Presa entre dois universos escrita por Elizabeth Campbell


Capítulo 6
Até o pacote de salgadinho sofre com as lembranças


Notas iniciais do capítulo

Finalmente arranjei tempo para escrever.



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Quando acordei, senti como se a força gravitacional estivesse exercendo um forte poder sobre mim. Abri os olhos e fitei o teto de uma cabana, havíamos chego na floresta, afinal. Olhei em volta, vendo o máximo possível sem mexer muito a cabeça – cujo interior parecia estar em uma guerra, como se vários mini-homens estivessem lutando contra minha cabeça a marteladas -, as malas estavam empilhadas, uma em cima da outra, no meu lado esquerdo e John estava sentado do meu lado direito – com a cabeça abaixada para não bater no teto da cabana -, quando me virei para encará-lo, ele neutralizou sua expressão, porém tarde o bastante para que eu pudesse vê-la, ele estava preocupado e muitíssimo cansado.

Eu tentei abrir a boca para falar, mas esta estava muito seca, porém, finalmente, consegui perguntar:

– Há quanto tempo fiquei dormindo? E como cheguei aqui?

John olhou em seu relógio de pulso e disse:

– Há, mais ou menos duas horas, eu te carreguei até aqui – ele me olhou e pensou um pouco, franzindo a testa -. O que houve? Você parecia desesperada e seu olhar estava sem foco, como se estivesse em outro lugar – ele não demonstrava apenas curiosidade, mas sim preocupação; porém, sua expressão não foi o bastante para me fazer contar o que houve.

– Não é da sua conta – eu disse.

Ele pensou um pouco, frustrado, mas não surpreso, então soltou um longo suspiro cansado e disse:

– Tem razão, não é da minha conta – eu fiquei surpresa por ele não insistir no assunto.

– Você parece muito cansado – eu disse, franzindo a testa.

– Isso não é da sua conta – ele disse, ecoando minha fala anterior.

– Calma, eu não quero saber a causa, só quero ajudar, você pode deitar onde estou e eu fico sentada. De qualquer jeito, não gosto de ficar aqui enquanto você banca minha babá.

Eu levantei, mesmo isso requerendo um esforço enorme. Eu soltei um grunhido, meio grogue e disse:

– Acabei de me lembrar que não como há horas, estou morrendo de fome e sede, onde tem comida?

– Nas malas tem salgadinho e garrafas d’água, mas eu não vou me deitar, preciso ficar atento caso alguém esteja nos perseguindo.

– Eu vou ficar acordada, caso escutar algum barulho, eu te chamo – mudei de posição para que ele pudesse tomar meu lugar.

John, com um certo receio de dormir e me deixar de guarda, deitou-se lentamente no amontoado de cobertas – que eu suspeitava que tivesse saído da mala, estava começando a acreditar que John tinha contatos com Hermione Granger.

Peguei um pacote de salgadinho de dentro da mala e comecei a comer enquanto observava John dormindo e reparava mais nele. Ele não era magro e nem muito musculoso, tinha os ombros largos e tinha músculos o suficiente para ser proporcional com o seu tamanho, e sorri ao pensar em como seria bom abraçá-lo; seu rosto estava sereno enquanto dormia.

Comecei a pensar sobre o estranho sentimento de paz que se apossou de mim desde que entrei naquele carro, sempre me senti meio desesperada, como se estivesse trancada em uma caixa, esse sentimento estava quase imperceptível agora.

De repente, comecei a ouvir vozes, e o pior é que elas não vinham do lado de fora da cabana, elas vinham da minha mente.

Eu estava de novo com o vestido azul, mas agora não corria pela floresta, estava apenas parada, escondida atrás de uma árvore, e vozes soavam do meu lado direito na floresta, não consegui entender o que falavam, a dor de cabeça estava forte demais, mas parece que o meu eu na floresta entendeu, pois saiu correndo, repetindo a cena que eu vira tantas vezes.

Voltei ao presente, eu continuava segurando o pacote de salgadinho, mas agora parecia que eu queria estrangulá-lo, e John dormia calmamente sobre os cobertores. A dor de cabeça continuava, então despejei um pouco de água na minha mão e espalhei pela testa, como se isso melhorasse.

Eu queria me lembrar mais, não me sentia assustada, mas sim curiosa, aquilo realmente parecia uma lembrança para mim, mas eu não me recordava – conscientemente – nada dela. A dor de cabeça me irritava profundamente, ela estava me atrapalhando. Cocei a cabeça, irritada; tentei me lembrar, mas parecia que se eu tentasse mais, eu iria desmaiar; o que me desagradava ainda mais, pois eu nunca havia desmaiado, até hoje, e me fez sentir vulnerável.

Me concentrei em comer e passar as horas sem fazer nada enquanto John dormia.



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Notas finais do capítulo

Se você chegou até aqui, deixe um review, vai me deixar com mais vontade de escrever :)