Amanda jogou em sua cama e Nina fez o mesmo. As duas estavam mortas depois de um dia de mais de 12 horas de aula, por isso não conseguiam nem mesmo fazer movimentos simples como tirar os sapatos.

- Eu vou morrer, Amandinha. – Disse Nina em um resmungo – Eu vou morrer, e sabe o que é pior?

- O que? – Perguntou Amanda igualmente cansada.

- Aquela idiota da Nicole vai rir de mim por ter morrido. – Disse Nina.

- Ela não vai nem lembrar que você morreu. – Falou Amanda revirando os olhos – Ela nem liga para a sua existência mesmo.

- Que absurdo! Eu sou a filha fodona de Zeus. Quer dizer que se eu morrer a Nicole é superior demais para notar a minha ausência?! – Perguntou Nina.

- É. – Confirmou Amanda. Nina olhou para ela, mas voltou a afundar o rosto em seu travesseiro favorito.

- Eu odeio esse mundo. – Resmungou ela.

Amanda virou o rosto para o outro lado do quarto, onde uma cama vazia estava encostada próxima á parede. A cama estava cheia de livros e mochilas que Amanda e Nina jogaram lá por preguiça de guardar, mas há poucos meses atrás ela era ocupada por Bruna.

- Aqui fica tão vazio sem a Bruna... – Murmurou Amanda.

- É. – Confirmou Nina – Ela tinha mesmo que ir com as caçadoras?! Que raiva. Ela tinha que sofrer aqui com a gente.

- Ela tinha que ter 12 horas de aula por dia. – Confirmou Amanda – E ela tinha que ficar aqui com a gente para tentar nos animar um pouco.

Aquilo era estranho, pois pela primeira vez em vários anos as coisas estavam mudando. Todos entraram naquela escola quando estavam na quinta série. Eles tinham mais ou menos 11 anos. Bruna sempre esteve lá, e eles sempre ficaram juntos.

É claro que não de cara. Por primeiras impressões, as coisas eram um tanto diferentes. Bruna empurrara Nina sem querer em uma aula de edicação física, e Nina sempre a marcara como “a garota que lhe dera um empurrão”. Natália achava todos eles um pouco estranhos. Bia era tímida demais, e só falara com Mariana.

Com o passar do tempo eles acabaram ficando juntos. O estranho, era que nenhum deles conseguia lembrar de como isso de fato aconteceu.

- Como ficamos juntos? – Perguntou Amanda franzindo o cenho. Nina olhou para a filha de Hermes, e notou que era realmente estranho de se responder.

- Eu... Cara... Estamos juntos há tanto tempo que eu nem lembro mais. – Disse Nina revirando suas memórias – Parece que eu já nasci com vocês por perto.

Amanda riu, e assentiu. Aquilo não era importante para ela. A filha de Hermes tinha outra coisa em mente.

- Nina... – Disse ela com uma voz triste.

- O que? – Perguntou ela.

- Eu não corro faz um tempão. – Disse Amanda em um murmuro triste. Nina deu um tapa na própria testa – Eu estou falando sério! Aqui não tem um campo verde para correr, e não tem quem corra comigo, e... E o Wallace brigou comigo.

- Quem é Wallace? – Perguntou Nina sem entender.

- É aquele cara chato que fica no corredor com aquela camisa amarela e reclama com todo mundo “Não pode correr no corredor!”. – Amanda imitou-o com a mão e com uma voz enjoada.

- Ahm... Você diz o monitor dos corredores? – Sugeriu ela.

- É. Esse aí. – Amanda deu de ombros.

- Ele só briga com você. – Falou Nina franzindo o cenho.

- Viu?! Isso é implicância. – Reclamou Amanda.

- Ele só briga com você, porque você é a única que corre no corredor. – Rebateu.

- Detalhes, detalhes... – Amanda deu de ombros e deitou novamente. Nina pegou o celular e digitou um número. Ela o colocou no ouvido e ouviu o som mostrando que estava chamando. Amanda franziu o cenho – Para quem está ligando?

Nina não teve tempo de responder. A pessoa atendeu.

- Alô? Mãe? – Perguntou Nina e ouviu uma resposta positiva – Mãe! Eu estou morrendo! Me tira daqui, por favor!

Nina fez uma voz desesperada, e Amanda prendeu o riso.

- Mãe, eu não preciso de escola! Eu quero ficar no Acampamento Meio-Sangue. O que? É claro que é seguro! – Exclamou Nina, mas então franziu o cenho – Que?! Ah, quem foi o miserável que te contou que não existe mais Acampamento Meio-Sangue?! Ah, foi o papai? Ahm... Ignora ele.

Nina ouviu alguns resmungos de sua mãe pelo telefone, e Amanda tentou ajudar sua amiga.

- Socorro! Acho que estou tendo um enfarto por causa do dever de Matemática! Alguém chame um médico! – Berrou ela fingindo desespero – Ah! Socorro!

- Viu?! Mãe, a Amandinha está morrendo! Eu posso ser a próxima! Você tem que me tirar da...! – Ela notou que a ligação foi encerrada – Daqui...

Nina afundou o rosto no travesseiro.

- Eu quero ir embora! – Berrou ela com raiva – Eu não aguento mais!

- Achei que fosse dar certo. – Comentou Amanda encolhendo os ombros. Ela jogou-se novamente na cama, e fechou os olhos. Nina fez o mesmo e as duas acabaram dormindo.

A noite passava, geralmente, muito rápido. De modo que quando todos eles acordavam para assistir a aula, estavam mortos de sono.

As coisas só pioravam quando eles tinham pesadelos, e dessa vez... Foi a vez de Nina. A filha de Zeus visualizava uma cena terrível. O Mundo Inferior estava como sempre, escuro, frio, terrível, e fúnebre, mas havia algo estranho.

Sua visão foi passando pelos Campos de Punição, pelo doce Elísio, até atravessar as portas do castelo de Hades. O senhor dos mortos devia estar sentado em seu trono, mas ao invés disso... Só tinha um velhinho ali.

Ele dormia com a cabeça apoiada em uma mão, o cotovelo no braço do trono, e seus cabelos brancos caindo sobre o rosto.

- Querido... Acorde. – Disse a voz de Perséfone. Ela estava um pouco mais velha desde a última vez que eles a viram, o que não devia ter acontecido. Ela era imortal, não envelhecia – Hades, acorde!

O velhinho acordou com um susto, e passou as mãos pelo cabelo se recuperando. Ele se espreguiçou um pouco, mas teve que colocar a mão rapidamente em suas costas. Uma careta de dor surgiu em seu rosto.

- Ai! Mas que droga! – Exclamou ele – Essa porcaria de trono... Lembre-me de mandar acolchoar isso aqui. Minhas costas estão péssimas...

Nina ficou um tanto chocada. Aquele era Hades? Hades?! Deus dos mortos?! Impossível. Parecia frágil e velho demais para dominar tanto poder divino. Mas... Pelo visto era verdade.

Perséfone fez uma cara de tristeza para ele.

- Você está bem? – Perguntou olhando-o.

- Eu... – Ele olhou para ela, e embora não parecesse tão bem, assentiu – Claro. Estou muito bem. Só... Só as minhas costas é que estão ruins.

- Você está ficando cada vez mais fraco. – Disse ela negando com a cabeça. Ele deu de ombros.

- Tolice. – Respondeu ele.

- Olhe para você! Parece um velho! – Exclamou ela.

- Eu tenho lá a minha idade, se você não se lembra. – Rebateu ele como se fosse absolutamente normal.

- Deixe de besteira. Já falei que você tem que pedir ajuda para os outros Deuses. Senão não vai resistir ao...! – Ela foi interrompida por uma risada irritada dele.

- Há! Pedir ajuda aos outros Deuses! Estou morrendo de rir! – Exclamou ele fingindo achar graça, mas logo mostrou sua raiva – Eu pedi ajuda á eles há mais de dois mil anos. Desde que essa maldita profecia surgiu. Desde que soubemos do poder que Cronos poderia arrumar caso levantasse, e guiasse seu exército sobre minhas terras, mas eles não fizeram nada!

- Deve tentar de novo. – Insistiu ela.

- Não vou mendigar ajuda. Além do mais... Eles estão ocupados com seus próprios problemas. – Disse Hades dando de ombros.

- Mas...! – Perséfone parou de falar ao ouvir um som de explosão do lado de fora. Hades curvou-se como se tivesse levado um soco no estômago. Perséfone viu ele ficar 10 anos mais velho, de repente.

Mais barulhos lá fora. Parecia uma grande batalha, só que não demorou muito para ela se estender até o salão de seu palácio. As portas foram ao chão provocando um grande barulho.

Hades olhou para frente, e tomou seu elmo colocando-o na cabeça. Ele tentou parecer mais forte do que aparentava.

- Como ousa?! – Rugiu ele.

Um garoto loiro de mais ou menos 20 e poucos anos entrou no salão. Estava usando uma camisa, mas seus braços estavam enfaixados, do mesmo jeito que seu pescoço e pernas. Seu rosto tinha alguns esparadrapos colados na bochecha, mas mesmo parecendo ferido, estava melhor que Hades.

- Há quanto tempo não nos encontramos, filho. – Sorriu ele. Hades trincou os dentes e fuzilou o garoto com um olhar de ódio.

- Cronos. – Rosnou ele. Hades tentou permanecer forte diante dele, mas estava extremamente fraco – O que pensa que está fazendo, papai?

Cronos riu um pouco, enquanto alguns monstros passavam pelas portas derrubadas atrás dele. Eles começaram a destruir algumas partes do salão, e Hades ficou ainda mais furioso.

- O que é isso?! Guardas! – Exclamou Hades e soldados mortos surgiram das sombras. Eles tentaram combater os monstros, mas não obtiveram sucesso – O que está fazendo?

- Estou renovando as coisas. – Respondeu Cronos com um sorriso no rosto – Ah, não leve para o lado pessoal, filho. Sabe... O mundo passou tempo demais sobre o domínio das mesmas pessoas. O Mundo Inferior ficou em suas mãos por tempo o suficiente.

- Desde que fora parar no Tártaro cortado aos pedaços? – Implicou Hades. Cronos deu um soco em uma mesa que estava ao seu lado e ela desabou no chão.

- Desde que vocês se revoltaram contra mim, mas pagarão caro pela rebeldia! – Rugiu Cronos – Hoje você perderá o controle do Mundo Inferior, e eu dominarei a morte. Meu exército se erguera infinitamente, sem nunca morrer. E é claro... Terei o imenso prazer de trancá-lo para que possa ver o espetáculo de perto.

Hades parecia ficar ainda mais fraco de repente. Perséfone olhou para Cronos com certa raiva, enquanto pensava em como poderia ajudar Hades.

- Sei o que deve estar pesando. – Riu Cronos abrindo os braços para que pudessem olhar melhor para seu novo corpo – Posso parecer um tanto enfraquecido, mas a cada passo que meu exército dá, eu ganho mais força. Ao fim do dia eles percorrerão cada parte do Mundo Inferior, e eu terei força o suficiente para subir á Nova Iorque. Aí... – Ele riu um pouco – Aí será o fim da humanidade como conhecem.

Hades empurrou Perséfone para o lado e a mandou ir embora. Ela hesitou, mas acabou sumindo. Antes que Cronos pudesse derrubar Hades, Nina acordou.

- Ei. – Disse alguém ao seu lado – Vamos... Acorda logo.

Ela franziu o cenho ainda de olhos fechados, e tentou dar um tapa em quem estava do seu lado.

- Dá o fora daqui. – Resmungou ela ainda morrendo de sono – Eu não... Quero ir para a aula.

- Não vim te chamar para a aula. – Disse a voz, mas então acabou soltando um suspiro – Connor, eu disse que elas não iam levantar.

- Travis, se elas não levantarem, nós estamos ferrados. – Disse Connor do seu lado. Travis parou para pensar.

- Podemos jogar um balde de água. Seria tão divertido... – Comentou Travis prendendo o riso. Connor fez o mesmo.

- Isso! – Exclamou animado – Sh! Faz silêncio...

- Uhm... Espera... – Murmurou Nina. Ela se colocou sentada e esfregou os olhos. Ao abri-los notou que dois garotos de cabelo castanho bagunçado estavam indo de fininho para o banheiro – Stolls?

- Ah, droga. Agora ela acorda... – Resmungaram eles revirando os olhos. Nina não entendeu praticamente nada.

- O que estão fazendo aqui? – Perguntou ela sem entender. Os irmãos Stolls foram para perto da cama novamente.

- Viemos buscar vocês. – Responderam eles.

- Uhm... Buscar? – Perguntou Amanda em um murmuro sonolento. A irmã deles estava sentada na cama morrendo de sono, mas tentando colocar seu cérebro para funcionar novamente – Por que?

Os sorriso malandros que eles esboçavam antes desapareceram de repente. Connor e Travis Stoll ficaram completamente tristes e tensos. Eles discutiram silenciosamente quem deveria dar a notícia.

- O mundo está desabando. – Contou Connor devagar.

- É a queda do Olimpo. – Completou Travis.

 Nada bom.