

De novo aquele sorriso disfarçado das duas e o olhar suspeito... Se eu estava estranha, as duas estavam muito mais!

A volta foi rápida. Nem prestei atenção no caminho e quase passei minha casa. Entrei. Tudo impecável novamente. Taquei a mochila num canto e desabei no sofá.

O que estava acontecendo comigo? Realmente, eu não era assim.

Cochilei. Nenhum sonho fora do comum. Será que isso era apenas coincidência?

Ai, droga, já passou das dez e eu nem fiz nada. Vamos ver... Amanhã duas provas, primeiro a de matemática e outra de filosofia.

Jantei. Estudei. Tomei banho. Fui dormir. Meu último pensamento da noite foi: "O que está havendo comigo?"

Uma voz ecoava no fundo da minha cabeça. Era uma voz sombria, mas um tanto infantil. Mas muito sombria.

"Rachael, logo você saberá, mas por enquanto, confie nele."

"Nele quem?" - Tentei perguntar, mas nada voltava como resposta. Uma figura encapuzada de repente apareceu na minha frente. Não enxergava seu rosto, mas era uma figura familiar.

"Rachael, é melhor você não saber ainda." A voz vinha da pessoa a minha frente, mas eu reparei que ela não mexia a boca ao falar. "É muito cedo para você decidir. Mais cinco dias e ele virá até você."

De novo. A quem ele estava se referindo? Seriam o "nele" e o "ele" a mesma pessoa? E o que haverá em cinco dias?

Acordei suando. O quem seria ele?