A morte da bezerra escrita por BubblesChan


Capítulo 14
Alma impura


Notas iniciais do capítulo

Hey... Edson Alca aqui !



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/201680/chapter/14

# 17/06/2001

# Quarto - 22:35

Já faz quase um mês desde que perdi, desde que ela se foi. Não tinha coragem de descrever o que aconteceu aquele dia, não tinha coragem de escrever nada, agora eu tenho. Preciso compartilhar com alguém o que meus olhos viram, o que eu ouvi e senti. Não quero que pense diário, bom, pense o que quiser.

Era cedo, por volta de sete e meia da manhã. Acordei com mamãe mexendo em meu guarda roupa, parecia aflita.

– Vamos à igreja, levante-se!

– Que? Igreja hoje? – Levantei da cama e fiquei parada esperando uma resposta.

– Pedi ao padre, ele vai te benzer, trate de se arrumar!

– Me benzer pra que mamãe?

– Apenas se arrume Estela!

Eu não tinha muitas alternativas, tinha que ir á igreja me “benzer”. Provavelmente por causa das minhas últimas atitudes, mas não acho necessário colocar deus nisso, as coisas que fiz e sofri não agradam ao todo poderoso.

Enquanto tomava café da manhã, havia olhos inquietos que não paravam de me observar. Mamãe estava angustiada, de certa forma eu também estava. Tinha medo do que aquele padre podia falar, ou até mesmo fazer.

A igreja fica bem perto, entre a escola e a minha casa. Não demorou muito estávamos lá, prestes a entrar na “casa do senhor”. Quando pisei no primeiro degrau da escada senti meu corpo estremecer. Quando mais subia, mais meu corpo reagia negativamente. As mãos suavam e eu sentia uma ardência nos olhos. Deveria mesmo entrar? Mamãe reparou no meu “sofrimento” e pegou em minha mão meio que me puxando. Por fim consegui entrar na igreja, sendo que a entrada foi apenas uma amostra do que estava por vir.

O padre caminhava em nossa direção, todo de preto, assustador. Mamãe foi até a água benta e fez o sinal da cruz. Fiquei parada, recuperando o fôlego, a força. Também fui até lá, mas a água estava quase seca, parecia evaporar rapidamente. Outra vez fiquei parada até que a voz calma do padre chegou aos meus ouvidos.

– Bom vê-la srª Carter, você também jovem menina.

– Obrigado por nos receber a essa hora. – mamãe parecia desesperada, eu realmente não entendia o porquê disso.

– O que vamos fazer? – perguntei meio rude.

– Você vai me contar o que tem acontecido com você, quando falei com sua mãe ela me pareceu preocupada. Deve ser apenas preocupação de mãe não é mesmo? - Meio que abri um sorriso falso e concordei com a cabeça.

Caminhei ao lado do padre até uma salinha pequena. Entrei e sentei-me em uma cadeira enquanto ele ficou de em pé a minha frente. Quando fechou a porta tudo ficou completamente escuro, eu não podia vê-lo nem ele a mim.

– Me fale sobre você?

– É difícil falar sobre mim, não há algo certo que me descreva.

– E seus amigos, como eles são?

– Meus amigos? – dei uma leve risada – Não usaria a palavra amigos, são algumas pessoas das quais tenho maior conhecimento.

– Essas pessoas que você tem maior conhecimento já lhe fizeram mal?

– Não! – respondi rapidamente.

– Não minta!

– Por que acha que estou mentindo?

– Não está?

Fiquei quieta por alguns segundos, pensando. Eu queria contar a verdade, mas tinha vergonha. Eu queria desabafar, mas não podia. Eu devia contar a verdade!

– Eu quero contar! - minha voz saiu alta como um grito de dor.

– Conte minha jovem!

– Não posso! – levantei da cadeira já saindo da sala. Mamãe estava ajoelhada no primeiro banco, seus olhos estavam firmes, bem fechados.

– Vamos embora! – gritei.

Enquanto tentava despertar mamãe com gritos agudos, percebi que o padre caiu no chão inconsciente. Derrepente tudo começou a ficar embaçado, não conseguia ver direito. Escutava ruídos, os bancos pareciam ser arrastados pelo chão, às janelas pareciam quebrar uma a uma. Aquela sensação de impotência, uma tempestade de sentimentos que me assombrava. Quando pude ver novamente, preferia ter continuado cega. Mamãe estava ensanguentada em meus braços, aqueles barulhos não pareciam, eram reais. Tudo estava, destruído.

Daqui a alguns dias vai completar um mês que ela se foi. Ainda não sei o que aconteceu, mas não foi normal. O que relacionado a mim é normal? Fico me perguntando se tenho culpa. Uma parte de mim sabe que sim e chora por isso, a outra garante que não... Essa me faz sentir melhor. Contudo, chega de me enganar, não posso mais viver me fazendo de inocente, eu não sou. A Estela que costumava ser calma e educada já não existe mais, há muito tempo. Um dia eu sei que pagarei por tudo que fiz e vou fazer, mas fico feliz, pois sei que terei companhia.



Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Reviews?
Próximo capitulo: Mamãe



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "A morte da bezerra" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.