Antes da Tempestade escrita por Goldfield


Capítulo 6
Final A




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Final “A”

         - Vamos retornar por onde viemos, até a delegacia! – Rebecca exclamou resoluta, sua voz semi-abafada por mais alguns tiros. – Seja lá o que tenha surgido aqui embaixo, poderemos pedir ajuda aos demais policiais. Sem contar que eles finalmente darão crédito às palavras de nós, S.T.A.R.S.!

         A face de Billy fechou-se numa careta. Ele não aparentou apreciar muito a idéia, mas concordou movendo a cabeça. Goldfield repetiu o gesto, pistola em punho. Trocaram olhares mais uma vez... e puseram-se a correr na direção escolhida.

         Seus passos ecoavam incomodamente pelas galerias. Se não queriam ser descobertos, davam então terrível contribuição para o contrário. Felizmente, os berros, disparos e assustadores grunhidos ocultavam a maior parte dos sons que causavam, garantindo ao menos certa discrição. Procuravam também se afastar do foco dos ruídos. Não importava o que causava a provável matança naquele lugar: eles não queriam encontrar a fonte de tanto terror.

         Súbito, virando num dos túneis, depararam-se com terrível cenário: ao longo do percurso, junto às paredes e atirados ao chão, havia uma série de corpos ensangüentados, seus fluídos manchando as superfícies ao redor num desolador tom escarlate. Os homens trajavam vestes táticas com colete, tendo os semblantes cobertos por máscaras de gás. Junto aos seus corpos vitimados por terríveis rasgos e fraturas, encontravam-se submetralhadoras e pistolas caídas, algumas aparentemente ainda com bastante munição. Nem mesmo armas de grosso calibre haviam bastado para derrubar o misterioso agressor – que por sinal não se encontrava ali, tendo certamente se deslocado para as redondezas para prosseguir com o massacre.

         - O que pode ter feito isto? – inquiriu Rebecca, confusa, enquanto tentava se recordar das criaturas que enfrentara em julho. – Hunters? Algum novo supersoldado da Umbrella?

         Tinha somente uma certeza: a não ser que possuísse dentes de leão e também a agilidade de um, aquilo não poderia ter sido causado por um mero zumbi.

         - Eu não quero ficar aqui para descobrir! – falou Billy. – Melhor corrermos!

         Prosseguiram rapidamente pela galeria, tomando cuidado para não tropeçar nos cadáveres. Enquanto dobravam novamente ao final do corredor, Goldfield, de relance, podia jurar ter visto um dos corpos mutilados se mexer... Mas, julgando estar enxergando coisas devido ao nervosismo, nada comunicou aos colegas.

         Depois de mais alguns metros de fuga, com os terríveis sons do ambiente já se silenciando, encontraram uma escada de mão. De acordo com o que se lembravam das plantas do subsolo, aquele caminho conduzia diretamente ao Departamento de Polícia. Já respiravam mais aliviados, Billy assumindo a frente para agarrar primeiro os degraus...

         Quando algo despencou pela abertura.

         Devido ao susto, os três fugitivos recuaram alguns passos, logo voltando seus olhares para o que caíra. Tratava-se da cabeça decepada de um dos soldados, igualmente revestida por uma máscara de gás. Sangue jorrava do crânio e passou também a escorrer pelo metal da escada. Mal tiveram tempo de assimilar aquilo, uma enorme massa saltou pelo mesmo buraco... sua horrenda silhueta pousando de pé diante deles. Automaticamente apontaram as pistolas. Porém sabiam de antemão não serem capazes de derrubar aquela criatura com o que tinham.

         - Deus... – Goldfield murmurou, gotas de suor lhe pingando do rosto.

          Foi a última coisa que disse, já que em seguida um golpe no ar do braço mutante pulsando em vermelho do monstro, segurando uma afiada barra de ferro, destroçou-lhe o pescoço, fazendo a cabeça voar vários metros, indo afundar na suja água do esgoto como uma pedra tingida de rubro. Manchas da mesma cor agora salpicavam também os rostos e corpos de Billy e Rebecca, os quais, de horror, nem conseguiam esboçar reação. O cadáver decapitado do JAG caiu de joelhos, enquanto o monstro, meio-humano e meio-besta, caminhava na direção de suas outras duas vítimas com a barra metálica resvalando sonoramente numa das paredes, sua parte humana aos poucos desaparecendo em meio à massa de carne ostentando ainda poucas peças de roupa.

         Coen estendeu os braços e disparou duas vezes. As balas foram cravadas no vulto disforme da criatura sem retardar-lhe o passo, enquanto ela, erguendo a arma improvisada, respondia na mesma moeda. Foram também dois os fortes golpes com a barra, que fizeram um dos braços do fuzileiro praticamente se descolar do tronco e afundaram-lhe a parte de cima da cabeça numa sangrenta fratura. O fugitivo caiu de imediato, inerte e liberando grande quantidade de líquido vermelho numa poça junto a si. O frasco com o Progenitor, caindo, estilhaçou-se no piso. Urrando, o monstro dirigiu-se então a Rebecca...

         A jovem mantinha um dedo no gatilho da Samurai Edge, porém não conseguia atirar – amaldiçoando-se imensamente por isso. Sem conseguir se conter, deixou que as lágrimas lhe vertessem pelo rosto, soluçando enquanto a imensa sombra do inimigo se projetava sobre si em meio à lúgubre iluminação dos túneis. E, quando viu um conjunto de garras ósseas se projetarem do outro braço do mutante, sabia que seu fim havia chegado.

         Sentiu sobre os lábios o gosto salgado do choro, fechou os olhos e aguardou o golpe.

*  *  *

         Claire saltou com certa relutância na água do esgoto. Não sentia qualquer confiança em adentrá-la, principalmente por temer que o vírus a houvesse contaminado; mas estava sem feridas abertas e acreditava que a roupa poderia lhe conferir certa proteção. Venceu o nojo e, sentindo as botas e calças molhadas, passou a se deslocar pelas galerias com líquido até os joelhos. Julgava estar no caminho certo para encontrar Sherry, já que não havia percebido outras opções de trajeto pelo caminho – a menos que a menina houvesse retornado ao R.P.D., o que não julgava muito provável.

         As palavras do chefe Irons ainda incomodavam seus pensamentos. Como revelaria à garotinha que o monstro que causava tanto pânico naquela área era seu próprio pai, William Birkin? Por mais que tentasse esconder dela tal verdade, uma hora ela acabaria descobrindo por si só, talvez da pior maneira possível. Tinha de encontrá-la antes que isso acontecesse...

         Súbito, um gemido, que fez Redfield voltar-se instintivamente para trás.

         Alguém, além dela, também perambulava pelas águas do esgoto. Caminhando devagar até Claire, do mesmo modo desajeitado da maioria dos zumbis, o que um dia fora uma jovem mais ou menos da sua idade seguia em sua direção – estendendo um dos braços para a comida enquanto o outro, quase puro osso, permanecia contraído junto ao tórax com uma série de fraturas. Chamava mais atenção na morto-viva um terrível ferimento em seu abdômen, pelo qual pendia parte de seus intestinos. Exibia igualmente diversos outros machucados pelo corpo, alguns ainda liberando sangue infecto em meio à água. Já apontando a pistola que obtivera quando chegara à cidade, Claire observou então seu rosto. Tinha cabelos castanhos curtos empapados de fluído, os olhos que outrora poderiam ter sido bonitos convertidos agora em dois globos totalmente opacos; a boca com carne entre os dentes podres revelando ter se alimentado há não muito tempo.

         Desde que iniciara sua jornada por aquela urbe dos mortos, Claire aprendera que aqueles monstros não eram mais seres humanos, devendo ser eliminados para que pudesse escapar viva daquele pesadelo. Mas de alguma forma, em relação àquela garota, ela sentiu pena. E achou-se ainda mais atordoada quando notou, na camiseta em frangalhos que usava, o inconfundível emblema do S.T.A.R.S. numa das mangas. Tornou a encarar-lhe a face, achando-a estranhamente familiar. A teria visto antes em algum lugar? Poderia ter sido aquela pobre garota colega de trabalho de seu irmão Chris?

         O gemido agonizante da zumbi trouxe Claire de volta à realidade. De qualquer modo, não havia mais o que ser feito...

         Apertou o gatilho, enterrando uma bala certeira na testa da morto-viva quando já se encontrava consideravelmente perto. O corpo dela caiu para trás, imergindo na água pestilenta... livre de sua miséria.

         Mordendo os lábios, Redfield deu-lhe as costas e seguiu em sua busca. Tinha de encontrar Sherry.


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