No capítulo anterior...

Puxei Suzannah para dentro do quarto, me sentei e apontei o colchão ao meu lado para ela se sentar também, era o único jeito.

_ Escute, você pode usar seu poder de mediadora para voltar no passado e concertar minha vida?_ perguntei ofensivamente.

***

Demorei meia hora para fazê-la concordar! Mas por fim a insistência venceu, eu não queria fazer nenhuma mudança extraordinária, queria apenas impedir o meu eu do passado de entrar naquele mar em direção ao Rio e acarretar tudo o que aconteceu depois. Ela ficou bem triste por eu ter que ir embora, mas aceitou. Levei outra meia hora para conseguir que ela me levasse.

Tentei convencê-la de ir imediatamente, mas ela foi direta e disse que havia sido uma noite longa e que iríamos de manhã.

Estava tão ansiosa que dormi apenas uma hora, o resto da madrugada fiquei lendo o caderno de couro de Edward, não era um caderno de anotações como suspeitei, era o diário dele, era difícil de acreditar, que um homem como ele escreveria em um diário, nem eu escrevia! Achei uma leitura muito interessante, ele contava vários detalhes sobre minha mãe.

“Achei a jovem perfeita, ela também pareceu interessada em mim, pelo pouco que observei, descobri que é uma ex-modelo, ela é bonita e saudável, me dará um filho perfeito.”

Ele tratava minha mãe como se fosse uma barriga de aluguel, _Filho perfeito_ repeti suas palavras, ainda bem que nasci menina, menos um gosto para aquele mostro.

Tinha vários detalhes, não só sobre minha mãe, sobre as de Ângela e Andréia, todas tratadas como nada.

Dobradas no fim do caderno encontrei a última coisa que esperava na vida, duas folhas: uma com o desenho de Suzannah e outra com o desenho de Edward, ambas assinadas, Bella Swan.

Ela havia se apaixonado por ele, acreditado cegamente, e ele a traiu, mas por que guardar esses desenhos?

Suzannah entrou no quarto apressada, ela havia trocado de roupas e prendido o cabelo, dando a impressão de que íamos a uma luta._ Vamos?

_ Ainda não.

_ Não vai durar nem dez minutos, não precisa levar mochila, nem nada.

_ É minha bolsa da sorte não saio de casa sem ela, e é você quem parece estar indo para uma batalha com gladiadores.

_ O tempo é muito cruel.

_ Como assim?

_ Temos que estar preparadas, o fato de eu só ter conseguido viajar no tempo depois de já ser uma vampira colaborou, se eu fosse humana na minha primeira viagem já teria sido morta. O tempo é como um organismo, nós não fazemos parte dele, então ele tentará nos destruir, somos como vírus, tudo ao nosso redor conspirará para nos afastar de lá, entendeu?

_ Acho que sim, o tempo é como um organismo humano que tem proteções contra pessoas que não fazem parte do seu universo, nós os vírus._ repeti com minhas palavras o que tinha entendido.

_ Exatamente. Então isso significa: olhos abertos o tempo todo. Apesar de achar que não vamos ficar tempo suficiente para algo de ruim acontecer.

Ia durar muito mais do que só dez minutos, eu sabia disso. Joguei o celular que Kaire comprou para mim dentro da bolsa junto com os desenhos de minha mãe, estavam protegidos no couro interior impermeável dela.

_ Ah... e precisamos de algo que você usava na ilha, qualquer objeto, para servir de Apoio, você tem?

_ Sim, claro!_ arranquei a corda que fazia a amarração principal de minha mochila, ela era feita de pedras artesanais, fiz um nó com as pontas fazendo um colar._ Mas o que é um Apoio?

_ Quando se viaja no tempo precisa de um apoio e uma Âncora, o Apoio é aquilo que mostra a época que você quer ir, e a ancora é aquilo que te prende a sua época, por exemplo, esse meu colar de safira! Caso eu o perca, o tempo me traz de volta para cá, o meu verdadeiro tempo, imediatamente, como se fosse uma Âncora _ disse ela tirando um fino colar com um pingente na ponta em forma de uma gota._ Como vamos viajar em dupla você fica com o Apoio e eu com a Âncora, é importante que você sempre esteja com ele.

_ Como essa vagem funciona?

_ Além de servir como nossa Âncora a Safira é a pedra dos mediadores, um símbolo. É ela que me permite viajar.

_ Só mediadores podem viajar no tempo?

_ Não! Você só precisa ter uma pedra de mediador como essa, a única diferença é que eu consigo ter consciência de tudo que eu mudo! Por exemplo, se eu quiser voltar no tempo e salvar John Kennedy eu posso, para as outras pessoas seria como se ele nunca tivesse morrido, mas eu vou saber que fui eu quem mudou a história! Mas isso é muito perigoso, poderia acontecer um círculo vicioso eterno, se eu não soubesse bem o que estou mudando e as coisas que vão mudar consequentemente. Isso pode mudar tudo!

_ Interessante, apesar de não fazer ideia de quem seja esse tal de John Kennedy, já que vivi a vida inteira numa ilha... E de onde nunca devia ter saído._ completei. _Alguma outra coisa que eu precise saber sobre viagem no tempo?_ perguntei mudando de assunto.

_ Não mais nada, por que quer saber tanto sobre o assunto, esquecerá de tudo assim que mudar o passado, nem vai se lembrar que mudou alguma coisa, e nem vamos ficar tempo suficiente para que o “organismo” nos ataque.

_ Só gosto de saber das coisas, mesmo que isso fique escondido no canto oculto de minha mente.

_ Tem certeza?_ perguntou me puxando da cama.

_ Claro, isso não será bom só para mim, tudo será como antes, sem lobos e sem guerra por minha causa, além de que vou salvar meus pais. Vou voltar para minha ilha, e fim._ disse sentindo uma confiança que não sentia há tempos, na verdade dias, mas que parecia uma eternidade.