Pov Alice

Acordei com a luz do Sol batendo forte em meu rosto, tentei abrir meus olhos, mas a claridade era muito forte. Virei meu rosto para o outro lado e assim consegui abri-los. Por alguns segundos fiquei meio confusa, mas depois me recordei de tudo. Suspirei cansada. Meu corpo pesava era estranho, pelo que eu pude entender eu havia ficado naquela cama a dias, mas meu corpo estava cansado e pesado como se eu tivesse acabado de correr uma maratona. Algo no canto da sala chamou minha atenção, alguém dormia totalmente desajeitado e provavelmente desconfortável, em uma poltrona branca. De imediato não identifiquei quem era, mas logo em seguida pude reconhecer. Era Fredo. Sorri ao vê-lo ali. Tentei chama-lo, mas minha boca estava seca demais e nenhum som saiu dali, minha boca implorava por água.

Vi que meu celular ainda estava ali naquela mesinha, estiquei meu braço ate ele e o peguei. Desbloqueei a tela e fui aos meus contatos. Liguei para ele, chamou a primeira vez e eu já podia escutar o som de Teach Me How To Dougie soar ao longe da sala, Fredo se assustou com o barulho e levantou, procurou em seus bolsos o celular e encarou o visor espantado. Ate então ele não havia percebido que eu já estava acordada, ele direcionou seu olhar ate mim e se assustou mais ainda, e logo depois correu ate mim.

- Lice?! E-eu não acredito. Você... Você acordou. – dizia ele sorridente e alegre, foi impossível não sorrir junto.

- Você não sabe o quanto eu orei por vocês. – disse ele e me abraçou. Aquilo doeu um pouco e soltei um gemido de dor. – Perdão. Te machuquei? Eu sou um desastrado mesmo, Alfredo seu idiota!  - disse ele brigando com si mesmo, mais uma vez ri, mas dessa vez um pouco mais alto. Ele que tinha se virado para conversar consigo mesmo voltou-se para mim com uma cara engraçada.

- Voltando... Você esta bem? Sente algo? – perguntou-me rápido e um tanto desesperado.

- Água. – sussurrei fazendo muito esforço. De inicio acho que ele não havia entendido – mas convenhamos estamos falando do Fredo ne! – logo em seguida pareceu entender e foi ate um bebedor que havia no fundo do quarto perto de uma porta que deveria levar ate o banheiro. Ele encheu o copo e trouxe ate mim, que peguei com um pouco de dificuldade. Parecia que eu não bebia água a dias, minha garganta sentiu um grande alivio ao receber água. Nunca tinha percebido como beber água é bom. Bebi tudo de umas vez só mas no final senti um desconforto nas região das minhas costelas, e pude ver que aquela região estava enfaixada.

- Nossa! Estava com cede. Não bebia água a quanto tempo? – disse ele risonho mas logo depois ficou serio. Convenhamos que aquela piadinha foi meio fora de hora ne. – Esquece.

- Tudo bem. – consegui dizer, mas dessa vez em alto (não tão alto assim) e bom som.

- Como se sente? – perguntou-me novamente sentando-se na ponta da cama. Ajeitei-me o Maximo que consegui na cama e fique sentada.

- Cansada... – disse vagamente. – A quanto tempo estou dormindo? – perguntei, pois não tinha a menor noção sobre tempo.

- Bom... Depois do acidente, eles te induziram em um coma porque você estava muito machucada... E você ficou quase duas semanas assim. – disse ele cauteloso com as palavras como se não quisesse me assustar. Aquilo foi um choque, duas semanas é muita coisa... Mas já imaginava. – Há dois dias você acordou, mas te sedaram de novo, porque você estava muito agitada. – dizia.

Ao ouvir isso meu coração acelerou e me lembrei do motivo da minha agitação.

- Onde esta Justin? Ele ta bem? O que aconteceu com ele? – perguntei rápido cortando ele que falava algo sobre o porquê dele estar dormindo aqui. No mesmo instante ele se calou e fez uma cara nada boa.

- Justin... Ele... Ele esta em coma. – disse ele cabisbaixo. No mesmo segundo uma lagrima desceu cortando meu rosto. Algo dentro de mim já sabia que ele não estava bem, mas ainda tinha esperanças de que não fosse verdade. Não pensei que doeria tanto, não pensei que aquilo me atingiria de tal forma. Eu já soluçava de tanto chorar. Fredo se aproximou de mim e me abraçou, mas dessa vez com cuidado.

- Ele é forte. – sussurrou Fredo no meu ouvido. – Logo logo ele vai acordar. – dizia, mas a dor só parecia aumentar. Eu me sentia culpada afinal eu que comecei aquela briga idiota por causa de um ciúme idiota. A culpa era minha. Fredo tentava me consolar, mas nada mudava o que eu estava sentindo, a culpa e a dor de pensar na hipótese de perdê-lo eram enormes.

[...]

Haviam se passado um mês. Eu já estava bem melhor, já andava sozinha pelo quarto, comia e me banhava sem a ajuda das enfermeiras. O medico disse que no máximo daqui a uma semana eu já receberia alta.

Eu estava quebrada por dentro e por fora. Justin continuava em coma, nenhum sinal de melhora. Nada. Os médicos já estavam perdendo a esperança de que ele acordasse. Mas eu continuava forte... Mentira, eu estava mais fraca do que antes, vomitava com mais frequência e havia começado a me cortar. Isso começou em uma noite quando Justin quase morreu.

FLASHBACK ON

EU estava mais uma vez olhando Justin pela janela de vidro do lado de fora do quarto. Passava a maior parte do meu tempo ali, o olhando com a esperança de que a qualquer momento ele acordasse. Mas quem o via perdia as esperança, ele estava lá deitado naquela cama, cheio de fios pelo corpo e com uma mascara de oxigênio no nariz e na boca. Ele estava bem mais pálido, era quase impossível ver vida nele. Aquilo me destruía, se pudesse eu trocaria de lugar com ele, daria minha vida por ele. Mas aquilo era uma coisa impossível.

Aquele bip ritmado que apitava o tempo todo começou a apitar mais rápido, não sabia o que estava acontecendo, os médicos entraram na sala junto com os enfermeiros, eu não entendia nada do que estava acontecendo. Pude observar que aquele aparelho que media os batimentos cardíacos de Justin estava piscando e aquela ondinha estava cada vez mais fraca. Ele estava morrendo. Tentei adentrar na sala, mas fui impedida pelos enfermeiros, a essa altura as lagrimas já escorriam pelo meu rosto. Eu gritava seu nome, com a esperança de que ele pudesse me ouvir, eu sabia que aquilo era impossível, mas sabe quando você quer tanto uma coisa impossível que você começa a acreditar mais seriamente que ela ira acontecer?! Eu estava assim.

Vi pelo vidro os médicos pegarem aquele aparelho de dar choque (n/a: eu não lembrei o nome daquele aparelho por isso descrevi tão detalhadamente hihi’) e colocarem no peito dele. Deram um choque e nada, mais uma vez e ele voltou. Senti um alivio, mas ao presenciar aquela cena me senti mais culpada ainda. Se não fosse por minha culpa ele não estaria passando por tudo aquilo.

Corri para o meu quarto e tranquei a porta. Fui ate o banheiro e encarei minha face no espelho, eu estava horrível. Não parecia a mesma garota de uns tempos atrás, eu não escondia, mas atrás da maquiagem a minha tristeza, agora ela escorria pelos meus olhos. Vi de relance um barbeador dentro do armário do espelho. Aquela altura eu não pensava mais, eu só queria que aquela dor passasse. Tirei a lamina do barbeador e levantei a manga do meu sweater.

Eu sabia que aquilo era errado, mas eu precisava tirar aquela dor de mim de uma maneira. Coloquei a lamina no meu pulso direito e pressionei. No inicio era doloroso, sentir a lamina cortando minha pele me causava dor, mas essa dor física era bem menor do que a dor que eu estava sentido por dentro. Ver meu sangue pingando do meu pulso me trazia uma sensação de alivio. Era como se a cada gota que caísse um pouco daquela culpa, daquela dor que eu sentia ao me ver no espelho, um pouco daquela dor que eu sentia quando via ele naquela cama, fosse diminuindo.

FLASHBACK OFF

Eu estava no quarto observando neve cair do outro lado da janela. Seria Natal daqui a dois dias, as ruas estavam enfeitadas as pessoas caminhavam pra lá e pra cá com sacolas de presentes, a maioria dos meus natais eram basicamente perfeitos. Eu sempre passava essa data com Justin e sua família. Eram sempre Natais alegres, perfeitos. Trocávamos presentes esquisitos no amigo secreto, Justin, Fredo e Kenny faziam competição pra ver quem comia mais rabanada, brigávamos por mais um pedaço da maravilhosa torta de pêssego da vó Diane... Era tudo tão incrível. Sorri com essas lembranças.

Esse Natal seria o pior de toda a minha vida, não trocaria presentes, não haveria ceia, não haveria sorrisos nos rostos das pessoas. Pattie e minha mãe haviam dito que o hospital tinha dado permissão para que fizessem uma ceia aqui, para comemorar comigo. Eu fingia estar feliz na frente delas, eu fingia ser forte na frente de todos mas só eu sabia o que eu estava sentindo e passando. Voltei-me para minha cama e liguei a televisão, como de costume não estava passando nada de interessante. O relógio marcava 14h52m, o tempo naquele hospital demorava a passar, na maioria do tempo alguém vinha e ficava comigo, eles nunca me deixavam sozinha. Jaz passava o dia todo comigo, ou melhor, ela tentava mas o horário de visita só permitia que alguém me visitasse no período Maximo de duas horas. Peguei meu celular e comecei a escutar algumas musicas.

 POV Justin

Eu estava em uma espécie de piscina, era estranho, na maioria do tempo eu não enxergava nada alem de escuridão, mas aos poucos tudo começou a clariar, eu podia ver meu reflexo em uma espécie de espelho que estava ali dentro da piscina. Eu estava prendendo minha respiração, mas aquilo já não estava sendo suficiente. Comecei a nadar para cima, a procura da superfície, mas algo parecia me impedir de submergir, eu estava perdendo o ar, não conseguia mais respirar, e aquilo estava me desesperando. Eu puxava meu pé, mas nãop conseguia respirar. Com muita força puxei meu pé e consegui chegar a superfície. Puxei todo o ar que era possível, eu estava ofegante. Mas algo me dizia que eu estava salvo.