# 09/05/2001

# 12:50 - Quarto

Hoje acordei um pouco mais feliz. Apesar das marcas pelo corpo e da vergonha que passei, ainda assim quero vê-los, fazê-los sentir remorso. Não entendo por que acordei pensando isso, más não passa de uma ilusão. Mesmo assim acho preciso cultivar esse tipo sentimento “maligno” para que não passe por aquilo novamente. Tirando esse pouco de felicidade estranha, ainda resta medo, medo principalmente de ir para escola daqui a meia hora. Más tenho fé que tudo correrá bem, afinal consegui enganar minha mãe o fim de semana todo, a escola não deve ser tão ruim. Então é isso, deseje-me sorte diário.

# 09/05/2001

# 15:40 - Biblioteca

Finalmente cheguei á biblioteca, e estou pronta para contar o que aconteceu em menos de três horas. Não se assuste diário, foi real.

Alguns minutos depois de ter chegado á escola, deparei-me logo com eles. Estavam em grupo, um grupo bem maior. Todos pareciam falar de algo muito interessante. E eu ali parada com as duas mesmas opções daquele dia, passar por eles ou dar a volta. Sei que uma delas pode me livrar de comentários constrangedores, más eu arrisquei. Passei por eles e não escutei absolutamente nenhum comentário. Eu podia simplesmente estar aliviada. Posso parecer idiota, más queria escutar alguma coisa. Mesmo depois na sala de aula, eles mal me olhavam. Era como se nada tivesse acontecido. Percebi então que eles não se arrependeram e a única que sofreu danos fui eu.

Durante as três primeiras aulas, um ódio foi crescendo em mim. Era um sentimento diferente, poderoso. Não sabia como administra-lo, ele estava me consumindo. Comecei a soar, tremer, estava pânico. Pedi então ao professor para ir ao banheiro. Ele vendo meu estado deixou que eu saísse. Más ele não sabia que estava soltando um animal descontrolado. Corri para o banheiro e fiquei de frente para o espelho. Estava mais pálida que o normal. Cheguei a falar comigo mesma, brigar comigo mesma. Eu estava ficando louca.

Após algum tempo no banheiro, uma garota loira com cabelos compridos entrou. Ela me olhou e sorriu. Não sabia com reagir diante dela, era estranho ter alguém me olhando tão fixamente. Comecei a me sentir envergonhada, então sai do banheiro e deixei aquela moça angelical sozinha.

Não entendi o que aconteceu comigo, também não entendi por que aquela garota ficou me observando. A única coisa que eu entendi era que eu tinha perdido a revisão da prova de matemática, e o meu dia era uma soma de desastres.

# 09/05/2001

# 19:35 - Quarto

Eu sobrevivi à escola, más coisas estranhas aconteceram. Contarei tudo agora.

Depois de ter todas as aulas finalmente era a hora de ir para casa. Segui o mesmo caminho daquele dia, más não esperava encontrar as mesmas pessoas. Os quatro estavam lá, esperando que eu passasse. Não cometeria esse erro novamente. Ao me virar para ir pela outra rua, eles começaram a correr em minha direção. Corri o máximo que pude até que ao olhar para trás alguém surgiu em minha frente. Era ela, a garota angelical. Vendo que eles estavam me perseguindo ela se pós em minha frente e gritou - deixem ela em paz. Três deles voltaram más Matheus seguiu até nós. Com uma expressão irônica ele disse - ela não pode te proteger sempre, Estelinha. Senti meu corpo estremecer com aquelas palavras. Matheus foi embora, más deixou uma ameaça. E eu ali com aquela pessoa desconhecida me protegendo. Era tudo muito confuso, surreal. Mais do que nunca eu queria saber quem ela era. Más havia uma coisa que eu queria mais, chegar em casa e deitar na minha cama.

A garota misteriosa acompanhou-me durante todo o caminho, ela até tentou puxar assunto, mas fiquei calada. Entrei em casa e antes de fechar a porta a vi acenar sorridente para mim.

Ao acender a luz da sala lembrei que mamãe deveria estar em casa, já que segunda-feira é sua folga no trabalho. Fui até meu quarto e vi que em cima da cama havia uma sacola idêntica àquela que deveria estar meu vestido manchado de sangue. Aquele que eu deveria ter queimado. Tomei coragem e me aproximei. Felizmente era apenas mais uma sacola e o vestido que eu usava aquela noite ainda habitava meu armário.

Espero que amanhã seja um dia melhor, pois não aguento mais viver assim. Descobrirei quem é minha protetora misteriosa e suas intenções, pois como eu disse a primeira vez compartilhei meu dia com você “não há um ser com tamanha educação e que faça algo por alguém sem interesse”. Também tentarei fugir das ameaças de Matheus e seus seguidores. Prometo que esquecerei tudo que aconteceu e destruirei a ultima lembrança ainda viva daquele dia. Então, até amanhã.