– Acha que deveriamos ir lá falar?

– Não! - Tentei só sussurrar, mas saiu mais alto do que queria. - Não conhecemos ninguém ali, Alice. Não há qualquer lógica em cumprimentá-los.

Alice apenas revirou os olhos, pegando na sua pequena bolsa branca, ajeitando o vestido, e se levantando lentamente do meu lado. Era não faria isso, faria? Pra quem eu estava sequer falando, é claro que ela faria. Porque é que Alice Brandon é do jeito que é? Às vezes só me apetece esgana-la. Neste momento era o que me apetecia mesmo muito. Vi-a caminhar pelo pequeno espaço entre a nossa mesa, e a mesa do canto do Restaurante. Decidi ser melhor desviar o rosto. Optei por meter conversa com o Mike.

– Obrigada por teres vindo, Mike. Todos vocês. - Sorri, tentando abstrair-me do facto de a minha melhor amiga estar cumprimentando aquela mesa com aquele médico insuportável lá sentado - e aquela loira grudada nele.

– É obvio que vínhamos. - Ele sorriu, compondo uma mecha do meu cabelo. - Estás mesmo linda.

Sorri levemente, com o elogio. Era mesmo um defeito meu, não conseguia dar mais que um pequeno sorrisinho, apesar de ser uma pessoa muito minha amiga me elogiando. Eu realmente gostava de Mike, da sua companhia, e do facto de ele não se armar em bom e grosseiro só para ser bem visto. Na verdade, nenhum dos garotos do meu grupo era assim. Isso acontecia no Ensino Médio. Outra razão por eu adorar ser estudante Universitária. Lido com pessoas que levam a vida futura a sério, que são boas pessoas, sem coisas mesquinhas, ou segundas intenções pelo meio.

– Bella!

Segui a voz, vendo Alice sorrindo para mim, ainda perto da mesa, com a mão estendida. Nem em milhões de anos, nem que me mandassem para o inferno eu iria para aquele lugar. Sorri o mais educamente que consegui (já que praticamente todos sentados na mesa me olhavam) e acenei, desviando quase de imediato o olhar para Mike, de novo.

Alice já tinha se afastado para aquela mesa há algum tempo, e apesar de estar mantendo uma conversa amena e agradável com Mike, era incapaz de deixar de dar relances para aquela mesa. E surpreendentemente, via quem estivesse a fazer o mesmo. Aquele Doutor desprezivel. Quando voltei a dar uma das minhas olhadelas subtis já profissionais (tenho realmente muito jeito) vi que ele não desviou o olhar ao se encontrar com o meu, como fizera nas vezes anteriores. Mas algo o fez voltar o rosto. A tal loirinha agarrou no seu queixo, alisando as suas garras vermelhas aí, e encostando os lábios nos dele. Bufei, virando o rosto, de vez. Por favor, que desagradável.

Não sei se era psicológico mas mesmo sem voltar o rosto conseguia sentir os ''carinhos'' que ela lhe estava dando pela minha visão periférica, e sentia meu estômago a embrulhar, e o meu pescoço a ficar realmente quente - sinal caracteristico do meu nervosismo. Já nem ouvia a voz de Mike - mas continuei fingindo que sim.

Quase que impulsivamente, troquei a perna que estava cruzada, cruzando por cima a perna do lado do rasgo no vestido que eu fizera no centro comercial. Com as pernas cruzadas, o tecido azul clarinho rasgado caía numa cascata pelos lados da minha perna, destapando-a até metade da coxa. (N/A : Se quiserem se lembrar dos pormenores do vestido : http://soudiva.com/wp-content/uploads/2011/09/vestido-de-festa-azul.jpg ) Apoiei o cotovelo na mesa, e o queixo na minha mão, olhando por segundos para Mike que estava estranhamente vermelho e gaguejando. Mas logo a minha atenção se voltou.

Sem mover a cabeça, olhei para o Doutor Cullen, que me encarava com um meio sorriso. Não. Ele estava encarando as minhas pernas. Um remoinho de satisfação se ativou no meu estômago, e sorri lindamente, mesmo a tempo de apanhar o seu olhar, que subiu lentamente pelo meu corpo até ao meu. Arqueei ao de leve a sobrancelha, o sorriso estúpido continuando na minha cara. Ele rasgou um sorriso de canto, sem mostrar os dentes, o seu olhar desviando-se pelo meu rosto, busto e pernas. Eu não fazia ideia porque estava namoriscando com um médico que eu nem gostava, e que aparentemente tinha namorada. Não fazia ideia porque. Mas estava adorando.

Abanei o cabelo todo para trás, deixando o meu busto descoberto. Eu estava quente, e satisfeita. Me sentia atraente, num misto de menininha inocente e mulher sedutora. Provavelmente os vários copos de vinho que bebera durante o jantar também me ajudavam. E ajudavam o meu rosto, que estava num vermelho vivo, na zona das bochechas. Eu estava realmente atraente. Atraente o suficiente para seduzir um homem mais velho. Realmente, eu acho que estava fazendo isso, sem sequer me aperceber. Só não tinha certeza se estava surtindo efeito. Coloquei o pé que tinha apoiado no chão meio subido, fazendo com a perna cruzada se inclinasse um pouco mais. O vestido deslizou mais um pouco. Os olhos do médico acompanharam o movimento de cada milimetro do tecido.

Mike já nem formulava uma frase direito. Mesmo estando totalmente abstraída dele, eu conseguia reparar. Isso em parte me divertia, mas estava me divertindo muito mais em tirar a atenção do médico daquela loira lambisgóia. O sorriso no rosto do médico estava me animando, me deixando agitada e nervosa, tudo num sentido muito bom. Sim, definitivamente, o alcool estava ajudando.

– Bella.

Me voltei de repente, sentindo os dedos de Angela tocarem meu ombro. Ela me olhou com um sorriso timido, se ajoelhando ao pé de mim, com o cuidado do vestido não subir. Louca como eu estava, provavelmente se estivesse no lugar dela faria exatamente o oposto. Só por causa daquele médico. Não conseguia estar no mesmo espaço fechado que ele, está mais do que provado.

– Ao que parece, você e Alice conhecem aquelas pessoas, não é? - Ela apontou discreta e rapidamente para a mesa do médico, onde Alice já estava sentada numa cadeira adicionada, rindo.

– Não é bem conhecer. - Fiz uma careta, com um sorriso estúpido na cara, e a mão ainda no queixo. Fechei rapidamente os olhos, mas tempo suficiente para perceber que o momentinho entre mim e aquele doutor acabara, e que devia voltar para o modo Isabella. Me desencostei da mesa, e parei com o sorriso, olhando atenta para Angela. - Porque, Ang?

– A Jéss quer conhecer um moço dali. - Ela rolou os olhos, sendo seguida por mim. Que novidade. - E eu não queria mesmo ir lá com ela fazer mais uma figura... Achei que você poderia ir com ela, já que ''não bem os conhece'' . - Terminou, com as aspas no ar, sorrindo.

Eu sorri de volta. Se não fosse para evitar Angela de mais uma humilhação por culpa da Jéssica, eu nem fazia. Mas ela faria o mesmo por mim. Levantei-me, compondo a racha muito aberta do meu vestido. Olhei para Mike, que estava exatamente com o mesmo tom de vermelho, e parecia estar numa discussão interna com ele mesmo.

– Mike?

Ele voltou o olhar para a cadeira onde eu estava sentada, e de seguida para mim, olhando de relance para as minhas pernas. Pareceu aliviado elas estarem de novo tapadas. Tudo isto em segundos. Sorriu fraco.

– Vou ali com a Jéssica, desculpa não ficar.

– Tudo bem, já monopolizei a aniversariante tempo suficiente. - Soltou um sorriso agora genuino. - Vou levando todos para o Bar, vão lá.

Assenti, chamando Jéssica com um aceno, que sorriu entusiasmada para mim. Mal se aproximou, compos o decote (agarrou no peito e empinou o mais possivel) e afarfalhou o cabelo, dando uma voltinha.

– Decente?

– Claro, Jéss. - Sorri.

– Quero impressionar aquele gato, agarrado à de vermelho. - Os olhos dela brilharam.

O meu cerebro congelou por segundos. A sério que Jéssica queria dar em cima do Doutor Cullen? Será que ela não via a loira de vermelho agarrada a ele? Isabella, tu estavas dando em cima dele, com a loira agarrada a ele, pra quê falar? Mas não interessa! Não fui lá diretamente me jogar com o peito na cara dele. São situações diferentes.

– Não vês que ele já tem.... ahm... companhia?– Tentei soar o menos rude possivel.

– Duuuh, é obvio que eles não têm nada mais que um caso. - Ela rolou os olhos, me segurando pelos ombros e virando na direção daquela mesa infernal. O Doutor Cullen estava agora bebendo um uisque, depois da refeição. - Basta veres a linguagem corporal de um com o outro, que é um caso de dias, ou mesmo de uma noite. Podem conhecer-se há mais tempo, mas estou falando em envolvimento sexual

– Tu és doida, Jéssica. - Desta vez, não controlei o meu tom rude.

– Vais ver como tenho razão. - Piscou o olho na minha direção, me levando pela mão até à mesa.

Alice sorriu radiante para nós.

– Esta é a Bella! Faz anos hoje! - Acenei rapidamente, recebendo sorrisos simpáticos de todos.

– Parabéns Isabella.

Olhei para o Doutor Cullen, que sorria. Quase que podia voltar atrás no tempo, minutos antes, e ver exatamente aquele sorriso enquanto ele encarava as minhas pernas. Aquele sorriso lindo de lado. Argh, Isabella, controla-te.

– Obrigada, Doutor Cullen.

– Doutor? - Os olhos de Jéssica brilharam.

– Ah... essa... - Alice levantou da cadeira, se pondo ao meu lado, olhando meio de lado para Jéssica. Sorri discretamente. - É uma colega nossa, Jéssica.

– Jéssica Stanley. - Jéssica, obrigatoriamente, completou. Com um grande sorriso, estendeu a mão ao Doutor Cullen, que a apertou durante o tempo suficiente para se ser educado. A contragosto, Jéssica cumprimentou todos os outros do mesmo jeito.

– Nós deviamos ir, não, Edward?

Olhei na direção da loira que grudava no braço do Doutor Cullen, e surpreendi-me ao perceber que a voz dela é ainda mais irritante do que eu alguma vez imaginei ser humanamente possível. Ela olhou para mim e Jéssica com certo desdém - que bom que era mutuo - e sorriu educadamente para Alice. Pelo menos isso. Nem me importo que me olhe mal, mas olhar mal para Alice ia me aborrecer de verdade.

– Tens razão, Tanya. Então, vamos?

Tanya. Não podia ter um nome mais nojento? Vi que todos os presentes acenaram, concordando. Pelo menos os mais adultos. Jasper e mais dois garotos sorriam demasiado felizes para quererem ir embora. Ao contrário de Jasper, os outros eram morenos e mais sorridentes. O sorriso de Jasper era mais recatado, e ao que me parecia, apenas voltado para Alice.

– Quem quiser ficar, pode vir festejar connosco o aniversário da Bella. Vamos apagar as velas daqui a nada. - Alice sorriu grande. Vi que ele estava realmente esperançosa.

– Se não se importarem que fiquemos... - Jasper falou calmamente, sem tirar o sorriso nem o olhar de Alice. Bem, tirou durante um ou dois segundos, para me encarar e perguntar se me incomodava, já que era a minha festa. Obvio que disse que era tranquilo.

– Doutor cullen, porque também não fica? - Jéssica sorriu abertamente ao ouvir Alice fazendo esse convite. - Ainda é tão cedo, devíamos deixar os mais graudos ir dormir, e ficavamos todos aqui, festejando.

– Alice, realmente aprecio o teu elogio. - Um senhor loiro com uma cara amorosa sorriu para ela.

– Belinha, esse aqui é o Doutor Carlisle Cullen, o pai do Edw... Doutor Cullen. - Piscou o olho para mim. - É o chefe da Administração da Clinica onde você fez os exames.

– Oh, é chefe do seu filho. - Falei calmamente, aceitando a mão que Carlisle me estendeu. Ele sorriu abertamente, afirmando com a cabeça.

Ouvi o riso baixo do Doutor ''Edward'' Cullen ao meu lado. Sorri de lado para ele, me surpreendo segundos depois com essa reação da minha parte. Eu estava ficando lunática. Tanya me fuzilava com os olhos, a mim e as duas doidas atrás de mim. Agora nem Alice se safava.

– Obrigada pelo convite, Alice. - Tanya decidiu falar, não, ela decidiu irritar-nos com a presença daquele timbre horrivel que ela chama de voz. Todos na mesa se levantaram. Houveram alguns abraços e despedidas, e assim muitos dos que ali estavam sairam, restando apenas Jasper e os dois mocinhos, o Doutor Cullen junior e sénior e a loirinha. - Mas está realmente tarde.

– Não acho que esteja, Tanya. - Edward olhou para ela, que o fuzilou com os olhos. - Oh, o quê, tu até querias ir beber um copo depois do jantar, aqui faz-se exatamente o mesmo.

– Sim, fiquem! Amanhã é o vosso dia de folga. - Carlisle abraçou o filho, e deu um pequeno beijo na cabeça de Tanya. Pobre homem. Veio até mim, e apertou as minhas mãos nas suas. - Um resto de dia maravilhoso, Isabella. - Ele sorriu tão lindamente para mim, que me senti encantada.

– Bella, Doutor. - Corrigi, sorrindo que nem uma boba.

Ele se despediu de Alice e Jéssica, e saiu pelas portas do Restaurante.

– Vamos ficar? - A enjoada sussurrou perto do ouvido do médico idiota.
Ele olhou para mim, sorrindo lindamente.

– Sim, vamos. Pelo menos, até aos parabéns da Isabella.

Já todos os meus amigos tinham se movido para a zona do Bar, então caminhámos até eles, enquanto ouvia Jéssica fazendo n questões ao Doutor Cullen sobre Medicina. A minha simpatia por ela estava diminuindo consideravelmente, já que ela nunca mostrou interesse em saber nada disso. Enfim. Deveria ter seguido medicina então.

***

– Feliz dia, meu amor. Te amo muito, filha!

– Eu sei, também te amo muito papai. Manda beijo à Mel!

– Mando claro! Cê tem que vir cá ver a sua irmã, Bells, ela sente a sua falta.

– Esta semana eu vou aí, pai. - Sorri. - Obrigada por ter ligado. Te amo, tchau tchau.

Terminei a chamada, guardando o celular na bolsinha de Alice, que estava se maquiado, toda agachada sobre o espelho da casa de banho do Bar. Olhei para o meu reflexo no espelho. Já estava mais cansada do que no inicio da noite. Estávamos ali há umas horas: O médico Cullen parecia ser adorado por todo mundo dos meus amigos - especialmente amigas, então se instalara melhor do que pensei. Íamos agora cantar os meus parabéns (de longe a minha parte favorita da noite - ou não), e logo depois tinha sérios planos... com a minha banheira... com a minha cama... e a minha almofada, e um belo de um sono.

Quando saímos, o espaço em que estávamos estava todo escuro, e um grande bolo rectângulo, com um recheio rosa de forma a estar escrito ''Parabéns Bella!'', preenchia a sala, com velas acesas por toda a sua volta. Estava lindo. Sorri grande, aproximando-me dele, onde estavam também os meus amigos, Jasper, O Doutor Idiota e a lambisgóia. E então começaram cantando os meus parabéns. O meu sorriso não morria. Tinha amigos tão perfeitos. Rodei o olhar pela sala, agradecendo com um grande olhar e sorriso a todos por estarem ali. Olhei para a esquerda, para a direita, e parei por fim na minha frente, onde o Doutor Cullen sorria, batendo palmas, já no fim da minha parabenização. Não soltei os olhos dos dele.

Havia qualquer coisa nele. Que fazia o meu coração saltar. Eu odiava que ele me fizesse sentir assim. Odiava que alguém conseguisse trespassar o meu muro de segurança. Odiava que despertassem os meus sentimentos, emoções. Odiava que me tirassem de mim. E ele fazia tudo isso, em menos de meia dúzia de encontros que tivémos. Odiava agir como uma boba deslumbrada por este médico Idiota.