Rachael POV

Falta exatamente uma semana para o meu aniversário e eu não percebi nenhuma movimentação entre meus amigos e, principalmente, meus pais. Já era quase rotina, todo ano eles vinham com aquele sorriso falso e falavam para mim convidar minhas amigas pro meu aniversário. Esse ano, nada. Eu estou para fazer dezoito anos! Eu tenho que ganhar alguma atenção! Finalmente, o ano da liberdade! Mas não, minha família não gosta de mim.

Nasci indesejadamente, um acidente. Isso é apenas o começo. Nasci numa família rica, num condomínio de casas chique. Apesar de tratada com muito mimo, dava para perceber que já era odiada desde criança e ninguém percebia isso. Meus pais tem um nome a zelar, não podem simplesmente tratar mal a filha deles. Eles são donos de uma ONG, uma ONG que preza os cuidados da criança e o quão é importante ela receber carinho desde criança para que não se revolte quando crescer. Maravilhoso. Super a cara deles!

Mais uma razão para eu não ser amada é que eu não dava a mínima para os estudos. E, é lógico, e estudava numa escola particular cara, a melhor da cidade. Era longe, mas meus pais não “se importavam” em pagar alguém para me trazer e levar. Até que chegou a hora do “basta”. Repeti duas vezes, uma na sexta série e depois no primeiro colegial (tanto é que estou no segundo agora). Se enfezaram de eu ir mal e, ano passado, decidiram me colocar em uma escola pública e perto de casa para que eu pudesse ir a pé. Não foi uma mudança tão ruim assim, nessa escola há pessoas mais humildes. Minhas amigas são assim.

Meus pais trabalham o dia todo, então tenho que acordar sozinha, almoçar sozinha e jantar sozinha. Eles voltam apenas à noite, quando eu já estou dormindo, ou então nem voltam. Irônico, não? De vez em quando eu consigo vê-los de manhã, saindo com aqueles carrões. Não que eu quisesse, mas isso me deixava menos sozinha.

Noite passada fui dormir pensando na prova de história que vai ter hoje. Sonhei com ela. E na prova só ia cair coisa que eu não estudei (muito pouco, só o necessário para passar de ano), eu me ferrei na prova. Isso seria um sinal ruim? Não estou nem ligando, não gosto de história, e nem de qualquer outra matéria.

Cama desarrumada. Confere. Closet bagunçado. Confere. Fazer o possível para sujar a cozinha. Confere. Bagunçar todos os tapetes que passo. Confere. Tudo pra deixar essa casa mais... Rachel e menos... pais retardados. Agora sim posso sair pra escola.

O caminho não é longo, a parte mais longa que preciso percorrer é dentro do condomínio.

– Fala, Rach! Demorou hoje! O que decidiu comer no café?

– Rach, preciso te contar uma coisa, a Kayla já sabe. Você sabe aquele menino do terceiro ano, turma B? Então...

Eu sorria e ficava mais feliz quando estava com minhas amigas, Kayla Reed e Alyssa Hill. Elas me fazem sentir radiante, me fazem rir.

Alyssa era a bonitinha da turma e bastante namoradeira. Esses dias têm tentado praticar algum esporte por causa da Kayla, mas não é bem a cara dela. Aly tem os cabelos ondulados e castanhos. Era quase do mesmo tamanho do que eu (1,65m) só que mais baixinha.

Kayla era bastante espontânea e energética. Praticava um monte de esportes na escola e também era bem esperta. Algumas vezes podia ser bem idiota, mas sempre nos faz rir. Ela é alta e tem cabelos curtos e escuros.

A prova de história era na primeira aula. O professor já tinha chegado na sala e olhava pra gente com cara emburrada.

– Com licença, professor – Dissemos, em uníssono. Ele nos encarou por um segundo, eu estava atrás, então não pude ver direito sua expressão, mas a Alyssa devia estar com uma cara de piedade. Ela é boa nisso.

O professor já tinha começado a entregar as provas. Sentamos e viramos a folha. Foi quando percebi, tive uma onda de déjà vu de repente. Era exatamente a prova do sonho. Olhei para os lados. Estávamos sentados do mesmo jeito como no sonho no mesmo horário, mesmo clima. Isso sempre acontece? Não. Coincidência? Talvez. Mas isso era muito estranho. Como no sonho eu me ferrei e não sabia nada.

O resto das aulas passou muito rápido. Deve ter sido porque eu fiquei pensando no que aconteceu hoje. Geralmente eu sonho com sonhos super sem noção, tipo o Justin Bieber cantando uma música da Madonna vestido de Hannah Montana no quadra da escola (sim, gosto dos três cantores), mas agora, foi exatamente como a realidade. Foi como se isso fosse uma premonição ou algo do tipo. Realmente, ontem à noite dormi pensando na prova e o pouco que eu estudei para ela. Será que isso tinha alguma coisa a ver? Essa noite testaria com as provas novamente, já que estavam em período de provas mesmo.

– Rach, você esta requisita hoje... Se atrasou pra escola...

– Mas isso não é estranho, Aly – Interrompeu Kayla

– Ta, mas ela ficou com cara de paisagem o dia inteiro! Isso não é normal pra Rach, normalmente ela iria...

– Ficar bagunçando, mexendo no celular dela, conversando com a gente ou dormindo... Ela ta mesmo estranha hoje.

– Será que ela... – Kayla e Aly se entreolharam dando um sorrisinho.

– Hello, gente! Estou aqui! – Interrompi – E não estou estranha coisíssima nenhuma, ok? Isso é coisa da cabeça de vocês. Vou embora.

– Ta, vai lá, Rach. Boa volta.

– Até, Rach.

– Tchau Kayla, Aly – Me despedi e elas ainda continuaram dando risinhos muito mal disfarçados. O que elas têm?

Realmente, eu estava um pouco esquisita hoje, mas minhas amigas estão exagerando. Agora voltaria pra casa, tomaria um banho e, faria uma coisa que pela primeira vez na vida estava ansiosa pra fazer, dormiria pensando na escola.