A morte da bezerra escrita por BubblesChan


Capítulo 5
Anjo?


Notas iniciais do capítulo

Capitulo escrito por BubblesChan !



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# 10/05/2001

# 03:03 - Quarto

Não consigo dormir, meus pensamentos não deixam. Agora mesmo, senti que quase dormi por alguns segundos, chegando até mesmo a sonhar. Sonhei com ela. Com a desconhecida de ontem, a moça de aparência angelical. Sonhei com seu semblante calmo. Não sei exatamente se estava dormindo enquanto sonhei, mas ela não saiu de meus pensamentos desde que voltei pra casa. O que ela fez foi algo, digamos, surpreendente. Mesmo assim, não posso me deixar levar por boas ações. (mesmo elas sendo raras, e em alguns momentos, de grande ajuda)

Minha mãe é um tanto religiosa, porém nunca quis me "empurrar" nenhuma de suas crenças. Quando eu era mais nova (e quando ela não era tão ocupada com o trabalho), costumavamos contar histórias uma pra outra. Ela sempre me dizia que eu tinha um anjo da guarda, um ser que me protegia e que me dava forças. Ninguém nunca tinha me protegido até ontem. Será que eu poderia chamar essa menina de... anjo? Seus traços delicados tanto quantos suas ações me fazem crer que sim. Sinto que há algo dentro de mim que pede pra confiar nesse "anjo", mas ela continua sendo uma desconhecida pra mim.

Pra ser sincera, eu até imaginaria que ela fosse fruto da minha imaginação caso aqueles garotos não tivessem corrido quando foram ameaçados. Mas ela é real, e eu nem mesmo sei seu nome. O engraçado é que parece que ela magicamente se materializou na minha vida, de um dia pro outro, no momento certo. Eu nunca a vi antes naquela escola, como ela poderia ter me visto? Como poderia saber quem eu sou? Por que ela sorriu quando me viu?

Eu tenho muito medo de confiar em todos. E se ela de repente se voltasse contra mim? Até porque isso só deve ter sido um favor. Talvez ela me ache digna de pena. Enquanto caminhavamos até minha casa era como se nada pudesse me atingir, mesmo a situação sendo tão estranha como parecia, eu me sentia calma. Ela parecia amigável o tempo todo. Agora percebo que devo ter causado uma péssima impressão. Eu não disse absolutamente nada enquanto ela comentava sobre os meninos, sobre Matheus, e me perguntava meu nome. Eu tive medo de falar com ela, até mesmo quando queria simplesmente rir eu não conseguia, era como se minha voz estivesse trancada. Como se minha garganta se fechasse. Isso só acontece quando fico com medo, mas naquela hora eu deveria estar aliviada.

A procurarei hoje, nem que seja apenas para agradecê-la. Quem sabe assim ela abandone meus pensamentos e me deixe dormir. E eu consiga parar de sonhar com seu rosto.

# 10/05/2001
# 20:20 - Quarto

Minha vida, sem sombra de dúvida, é algo muito estranho. Acho que nunca terei um dia normal. Hoje mamãe me deixou na escola. Assim que saí do carro passei meu olhos brevemente pela multidão que se formava no portão de entrada, não a encontrei. Quando estava indo para o corredor da minha sala, olhei para o pátio e, mais uma vez, nada. Tentava prestar atenção na aula, mas quem disse que eu conseguia? Eu precisava procurá-la.

Pedi permissão a professora para ir ao banheiro, e segui porta afora. Abri a porta do banheiro e olhei os azulejos brancos pelo reflexo do espelho, não havia ninguém lá. Fui lavar meu rosto, já desistindo de minha incessante procura. Quando olho no espelho novamente, alguém se materializa atrás de mim. Obviamente eu me assustei, ela nem ao menos fez barulho ao entrar, sendo que eu fechei a porta.

"Oi, de novo"– Disse ela, com seu melhor sorriso. Quase que automaticamente, o sol pairou sobre a janela do banheiro, fazendo seus cabelos loiros brilharem.

"..."– Aquela mesma sensação de novo. Droga, aquilo era agoniante. Eu tinha que lutar contra isso, ao menos para conseguir agradecer.

"Não precisa me agradecer por ontem, eu não lhe fiz um favor... foi só algo como... sei lá, um instinto."– A partir daí eu estava muito confusa. Era como se ela conseguisse ler meus pensamentos. Só consegui balbuciar algumas palavras inaudíveis. E ela não tirava aquele sorriso do rosto.

"Você parece nervosa."– Sim, parabéns, acertou outra vez. Minhas mãos tremiam e eu olhava para um ponto fixo em seus olhos.

"Uhum..."– Assenti com a cabeça. Não conseguia fazer mais do que isso. Aos poucos minha visão ficava cada vez mais turva, e o "anjo" na minha frente desaparecia.

Acho que foi aí que eu desmaiei. É a única opção lógica, pois quando abri meus olhos novamente eu tinha ido pra outro lugar. Demorei a perceber, mas eu estava no pequeno jardim que ficava nos fundos do pátio da escola, eu estava encostada em uma árvore. Senti medo, minha cabeça doía. Olhei pra direita e logo todo medo sumiu. Ela estava do meu lado, e quando percebeu que eu tinha "acordado" sorriu.

"Está tudo bem."– Disse ela, enquanto colocava uma flor no meu cabelo.

"V-vo.. você..."– Eu estava quase conseguindo pronunciar, de olhos fechados.

"Shii... temos que ir agora."– Ela colocou o dedo em meus lábios, me impedindo de continuar. Abri meus olhos apreensiva com esse gesto. Eu quase consegui.

Ela me deu a mão para me ajudar a levantar, era como se eu tivesse caído e me machucado. Algo no meu corpo doía, eu só não sabia o que.Passou o caminho inteiro de volta pra casa falando alegremente comigo, como se fossemos grandes amigas. Ela ria e fazia piadas de coisas banais, coisas das quais eu também conhecia. Me perguntava uma ou duas coisas e eu assentia ou discordava. Estavamos conversando, querendo ou não. Era como se ela soubesse que eu não conseguia falar, como se estivesse acostumada com isso. Eu sorria, o que era curioso, pois não fazia isso com tanta frequência.

Chegamos na frente de casa, e eu olhei pra ela durante algum tempo. Ela ajeitou a flor, que ainda se encontrava em meu cabelo e disse:

"Descanse, foi uma queda muito forte, nos vemos amanhã." Me abraçou, dando um beijo em minha testa. Sorriu e virou-se, indo embora.
Só quando ela já estava a uns bons 10 metros de distância de mim, minha respiração tranquilizou-se e senti minha voz voltando aos poucos...

"Posso te chamar... de anjo?"– Murmurei, sozinha.


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Notas finais do capítulo

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