Megan e Christina se entreolharam e voltaram a me olhar. Aquelas loiras estavam escondendo alguma coisa de mim. Me sentei no sofá ao lado de Chris e afundei meu rosto em minhas mãos. Tantas coisas passando por minha cabeça ao mesmo tempo. O jeito que Ethan me dispensou, depois o efeito que Drake causou em mim com aquele beijo, o modo como Ethan me olhou quando jogou na minha cara que eu menti e o olhar gélido de Drake na minha direção.

“Eu iria perguntar se você está bem, mas pelo gritos que eu escutei, seria idiotice”, Christina disse. Eu a encarei e levantei uma sobrancelha. Ela apenas deu de ombros. “Você quer que eu pergunte, por educação?”

“Esqueça a educação, Christina.”, Megan disse se levantando e me abraçando. Ela pôs um braço em torno dos meus ombros e eu me aconcheguei nela, suspirando e segurando as lágrimas. “Querida, vai ficar tudo bem.”

Mesmo Megan dizendo aquelas palavras com firmeza, eu sabia que era mentira. Porque, o buraco em meu peito não poderia ser fechado com tanta facilidade. Na verdade, eu nem sabia se ele poderia ser fechado. Um vento frio bateu em meu rosto e fez o buraco mais vívido. Meus olhos arderam, mas eu não me dei ao luxo de chorar por uma causa perdida.

Encarei Christina. Ela tinha os olhos verdes fixos em mim, sérios, e a boca pressionada em linha reta. Eu sabia que ela queria defender, mas ao mesmo, queria dar uma coça nele. Mordi o lábio e abaixei os meus olhos. O abraço quente de Megan, fazia o buraco ficar menos perceptível. Fechei os olhos por um momento e me arrependi.

Um misto de lembranças tocaram a minha mente. A primeiras vez que Ethan pôs aqueles malditos e maravilhosos olhos verdes em mim. O modo como sua mente era um total silêncio para mim, ao contrário dos pensamentos de Christina e Megan que pareciam vitrolas que não paravam de chiar em minha mente.

Como Ethan poderia me enganar por todo esse tempo? Não. Risque isso. Como eu pude me iludir por tanto tempo? Sabia que eu amava um homem com a mente fechada. Que não aceitava meio termo. Era preto no branco. Nada de cinza para o senhor Ramirez, obrigada. Mas, quando nos encontramos novamente no começo dessa semana, eu só pude pensar que estava recomeçando. Só que Ethan não estava disposto a esquecer e recomeçar.

Drake, por outro lado, seria, sim, um recomeço. Eu nunca tinha escondido nada dele. Nossas conversas sempre foram abertas. Dizia e repetia sobre os meus sentimentos por Ethan, só que nunca tinha comentado nada sobre os meus sentimentos por ele. Porque eu não tinha sentimentos.

Ele era bonito? Sim. Seria hipócrita que dissesse que não. Mas, depois daquele beijo. Meu corpo ainda estava formigando nos lugares que Drake tinha encostado. E meu coração estava frio, pelo olhar gélido dele na minha direção. Eu não queria que Drake ficasse com raiva de mim. Não ele.

Lembrei de quando ele me levou ao seu esconderijo. Tinha sido naquela semana? Parecia que faziam anos. O jeito como nós dois deitamos de ficamos conversando sobre o passado dele. O ódio que carregava o nome de Ethan em seus lábios. Eu sabia que se ficasse com Drake, nunca poderia tocar no nome de Ethan. Mas o jeito como ele me olhava, fazia tudo valer a pena.

Pensei em Annice. Será que ela realmente ainda gostava de Drake? Afinal, ele tinha dito que tinha sido apenas um beijo. Mas, entre mim e Ethan tinha sido apenas poucos beijos. Duvidava que tinham chegado a dez, na contagem geral. Parei, contando mentalmente. Não, não chegavam a dez.

“Jô, fale conosco.”, Christina pediu. Seu corpo inclinado para frente e as mãos cruzadas no joelhos. Ela pôs uma mecha de seu cabelo loiro e curto atrás da orelha e suspirou. “Acho que deveríamos lhe dar um tempo, mas estou com medo de te deixar sozinha depois de...”, ela pausou e pareceu pensar em uma palavra leve. “tudo isso”, ela disse lentamente.

“Mas, eu acho que ela está precisando mesmo de um tempo”, Meg disse e me segurou pelos ombros. “O que você quer, querida?”

Eu pensei. Então, quando a resposta verdadeira surgiu em minha mente. Eu não queria ficar sozinha. Eu não queria chocolate ou sorvete. Eu queria... minha mãe. Meus olhos se encheram de água e eu desabei, vendo o quão dependente eu me tornei das pessoas ao meu redor. Megan me abraçou com mais força e meus soluços se tornaram cada vez mais alto.

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“Oh, querida. Eu sinto muito”

Minha mãe veio como um raio na minha direção, assim que Dimitri abriu a porta de casa. Eu senti o cheiro doce que saía do cabelo dela e suspirei. Ela me abraçou mais forte, e mesmo sendo quase do mesmo tamanho, pude deitar minha cabeça em seu ombro.

Me sentia destruída. Me sentia partida e desolada. Menos abandonada. Olhei naqueles olhos escuros que tanto poderiam ver a minha alma e suspirei novamente. Engoli mais uma rodada de lágrimas e mordi os lábios. Rose sempre disse que, se Ethan realmente gostasse de mim, não iria ligar para o fato de eu ser meia Dark. O sangue que corria em minhas veias, nunca cegou o amor que minha mãe tem por mim, mesmo ela sendo a Rainha dos Carmim.

Por um segundo, eu odiei o destino. Ele tinha que colocar Ethan tão perto de mim, sabendo que eu não iria conseguir mantê-lo. Eu sabia que Dimitri ainda estava na porta, nos observando. Em sua mente, um fluxo incansável de xingamentos. Eu estava cansada. Nem parecia que eu tinha dormido. Mesmo parecendo loucura, eu tinha pouco tempo para ficar em casa. Iria me encontrar com Christina no shopping dali a poucas horas.

“Eu-eu estou bem”, disse me separando de minha mãe e limpando o rastro de lágrimas que se forçou em minha bochecha. Minha mãe estreitou os olhos. Não, você não está. Ela deixou transparecer. Escutei o bufo de Dimitri. “Ok, estou destruída, mas será que isso poderia ficar só em mim? Não quero que essa dor passe para vocês. Não merecem.”

“Jordana, eu sou sua mãe.”, Rose disse pondo as mãos na cintura. Revirei os olhos com o momento filme estelar. “Sei que não está bem e não adiantar fingir que está. Maldito dia em que eu disse para você voltar para a escola. Não deveria ter escutado seu pai...”

“Meu pai que me quis de volta na escola?”, eu a cortei.

Rose pôs as mãos na boca com os olhos arregalados, como se tivesse falado demais. Seu rosto corou e ela abaixou os olhos. Escutei a porta sendo fechada lentamente e os passos decididos de Dimitri parando atrás de mim. Franzi o cenho, confusa. Pensei que meus pais não se vissem a um bom tempo. A não ser que eles não tivessem se visto. Só se falado.

“Mãe”, eu disse em um tom ameaçador, vendo que ela desconversaria.

“Desculpe, querida.”, minha mãe disse, vendo que não havia outra alternativa além de me contar a verdade. “Seu pai queria te ver. E se você continuasse estudando aqui dentro, ele não poderia fazê-lo. Então ele me pediu para colocá-la de volta na escola. Eu hesitei. Não queria que saísse debaixo dos meus olhos, mas aquele irritante do Rei Dark me chamou de mesquinha super protetora...”

Ela pausou e seu rosto ficou ainda mais vermelho. Vi os lábios de Dimitri pressionados em uma linha reta, prendendo o riso. E olhando para minha mãe, passando as mãos pelos cabelos e o rosto vermelho de raiva, também tive que prender o riso. Ela parecia uma adolescente. Ainda mais pelo seu tamanho.

Não consegui ficar com raiva dela.

“Tudo bem, mãe.”, pus uma mão em seu ombro e ela se acalmou. “Você fez isso para o meu bem.”, vi Dimitri assentindo com a minha boa escolha de palavras. “Eu também queria conhecer o meu pai. E como os Darks não podem entrar aqui sem ter uma grande confusão, acho que me colocar de volta na escola foi a opção certa.”

E olhando para Dimitri e lembrando de todos os momentos engraçados que eu tive essa semana, eu tive certeza. A melhor coisa que tinha me acontecido, foi ter voltado a minha antiga vida humana.

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“Essa blusa vai ficar perfeita em você, Jô”

Chris colocou uma blusa cor de rosa claro em frente ao meu corpo e sorriu. Eu revirei os olhos e empurrei a blusa para longe de mim. Estava bem com as minhas roupas simples. Blusa de calça fina azul, calça jeans e botas de montaria. Meu cabelo estava preso em um rabo de cavalo e eu tinha passado um pouco de blush na bochechas para dar vida a minha “cara pálida”

“Você é bastante chata quando está confusa com as atitudes do meu irmão.”, Chris cruzou os braços e devolveu a blusa para o seu lugar na loja.

Pegou minha mão e me puxou para lanchonete. Com espanto, percebi que era o mesmo lugar que nós sentamos quase três meses atrás, quando não sabíamos nada sobre nós duas. Sorri e Christina, parecendo notar a mesma coisa que eu, gargalhou. Prendeu uma mexa de seu cabelo loiro atrás da orelha e largou as sacolas na cadeira do lado.

“Está na hora da conversa séria, não é?”, ela perguntou. Eu a encarei. Ela revirou os olhos verdes e cruzou as mãos na mesa, inclinando seu corpo mais para frente. Fixou o olhar em mim. “Você e Ethan...”

“Olha, Christina, eu não quero mais falar sobre Ethan por hoje, pode ser?”, eu a cortei.

“Ok”, ela levantou as mãos como se rendesse. Então mordeu o lábio inferior e suspirou. E eu soube que ela não tinha acabado de falar. “Só deixe falar mais uma coisa?”

Bufei.

“Mesmo se eu disser não, você vai falar, não é?”, eu levantei uma sobrancelha.

Chris riu.

“É incrível como você me conhece.”, ela respirou fundo e ficou séria de novo. “Ethan não é uma pessoa má. Ele só está com medo. Nunca sentiu algo tão forte quanto sente por você. E antes que você pergunte como eu sei, sou a gêmea dele.”, ela pausou por um segundo, esperando que eu absorvesse as palavras. “E antes que você diga que eu o estou defendendo...”, ela pausou novamente parecendo procurar as palavras certa. “Depois do que ele fez dois meses atrás, eu não tinha esperanças de vocês ficarem juntos.”