A morte da bezerra escrita por BubblesChan


Capítulo 11
Meus pêsames


Notas iniciais do capítulo

Heeeeey, BubblesChan here XD



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# 19/05/2001


# 12:43 – Quarto

Hoje não é um dia muito feliz. Fui acordada por uma mensagem de “Bom dia” em meu celular, que era de Pablo. Não sei o que nos tornamos atualmente, talvez estivéssemos namorando a essa altura. Mas não é isso que faz o dia ser triste. Hoje é o enterro de minha professora de matemática, e isso me causa calafrios. Minha mãe ficou sabendo sobre isso e disse que nós iremos ao maldito enterro. Aliás, mamãe anda muito presente em minha vida ultimamente, o que chega a ser bem estranho.
 

# 19/05/2001

# 21:02 – Banheiro


Nesse momento estou refugiada no banheiro. Do lado de fora podem se ouvir os gritos de minha mãe no telefone. Ele ligou para papai. Não sei exatamente há quanto tempo estou trancada aqui. Tratei de me esconder rapidamente quando percebi que mamãe voltou do trabalho, liguei o chuveiro para que minha ida ao banheiro parecesse verídica. Tenho até medo do que ela possa me dizer quando eu sair.

O enterro foi à tarde, em uma cidadezinha pequena do interior que fica aqui por perto. Creio que fosse a cidade natal da professora Márcia. Não troquei palavras com minha mãe no trajeto até lá. O silêncio daquele carro era cortado pelo barulho de meus dedos nas teclas do celular. Aparentemente Pablo também iria ao velório acompanhado da família. Eu pensava que não havia por que me preocupar com isso até aquele momento.

Descemos do carro e seguimos algumas pessoas que já estavam no cemitério. Cidade pequena, cemitério pequeno. Era o único enterro daquele dia, então estava bem vazio. Avistamos minha tia e Pablo no círculo de pessoas em volta do caixão. O caixão estava aberto, o que eu achei de muito mau tom. Não que as feições da professora Márcia fossem tão catastróficas assim, apenas achei desconfortável encará-la durante aquela “cerimônia”. Era como se ela estivesse apenas repousando e fosse se levantar a qualquer momento para agradecer as palavras de condolências de seus familiares e amigos.

Por falar em condolências, aquilo já estava me cansando. Era tudo extremamente monótono e chato. Por que não simplesmente a enterram sem que ninguém esteja vendo? Céus, isso não é um motivo para uma reunião. Enterros não fazem sentido, nada é feliz, por que temos que homenagear uma pessoa morta apenas porque ela se foi? Ninguém faz isso nem quando somos vivos.

Aqueles pensamentos estavam me atordoando, senti o braço de Pablo envolver meus ombros, o que no mesmo momento atraiu a atenção de minha mãe. O gesto parecia inocente, olhei para seu rosto e ele tinha os olhos fechados e a cabeça baixa. Todos tinham os olhos fechados enquanto o padre, ou seja lá o que aquele senhor fosse, rezava em voz alta. Exceto minha mãe. Eu e Pablo estávamos de um lado do caixão, enquanto nossas mães estavam do lado oposto. Depois de alguns segundos, mamãe abaixou a cabeça e também fechou seus olhos.

Eu não iria fechar os olhos, não encontraria razões pra isso, apenas olhei para baixo. Percebi alguém me observando e virei na direção de Pablo. Ele sorria para mim, um sorriso calmo e sereno. Aquilo me fez sorrir também. Uma vontade de me aproximar dele foi surgindo. Quando dei por mim já havia selado nossos lábios. Mesmo sendo apenas um beijo casto, aquilo provocava várias sensações diferentes em meu corpo, sensações boas. Mas nem tudo são rosas.

– Estela! – Afastei-me de Pablo automaticamente. Minha mãe nos fuzilava com o olhar. Todos nos olhavam, aquilo me fez corar. – Eu sinto muito, padre. Estela Carter, o que pensa que está fazendo?! – Mamãe exclamava em um tom cada vez mais alto. Eu não podia acreditar, ela estava me dando um sermão na frente de todos aqueles desconhecidos. De repente era como se eu não pudesse ouvir mais nada, fixei meu olhar no suporte que dava apoio ao caixão. Ela continuava a falar, seus lábios se movendo enquanto gesticulava violentamente. Os sons estavam abafados em meus ouvidos, era como se ele estivesse gritando comigo a uma certa distância.

Não tirei os olhos do suporte um segundo sequer. Eu estava fervendo por dentro, tinha medo do que pudesse acontecer caso eu fizesse contato visual com minha mãe. O suporte de madeira parecia ficar cada vez mais rachado, não lembro de ter notado as rachaduras no primeiro momento em que o olhei. E então ele rachou-se por completo. De repente eu conseguia de novo. Gritos de horror. O suporte se desprendeu, derrubando o corpo na cova e logo em seguida o caixão por cima. Estavam todos com medo nos olhos, o padre passava as mãos pelos cabelos grisalhos, algumas pessoas chamavam os coveiros para ajudarem. Minha mãe tinha uma expressão aterrorizada no rosto.

Finalmente olhei para Pablo. Diferente de todos a nossa volta, aquele sorriso sereno permanecia em seu rosto. Afastamo-nos para que os coveiros pudessem dar um jeito naquela tragédia. Senti alguém me puxando para fora do cemitério. Minha mãe. O caminho de volta para casa foi feito em silêncio absoluto, não tive coragem de encará-la um minuto sequer. Parou o carro na frente de casa e disse “Nós vamos conversar quando eu voltar do trabalho, garota.” abrindo a trava das portas do carro em seguida.

Agora eu estou aqui. Vou esperar mais alguns minutos e então terei de encarar a fera. Só espero que ela não tente me afastar de Pablo. Estou me sentindo muito mais confiante depois que ele entrou na minha vida.



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Notas finais do capítulo

O que acharam?
Próximo capitulo: Laços de sangue



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