007 – Memória Morta

[Ed]

– Daniel! Vá salvar Alice! – Gritei. A dor dominou meu corpo como se eu tivesse um pequeno roedor caminhando com suas garras afiadas por dentro da minha carne.

Mas Daniel não se moveu nem sequer um centímetro. Estava em estado de choque. Já esperava por isso. Imagino que jamais tenha passado pela cabeça dele que algum dia ele teria que ver a cena que pairava surrealmente em sua frente, naquele exato momento. E provavelmente ele não estava acreditando nela.

Seus olhos encaravam, vazios e apavorados, o quadro aterrorizante que ele acabara de se deparar. Um cano de metal enferrujado estava atravessado em meu corpo. O sangue quente escorria do ferimento grave, descendo por minha barriga e minhas pernas. Eu podia sentir o tecido das minhas vestes empapado e úmido. O resto do liquido viscoso ainda continuava a escorrer, passando pelo meu pé, e por fim, caindo, gota a gota, no chão gelado. O chão que estava meio metro abaixo de mim, agora estava colorido de um vermelho escuro.

Dois metros à minha frente, com a mão direita estendida perigosamente para mim, estava Suzanna. Seus olhos já não eram doces como nós conhecíamos, eram perigosos, cobertos por violência.

– Droga Daniel! Alice está em pior estado. Vá! – Gritei novamente, tirando-o do transe macabro.

Suzanna fez um movimento com a mão, um comando, e o cano respondeu girando dolorosamente em meu corpo. O roedor estava faminto. Eu engoli o grito de dor, não era hora para isso. Mas esse foi o erro dela, perdeu tempo comigo ao invés de tentar impedir Daniel. Quando percebeu, ele já tinha sumido. Usou o “Efeito-Matrix” para chegar em Alice o mais rápido possível. Os olhos de Suzanna se moldaram, da violência para o medo.

– Eric, ele está indo! – Gritou ela, sua voz falhou.

“Meu Deus, ela não está com medo, está apavorada. O que diabos ela sente por esse Eric?” Pensei surpreso com seu grito, mas meu pensamento foi interrompido. Um outro grito se seguiu ao grito de Suzanna, dessa vez era de dor. Pertencia a Eric, percebi aliviado. “Daniel deve ter chegado a tempo.”

Olhei sorrindo para Suzanna.

– Parece que seu ex-namorado acaba de acertar uma de direita no seu namoradinho atual. – Falei, num tom sarcástico.

Mas a garota não estava mais com seu senso de humor. Lógico que não. Olhou para mim e eu temi seu olhar. Senti meus ossos tremerem de medo com o frio de sua expressão. E quando ela fechou a mão estendida, senti todos os meus ossos se quebrando. Rugi de dor, não tinha como evitar, nunca havia sentido tanta dor na minha vida. Eu ia desmaiar a qualquer momento.

Antes de eu perder os sentidos, vi um estranho tremor no ar. Era como se um terremoto tivesse acabado de atravessar apenas o ar do galpão abandonado em que todos nos encontrávamos. Eric apareceu ao lado de Suzanna. Sua boca estava manchada de sangue e um roxo cobria sua face esquerda. Um roxo quase amarelado. “Hum... Parabéns Dan, fez um ótimo trabalho. Hehe.” O ouvi dizendo algo parecido com “Vamos” e então ele a abraçou e os dois sumiram. Seguidos por aquele tremor bizarro no ar. Simples assim, como se nunca estivesse ali.

Assim que Suzanna desapareceu eu cai pesadamente no chão. Já estava perdendo a visão. Foi quando eu percebi.

– Adeus...

Eu não iria acordar mais.

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