Sociedade Dark escrita por Nynna Days


Capítulo 3
Capítulo 2


Notas iniciais do capítulo

Novo capítulo. Me desculpem pela demora. Minha vida anda uma loucurA. Mas aqui está mais um capítulo revisado.
Aproveitem!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/199728/chapter/3

Mudei o peso do meu corpo para o outro pé, em sinal de desconforto. O sorriso do garoto ficou maior e meu pai caiu na risada. Apenas eu e Megan ficamos em silêncio. Dei um passo em sua direção, um pouco ultrajada por ele estar debochando do meu espanto. Seu sorriso sumiu ao perceber que eu estava sem humor e ele pôs as mãos pra trás do corpo.

“Quem é você?”, eu exigi.

“Williams. Drake Williams.”, ele fez uma mesura e pegou minha mão. Não sei o porquê, mas aquele pequeno toque me trouxe um tipo de choque por todo o meu corpo. “É um prazer conhecê-la, Princesa Jordana.”

“Jordan” eu corrigi automaticamente.

Senti-me encantada pela profundidade dos seus olhos azuis. Ele sorriu lentamente e piscou com os longos cílios. Demorou um pouco para que eu percebesse que ele ainda segurava a minha mão. Meu rosto ficou corado enquanto eu desviava os olhos para o meu pai, que ainda ria. Fechei o rosto para ele, o que o fez parar de rir de vez. Parecia um adolescente. Pelo menos se comportava feito um.

“Bem, Jordan.”, meu pai disse depois de limpar a garganta algumas vezes. “Drake será seu guardião daqui em diante.”

“Eu já tenho guardião.”

Cruzei os braços enquanto meu pai pensava que eu tinha herdado a sua teimosia. Ele revirou os olhos cinza e se aproximou de Drake, colocando uma das mãos no ombro dele. Drake tinha os olhos fixos em mim. Eu me recusava a encará-lo. Mesmo ele sendo bonito. Mesmo com tudo o que tinha acontecido, sentia que estava traindo Ethan cada vez que olhava para outro garoto.

“Drake é o seu guardião Dark.”, meu pai disse como se essa fosse a coisa mais óbvia do mundo. E talvez fosse mesmo.

Eu iria começar a argumentar que não precisava de mais um guardião, quando o som de alguém descendo as escadas me chamou atenção. Virei-me, encarando uma garota de cabelos escuros e longos que desciam pelos ombros com belos cachos. Os olhos negros se fixaram em mim e ela sorriu com um pirulito na boca. Ela o tirou e cruzou os braços, parando no meio da escada.

“Prima”, ela me saudou, para logo depois me olhar de cima a baixo e olhar além de mim, talvez para o meu pai. “Então é ela que irá tomar meu lugar no trono dos Darks?”

Encarei meu pai, sem entender nada. Christian soltou o ombro de Drake e caminhou até onde a garota estava parada. Minha mente rodava. Tantas coisas ao mesmo tempo. Mas, afinal de contas, quem era essa garota? E porque estava me chamando de prima? Meu pai parou ao lado da garota e ela sorriu docemente.

“Annice se comporte.”, ele a advertiu.

“Estou apenas brincando, tio.”, ela suspirou e terminou de descer as escadas. “Drake pode ser o galanteador, mas eu não posso ser a revoltada? Isso é injusto.”, ela fez um bico.

Drake bufou atrás de mim.

“Como se você não estivesse feliz pelo Rei por ter encontrado sua filha.”, ele revirou os olhos. “Não seja cínica, Annice. Você está mais que aliviada por não ter que assumir o governo Dark.”

Annice pôs o dedo no queixo, como se pensasse nas palavras de Drake. Pude sentir a camaradagem fluindo dos dois. Levantei uma sobrancelha. Annice andou até Drake, ainda considerando e então riu. Drake balançou a cabeça e suspirou, parecendo já acostumado com isso.

“Tem razão.”, ela me encarou. “Estava rezando para você aparecer.”

“Annice sempre teve esperanças de que você iria aparecer, meu amor.”, meu pai parou ao meu lado e juro que tinha visto uma pequena lágrima começar a deslizar por seu rosto, mas desapareceu tão rápido. “Ainda bem que ela estava certa.”

“Sempre estou certa, tio”, Annice disse colocando o pirulito de volta na boca e dando de ombros.

“Você tem um irmão?”, eu perguntei ao meu pai franzindo o cenho.

“Não.”, ele respondeu e riu. “Annice é filha de um grande amigo meu. Mas ele morreu faz um tempo. Então, eu a criei como minha filha.”

“Criou-me exatamente como gostaria de te criar.”, Annice acrescentou. “E ainda me ensinou os segredos do trono.”, ela olhou em volta teatralmente e se inclinou na minha direção, sussurrando. “Não se preocupe, irei te contar tudo.”

“Assim espero.”, meu pai suspirou aliviado. “Ainda bem que vocês se deram bem.”

“Também acho.”, Megan disse.

Ela ficou tão quieta esse tempo todo que eu tinha me esquecido de sua presença. Quando a encarei, vi seu sorriso crescendo e seus olhos azuis brilhando. As vezes eu me esquecia que Megan era tão nova. Ela abriu os braços e eu a abracei.

“Minha menina.”, ela sussurrou em meus cabelos.

Eu soltei o ar, aliviada por todo o clima pesado ter ido embora e me aconcheguei mais nos braços de Megan. Escutei uma movimentação atrás de mim e levantei a cabeça, encarando os grandes olhos cinza de meu pai. Drake ainda tinha um braço em volta dos ombros de Annice que sorria. Aquela era minha família. Quero dizer, parte dela, pelo menos. Annice se soltou de Drake e andou até mim, pegando minha mão.

“Vamos dar uma volta, daí conversaremos melhor.”, ela ofereceu e olhou por cima do meu ombro para Megan, que suspirou um pouco triste. Acho que ela assentiu, porque Annice sorriu e me puxou na direção da porta, com Drake no nosso encalço.

Nossos olhos se encontraram mais uma vez e eu me peguei comparando-os com o azul do mar. Não, eram mais profundos. Conseguiam quase ver a minha alma. E isso me incomodava. Desviei o olhar para o chão, tão distraída que quando Annice parou na varanda, eu quase trombei com o seu corpo. Ela levantou uma sobrancelha para mim e eu forcei um sorriso.

“Para onde minhas duas princesas querem ir?”, meu pai perguntou parando ao meu lado e sorrindo.

“Sorveteria.”, Annice respondeu de súbito. Percebendo que eu não tinha dito nada, se virou para mim e acrescentou: “Se estiver tudo bem para você, é claro.”

Sinceramente, naquele momento, eu só queria ir para casa e dormir. Minha cabeça latejava um pouco, mas, só de ver a emoção nos olhos de meu pai e a animação de minha nova “prima”, eu não consegui resistir. Drake havia sumido, mas eu não me deixei pensar muito sobre isso. Eu tinha um pai que lia mentes, a minha sorte era que podia vetar alguns pensamentos. Christian franziu o cenho e levantou a sobrancelha com a minha mudança rápida de pensamentos.

“Vamos para a sorveteria.”, eu concordei, sentindo minha bochechas queimarem.

******

“Eu sou uma rastreadora também.”, Annice contou terminando de tomar a sua segunda taça de sorvete de chocolate.

Eu estava brincando com o meu sorvete, vendo-o derreter. Meu pai estava na minha frente, com os braços cruzados. Ele parecia estudar cada movimento meu, como se quisesse armazená-los e poder entendê-los mais tarde. Drake estava do lado de Annice. Ele também não havia tocado no sorvete, deixando-o derreter.

Sempre que nossos olhos se encontravam, sentia minha bochechas queimando. Nunca tinha sido assim com Ethan.

Só de lembrar o seu nome, um aperto brotou em meu peito, me fazendo recuar e arfar. Parecia tão recente. Era tão recente. Meu pai se assustou com a minha reação súbita e pegou minha mão. Ele me estudou em silêncio mais uma vez e bufou. Não era mistério nenhum que ele tinha lido a minha mente e sabia de Ethan.

“Eu não acredito que esse Carmim nojento fez isso com a minha filha.”, ele quase cuspiu. “Maldito seja, Ethan Ramirez.”, ele ralhou aos céus.

Drake bufou.

“Carmins nojentos.”, ele balançou a cabeça.

Isso fez alguma coisa em mim queimar. Talvez fosse o meu lado Carmim despertando, ou o amor ainda existente por Ethan, mas as palavras de Drake me fizeram ficar com raiva. Chamando a atenção de todos ao nosso redor, bati com as mãos com força na mesa. Annice levantou os olhos escuros assustada, mas Drake e Christian continuaram com o rosto impassivo.

“Vocês não sabem nada sobre os Carmim.”, eu disse olhando para Drake. Então arrastei meus olhos para meu pai. “E você não sabe nada sobre Ethan.”

“Não?”, me surpreendi quando foi Drake quem respondeu. Voltei a encará-lo. “Eu conheço Ethan Ramirez o suficiente para saber o quão maldoso ele deve ter sido quando você contou que era mestiça.”, ele sussurrava rapidamente e com raiva, então se inclinou na minha direção. Os olhos cerrados. “Não preciso conhecer todos os Carmim para saber quanto são ligados as suas tradições.”

Annice assentiu concordando com todas as palavras de Drake. A declaração dele de que conhecia Ethan me surpreendeu. Eu abri a boca para dizer algo, não sabia o que, mas tinha que dizer. Como se pra me salvar, escutei o som da campainha da sorveteira tocando e um fluxo de pensamentos familiares me tocara.

Drake levantou os olhos lentamente e ficou tenso. Meu pai ficou de pé subitamente e Annice parecia tão perdida quanto eu. Virei-me, arregalando os olhos ao ver Dimitri me procurando por entre as mesas da sorveteria. Pensei em me levantar e correr para abraçá-lo, mas talvez ele visse isso como um sinal de perigo. Engoli em seco enquanto o via se aproximando com o rosto fechado.

Antes que Dimitri pudesse dizer alguma coisa que iniciasse uma discussão, Annice se levantou parando a sua frente. Um sorriso encantador nos lábios e os olhos escuros brilhando interessados. Por um minuto me perguntei se ela sabia que ele era um Carmim, mas a julgar pelas suas atitudes nas poucas horas em que estávamos juntas, aquilo não deveria me impressionar. Não pude deixar de arregalar mais os olhos quando ela pôs uma mão no ombro de Dimitri e pendeu a cabeça para o lado, fazendo com que os cabelos escuros caíssem por seu rosto.

“Calma, querido.”, ela disse e riu delicadamente. “Estamos em um local público e sua princesa está a salvo apenas tomando um sorvete com o pai.”, ela apontou para Christian. Dimitri a olhava como se fosse um ser de outro mundo. “Se quiser se juntar a nós...”, ela ofereceu.

“Nem pensar.”, Drake disse e se levantou cruzando os braços.

Os olhos de meu pai se arrastaram lentamente para mim.

Quem é ele?

Senti-me em um daqueles interrogatórios de pais quando conhecem um namorado ou coisa do tipo e querem perguntar quais são as intenções dele. Então eu finalmente entendi. Meu pai estava pensando que aquele era o Ethan. Oh, Deus. Drake também deveria pensar isso.

É Dimitri, meu guardião Carmim.

Isso não fez com que meu pai ficasse menos tenso, mas ele descartou a idéia de matá-lo ali mesmo. Suspirei, aliviada. Então me virei de volta para Annice e Dimitri. Ele tinha o corpo um pouco afastado, como se tivesse medo de se aproximar dela. Então seus olhos castanhos pousaram em mim e eu jurava que tinha visto um pedido de socorro. Se aquela situação não fosse tão tensa, eu poderia rir.

“Annice, deixe Dimitri respirar.”, eu pedi. Annice fez um bico e piscou os olhos, então assentiu e voltou a se sentar, mas não sem antes estudar Dimitri de cima a baixo com os olhos famintos. Rolei os olhos e encarei meu guardião. “O que está fazendo aqui? E como me achou?”

“Eu que deveria perguntar o que você está fazendo aqui com esses Darks, mas...”, ele pausou olhando para meu pai e um pouco contrariado, fez uma rápida reverência. “Rei Christian.”, ele cumprimentou meu pai, então se virou para Annice. “Princesa Annice.”, outra reverência.

“Olá, delícia.”, ela acenou para ele e riu. “Ah, tio. Eu quero um guardião desses.”

Todos a ignoramos, mas pude ver um pequeno sorriso crescendo no rosto de meu pai. Seja o que Annice estivesse fazendo, estava funcionando. A tensão lentamente foi se dissipando. Meu pai voltou a se sentar.

Drake, eu e Dimitri éramos os únicos de pé. Drake olhou de mim pra Dimitri ainda confuso, pensando se deveria ou não abaixar a guarda. Meu pai pôs a mão no braço dele e assentiu. Drake, ainda contrariado se sentou. Voltei minha atenção para Dimitri.

“Como você me achou aqui?”, perguntei novamente e cruzei os braços.

“Sua mãe me contou.”, ele respondeu.

Antes que eu pudesse dizer mais alguma coisa, meu pai se levantou, derrubando a cadeira e se pôs ao meu lado. Os olhos fixos em Dimitri, a garganta apertada e a respiração rápida. Se não fosse a coisa mais estranha do mundo, diria que era quase um espelho das minhas reações quando falavam de Ethan.

“Rose?”, Christian perguntou olhando em volta.

Por um momento, com a aflição de meu pai para encontrar minha mãe pude ver que o amor deles ainda existia mesmo que tivessem se passado anos. Vi tristeza nos olhos de Annice e Drake suspirou, balançando a cabeça. Eles deveriam estar acostumados com essa reação ao nome de minha mãe.

“Ela não está aqui, Senhor.”, Dimitri disse hesitante.

Os olhos de meu pai focaram em Dimitri e ele suspirou. Minha garganta fechou. A dor que estava ali era idêntica a minha. Só ali eu pude perceber o quão parecida eu era com meu pai além do físico. Nossas emoções eram semelhantes. Mas, ao mesmo tempo lembrava-me de Ethan dizendo que Darks eram frios e sombrios. Que não tinham sentimentos. Isso estava me enlouquecendo.

“Quero saber sobre as sombras.”, eu disse determinada.

“Que sombras?”, Dimitri perguntou ficando tenso.

“Os Renegados.”, Annice respondeu olhando para as suas unhas como se fossem a coisa mais interessante de se fazer. “Ah, Drake, explique para ela.”, ela balançou a cabeça. “Já tive problemas demais com eles antes.”

“Vocês vão contar sobre os Renegados a Jordan?”, Dimitri perguntou chocado. “Vocês são doidos?”, ele esbravejou. Então encarou meu pai. “Você é doido?”

“Ela merece saber, Carmim.”, meu pai disse frio voltando a se sentar e cruzando os braços. Percebi que estávamos iguais e deixei que meus braços caíssem do lado do meu corpo. Ele ficou sério e olhou para Drake. “Conte a ela.”

Drake olhou para mim, como se tivesse medo de suas próximas palavras e o que elas poderiam fazer comigo. Na verdade, eu também tinha medo do que ele diria. Isso mudaria toda a minha crença. Como eu queria que Ethan estivesse aqui. Talvez isso mudasse a mente dele. Dimitri trocou o peso do corpo para o outro pé, depois bufou e passou a mão pelos cabelos. Estava nervoso.

Estreitei meus olhos para ele me perguntando o porquê dele nunca ter me contado sobre aquilo. Mudaria tudo e eu não teria tratado o meu pai mal. A culpa se instalou dentro de mim, mas mantive meu rosto em branco. Annice colocou o sorvete de lado e também ficou séria. Seus olhos vagavam por todos naquela mesa. Drake suspirou.

“Com certeza, seu ex-namorado deve ter contado sobre os Dark e os Carmim.”, ele arriscou e revirou os olhos ao falar de Ethan.

“O primeiro homem Dark e a primeira mulher Carmim.”, eu disse ignorando o comentário maldoso. Foi a vez de Annice continuar.

“Não seja implicante Drake.”, ela disse a ele e Drake bufou. “Prima, não ligue para o mau humor dele.”, ela balançou a cabeça. “Continuando. Os Renegados são Darks e Carmim que foram banidos de seus reinos por serem impuros demais. Não como você, prima.”, ela acrescentou rapidamente. “Quero dizer os que mataram, torturaram ou cobiçaram algo sagrado demais.”

“Eles são como anjos expulsos do céu.”, Dimitri explicou.

“Ou demônios expulsos do inferno.”, Drake acrescentou.

“São simplesmente maus.”, Annice concluiu.

“E estão atrás de você.”, meu pai disse. Estava tão distraída que nem percebi quando ele se levantou e pôs um braço ao redor dos meus ombros, como se para me proteger. “Por isso que eu e sua mãe preferimos colocá-la com guardiões.”

“Mas, eles são tão novos.”, eu lamentei num sussurro.

Olhei para Dimitri. Em tão pouco tempo, tinha se tornado um grande amigo, quase irmão. Ele sorriu, fazendo com que o canto de seus olhos castanhos se enrugassem. Eu sabia que por trás daquela altura impressionante e daqueles braços fortes havia um garoto de dezenove anos com um grande coração.

Então tinha Drake. Eu o conhecia pouco, mas poderia dizer que ele tinha alguns problemas com os Carmim. E que conhecia Ethan e não sabia se isso era bom ou não. Mesmo sendo sério, quando sorria, fazia com que seus olhos azuis se iluminassem tanto que poderia fazer o próprio céu o invejar. Ele passou a mão pelos cabelos escuros desarrumados e sorriu para mim, fazendo-o parecer bem mais novo.

Eu deveria ter medo dele, certo? Dele, de Annice e de meu pai. Mais vendo ali a preocupação deles eu simplesmente não conseguia. Tentava ver a maldade que tanto perturbava Ethan e tudo o que eu encontrava eram pessoas diferentes, assim como eu.

E se fosse verdade? Se aquelas sombras não fossem Darks? Ou, pelo menos, Darks normais? Isso os fazia menos maldosos?

Isso os faria bons?

Isso me faria boa?

“Ethan não sabe disso.”, Dimitri disse. “Por quê?” eu perguntei incomodada.

“Ele saiu da comunidade Carmim antes que a história dos Renegados se espalhasse. Além disso, achávamos que era apenas uma lenda. Só que depois de saber que você foi perseguida por eles...”, Dimitri pausou e balançou a cabeça, parecendo pesaroso. “A Rainha vai pirar com isso.”

“Ela não está sozinha.”, Christian disse e me apertou mais contra si. “Jordana é minha filha também. Drake será seu guardião Dark. Onde ela precisar, ele estará.”

Drake tinha os olhos fixos em mim e enquanto eu tentava localizar meus pulmões. Mordi os lábios, sendo atingida pela profundidade de seus olhos. Tentei explicar isso a mim mesma. Isso era só por estar tão triste e ferida. E por Drake ser tão bonito. Desviei meus olhos de volta para Christian que sorriu e me deu um beijo na testa.

“Esse papo está fúnebre demais para mim.”, Annice disse se levantando da mesa. “Tio, está escurecendo e é melhor deixa Jordana em casa.”

“Jordan.”, a corrigi automaticamente.

“É melhor deixar a Jordan em casa.”, ela repetiu. Então olhou para Dimitri. “Pode assumir seu posto daqui bonitão. Temos que voltar para nossos ''caixões''.”, ela riu. Então seus olhos escuros se iluminaram, quando se lembrou de algo. “Prima, não se esqueça do meu aniversário de 18 anos nesse final de semana.”, ela pousou uma mão no peito de Dimitri e deu um meio sorriso. “Você também está convidado, Dimitri.”

O rosto de Dimitri ficou cor de rosa e ele limpou a garganta umas duas vezes.

“Eu estarei onde Jordan estiver.”, ele respondeu.

“Então te vejo logo.”, ela piscou e se virou para Drake. “Vamos? Mesmo tendo sido transferido para a nova Princesa, você ainda é meu guardião provisório e me deve atenção, Drake.”, ele bufou e revirou os olhos. “Não revire os olhos para mim, mocinho. Você é meu e dela até que me arranjem outro guardião.”

“Vamos embora, Annice.”, Drake disse a segurando pelo antebraço e puxando-a para fora da sorveteria.

“Não se esqueça da minha festa prima.”, Annice gritou enquanto era arrastada para fora. “Você também, Dimi.”

Assim que a porta se fechou, escutei meu pai rindo. Dimitri riu em seguida, mesmo eu desconfiando que o riso fosse nervoso. Mesmo não estando com humor para rir abertamente eu dei um sorriso e senti meu coração um pouco mais leve. Aquela era a família que eu tinha. Christian levou a mim e a Dimitri até o carro. Dimitri esperou do lado de dentro, deixando a mim e ao meu pai sozinhos. Christian me abraçou.

“Tenha cuidado, minha filha.”, ele sussurrou e beijou o topo da minha cabeça.

Eu terei pai.

Se não for demais, mande lembranças minhas a sua mãe. Faz um longo tempo que não a vejo, mas tenho certeza que continua linda.

Ela é linda.

Assim como você, Jordana.

E como você, pai.

Separamos-nos e ele sorriu. Então cumprimentou Dimitri com um aceno e meu guardião retribuiu. Não vi onde ele tinha estacionado o carro, mas observei Christian se afastando lentamente de nós. Então rezei para que não fosse a última vez que o visse e me segurei para não correr atrás.

*******

Dimitri me deixou em casa, em silêncio. Não que ele estivesse incomodado, era eu que estava pensativa demais. Se nós trocamos dez palavras foi muito.

Ele me deixou na porta de casa, e sorriu dizendo que me buscaria cedo para amanhã. Estava com a mente tão distante que tinha me esquecido que amanhã seria o dia crucial.

O dia em que veria Ethan novamente.

Eu não sabia se estava pronta. Só de imaginar aqueles olhos verdes senti minhas pernas ficando bambas e tive que me sentar no sofá e respirar fundo algumas vezes. Fiquei com os olhos presos na lareira a minha frente observando a chama crepitar e suspirei cansada. Gemi massageando as têmporas.

“Tudo bem, filha?”

Levantei os olhos para minha mãe observando-a descer as escadas. O vestido branco fluía por seu corpo e os olhos estavam fixos em mim. A testa um pouco franzida, parecendo preocupada. Ela veio me estudando de cima a baixo e se sentou ao meu lado, também olhando para a lareira. Ela suspirou e deu um sorriso triste.

“Como foi o dia com seu pai?”, ela perguntou.

Arregalei meus olhos para ela, e então relaxei os ombros. Não deveria me surpreender. Era a única garota do mundo que não teria vida particular. Meu pai leitor de mente e minha mãe que via o futuro. Mas, algo me surpreendeu. Pisquei algumas vezes e mordi o lábio, hesitante.

“Pensei que os poderes Carmim não funcionassem com os Dark.”, eu disse.

“E não funcionam.”, Rose riu. Seus olhos escuros oscilaram para mim e ela sorriu. “Mas nenhum Carmim ou Dark, teve uma ligação tão forte quanto eu e seu pai.”

“Tá bom.”, levantei minhas mãos e as balancei no ar. “Não quero saber disso.”

Minha mãe riu.

“As vezes esqueço que crianças dessa idade já sabem demais.”, ela soltou mais um riso. Fiz uma careta por ser chamada de criança. “E como está Christian?”

“Bem.”, eu sorri. Parecia que as crianças eram meus pais. “Ele te mandou lembranças e me deu um guardião de presente.”

“Passam-se os anos e ele ainda me surpreende.”, Rose balançou a cabeça. “Quando nos encontrávamos, ele levava o guardião e o fazia dar uma volta com a minha acompanhante. O guardião nunca ficava mais de dois minutos com ele sem reclamar, era engraçado.”, ela sorriu, então estalou a língua. “Eu me lembrei!”, virou seu corpo para mim, os olhos brilhando em empolgação. “Fim de semana que vem irei fazer uma festa para te apresentar para a Sociedade Carmim.”

“Eu pensei que tinha que ficar escondida.”, juntei as sobrancelhas, confusa.

“Cansei de te esconder, Jordana.”, ela pegou minhas mãos. “Você é linda e é uma princesa. Tem que ser apresentada a Sociedade. Logo fará 18 anos e talvez conheça seu grande amor.”

“Eu já conheço.”

“Querida...”

“Eu já sei, mãe.”, me levantei soltando minhas mãos. “Vou dormir, tenho aula amanhã.”

“Boa noite, querida.”, ela disse enquanto eu já me afastava. “E pense no que te falei.”


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Comentem!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Sociedade Dark" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.