Rachael POV

Hoje havia um pequeno alvoroço na sala por causa do aluno novo... Inclusive minhas amigas, principalmente a Aly.

Eu? Não tinha interesse algum em garotos. Não me chamavam a atenção, não tinha nenhuma parte de mim que quisesse ficar com alguém. Não queria, não sabia por quê.

Finalmente o professor chegou na sala de aula e todos se aquietaram.

– Bom dia, classe. Como eu disse a vocês na aula anterior, esse é o aluno novo. Por favor, apresente-se.

– Meu nome é Ethan Steckel.

Enquanto dizia isso, ele me encarava como se eu fosse a única pessoa daquela sala. Estremeci. Seu olhar era profundo, como se me convidasse para adentrá-los e perder-me em sua escuridão. Seus olhos eram de uma cor escura, mas brilhosos. Parecia não haver cor fixa naquele poço imenso.

Eram lindos. Algo neles me atraía como o ímã atrai o metal. Era como se aquilo fosse a única coisa que me fizesse viver. Dentro, havia algo como uma chama que os faziam parecer arder, fortalecer o encanto.

Não conseguia parar de olhá-los. Até o professor quebrar o transe.

– Vamos Ethan, não seja tímido, fale um pouco mais sobre sua personalidade.

Ele olhou para o professor como se dissesse: "já disse o suficiente", deixando uma certa tensão no ar. Depois de alguns segundos de silêncio, Ethan sentou-se não em uma carteira qualquer, mas em uma carteira vazia atrás de mim.

Não precisava nem virar pra trás para saber que ele me encarava. Era como se pudesse sentir seu olhar me fulminando.

– E aí, Rachael? O que achou dele? - Disse Kayla

– Não achei nada de mais... - Comentou Aly - O rosto dele é bonito, já o cabelo...

– Eu gostei dele, tem cara de simpático, agente deveria chamar ele para se enturmar, o que você acha, Rach?

Não reparei em nada dele a não ser o olhar... Será que elas não tinham sentido nada? Elas não notavam como aquele olhar não era normal?

Eu conseguia sentir seu olhar ainda, não era uma coisa ruim, mas que, ainda sim, não era muito natural. Não era como se o olhar dele estivesse em mim, mas como se sua presença me marcasse. Era como senti-lo, sem ao menos vê-lo. Saber onde ele estava exatamente com os olhos fechados.

Quando eu o olhava, ele não desviava o olhar como qualquer outra pessoa faria, mas continuava a me encarar nos olhos.

– Ahn... Achei ele normal. - O que era uma mentira minha.

– Normal? Vocês ficaram se encarando fixamente quando o professor falava um pouco sobre o lugar de origem dele. Você já conhecia ele ou o quê?

Pisquei, o professor não havia falado nada sobre ele, tenho certeza... Não ouvi coisa alguma além dele se apresentando e o professor o incentivado a falar mais...

– Nunca vi ele na minha vida. - Disse, desviando o olhar.

– Sei... Mas então, vou chamá-lo para andar com agente, ok? - Sugeriu Kayla, meio desconfiada.

– Faça o que quiser.

Olhei as horas. Já passara três aulas que o professor chegara, ou melhor, que o professor falava sei-lá-o-quê sobre o aluno novo. Três aulas e eu não ouvira nada. Três aulas eu o encarava. Três aulas e nem o sinal eu ouvi. Isso eram duas horas e meia. Estava pior que o meu rendimento na aula, pelo menos na aula eu ouvia e de vez em quando prestava atenção. Mas agora...

A presença dele era realmente forte. Era como garoa fina, você sabe que ela esta lá, mas não se incomoda com ela realmente. Não é fria nem quente. É simplesmente fresca. Chega quase a ser agradável. Mas não é. Não passa de uma sensação. Uma sensação forte.

Parte de mim dizia que eu deveria ir falar com ele e perguntar o que há. Mas outra não...

O que fazer?

– Gente, vou lá falar com ele. – Disse Kayla, já indo na direção dele.

Eu queria gritar, dizer que não queria ele por perto, dizer o que ele causava em mim, segurá-la no pulso e impedi-la de fazer isso, mas tudo o que saiu foi:

– Ok.

Fiquei olhando ela ir conversar com o garoto com uma sensação de que me arrependeria depois.

– Ei Rach. Você também não ta achando que a Kayla ta gostando desse aluno novo? – Disse Aly.

– Eu... ahn... Não sei...

– Foi ela que ficou toda animada em falar com ele. E ainda é ela que está tendo toda essa iniciativa pra cima dele.

– Hm... Tem razão...

– Ih, continua desanimada, Rach?

– Não estou desanimada, Aly.

– Está sim.

– Não. Estou. – Soei mais irritada e grossa do que queria.

– Rachael! Eu sou sua amiga, eu sei quando você está desanimada, assim como você também perceberia se eu estivesse! Larga a mão de ser tão teimosa! Não sei por que você está TÃO desligada assim, mas pode contar pra mim e pra Kayla! Poxa, nós somos suas amigas e nos preocupamos com você! – Acho que ela só percebeu que estava gritando quando parou de falar.

Todos do pátio agora nos encaravam. Percebi que a Aly estava um pouco vermelha. Se a situação fosse outra eu até riria da cara de boba dela.

Quando todos já não olhavam e cochichavam de nós, Aly decidiu quebrar o silêncio.

– Vai contar ou não?

– Já disse que não é n...

Um barulho ecoou pelo pátio e eu já não olhava para a Aly, mas para o lado. E algo formigava em minha bochecha esquerda. E quando eu voltei a encará-la, seu braço atrapalhava minha visão. Ela havia me dado um tapa.

O choque foi tanto que até Ethan nos olhava espantado.

– Quando decidir nos contar o que há com você pode vir falar comigo, caso contrário, nem me se dirija a mim.

Assim que terminou de falar, saiu andando em direção à classe. Notei também que havia lágrimas em seus olhos. E de repente eu me senti triste.