POV Mel

Eu me levantei lentamente e bati as mãos na calça pra tirar a sujeira, tio Billy veio até mim e então nós começamos a andar em completo silencio. A casa do Sam não era muito distante da nossa e como a maioria das casas dos moradores mais antigos de La Push era bem afastada do “centro” da reserva e mais perto da floresta. Durante todo o caminho eu tentei pensar em uma explicação lógica para o que havia acontecido, mas não consegui encontrar, minha mente dava voltas e voltas e nunca chegava a lugar nenhum e foi assim até chegarmos a casa. O lugar era simples e passava a mesma sensação de aconchego que a minha casa, a diferença é que tinha um pequeno jardim muito bonito e bem cuidado em volta, nós nos aproximamos e o tio Billy bateu na porta, alguns segundos depois fomos atendidos por uma mulher de mais ou menos uns vinte anos, a pele morena, olhos castanhos e com um rosto muito bonito, ou pelo menos metade dele, já que a outra metade era deformada numa cicatriz, quatro linhas profundas que manchavam do seu rosto até o pescoço, mas era incrível que nem isso interferisse em sua beleza. Ela nos saudou com um sorriso simpático.

- Boa noite entrem, por favor. – Ela disse nos dando passagem e indicando o sofá onde eu me sentei e deixei que meu corpo afundasse um pouquinho.

- Boa noite Emily e nos desculpe por incomodar a essa hora. – Tio Billy disse parando a cadeira do lado do sofá.

- Não precisa se desculpar Billy, não é incomodo nenhum, afinal Jake não é o primeiro. – Ela disse de forma simpática indo em direção a cozinha, mas suas palavras me confundiram Jake não era o primeiro em que? – Aqui tome. – Ela disse me entregando um copo de água, e só quando eu estendi minhas mãos para pega – lo foi que percebi que estava tremendo.

- Obrigada. – Eu disse com a voz um pouco baixa e ela me lançou um sorriso confortador.

- Deixe – me apresenta – las. Emily essa é minha sobrinha Melanie, e Mel essa é Emily Young, Noiva do Sam. – Tio Billy nos apresentou e ela sorriu mais amplamente, o que acentuou mais sua beleza.

- É um prazer conhece – la Melanie, pode me chamar de Emmy. – Ela disse estendendo a mão e eu rapidamente aceitei seu comprimento.

- O prazer é meu, e você pode me chamar de Mel. – Eu disse e ela sorriu assentindo. Normalmente eu só deixava que minha família e meus amigos me chamassem de Mel, mas tinha o estranho pressentimento de que logo ela se encaixaria em alguma dessas categorias.

- Ela está aqui porque viu tudo acontecer. – Tio Billy explicou e eu pude ver a compreensão passar por seus olhos, mas logo essa foi substituída pela preocupação e eu vi seus olhos esquadrinharem meu corpo rapidamente como se procurasse alguma coisa, e então o alívio quando depois de sua análise não coseguiu encontrar nada.

- Entendo. – Ela disse calmamente. – Não precisa se preocupar logo eles estarão de volta. – Eu me limitei a assentir e voltar a me sentar no sofá. Eu percebi o plural na sua fala, e por mais que suspeitasse quem eram os outros eu não conseguia pensar sobre isso agora. A única coisa que eu queria era que o Jake voltasse logo e estivesse bem.

Emily estava certa e logo os garotos voltaram. Sam foi o primeiro a entrar, ele estava só de bermudas, mesmo com o frio que estava lá fora, assim que passou pela porta foi direto na direção da Emily que já o esperava, ele a puxou pela cintura de forma carinhosa e então com uma delicadeza que me encantou a beijou, quando se afastaram ela riu e nos olhou de relance, eu olhei pra porta a tempo de ver Jared e Paul passarem por ela rindo descontraídos enquanto brincavam de se empurrar, mas logo pararam ao notar a minha presença. Logo minha atenção foi desviada novamente, eu sabia que não devia ficar surpresa, mas não pude evitar que meus olhos se arregalassem quando vi Embry entrar na casa devagar e diferente dos outros ele olhou diretamente pra mim com certo receio que eu não me preocupei em entender porque logo atrás dele estava quem eu mais queria ver.

Jake entrou devagar, olhando tudo de maneira assustada e um pouco raivosa, seus cabelos estavam soltos e um pouco desgrenhados com algumas folhas presas, ele usava somente uma bermuda como os outros garotos, mas foi seu abdômen desnudo que me chamou atenção, quer dizer eu sabia que ele tinha crescido bastante e tomado corpo, mas um peitoral completamente definido como aquele era fruto de uma vida inteira de academia e eu sabia que o Jake nunca havia pisado em uma. Toda minha supresa só durou poucos segundos até que eu percebi que nada disso realmente importava, a única coisa que eu queria era saber se o Jake estava bem e sentir isso com minhas próprias mãos.

- Jake. – Seu nome saiu como um suspiro de alívio. Eu corri até ele e então me choquei contra uma parede quente, muito quente, meu corpo relaxou automaticamente com o calor, mas eu não entendia como ele podia estar tão quente e ainda estar de pé, como se não estivesse sentindo nada e talvez realmente não estivesse. – Você esta bem?

- Na medida do possível. – Ele disse com a voz mais rouca do que nunca e que fez com que meu corpo arrepiasse de um jeito estranho, mas não dei muita importância a isso.

- Eu estava preocupada. – Eu disse tentando pensar em outra coisa que não nas reações esquisitas do meu corpo.

- Preocupada? – Ele perguntou num tom incrédulo e então me afastou e me segurou pelos ombros me fazendo sentir falta do calor. – Depois de tudo que viu devia estar apavorada.

- Ah Jake, aquilo não foi grande coisa. – Eu havia sim ficado um pouco assustada com toda a situação, mas não ia dizer isso pra ele, não queria que se sentisse mal.

- Ah é claro, você vê garotos se transformando em animais gigantes a todo o momento não é mesmo? – Ele disse com a voz cheia de escárnio e dessa vez eu não respondi.

- Bom, eu vejo isso acontecer o tempo todo então já estou acostumado. – A voz do Embry soou ao meu lado e eu olhei pra ele tentando fazer uma expressão séria.

- Embry Call, sabe eu não sei se fico feliz por estar falando comigo ou se lhe dou uns bons socos por ter sido um idiota. – Eu tentei parecer brava de verdade, mas falhei totalmente e ele percebeu tanto que no segundo seguinte outro par de braços incrivelmente quentes me pegaram em um abraço e eu ri feliz por ter meu amigo de volta.

- Acho melhor se sentarem, temos muitas coisas a explicar. – Sam disse com a voz firme e cheia de autoridade e na mesma hora os garotos obedeceram.

- Mel querida. – Tio Billy começou quando todos se sentaram. – Você se lembra das lendas do nosso povo? – Ele perguntou me olhando atentamente.

- É claro, meu pai as contava pra mim todas as noites antes de dormir, depois de um tempo eu já conhecia todas ao pé da letra, minha favorita era a história da tercei... – Minha voz foi sumindo a medida que eu finalmente ia ligando os pontos. – Então sempre foi isso, todas as lendas eram verdadeiras? – Eu perguntei ainda perdidas em minhas conclusões.

- Sim todas as lendas sempre foram verdadeiras e sempre estiveram vivas em nosso povo. – Ele com a voz transbordando de respeito.

- Se eu bem me lembro as dizem que a existência dos lobos se devem a ameaça dos frios, então se os garotos estão se transformando agora quer dizer que tem vampiros atacando a reserva? – Eu podia sentir a preocupação tomando conta da minha voz.

- Sim, mas não foi exatamente isso que desencadeou a febre. – Sam falou me deixando confusa.

- Então o que foi? – Eu perguntei o olhando curiosa.

- Há muitas décadas atrás o líder do último bando de lobos da tribo fez um acordo com os frios que moravam em Forks, você conhece a lenda, eles foram embora e os lobos puderam voltar as suas vidas normais, mas há algum tempo eles voltaram e a necessidade de proteção trouxe os lobos de volta. – Ele explicou com raiva nos olhos.

- E que clã é esse? – Eu não sabia por que, mas estava curiosa sobre eles.

- Os Cullens. – Embry disse simplesmente me deixando chocada.

- Cullens? De Edward Cullen? O Edward da Bella? – Eu não podia acreditar no que estava ouvindo.

- Sim. – Sam respondeu com frieza.

- E ela sabia disso? – E perguntei esperando uma resposta negativa.

- Surpreendentemente sim. – Jacob respondeu num tom magoado e eu bem podia imaginar o que ele estava sentindo agora.

- Aparentemente ela não se importava muito com o fato de namorar um sanguessuga. – Paul disse secamente, me fazendo perceber o tamanho do ódio que sentiam dos Cullens e o ressentimento latente de Bella.

- Mas espera os Cullens não estão mais em Forks, com a ausência deles as transformações não deviam parar? – Isso havia acontecido no passado, porque agora estava sendo diferente?

- Bom sim, mas existe outro frio ameaçando nosso povo. – Tio Billy explicou com o semblante preocupado.

- E isso quer dizer que vocês estão caçando ele certo?

- Esse é o nosso propósito – Sam respondeu consternado.

- Perfeito. – Se não bastasse saber que tinha um vampiro solto por ai, ainda tinha que lidar com o fato de que meu primo agora seria um dos que tinha que caça – lo e dar fim a sua existência fria. Eu não havia ficado assustado em ver um garoto se transformar num lobo gigante, mas estava simplesmente apavorada por saber que agora Jacob estaria em perigo constante. Perfeito.