Parados na calça na frente da escola, estavam os 11 meio-sangues que antes estudavam no colégio interno. Felizes por finalmente estarem longe daquele lugar, mas ao mesmo tempo preocupados com um possível ataque de Cronos ao Olimpo, eles esperaram lá em pé.

Para deixar a situação mais dramática ainda, começou a chover. Rodrigo soltou um suspiro pesado e irritado.

- Mas que droga... – Reclamou ele. Nina olhou para ele, e lembrou-se do sonho que tivera com Hades.

- Seu pai... – Ela deixou escapar, e Rodrigo olhou para ela. Nina acabou falando – Seu pai foi capturado.

- Ahm? – Rodrigo franziu o cenho sem entender do que ela estava falando.

- Eu vi... Cronos se levantou, invadiu o palácio dele e jogou Hades no Tártaro. Ele agora domina a morte. – Contou Nina.

- O que?! – Disse Rodrigo achando que tinha ouvido errado. Ele negou com a cabeça – Você ficou maluca? Meu pai é fodão. Ele não ia ser preso por causa...

- Do titã mais poderoso de todos? – Completou Nina.

- E esse seria o mesmo que parece uma múmia no momento? – Rebateu Rodrigo. Nina ergueu os braços em sinal de rendição, mas cheia de sarcasmo.

- Não sei. Está falando do titã que você acordou, e que agora vai provocar o fim do Olimpo e um final apocalíptico para a população mundial? – Perguntou ela.

- Pelo menos assim as coisas vão ter mais graça. Eu não gosto da população mundial mesmo. – Rodrigo deu de ombros irritado com Nina e com todo mundo.

- Então você não se arrepende de ter acordado Cronos?! Seu idiota! Você fez ele se levantar e não está nem aí?! – Reclamou Nina com raiva. Rodrigo estava tão irritado quanto ela, e isso era nítido para todos os outros naquele momento.

- Sabe o que eu tinha vontade de fazer? Ir até o Olimpo nos últimos segundos dele, parar na frente de Zeus e falar “Você se ferrou. Não devia ter nos descartado”. – Falou Rodrigo com raiva – Eu não quero ver o meu pai preso, mas caso isso realmente tenha acontecido, eu quero que o resto do Olimpo se ferre. Principalmente o seu pai.

Nina estava prestes a bater no Rodrigo, quando Bia a segurou.

- Parem com isso os dois! – Reclamou ela – Vocês realmente acham que isso vai levar á algum lugar? Nina, não adianta se estressar e fazer brigas entre nós. E Rodrigo... Zeus não nos descar-.

- Não?! – Berrou ele interrompendo Bia. Outra coisa extremamente nítida naquele momento, era como Rodrigo estava com raiva, ódio, fúria, rancor, e tristeza ao mesmo tempo. Seus olhos estavam um pouco úmidos e seu rosto ficou vermelho – Você é muito burra, sabia?! Ele nos descartou agora e nos descartou antes também. Todos eles!

- O que? Claro que não. – Disse Flávia negando com a cabeça.

- Jura?! Então porque você passou 16 anos sem conhecer o seu pai?! – Berrou ele com raiva. Flávia tentou responder, mas estava hesitante e incerta.

- Por que... Por que o papai não queria que eu... Ele... Ele estava ocupado e... – Flávia foi interrompida.

- Ocupado por 16 anos?! – Questionou Rodrigo.

- Dane-se isso, seu otário! – Exclamou Mariana – Eles precisam de nós agora, por isso deixa a porcaria do seu sentimentalismo para depois.

- Ah, eles precisam de nós agora?! Eu precisava deles antes! Eu precisava de alguém para me falar a verdade, e para me tirar dessa porcaria de escola, mas ninguém fez isso por mim! – Berrou Rodrigo revoltado e depois olhou para Nina – E eu aposto que nenhum dos outros Deuses fez alguma coisa pelo meu pai!

- Mentira. – Negou Nina – A Perséfone tentou ajudar.

Rodrigo deu um tapa na própria testa.

- Oh, não! Jura?! Se a esposa dele não ajudasse, quem mais ia?! O seu pai? – Rebateu ele.

- A culpa não é minha se você é um traidor lesado, que prefere ficar chorando e reclamando do que seguir em frente. – Retrucou Nina, e aquilo foi um pouco pesado demais. Pois no momento seguinte, Rodrigo chutou a mala da filha de Zeus com raiva.

- Segue em frente você! – Exclamou ele – Para mim já chega.

Rodrigo virou as costas e foi embora. A chuva batia forte contra ele, mas isso não o impediu de continuar andando.

- Rodrigo... Rodrigo! – Chamou Bia – Rodrigo, volta! Para com isso!

Ele não respondeu. Continuou andando até sua imagem se tornar só um ponto borrado no meio da escuridão. Nina não se sentiu tão culpada, mas foi alvo de todos os olhares.

- O que foi agora? Vão dizer que a culpa é minha? – Perguntou ela irritada – Se ele quer dar uma de revoltadinho, ele que se dane.

- Nós vamos nos danar, sua otária. – Disse Mariana – Temos que ficar juntos, ou você é lesada demais para entender isso?

- Ah, cala a boca, Mariana. – Reclamou Nina – Você só sabe reclamar também.

- Eu fui descartada? – Perguntou Flávia em um tom triste. Eles reviraram os olhos um tanto desanimados.

- Não. Nenhum de nós foi. Esquece isso, Flávia. – Disse Natália

- Ahm... – Amanda murmurou um tanto incerta, e todos olharam para ela – Para onde nós vamos agora que estamos livres?

Ninguém sabia.

Rayssa entrou novamente na lanchonete onde Marcos trabalhava, com dois motivos. Um, ela queria fugir da chuva. Dois, ela queria dar as ótimas notícias para o meio-sangue.

- Eles voltaram! – Exclamou Ray para Marcos. Já estava de noite, mas por causa da chuva o local estava quase vazio. Marcos ergueu seus olhos azuis para ela e franziu o cenho.

- Como é que é? – Perguntou ele sem entender.

- Eles voltaram! Estão de volta! – Exclamou Ray animada – Os 12 meio-sangues estão de volta!

- Eles chutaram a bunda dos novos 12? – Quis saber Marcos animado.

- Ahm... Não. – Negou Ray. Marcos revirou os olhos.

- Ah, você é muito inteligente mesmo, hein? Não está vendo que se eles não fizeram isso, não adianta de porcaria nenhuma?! – Resmungou ele.

- Cala a boca, cabeça de hambúrguer! – Exclamou Ray irritada, mas logo depois feliz novamente – Eles foram expulsos da escola! Fizeram uma rebelião com os semideuses ainda vivos, e conseguiram deixar o colégio interno para trás de uma vez por todas!

- E eles estão onde agora? – Perguntou Marcos.

- Não sei. – Respondeu Ray.

- Você tem algum parafuso a menos... – Resmungou ele – Isso não é o suficiente!

- Como não é o suficiente?! – Perguntou Ray irritada – Isso é um ótimo passo! Você é pessimista demais.

- Não estou sendo pessimista. Isso é ser realismo! – Exclamou Marcos.

- É realista, inteligência! – Rebateu Ray.

- É isso aí. Mas não adianta eles saírem da escola e ficarem por aí! Cronos tomou conta do Mundo Inferior, derrotou Hades, e com o acordo que fez com Tânatos, ele controla toda a morte. – Contou Marcos devagar para Ray entender – Ele vai avançar contra o único lugar que ainda está de pé. O Olimpo.

- E daí? – Quis saber Ray.

- Daí que nós temos o tempo como inimigo. Cronos vai derrubar os Deuses assim que tiver uma chance. – Continuou Marcos – E não podemos ficar sentados esperando por essa chance acontecer para fazer alguma coisa. E também não adianta... Se eles estiverem separados.

- Separados? – Perguntou Ray franzindo o cenho.

- Bruna está com Ártemis. – Confirmou Marcos – Não está junto dos outros, por isso não são os 12 ainda.

- Droga... – Murmurou Ray como se o caso fosse mais grave do que Marcos estava relatando – Um dos filhos de Ares disse que Rodrigo brigou com o pessoal e foi embora sozinho.

- Tinha que ser aquele animal... – Resmungou Marcos – Rodrigo sempre tem que ser o idiota.

- Não fala assim dele. – Disse Ray.

- Do traidor? – Perguntou Marcos erguendo uma sobrancelha – Ele acordou Cronos para ferrar com a vida de todo mundo e acelerar o lado dos titãs, e ainda por cima está atrasando o nosso! Eles têm que ficar juntos. Juntos. A profecia é clara. Ou isso, ou nada.

- Mas... – Ray ficou um tanto desanimada – Mas eles vão se juntar novamente, não é mesmo?

- Eu espero que sim. Eu realmente espero que sim. – Confirmou Marcos – E também espero que tirem os novos 12 do caminho.

- Eu também. – Confirmou Ray.

- Até porque eu já gastei um bom dinheiro investindo em camisetas dos verdadeiros 12 da profecia. – Comentou ele. Ray olhou-o como se fosse maluco, e ele explicou – É que eu estou cansado dessa porcaria de emprego e de ter que usar esse chapéu de hambúrguer! Eu fiz umas camisetas e vou vender para os meio-sangues por 25 dólares cada.

- Ahm?! – Exclamou Ray sem acreditar – Que tipo de camisa você fez?

- Olha só. – Disse Marcos colocando uma caixa de papelão em cima do balcão do fast food. O último cliente tinha ido embora, o que deu completa privacidade para Ray e ele falarem sobre coisas que mortais não deveriam ouvir.

Marcos pegou uma camisa branca com a frase “Mariana – Arrasa tudo. Até os crânios”. Outra marrom escrita “Mateus é Hot”. Mais uma com o desenho de corações “Rita é 10”.

- Que legal! – Exclamou Ray. Ela colocou a mão no bolso e catou o máximo de dinheiro que conseguiu – Acho que são 25... Tem alguma da Flávia?

- Aham. – Confirmou Marcos tirando uma camisa amarela com letras em preto “Flávia – Pequeno raio de Sol”. Ray entregou o dinheiro para ele e vestiu a camisa.

- Que lindo! Flávia Pequeno Raio de Sol! – Exclamou ela feliz – Tem alguma do Rodrigo também?

- Tem sim. – Sorriu Marcos mostrando a camisa preta com as letras brancas “Rodrigo, o traidor” – Eu tenho outro modelo também.

Marcos mostrou uma idêntica, só que escrita “Rodrigo – Morte ao traidor”. Ray fitou a camisa por alguns minutos, e depois negou com a cabeça.

- Pensando bem... Eu não quero nenhuma do Guigo. – Comentou ela.

- Você quem sabe, mas algo me diz que vai ser a mais vendida. – Disse Marcos. O filho de Nêmesis olhou para o dinheiro em suas mãos e sorriu – Cara... Eu realmente estou ganhando dinheiro com isso... Vou usar para algo importante.

- Para o que? – Quis saber Ray – Pagar o aluguel?

- Não. Não no momento. – Marcos colocou o dinheiro dentro da caixa registradora, e pegou um pacote de fritas gigantes para ele com um grande copo de Coca-Cola – Eu estou com fome.

Ray deu um tapa na própria testa, mas resolveu ficar quieta e ignorar a falta de cérebro de Marcos para certas coisas.