Sociedade Dark escrita por Nynna Days


Capítulo 2
Capítulo 1




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Capítulo 1

Dois meses.

Um período tão curto para algumas pessoas, mas uma eternidade para mim. Encarava o teto sem graça do meu quarto na comunidade Carmim, e deixava minha mente vagar pelas lembranças da noite mais cruel da minha vida. Fechei meus olhos com força, sentindo as lágrimas caindo por meu rosto. Sabia que aquela dor era inevitável, mas isso não a fez menor e nem mais suportável.

O buraco em meu coração parecia eterno e eu esperava que fosse. Aquele sofrimento era a única prova de que Ethan não havia sido em sonho. Minha mão se fechou em meu peito enquanto eu sentia a dor me absorvendo lentamente. Faziam dois meses que Ethan me olhou com desprezo. Dois meses que ele se afastou como se eu fosse a coisa mais repugnante do mundo. Dois meses que ele se assustou como se meu sangue pudesse infectá-lo.

Suspirei, me levantando da cama. Os finos lenções de seda mal fizeram barulho quando me remexi neles. Meus olhos oscilaram para a sacada de meu quarto. Algumas vezes, quando a esperança voltava a se instalar dentro de mim, eu ficava olhando para o jardim, inclinada da sacada , esperando ver os lindos olhos verdes de Ethan. E quando encontrava o nada, criava um nó em minha garganta que me impedia de gritar.

Sentada na penteadeira, me permiti voltar exatos dois meses. Comecei a passar a escova por meu cabelo negros, maquinalmente. Meus olhos cinzas vazios. Em minhas bochechas, deslizavam lágrimas solitárias. As lembranças já faziam parte de minha rotina. Mas, rever aquela mesma cena não a fazia menos dolorosa. Quando fechava meus olhos, quase conseguia escutar as palavras de Ethan com perfeição.

Você...Você não pode ser. Isso não existi.”

Se eu fosse uma garota inteligente, teria dito que ele tinha razão. Teria dito que Dimitri apenas tinha me encontrado na estrada. E que Nara tinha tirado conclusões precipitadas. Mas, antes que eu tivesse a chance de fazer algumas dessas loucuras, a compreensão havia tocado a sua mente. O porque dele não conseguir controlar minha mente. O porque de Christina poder ver meu futuro. O porque daquelas sombras estarem atrás de nós dois. E, o motivo de nossos sentimentos confusos e mútuos.

Ele deu um passo para trás, os olhos arregalados e o dedo apontado para mim, como uma acusação. Mesmo sabendo que era errado, dei um passo em sua direção. No meu intimo, tinha uma esperança que ele dissesse que não ligava para o que eu fosse. Que me amava pelo o que eu tinha sido com ele e não pela minha genética. Mas, era esperar demais de Ethan. Ainda mais naquele momento tão delicado.

Quero dizer, a poucos minutos atrás, ele estava lutando por nossos amor. E agora, eu podia jurar que ele estava se arrependendo de ter pedido a verdade. Eu também preferia viver no escuro. Mas, até quando. E se nos casássemos e tivéssemos filhos? E se um deles lesse mentes. Abri minha boca, para tentar argumentar, sendo que Ethan foi mais rápido.

“Não diga nada.”, ele berrou. Seus olhos verdes raivosos. Os punhos fechados e os músculos tensos, como se ele pudesse me bater caso eu me aproximasse. Talvez ele me batesse mesmo. “Não quero escutar mais nada. Você é...”, ele pausou, me olhando de cima a baixo com nojo. Tremi e as lágrimas saíram de meus olhos com mais força. “Você é um monstro. Uma mentirosa. Brincou comigo. Brincou com Christina.”, seus olhos se arregalaram mais uma vez. “Era isso que Nara estava tentando me dizer quando você a esfaqueou.”, acusou.

“Ethan, me escute, por favor.”, implorei, desesperada.

Ele balançou a cabeça com força, fazendo com que alguns fios loiros quase parassem em seus olhos. Eu adoraria tirá-los, mas plantei meus pés com força no chão, impedindo que me aproximasse. Pelo canto do olho, vi Dimitri andando até nós. Ele deveria ter sentido o perigo. Qualquer criança poderia sentir a tensão que estava ali. Voltei a olhar para Ethan, que ainda me encarava com raiva e nojo.

“Nunca mais chegue perto de mim novamente.”, ele passou a mão pelos lábios com força e cuspiu no chão. “Tenho nojo de sua raça. Dark.”

Minhas pernas cederam e eu caí ajoelhada no chão com o impacto das palavras. Ethan nem me deu um segundo olhar e se afastou. Dimitri o fez parar por um segundo. Ethan abriu a boca para dizer algo, então balançou a cabeça e continuou seu caminho.

Se Dimitri não me ajudasse a levantar, eu estaria chorando, ajoelhada no chão até agora. Ele pôs um braço meu em volta de seus ombros e me pegou nos braços. Afundei meu rosto em seu peito e continuei chorando por todo caminho até em casa. Em todo momento as palavras dele voltavam a minha mente com força, como uma enorme placa de neon.

Tenho nojo de sua raça. Dark.

Bateram na porta, me acordando de meu desvaneio. Demorei um segundo para pegar o pensamento de Dara. Ela entrou em silêncio e se pôs atrás de mim. Não me virei, encarando-a através do reflexo do espelho. A pele escura, os grandes olhos negros. O cabelo cacheado sempre preso em um coque perfeito. O vestido branco perfeitamente alinhado. Dara era uma curandeira, assim como Dimitri.

Uma vez a perguntei se eles conseguiam curar doenças. Então Dara me contou que eles, os curandeiros, só podiam curar ferimentos superficiais, ou até mesmo quase cegueiras como a minha. Tanto que eu raramente usava óculos na Sociedade Carmim. Sempre tinha um empregado que se dispunha a curar meus olhos momentaneamente.

Dara caminhou até mim e eu fechei os olhos, sentindo seus dedos por cima de minhas pálpebras. Ás vezes, quando eles estavam fazendo isso, essa cura, me sentia um pouco culpada. Como se estivesse abusando deles. Mas minha mãe contou que eles se ofereciam para fazer isso por conta própria. O formigamento começou e rapidamente terminou. Seus dedos se afastaram e eu abri os olhos, vendo seu sorriso satisfeito através do espelho.

“Obrigada, Dara.”, agradeci.

“Não foi nada, Princesa.”, ela fez uma pequena mesura.

Por hábito, fiz uma careta. Mesmo estando a dois meses naquela mesma rotina, ainda não estava acostumada com as pessoas me chamando de princesa. Na verdade, não gostava.

“Sua professora particular chegou e está te esperando na sala de jantar.”, Dara me informou.

Essa era outra coisa que eu não gostava. Quando me mudei para o castelo da Sociedade Carmim, me preocupei com meus estudos. Mas Dimitri fez questão de deixar claro que eles estudavam em casa. Era um pouco estranho. Sempre fui acostumada a ser invisível e de repente, era o centro das atenções. Dara se mexeu, esperando uma resposta minha. Tentei fazer minha melhor expressão de dor e coloquei as mãos em minha barriga.

“Não me sinto bem hoje, Dara.”, gemi. Não era tão difícil fingir a dor quando ela realmente existia. “Dispense a professora e peça desculpas.”

Dara assentiu, mesmo não estando muito convencida e saiu do meu quarto. Minha mãe, ao final da mudança, resolveu que alguns dos funcionários deveriam saber o que eu realmente era. Mas, apenas os que ficariam mais próximos de mim. Alguns aceitaram, outros tiveram que engolir. Minha mãe não toleraria preconceito comigo. Dara era uma das pessoas que sabiam de mim. A professora que me dava aula, também.

Dimitri achava minhas aulas engraçadas. A professora sempre tinha que manter sua mente ocupada para que eu não visse as respostas. Era um pouco desconcertante para ela. E incomodo para mim. Apenas Dimitri se divertia. Bateram mais uma vez na porta, e dessa vez captei o pensamento de minha mãe antes que ela abrisse a porta.

“Matando aula novamente, Jordana.”, ela brincou.

Me levantei da penteadeira e a abracei. Era incrível que, com quase 38 anos, minha mãe ainda pudesse se comportar como uma adolescente. Uma vez, depois de me retirar da janta, ela colocou uma música alegre e começou a rodopiar pela sala, como em uma valsa. Eu voltei porque tinha esquecido meus óculos, e então me peguei encantada com sua dança. Era parecia uma criança em uma parque de diversão.

Nós duas tínhamos feito um trato. Ela não ficaria olhando meu futuro, se eu não fuxicasse sua mente. O mesmo servia para Dimitri. Ele frequentemente pensava em Christina e ficava envergonhado com a possibilidade de eu ver sua vida pessoal. Rose pegou minha mão e nos sentamos na cama. Seu rosto estava sério enquanto ela me estudava. Com a mão livre, ela limpou o rastro de lágrimas de minha bochecha e suspirou.

“Querida, eu sei que está sendo difícil, mas foi o melhor.”, ela disse.

Eu não sabia do que ela estava falando ao certo. Poderia ser de Ethan. Poderia ser de minha mudança. Poderia ser dos outros segredos que ainda me rondavam. Ficar presa naquele castelo não era minha opção. Rose achava que era melhor me manter protegida ali, assim ninguém poderia testar seus dons em mim pela curiosidade de descobrir o que eu era.

Eu apenas assenti para ela.

“Tomei uma decisão ontem.”, ela começou a acariciar meus cabelos lentamente. Sorriu por um momento quando percebeu o quão parecidas nós éramos. Esperei. Ela olhou em meus olhos cinzas. “Você vai voltar para a escola.”

“O quê?”, dei um salto da cama.

“Será melhor, querida.”, Rose tentou argumentar enquanto eu analisava a possibilidade de estarem controlando a mente dela. “Além disso, Dimitri estará com você. E vocês estão tão próximos esses meses...”

Ela deixou a frase em aberto, mas eu entendi as intenções por trás de suas palavras. Comecei a rir, como não fazia a um bom tempo com aquela hipótese maluca. Eu e Dimitri? Juntos? Não, muito obrigada.

“Mãe, eu e Dimitri somos apenas amigos.”, esclareci.

“Eu sei que são, meu amor.”, ela também se levantou e pousou uma mãe em meu ombro. Um pequeno sorriso nos lábios. “Estou apenas dizendo que daqui a algum tempo vocês dois poderiam...”

“Continuar amigos.”, terminei sua frase e ela deu de ombros.

Então, me soltou e começou a voltar seu caminho até a porta, enquanto eu pensava na mãe maluca que eu tinha. Quero dizer, eu e Dimitri? Não. Nunca. Meu coração só tinha um dono, mesmo ele o negando. E com Dimitri era o mesmo. Esses irmãos Ramirez, sempre nos complicando. Rose parou, lembrando de outra coisa.

“Oh, sim. Saia, hoje querida.”, ela sorriu. “Sua madrinha deve estar com saudades suas.”

“Sério?”, perguntei emocionada.

“Claro.”, ela disse, mas levantou um dedo em aviso. “Só tenha cuidado e não chegue tarde.”, então deu de ombros mais uma vez. O sorriso aumentando. “Dimitri estará te esperando lá em baixo.”

“Mãe...”

“Até mais, querida.”, ela fechou a porta.

******

Eu e Dimitri estávamos no carro em silêncio. A estrada em direção a civilização era longa. Tinha uma certa tensão entre nós dois. Quando nossos olhares se encontravam , ele bufava e passava a mão pelo cabelo enrolado. Ele sempre fazia isso quando estava nervoso. Enquanto eu tinha as bochechas coradas e minha mão brincava com a ponta de minha blusa azul. Até que eu decidi dizer algo.

“Dimitri?”, o chamei.

“Sim.”

Ele não tirou os olhos da estrada, o que me deixou mais apreensiva. Tudo culpa de minha mãe e suas insinuações. Arg!

“Minha mãe disse alguma coisa sobre nós dois?”

“Tipo o quê?”

Ele também não estava facilitando.

“Tipo eu e você juntos.”, falei de uma vez.

Dimitri meu olhou pelo canto, sério, enquanto eu esperava a resposta. Alguns segundos de tensão, e ele me avaliando. Até que ele soltou o ar e começou a rir. Como sempre, não pude deixar de rir de volta. Ele desacelerou o carro e pôs uma mão em meu ombro, ainda sorrindo. Então eu soube que estava tudo bem.

“Loucura, certo?”, eu perguntei.

“Super loucura.”, ele respondeu. “Somos quase irmãos. Irmãos com problemas com irmãos. Sua mãe é louca por achar que podíamos ficar juntos.”

“Ela é mãe, eu entendo.”, dei de ombros. “Mas é um pouco embaraçoso saber que ela disse isso para você. Quero dizer, eu ainda amo Ethan. Mesmo ele sendo um idiota preconceituoso, não consigo esquecê-lo.”

“Sei bem como é isso.”, ele suspirou. Ficamos mais alguns segundos em silêncio, até que ele sorriu, parecendo um pouco envergonhado. Imaginei que ele me contaria o que minha tinha dito. Ou algo pessoal de minha vida que me fazia menos atraente. “Jordan, vou precisar sair hoje. Tenho que ir a sua escola pegar meu uniforme.”

“Tudo bem.”, sorri, aliviada. “Me deixe na casa de Megan e pode ir.”

“Tem certeza?”

“Claro, Dimitri.”, pus uma mão em seu ombro. “Não se preocupe. O perigo começa segunda.”

“É verdade.”, ele assentiu parando em frente a casa de Megan. Antes de sair, a olhei reconhecendo cada detalhe da construção. Meu coração deu um solavanco de reconhecimento e eu sorri, me sentindo inteira. Me sentindo em casa. “Passo aqui as seis, certo?”

Assenti, saindo do carro, os olhos ainda presos na casa. Se eu pudesse, me ajoelharia e beijaria a entrada. Mas era muita falta de higiene. A lua da varanda estava acesa, mesmo ainda sendo de tarde. Megan deveria estar com visitas. Isso me intrigou. Meg nunca recebia ninguém em casa. Nem Dean ia na sua casa.

Me abaixei, pegando a chave de baixo do tapete de boas vindas e abri a porta. O fluxo de conversa cessou no segundo que atravessei a porta. Fiquei tensa. Olhei para sala, vendo Megan e mais dois homens. Um deles estava sentado no sofá. Os cotovelos nas pernas e as mãos cruzadas na frente do rosto. Os olhos cinzas sérios, me olharam de cima a baixo, e um sorriso apareceu em seus lábios. Os cabelos loiros e a pele pálida, o faziam parecer um anjo. Ainda mais com a incrível beleza.

Ao lado dele, só que em pé, tinha uma garoto. As mãos cruzadas nas costas e o rosto sério. Os olhos azuis fixos no vazio. Os cabelos escuros bagunçados e a jaqueta de couro jogada em seu ombro. A pele bronzeada me fez questionar se ele era desse estado. Ele não deveria ter mais de dezenove anos. Ele nem oscilou seu olhar para mim.

Os olhos azuis de Megan se arregalaram de culpa e suas bochechas coraram. Ela se levantou para poder me abraçar, mas eu a ignorei. Os olhos fixos no anjo loiro. Eu já o tinha visto em algum lugar, mas não conseguia me lembrar onde. Arfei quando a revelação bateu contra mim com força. Me virei, encarando Megan com raiva.

“O que ELE está fazendo aqui, Megan?”

Escutei-o levantando do sofá e voltei a encará-lo. Encarar Christian Dark. Meu pai. Ele cruzou os braços e começou a andar na minha direção. Como é que eu não vi mais nenhum carro na entrada? Os olhos cinzas de Christian eram quase como um espelho dos meus. Mas os dele pareciam tão mais brilhantes. E os cabelos loiros tão bonitos.

Ele sorriu e pude escutar Megan suspirando atrás de mim. Se a situação não fosse tão tensa eu riria do efeito que meu pai tinha nas mulheres. Pude ver o garoto moreno se desencostando da parede e parando a dois passos atrás de Christian. Ele descruzou as mãos das costas e segurou a jaqueta, descontraído. Bufei.

“Tão bonita quanto sua mãe, Jordana.”, Christian disse e estendeu uma mão para me tocar. Dei um passo para trás, me afastando.

“Jordan, é o seu pai.”, Megan disse. Talvez ela pensasse que eu não soubesse.

“Eu sei.”, a informei. O garoto ergueu uma de suas sobrancelhas escuras. Cruzei meus braços, imitando meu pai. “Finalmente me encontrou, não é Rei Christian? Suas sombras finalmente fizeram o trabalho delas.”

Isso fez seu rosto alegre se tornasse confuso. Isso me deixou confusa também. Esperava uma risada do mal e ele dizendo que eu era dele por direito. Mas, quando entrei em sua mente, só consegui ver que ele estava comparando minha beleza com a de minha mãe. E as palavras confusas também. Ele realmente não sabia das sombras.

É, eu não sei.

O quê? Como você está em minha mente?

De quem você acha que herdou os poderes?

O meio sorriso voltou aos seus lábios e ele tocou meu cabelos, hesitantes.

Iguais ao de Rosemary.

E seus olhos.

Infelizmente.

Christian suspirou, lamentando e soltou meu cabelo. Megan parou ao meu lado, colocando um braço em volta dos meus ombros. Ela percebeu que o momento de tensão havia passado. Mas, ainda havia uma dúvida em minha mente.

“Como eu vou ter certeza que você não colocou aquelas sombras atrás de mim?”, perguntei estreitando os olhos. “Quero dizer, eles eram Darks Rastreadores e ...”

“Eles não eram Darks Rastreadores.”, meu pai corrigiu rapidamente. “Pelo menos, não Darks Rastreadores normais. Ou meus.”

“Por que eles não era Darks Rastreadores?”

Foi a vez do garoto de olhos azuis responder. Ele deu um passo a frente, mostrando um pouco da sua autoridade. O rosto sério deu lugar ao um sorriso semelhante ao que meu pai estava a segundos atrás. Minhas bochechas ficaram rosas. Jurei que ele piscou para mim, antes de dizer:

“Porque eu sou um Dark Rastreador.”


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Notas finais do capítulo

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