Era mais uma manhã de escola. Jen odiava a escola, tão cheia de patricinhas e pessoas que a chamavam de aberração. A chamavam assim por um motivo, mas ela nunca conseguiu entender o que era tão errado em observar. Não ver, mas sim observar.

Levantou-se e foi em direção ao banheiro, tomou um ducha rápida, estava atrasada, mas ainda queria comer alguma coisa. Colocou o uniforme. Como ela odiava o uniforme. Uma saia pregueada vermelha e preta, uma camisa social branca, com uma gravata preta ou vermelha. Ela escolheu a preta naquele dia, era a que ela escolhia quase todos os dias. Ela sempre estava de luto. Colocou um tênis e penteou os cabelos. Voltou ao banheiro onde fez a higiene pessoal e passou um rímel nos olhos claros. Pegou a mochila e o skate, o único meio de locomoção que conhecia que não fosse o metro e correu escada a baixo no orfanato Great Ormond Street.

- Jennifer, você tem que comer alguma coisa, querida. - Madre superior Mackenzie a chamou. Mac, como Jen havia costumado chamá-la quando era apenas uma garotinha, foi o que substituiu sua mãe quando ela fora assassinada. O mais estranho é que as duas se pareciam bastante, Mac tinha olhos tão claros quanto Jen, mas seus cabelos, agora grisalhos, já foram do mais escuro ébano. Quando Jen tinha apenas cinco anos, e os contos dos irmãos Grimm ainda eram reais, a loira chamava Mac de Branca de neve, apelido que ela ainda usava quando não havia ninguém escutando.

- Mac, - disse Jen pegando um pedaço de bolo, - tenho que correr. - Ela deu um beijo na Madre e correu porta fora, subindo no skate e indo para a escola.

Royal Elizabeth. Podia ser mais careta? Não, não podia, Jen pensou no primeiro dia em que colocou os pés lá. Isso não fazia muito tempo, ela era uma secundarista, mas se lembrava como se fosse ontem o dia em que chegou nessa escola e conheceu Madeline Covington.

Jen havia colocado o uniforme com presa naquele dia. Ia usar o skate novo que ganhara para ir a nova escola. Mais três anos, ela pensava, apenas três anos e estarei formada e minha faculdade de direito garantida. Ela chegou cedo, mas já havia muitos novatos lá dentro. Entre eles, uma garota extremamente bronzeada, com olhos verdes e cabelos castanhos.Jennifer não soube dizer o porque achou que a garota tinha um nariz empinado. Se foi pela sua atitude, ou se era apenas um defeito de aparecia. Ela se aproximou do grupo, para tentar conhecer alguém, mas a morena percebeu a loira como se ela carregasse uma placa neon.

- Ei, você. - Ela disse.

- Eu? - Jen perguntou, surpresa.

- Sim. Qual é o seu nome? - O círculo se expandiu, deixando a loira no centro, junto da morena.

- Jennifer Mars. - Jen disse, - e o seu?

- Madeline Covington. - Ela abriu um sorrio. Se, Jen tivesse ficado de boca calada, provavelmente as duas seriam grande amigas hoje, e ela seria popular e já teria saído com milhares de caras e indo em milhares de festas. Mas ela falou.

- Cancun ou Aruba? - Madeline a olhou surpresa.

- Desculpe-me, como disse?

- Suas férias, Cancun ou Aruba? Eu apostaria em Cancun...

- É bem, sim. - Madeline arqueou a sobrancelha, recém feita Jen pode perceber, e então perguntou:

- Como sabe?

- Ah bem... - Ai vinha, mais uma enxurrada de deduções, com a probabilidade de 99% de estarem corretas. - Sua pele bronzeada indica que esteve em alguma praia perto da linha do equador, sendo que essas duas sãos as únicas escolhidas por inglês era fácil saber. Alem do mais, quando eu estava chegando você deu uma leve coçado no braço o que, indicava novamente, que havia viajado para uma praia onde você precisava fazer uma vacina. A que realmente coçaria era de Cancun, caso fosse Aruba seria uma reação alérgica, logo você estaria em um hospital e não em uma escola. E se posso perguntar ainda, - Jen disse - sua poodle é macho ou fêmea?

- Como você... VOCÊ ESTÁ ME ESPIONANDO? - A morena gritou.

- Nem de longe, - a loira retrucou. - Há pelos brancos em sua meia calça, o que indica que há um cachorro, mas os pelos não alcançam mais do que o joelho, logo não é um cão de grande porte. E o preferido das adolescentes no momento são os poodles.

- É fêmea. - Madeline respondeu. - Posso saber o que mais você consegue saber sobre mim apenas me vendo?

- Não estou apenas te vendo, Madeline. Estou observando. Mas se quer tanto saber. Seus pais estão se separando, provavelmente não é uma separação amigável, você tem uma amiga que mora fora de Londres, em Canterbury e ela é sua melhor amiga ou quase isso. Você tinha um namorado, mas terminou recentemente, após a viagem para Cancun...

- Você é o que? - Disse Madeline, encarando estupefaça Jen.

- Apenas uma garota.

- Você me persegue, é uma maníaca. Uma aberração! - E com isso Madeline Covington se afastou de Jennifer. Com ela, todos os calouros da Royal Elizabeth foram juntos e a partir daquele dia Jennifer Mars ficou conhecida como aberração.

- Oi amiga. - Disse Trinity Turner, a garota que havia chegado esse ano a escola e fora excluída de cara.

Por ser negra.

Por sorte, Jen nunca foi racista e aceitou de braços abertos uma amiga de verdade. Alem do mais Trinity achava o dom de Jennifer muito engraçado e se divertia com ele.

Para aqueles que querem uma explicação mais detalhada de Trinity, ela tem cabelos encaracolados da raiz as pontas, olhos negros como uma pérola negra, um corpo de multada, que qualquer garoto desejava, mas não podia se não seria jogado para a mesa de Jen e Trinity e eles prezavam muito isso, a mesa em que comiam. Tinha lábios bem vermelhos e usava salto alto. Nunca descia do salto, bem, apenas da Educação física.

- Hey, Tri. - Jen sorriu, saindo de cima do skate e dando um sorriso a amiga. Que o retribuiu, com um sorriso pidão que Jen já conhecia muito bem.

- Você pode fazer mais uma vez? Eu simplesmente não me canso disso. - A loira iria negar, mas a mulata fez biquinho, conquistando a melhor amiga.

- Quem? - Jen perguntou, entediada. Esse joguinho era bem chato, fácil e não trazia nenhuma diversão. Ela ficava entediada.

- Pierre Russeau. O alune de intercâmbio. - Jennifer se virou para a mesa dos jogadores de futebol, olhando o francês loiro dos olhos verdes.

- Vejamos... Ele anda fumando maconha e bebendo quase todos os dias, se não todos os dias. Traiu a namorada com alguma líder de torcida, mesmo que eu não preciso desse dom estranho para saber quem foi, isso fica bem óbvio. - Trinity riu, mas Jennifer continuou. - Ele... Ele está tendo problemas com o dinheiro, provavelmente vem da droga e da bebida, anda dormindo pouco, e voltará essa semana para França pois seus pais descobriram que ele estava tento alguns probleminhas aqui.

- Bem, continuo apenas vendo, não observando com... - Mas a voz de Trinity se perdeu no caminho. Jennifer se virou para ver o problema e era o grupo das líderes de torcida, com sua grande líder idiota zumbi Madeline.

- Vejam só, a aberração fez de novo.

- Eu já pedi para você parar de falar isso Covington. - Jen disse, um pouco furiosa.

- Me obrigue, Mars.

- Você sabe que eu posso, não é? Alias vai querer estraga esse bronzeamento artificial tão de cara? - A morena revirou os olhos, dando as costas para Mars e olhando para dois homens que até então Jennifer não havia percebido.

- Bem, essa é Jennifer Mars. Não sei o que querem com ela, mas cuidado. - Holmes riu, olhando a morena nos olhos e esperando que ela saísse. Logo que isso aconteceu ele começou a encarar a mulata e a loira, surpreso por encontrar alguém tão jovem que possua sua habilidade de observar ao invés de ver.

Naquele mesmo momento o sinal soou. Jen e Trinity sorriram para os dois jovens, e belos, homens e giraram, em direção a aula de história. Jen deu dois passos até perceber quem estava ali diante dela. Ela prendeu a respiração em uma ansiedade misturada com medo e se virou para a amiga pegando o celular de Trinity e digitando uma mensagem.

“Eu vou me atrasar, não se preocupe, estarei bem.” Trinity entendeu aquilo como um: vai na frente, e seguiu o caminho, enquanto Jen tirava o skate da mochila e começava a correr dos dois detetives, para tentar despistá-los no meio das ruas de Londres.