A morte da bezerra escrita por BubblesChan


Capítulo 13
Eles


Notas iniciais do capítulo

Capítulo escrito por BubblesChan =D



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# 21/05/2001

# Quarto – 19:04

Uma vez me disseram que a pior coisa do mundo é a mentira. E, ultimamente, eu tenho que concordar. Mas uma das piores coisas a respeito da mentira é a constante dúvida. A vontade de descobrir a verdade, o sentimento de se sentir enganada, a agonia.

O ciúme e a dúvida andam juntos, ambos são amigos da insegurança. As novas sensações que eu mencionei desde que comecei a me envolver com Pablo não são muito diferentes destas. Eu sentia que algo estava errado comigo. Logo joguei a culpa no ciúme, óbvio. Tudo parece fazer sentido quando temos a quem culpar.

Eu precisava vê-lo, me sentia estranha por isso. O amor é algo que nos deixa tão dependentes, tão vulneráveis. Parece bobo, mas você simplesmente põe todas as suas esperanças e sonhos em cima de algo que você não sabe se vai durar, não sabe quanto tempo vai continuar te fazendo feliz. Estar apaixonado é algo humilhante, porém faz um certo bem, um bem estranho. Parece que eu ganhei um pouco de confiança em mim mesma, como se eu finalmente sentisse firmeza nas minhas próprias pernas.

Saí de meu quarto depois de tanto tempo, nenhum som se fazia presente em cômodo algum. Aproveitei a fuga de minha mãe e fui visitá-lo. Caminhei por alguns minutos e logo bati na porta de sua formosa casa. As paredes tinham um tom azulado extremamente agradável e limpo.

– Oh, Estela? O que faz aqui tão cedo, meu amor? – O interrompi com um beijo, surpreendendo-o.

– Eu senti sua falta. – Respondi alegremente, notando que ele tinha um olhar de preocupação. – O que foi? Aconteceu alguma coisa?

– Oras, não aconteceu nada! – Passou a mão pelos cabelos, bagunçando-os um pouco. – Venha, entre. – Entrelaçou sua mão à minha e me guiou até o sofá da sala.

Ficamos por um bom tempo em silêncio, apenas trocando olhares. Era engraçado como até mesmo o silêncio parecia ter um significado. Selei nossos lábios, sem aviso prévio novamente. Quando estava prestes a aprofundar o beijo, lembrei-me de algo que me angustiava. Virei o rosto de repente.

– O que houve, Estela? – Parecia confuso.

– Pablo, preciso que me responda uma coisa. – Segurei firme em sua mão, ele assentiu com a cabeça para que eu continuasse. – Eu o vi conversando com a Érica, e até mesmo a convidou pra entrar. Vocês são amigos? São próximos? O que tem com aquela garota? – Segurei meu tom de voz para não assustá-lo. Ele limpou a garganta antes de me responder.

– Ah, Estela. Aquilo não foi nada de mais. Érica precisava de uma apostila de biologia, e como sou o primeiro da turma nessa matéria ela me pediu ajuda.

– E você a ajudou? Foi o professor dela? – Arqueei uma sobrancelha, aquilo começou a me irritar.

– Eu apenas entreguei a apostila e lhe desejei sorte. Ela saiu minutos depois, você não a viu? – Desviei o olhar para a mesa de centro.

– Não, eu não fiquei pra ver. – Senti as pontas de seus dedos tocarem meu queixo, o levantando para que eu o encarasse.

– Não deixe sua mente lhe pregar peças, Estela. Você sabe que só tenho olhos pra você, mais ninguém. – Deu-me um beijo casto e voltou a segurar minha mão. – O que você tem contra essa garota? Por que a incomoda tanto?

– Eu não sei, apenas não gosto dela. Ela parece não gostar de mim também. Você sabe, não dá pra agradar todo mundo. – Sorri amarelo. Nesse caso, era melhor mentir do que ter de recordar o que aconteceu.

– Entendo. Bom, minha mãe volta daqui a alguns minutos. Creio que não vai querer encontra-la, não é? – Ficou de pé, me levantando também.

– Ah, sim... Então acho melhor eu ir agora. – Nos despedimos com um beijo intenso. Abriu-me o portão da frente e acenei para ele de longe.

Saí de lá ainda pensando na resposta que Pablo me dera. Não que eu duvidasse dele, apenas não confiava em Érica o suficiente. Tinha medo do que ela poderia causar a ele, ou até mesmo a nós dois.

– Hey, Estela! – Me virei na direção daquela voz e estremeci. Matheus me olhava com os braços atrás do corpo. Dei alguns passos para trás.

– Não, não. Calma, eu não vou te fazer nada! – Levantou os braços na frente do rosto, mostrando as mãos livres.

– O que você quer? – Fechei os punhos.

– Desculpa, eu só queria conversar... – Olhou para baixo, parecia arrependido. Mesmo assim não iria me deixar levar tão fácil assim.

– Sobre o quê? Não tenho nada pra falar com você. – Ele se aproximou e eu firmei meus pés no chão. Fechei os olhos por impulso.

– É que... Eu preciso de ajuda. – Disse com as mãos nos bolsos, agora um pouco mais perto de mim.

– Ajuda no quê? – Cruzei os braços.

– Na escola. Você é a melhor da turma em matemática, e digamos que essa é a matéria que eu estou mais ferrado. – Tentei segurar uma risada, em vão. Ele me olhou confuso.

– Por que eu deveria te ajudar? Você por acaso já me ajudou alguma vez na vida? – Senti algo gelado tocar meu rosto por algum tempo. Notei que sua mão direita repousava em meu rosto.

– Desculpe, Estela. De verdade, eu estou tão arrependido. – Olhei no fundo de seus olhos, tentando decifrá-lo. As palavras realmente pareciam de confiança, mas nada poderia me apagar da memória o que Matheus fizera comigo. Afastei-me de seu toque rapidamente.

– Guarde suas desculpas pra alguém que vá aceita-las. – Dei as costas para Matheus e saí caminhando rápido, pisando forte na calçada.

Como podia ser tão insolente a esse ponto? Tão desprezível? Passei a mão em meu rosto, como se tentasse tirar qualquer “germe” de sua mão. Aquilo conseguiu mudar completamente meu humor, me deixou sombria, irritada. Eu não deveria ter dado ouvidos a ele, não a alguém como ele.

Olhei para trás depois de um bom tempo caminhando, já estava bem longe de onde o encontrei. Imagino de onde ele deve ter saído, será possível que more por essas bandas? Virei meu rosto novamente me concentrando no caminho, até notar um rosto conhecido. Meu pai tirava algumas caixas de papelão de um caminhão e as colocava na frente de uma casa, que parecia recém reformada. Parou o que estava fazendo quando percebeu que eu o encarava, acho que pensou que eu fosse cumprimentá-lo ou algo do tipo. Apenas virei o rosto, olhando fixamente para frente. Passei na frente de sua casa e fui direto para a minha, o sol já começava a se esconder entre as nuvens.



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Notas finais do capítulo

O que acharam?
Próximo capitulo: Alma impura



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