O encarei,tentando imaginar o que ele estaria pensando.Será que ele tá achando que eu estou dando em cima dele,ou perseguindo,ou obcecada?

–Eu conheci Matt e Val ontem num bar,acho que passei do meu limite e só lembro ter me escorado no ombro dele pra abrir o sapato,e... acordei aqui.Mas e você?

–Eu bebi a noite toda com os ‘’marmanjos’’ que você botou pra trabalhar e... – parou ao ver a menina 30 e poucos centímetros mais baixa corar imediatamente.

–Eu só... tentei ajudar a Val,ela deve gostar muito de vocês pra tratar tão bem e limpar a bagunça sem reclamar.

–É...-Disse sentando – se na grama ao lado de Aurea para observar as crianças andando de bicicleta na rua calma.-A Val é como uma mãezona pra gente, ela cuida como se fossemos crianças gravemente doentes o tempo todo,as vezes é irritante,’’vai pra cama Jimmy’’ ‘’vai pro inferno Val,eu quero beber’’ – Acabou fazendo a menina rir com a imitação horrível de uma Val irritada.

–Mas ela tá certa. – Jimmy até pôde sentir uma leve irritação na voz da nanica que agora o olhava diretamente nos olhos.-Você é novo,tem que se cuidar mesmo,imagine,daqui a alguns anos vai tar aí,cheio de problemas em todos os órgãos.Você vai sofrer.

–Eu não vou passar dos trinta.- agora fitava o horizonte se sentindo incompleto.E ela,por sua vez,abaixou a cabeça assentindo lentamente,prensando os lábios que antes carregavam um sorriso fraco numa linha reta e deixando uma lágrima escapar.

Maldita profecia.

–Por isso que você tem que se cuidar,30 é pouco,Jimmy.Tanta gente te ama.É desperdício jogar todo esse amor fora.E o pior de tudo é preencher o vazio com tristeza.E isso nunca acaba Jimmy.A tristeza não acaba. – virou a cabeça para encará-lo. – Todas as pessoas que tu ama,que te amam,pense nelas.Elas vão sofrer.Você tem noção de quantas pessoas eu to falando? – a voz,que antes era controlada agora soava com desespero.- É impossível saber ao certo,mas é MUITA GENTE.E elas sofrem James.Em proporção,elas sofrem muito mais que você.

–Você não entende.- Os olhos agora tinham um brilho fraco,carregavam dor.- Eu não aguento mais,eu sinto que hoje eu devia estar morto.É como se,pela ordem natural,pelo ciclo,eu não devesse estar aqui,entende?

A menina,após pensar por um instante,assentiu.

–Deve doer se sentir assim.

–É. – agora a olhava,sorrindo fraco – mas falar com você me ajudou bastante,você é tão... amável.Escuta o cara que conheceu ontem,além de dar conselhos.Eu precisei,e quando nenhum dos caras estavam comigo,você estava.Nós seremos grandes amigos,Aurea.Aliás,Aurea é estranho.vou te chamar de... Pug.

–O QUE JAMES? AH NÃO.ALÉM DE ZUAR MEU NOME,ME DÁ UM APELIDO QUE NA VERDADE NÃO É UM APELIDO,É UM CACHORRO.e,aliás, Aurea é coberta de ouro em latim.Esquece isso,Sullivan.

–Sullivan?

–É,eu sei seu nome James.

–Ah.Claro.

–Bom. - disse levantando – vou ver se a Val precisa de algo,agradecer,e ir embora.Foi um prazer te rever James.

–Ei... Pug! A Val já vai fazer um almoço pra gente.Fica.

–Ah James... É que...Bom.Eu fico.Mas antes tenho que perguntar pra Val se ela deixa né.Afinal,é a casa dela.

–Tudo bem.

Saiu meio sem graça,indo em direção à porta.Entrou,passando pela sala,onde os meninos que antes brincavam estavam congelados olhando pra ela.

–É... a Val já acordou?

–Não... - Christ respondeu com cara de decepção.

–Mas nós estamos bem acordadinhos – completou Brian abrindo um sorriso malicioso que logo se desfez ao gargalhar com os outros dois.

Esse sim devia trabalhar no zorra total.

–Por que é que esse bando de viados tá perturbando a menina? – Val agora estava encostada na porta de braços cruzados.

Em um salto,Brian já estava ao lado da loirinha se apoiando em seu ombros.

–Sabe Val,eu não entendo... – dizia gesticulando – Você tem essas amigas tão gostosas e não faz questão de esconder da gente.E ainda por cima quer que não fale nada.

–Cala a boca Brian.Se a Michelle te vê falando isso,ela te castra. –Brian apertou a mão sobre a parte íntima fazendo uma careta que devia ser de dor.

–Val...

–Diga querida.

–Eu posso almoçar aqui com vocês?É que,sei lá,eu não tenho com quem almoçar.

No mesmo instante Val abriu um sorriso enorme.

–É claro que sim,acorde Matt enquanto eu começo as coisas.

Santo Deus.E agora?E se aquele armário de canelas finas fica irritado por eu ter o acordado e vem pra cima de mim? Socorro.

–Matt. – sussurrava – Matt... acorda cara. – Começou a passar a mão gelada no rosto que parecia gigante perto da mão pequena e gordinha.-Matt. – nisso,o guarda-roupa deitado na cama sorriu,e sem nem abrir os olhos enlaçou os braços em volta da cintura trazendo o corpo da menina pra mais perto.

–Bom dia meu amor...- quando Aurea percebeu que ele estava fazendo um biquinho ridículo e puxando seu pescoço pra frente,começou a estapear o peito nu do cara que agora havia pulado da cama assustado. – QUEM É VOah,oi Aurea.

–Oi Matt,desculpa,é que a Val pediu pra te chamar,e eu fiquei com medo que você ficasse irritado,e quando eu vi que você fez aquele biquinho... – riu – eu me assustei e pensei que você tivesse achado que eu era a Val.

Nunca tinha visto um cara daquele tamanho corar tanto,se colocasse um armário coberto de extrato de tomate ao lado de Matt,ficaria difícil saber quem era quem.

–O que tá acontecendo aqui?