Antes da Tempestade escrita por Goldfield


Capítulo 7
Final B




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Final “B”

         - Esse caminho que leva para fora de Raccoon me aparenta ser mais seguro... – ponderou Rebecca, enquanto mais tiros reverberavam pelas galerias. – Podemos tentar! Billy, você se lembra do trajeto?

         - Todinho. Sigam-me!

         Chambers e Goldfield puseram-se a acompanhar Coen através dos túneis, enquanto a batalha contra a criatura misteriosa, a julgar pelos sons, continuava encarniçada. Perguntavam-se a respeito do que poderia se tratar, e se aquilo significava que Raccoon estava próxima de encontrar sua destruição, com a chegada de monstros à área urbana. Rebecca e Billy foram assolados pelas memórias do incidente em Arklay, ansiando para que saíssem vivos novamente. Se o pesadelo os perseguia, então que se tornasse recorrente também escaparem dele.

         Dobraram um túnel, deparando-se com terrível achado: o corpo de um indivíduo de uniforme tático e máscara de gás, possuindo enorme ferimento na região do peito, como se o mesmo houvesse sido perfurado. Junto ao cadáver, uma maleta destruída e vários fragmentos de um material semelhante a vidro ao redor. Pelo piso, substâncias de coloração verde, azul e roxa escorriam em pequenas poças. Rebecca não precisou pensar muito para concluir do que se tratava... e não achou nada bom.

         - Aconteça o que acontecer, não toquem essa sujeira! – exclamou, conforme prosseguiam. – Acho que algo de muito errado resolveu ter palco aqui, bem na noite em que resolvemos nos encontrar...

         Certamente. E se aqueles recipientes houvessem mesmo contido vírus, então toda a população de Raccoon estava ameaçada. Não levaria muito tempo até que o agente patológico chegasse às reservas de água... Sem contar os ratos e outras criaturas que constituíam hospedeiros em potencial.

         Desenhava-se, naqueles esgotos, o paraíso de qualquer estudioso de infecções virais... para infortúnio dos inocentes que viviam nas ruas lá em cima.

         Goldfield abaixou-se junto ao corpo do soldado, cuidadoso, e apanhou sua submetralhadora, contendo um pente de munição praticamente ainda cheio. Aquilo seria útil se tivessem de travar tiroteio com homens armados ou enfrentar coisa pior. Rebecca, por sua vez, examinou melhor o que restava da maleta... e acabou encontrando um frasco intacto contendo o agente de coloração roxa. Se já poderiam conseguir algo tendo uma amostra do Progenitor, com dois vírus seu poder de fogo contra a Umbrella na justiça seria bem maior. Hesitou por um instante... mas acabou apanhando o recipiente, pendurando-o provisoriamente, devido à pressa, num elástico junto à cintura.

         Avançaram, percorrendo mais galerias. E, para seu desespero, os gritos e disparos tornavam-se mais e mais próximos, ao invés de se afastarem.

         - Eu gostaria ao menos de saber o que está nos perseguindo... – murmurou Billy, lançando a quase todo momento olhares aturdidos para trás.

         Foi nesse momento que um urro selvagem, de gelar os ossos, propagou-se pelos túneis... e, detendo-se para verificar sua origem, o grupo viu, metros atrás, a origem de toda aquela carnificina.

         A criatura um dia fora um homem, mas agora convertia-se num monstro corpulento e desproporcional, possuindo um braço que por si só tinha quase o mesmo tamanho que o resto do organismo, tendo em sua extremidade um inexplicável olho vermelho maior que o crânio. Trajando os restos de um jaleco e uma calça, carregava uma grande barra de ferro manchada de sangue – instrumento com o qual por certo já dera cabo de vários inimigos. A cabeça deformada continha ainda traços vagamente humanos, como as feições paralisadas para sempre numa expressão de sofrimento e os cabelos loiros. Seu aspecto todo só remetia a um intento: matar.

         - Então esses monstros... – murmurou o JAG, atônito. – São de verdade!

         Rebecca suspirou. Por que a maioria das pessoas tinha sempre que ver para acreditar?

         - Vamos! – exclamou, nada disposta a dar as boas-vindas ao mutante.

         Continuaram. Venceram bons metros de percurso pelo túnel, evitando olhar para trás... mas a verdade era que o monstro se aproximava, tendo liquidado suas demais vítimas e agora praticamente correndo na direção deles. Trêmulo, o tenente Goldfield virou-se e disparou uma rajada da submetralhadora contra a aberração. As balas penetraram em sua carne inchada, projetando ao redor jorros de sangue... porém o ataque mostrou-se longe de pará-la. Pelo contrário: enfureceu-a ainda mais.

         - Não atire, só corra! – repreendeu Coen.

         Eles corriam – mas o caminho não tinha mais desvios, e àquela velocidade o monstro logo os alcançaria. Já pensavam em talvez parar e enfrentá-lo com suas armas, apesar das poucas chances; quando Rebecca, que seguia à frente, viu subitamente uma luz vermelha piscar numa das paredes da galeria... um segundo foco idêntico, por sua vez, brilhando na superfície oposta, bem em frente ao outro...

         - Acelerem! – ordenou, compreendendo mais uma vez antes que os demais o que se passava.

         Assim o fizeram... e logo o túnel todo tremeu.

         Como Chambers suspeitara, se tratavam de explosivos C-4 – o brilho rubro oriundo dos detonadores. Alguém resolvera selar a passagem para que a criatura deixasse de persegui-los. Quando o abalo cessou, com várias pedras despencando do teto da velha estrutura, uma vasta e densa nuvem de poeira subiu. Tendo se atirado por instinto ao chão, os três sobreviventes ergueram-se lentamente, tossindo e com os olhos ardendo. Nenhum deles, felizmente, havia sido pego pela explosão, estando assim livres de ferimentos.

         O ambiente ainda se encontrava enevoado pela fumaça da demolição, alguns tijolos continuando a cair em torno, quando ouviram o repentino engatilhar de uma arma. Reagiram voltando-se para o som, mas estavam por demais atordoados e acabaram fazendo-o de maneira muito lenta. Quando deram por si, já estavam sob a mira de um indivíduo surgido da poeira como um espectro – uniforme tático negro, colete e máscara de gás. A arma de sua escolha era uma pistola Desert Eagle calibre 50, capaz de destroçar a cabeça de qualquer um deles num só tiro se tentassem algo.

         - Quem é você? – indagou Billy, nada disposto a demonstrar gratidão pelo bloqueio do túnel.

         - Não importa! – o mascarado exclamou com uma voz grossa abafada, apontando a arma para Chambers. – Você aí, dê-me esse frasco pendurado em sua calça, agora!

         Rebecca olhou confusa para a cintura. Já quase se esquecera do recipiente adquirido há pouco da maleta destruída, em meio à confusão nas galerias. Era um vírus criado pela Umbrella, por certo... mas qual, exatamente? E por que o anseio daquele homem em apanhá-lo? Para quem trabalharia?

         - Dê-me ou atiro! – ameaçou.

         - Colega, não sei se percebeu, mas são três contra um aqui... – ponderou Goldfield, dando um leve sorriso de astúcia. – Se atirar em um de nós, reagiremos imediatamente. Pode ter certeza de que não escapará vivo!

         - E vocês estão mesmo dispostos a perder alguém do grupo? Compensaria a troca? Uma vida por outra? Acredite, eu conheço bem a morte. Já escapei dela várias vezes, e para isso precisei fitá-la nos olhos. Vocês não estão dispostos a negociar diretamente com ela. Então me passem logo esse frasco, vamos!

         Os três se entreolharam, caras fechadas... sem opção. Não, nenhum dos dois homens do grupo estava disposto a perder Rebecca; muito menos propensos a permitir que ela se oferecesse em sacrifício. Felizmente, a jovem aparentou perceber... apanhando o frasco do elástico preso à calça e estendendo-o para o soldado misterioso...

         - Não tão rápido!

         A voz feminina viera do lado ainda aberto do túnel, seguido logo depois por um novo engatilhar de arma. Surgiu das trevas, primeiramente, o cano de uma pistola com mira laser... o ponto rubro sendo projetado justamente sobre a testa de Rebecca. Em seguida, caminhando pelo chão úmido, revelou-se aquela que segurava o armamento: uma mulher de cabelos negros curtos, traços orientais, usando uma blusa vermelha e calças escuras. Diante de sua imagem, o tenente Goldfield não pôde evitar estremecer. Quem imaginaria que...

         - A mulher do restaurante! – murmurou, imaginando quantas pessoas, afinal, tinham algo a esconder naquela cidade.

         A mão de Chambers se detivera no ar com a chegada da estranha, os dedos ainda segurando firme o frasco com o vírus. Os olhares dos fugitivos, agora, se alternavam entre o homem de máscara de gás e a mulher de vermelho. E a situação se complicava ainda mais.

         - Levarei essa amostra, “Sr. Morte” – a oriental afirmou com classe, apesar do tom imperativo. – Você querendo ou não.

         - Então todos querem isto, hem? – suspirou Rebecca, olhando para o frasco em sua mão.

         A mira laser da inimiga deslizava por seu corpo, detendo-se a cada momento em algum órgão vital. A ameaça, no entanto, não intimidou a jovem, que continuou fitando pacientemente a amostra... em seguida observando o fluxo da água suja que molhava seus pés e os dos companheiros. Notou que o líquido convergia para um ponto perto de onde estavam, onde era possível identificar pequeno redemoinho... um bueiro!

         - Se querem tanto...

         Os dois algozes conseguiram perceber o que a ex-membro do S.T.A.R.S. pretendia, porém tarde demais...

         - Vão pegar!

         E atirou o frasco à correnteza do esgoto, o recipiente logo aderindo ao percurso rumo à abertura que o tragaria.

         - Não! – a voz abafada do mascarado berrou em angústia, enquanto ele se jogava, sem qualquer nojo, sobre a água, um braço estendido na tentativa de apanhar o artefato.

         O soldado deslizou pelo piso alguma distância, impulsionando-se com os braços rumo ao pequeno invólucro lilás. Num dado momento, conseguiu roçá-lo com os dedos... mas o frasco bateu numa das grades do bueiro, quicou... e desapareceu na escuridão dos dutos.

         Mal o mascarado teve tempo de perceber ter perdido o que buscava, um susto: ao tentar se levantar apoiando-se nos braços, a estrutura de ferro do bueiro, velha e abalada ainda mais pela recente explosão no túnel, cedeu sob o peso do combatente... tragando-o também para o desconhecido em meio à torrente que se intensificou, logo esvaziando a passagem em que estavam e deixando apenas poças de líquido fétido aqui e ali.

         - Vá com Deus! – exclamou Coen, respirando aliviado.

         Mas eles haviam se esquecido da oriental. Quando deram por si, ela já disparava com sua pistola na direção deles. Rebecca escapou da bala direcionada ao seu coração saltando para frente, enquanto Billy e Goldfield respondiam usando suas armas. A mulher abrigou-se num nicho presente num dos lados do túnel, posicionando-se de costas à parede enquanto evitava os tiros efetuados contra si – os quais arrancavam lascas e poeira dos tijolos úmidos. A troca de tiros durou mais alguns instantes... quando a misteriosa personagem de súbito deixou de revidar. Os três fugitivos aguardaram um pouco antes de verificarem o que ocorrera... logo avançando e constatando que o vão em que a inimiga se protegera possuía uma escada de mão rumo à superfície. E não viram mais qualquer sinal dela.

         - Filha da mãe... – praguejou Billy, ofegante.

         - E então, subimos atrás dela? – perguntou Goldfield.

         - Não, não seria prudente – replicou Rebecca. – Ela deve estar esperando por isso. Vamos continuar em frente, como combinado.

         Todos concordaram, voltando a correr.

         O extenso túnel terminava numa abertura redonda nos limites da cidade – como Coen dissera. Ao saírem pela boca de esgoto – pela qual escorria ainda um fio de água suja que se precipitava num lago fedorento do lado de fora – os sobreviventes depararam-se com o ar fresco da noite, o céu escuro estrelado, uma paisagem razoavelmente agradável composta de pinheiros e o som misto de grilos e corujas. Aquele cenário era bem familiar a Rebecca e Billy: a floresta de Raccoon. Local em que haviam sido introduzidos a todos os perigos e segredos envolvendo a Umbrella.

         - Acho que estamos seguros, por enquanto... – murmurou o JAG, fitando aliviado o ambiente campestre.

         Já os outros dois não tinham tanta certeza. Sabiam que ainda existiam monstros soltos pelos arredores da cidade, o que os levava a querer sair dali o mais rápido possível.

         Andando um pouco pela área, o trio, subindo por uma pequena elevação, logo avistou o horizonte salpicado de luzes da parte urbana de Raccoon City. Faltavam poucas horas para o amanhecer. Puseram-se a caminhar de volta na direção da cidade, quando, minutos mais tarde, ouviram o inconfundível som do motor de um carro: havia uma estrada nas proximidades.

         - Alguém tem dinheiro para um táxi? – brincou Coen.

         - Eu aceitaria algumas moedas, mas talvez a caminhada me faça bem... – murmurou Rebecca.

         - Então a aproveite. É aqui que me separo novamente de vocês.

         Chambers e Goldfield interromperam a marcha, voltando-se atônitos para o fuzileiro naval. Ele não podia estar falando sério.

         - Como assim? – o advogado inquiriu, nervoso.

         - Não posso voltar a Raccoon – explicou-se Billy. – Seria arriscado demais expor meu rosto justamente na cidade em que fui julgado morto. Além do mais, tenho mais coisas a fazer. Organizar meus esforços nas sombras para aumentar o poder de fogo que temos contra a Umbrella e o governo. Mas, antes de ir...

         Levando de novo uma das mãos ao bolso, Coen pegou a amostra do Progenitor, estendendo-a a Rebecca.

         - Quero que guarde isto.

         Chambers apanhou o frasco solenemente, colocando-o dentro de uma pequena bolsa que trazia pendurada à cintura. Não cometeria o mesmo erro de andar expondo aquele trunfo.

         - Cuidarei muito bem disto. Na hora certa, fará parte da evidência que reunirmos.

         - É esse o objetivo.

         - Como faremos para contatá-lo novamente? – indagou Goldfield.

         - Usem o mesmo número que lhes forneci. Ele não irá mudar.

         Billy então deu as costas aos companheiros, pondo-se a caminhar em direção à floresta. Quando já havia se afastado alguns metros, Rebecca exclamou:

         - Tome cuidado! Estamos contando com você, afinal de contas!

         - Fantasiando de novo comigo, carinha de boneca? É claro que sei me cuidar. Vou voltar para salvar sua pele várias vezes ainda!

         Chambers sorriu, observando por mais alguns instantes o parceiro se afastar. Goldfield então colocou a mão direita num de seus ombros e disse, em tom manso:

         - Vamos.

         Rebecca voltou-se, e eles deram prosseguimento ao trajeto rumo a Raccoon City.

*  *  *

         Chambers chegou ao prédio em que morava, junto com o tenente Goldfield, quando o sol subia no horizonte e distribuía seus primeiros raios sobre o antigo casario. Raccoon, aquela manhã, era uma cidade quieta – excessivamente quieta. O que fez os dois sobreviventes se perguntarem se estariam mais seguros ali ou na floresta circundante...

         Foi com certa apreensão que subiram pelas escadas do prédio e adentraram o apartamento de Rebecca, depois que esta destrancou a porta. O local estava aparentemente em ordem, assim como eles o haviam deixado quando partiram na noite anterior para encontrar Billy Coen nos esgotos. A única diferença era um envelope branco no chão, bem diante da entrada – certamente tendo sido atirado por debaixo da porta devido à ausência da residente. Esta o apanhou e abriu-o, sob o olhar intrigado de Goldfield. Tratava-se de uma carta. Chambers desdobrou-a e leu em silêncio por alguns instantes. Apesar de não ver o conteúdo, o JAG pôde identificar facilmente uma marca de carimbo com o símbolo do S.T.A.R.S. numa das extremidades do papel.

         - Do que se trata? – o oficial da Marinha acabou perguntando.

         - Uma correspondência do capitão David Trapp, líder da unidade S.T.A.R.S. em Exeter, Maine. Eu me encontrei com ele junto com meus antigos companheiros de equipe há alguns dias. Parece que houve um incidente biológico em outro complexo de pesquisas da Umbrella, localizado no lugarejo de “Caliban Cove”, Maine. Nicholas Griffith, um especialista em bioquímica do qual ouvi falar em meus tempos de faculdade, pode estar envolvido. Trapp me enviou isto para ter certeza se poderá contar comigo para as investigações.

         - Você deve ir. Com aqueles frascos de vírus contaminando o esgoto, não demorará muito para esta cidade estar tomada por monstros. Não há muito que possa fazer, Rebecca. Vá, e aja diretamente contra a Umbrella nesse outro caso. É parte de nossa luta conjunta. No momento certo, poderemos expor tudo que encontramos, inclusive a amostra desse tal Progenitor que Coen nos arranjou. Mas deveremos combater de nosso modo até lá, cada um em uma frente.

         - Mas e a população desta cidade, e os inocentes? – preocupou-se Rebecca, seus olhos brilhando de aflição. – Alguém tem de avisá-los, evacuá-los!

         - Farei uma ligação anônima ao Centro de Controle de Doenças e outros órgãos do governo. Eles enviarão alguém para averiguar, ainda mais devido à ligação do Pentágono com a Umbrella. Não vão querer nem que seus segredos sejam expostos e nem que a oportunidade de criarem armas biológicas seja perdida. Não se preocupe quanto a isso.

         - Então, você também partirá?

         - Exato. Retornarei à minha base e darei o caso de Coen como encerrado. O condenado perdeu mesmo a vida nas Montanhas Arklay e é considerado culpado das acusações feitas. Deverá ficar assim, ao menos por enquanto. É a vontade do próprio réu.

         - E depois? – Chambers ergueu uma sobrancelha, ainda com a carta em mãos.

         - Talvez eu abandone o JAG Corps e passe a integrar a linha de frente. Gostei da experiência de combate lá nos esgotos, sabia? Há algum tempo, recebi um convite de uma unidade S.T.A.R.S., sediada na cidade de Metro City, para tomar parte em suas fileiras. Pode ser que eu reconsidere e aceite, se ainda tiverem a vaga. Contanto que não me coloquem para dirigir...

         Sem que Goldfield esperasse, Rebecca aproximou-se e deu-lhe um beijo no rosto. Em seguida disse, sorrindo:

         - Cuide-se, tenente.

         - Você também!

         O oficial dirigiu-se à porta, mas, antes de sair, voltou-se uma última vez e comentou:

         - Não sei se sabia, “Caliban” é o nome de um personagem da peça “Tempestade”, de William Shakespeare.

         - Não, não sabia. Já ouvi falar dessa peça, porém nunca a vi encenada. Esse Caliban é o mocinho, vilão?

         - Vilão, na verdade. Filho de um demônio.

         - Ótimo presságio. E estou prestes a adentrar a “Cova de Caliban”. Bem, se ele não for um zumbi... Pode ser o demônio que quiser.

         Os dois riram, e Goldfield se despediu num aceno, cruzando a porta.

         De novo sozinha na sala do apartamento, Rebecca deu um demorado suspiro, olhando ao redor. Tinha de começar a fazer suas malas e embarcar para o Maine, antes que a situação na cidade piorasse. Ligaria para seus companheiros avisando, e partiria no mais tardar naquele mesmo dia. Exausta, a jovem caminhou até uma janela aberta, que dava para a rua. Uma brisa amena veio acariciar-lhe a face; todavia não era de todo inocente... Possuía um quê de roto, de maligno. O céu azul da manhã começava a despontar – as vias lá embaixo, no entanto, permanecendo vazias. Um silêncio fúnebre se instalara sobre Raccoon, rompido apenas, em dado instante, por um longínquo gemido...

         Rebecca estremeceu.

         A Tempestade se avizinhava. Tanto para si, quanto para os ingênuos habitantes daquela urbe...

Luiz Fabrício de Oliveira Mendes – “Goldfield”.


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