Memórias Do Barão Sangrento escrita por Elena


Capítulo 3
3


Notas iniciais do capítulo

eu viajei e não tive como postar, mas aí está, amanhã já posto a última parte, xoxo



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Infelizmente isso não aconteceu, eu voltei e agora estou incubido da tarefa que eu mais temi, procurar Helena, tenho uma vaga idéia de onde ela está, ela sempre quis conhecer a Albânia, as florestas de lá sempre a fascinaram, talvez por aquelas florestas serem isoladas, longe de qualquer civilização, seria o lugar perfeito para se esconder, com meu cavalo eu parto o mais leve possível, tenho pressa, pois Rowena pode não resistir, com o coração dividido, entre o pesar e a euforia eu cavalgo pelos campos, repassando em minha mente todas as lembranças que eu trancafiei, aquelas que estavam relacionadas a ela, minha amada Helena.

Decidi atender ao pedido de Rowena, mais por causa de Helena do que por ela própria. Não que eu fosse ingrato para com aquela mulher que havia sido uma grande e leal amiga para mim, mas sabia que Helena nunca se perdoaria se sua mãe morresse sem que ela tivesse tido a chance de se despedir e se desculpar. Tenho certeza de que, por mais teimosa e impulsiva que ela fosse, tinha muita vontade de reatar com a mãe e o teria feito se pudesse.

Desde que a conheci tudo que fiz foi para e por ela. Nosso breve namoro pode para ela não ter passado de um passatempo adolescente, mas foi o ápice de minha existência. Posso me lembrar detalhadamente de todos os nossos encontros nos jardins do castelo, nos quais eu sempre tomava o cuidado de levar-lhe um presente e passar horas enaltecendo suas qualidades até que ela se cansasse de escutar-me. Ela reagia aos meus beijos com a mesma frieza que tinha com todo o resto do mundo e mesmo assim esses foram os melhores momentos de minha vida. Nada que eu fizesse a importava, exceto os seus caprichos que eu obedecia feliz.

A simples presença de Helena era meu sol e, por mais distante que ela sempre esteve de mim, cada segundo passado em sua companhia me era precioso como a própria vida. Está gravada a imagem dela em minha mente numa profundidade tão grande que todos os meus pensamentos acabam sempre se convertendo para a lembrança desses momentos e de como eu poderia ter agido de forma diferente e, talvez, ter mudado alguma coisa.

Posso descrever detalhadamente as tonalidades que se longo cabelo assumia sob o sol, quais flores compunham seu delicioso perfume e a maneira harmoniosa como tudo que ela usasse, por mais simples que fosse, a fazia parecer uma princesa.

Não me lembro bem de como era sentir o vendo gelado que batia em meu rosto e despenteava meu cabelo enquanto cavalgava na Albânia procurando por Helena, por um tempo que pareceu longo demais pra mim. Já nessa época eu estava bem magro e abatido, não comia nem dormia direito de tanto pensar nela… e não estava definhando apenas fisicamente, estava enlouquecido de amor!

Hoje vejo o quanto esse sentimento desesperado me custou. Se eu pudesse dar qualquer coisa, mesmo que fosse minha alma que é tudo que me resta, o faria para poder voltar atrás e devolver a vida que eu tão desgraçadamente roubei…

Nunca me esquecerei de quão bela ela estava no dia em que a encontrei na floresta, colhendo flores ao acaso. Senti-me pequeno, sujo e miserável diante de tanta beleza e infinitamente infeliz por pensar que ela não era mais minha e que talvez jamais voltasse a ser. Esgueirei-me por trás de uma moita para poder melhor observá-la, mas meu casaco ficou preso num galho de tal forma que o único modo que encontrei para me soltar foi cortando-o com meu punhal.

Quando me vi livre o barulho que fiz tinha denunciado minha localização e aquele par de olhos divinos estava sobre mim com um ar de reprovação que me fez sentir o menor dos homens.

- O que você está fazendo aqui? – ela me perguntou, com visível irritação. Naquele momento eu tive noção plena da dor que a rejeição dela me causava, era insuportável.

- Eu vim te buscar – estranhei minha própria voz, mais rouca e áspera do que me lembrava. Não a escutava há muito tempo, pois toda minha busca tinha sido no mais completo silêncio.

- Eu não vou com você – se eu não a conhecesse, diria que ela estava sentindo ódio de mim. Mas Helena era incapaz de odiar, penso que não tivesse qualquer sentimento que não fosse por ela própria. Pobre menina mimada - Nunca!

- Você não entende, sua mãe está doente…

- Eu não acredito! Ela só quer saber do maldito diadema, sempre quis saber apenas do conhecimento. Pois bem, agora o conhecimento é meu e eu não vou devolvê-lo!

- Você não pode estar falando sério.

- Mas eu estou. E, acima de tudo, não quero ir com você – ela me olhou de cima a baixo, com tanto desprezo que me causou uma forte pontada no peito. – Olhe para você, está horrível!

- Acontece que você virá comigo quer queira ou não! Jurei para sua mãe que a levaria de volta e vou fazê-lo.

Segurei-lhe pelo braço, com mais força do que deveria e ela me olhou com um misto de nojo e medo que eu não pude suportar. Eu sentia o sangue ferver quando ela me deu um tapa no rosto e sorriu com desdém.

- Prefiro morrer! – ela gritou, tentando correr para longe de mim. Aquelas palavras devastaram a minha alma. Ali tive certeza de que nunca, nem por um só instante, ela chegou a me amar.

Puxei-a bruscamente para perto de mim novamente, nossos rostos ficaram a poucos centímetros de distância. Foi quando duas lágrimas caíram do par de olhos que governava meu mundo e eu senti um líquido quente na mão em que ainda, desgraçadamente, segurava o punhal. Mil vezes maldito seja aquele punhal!

Foi preciso toda a minha coragem para olhar para baixo e ver o ferimento que eu involuntariamente causei. As flores que ela levava nas mãos caíram no chão, manchadas de vermelho. E então eu também chorei, com mais força do que jamais fizera em toda vida.

Ela desfaleceu em meus braços, a respiração se tornando cada vez mais fraca. Nunca fui muito bom em feitiços curativos e usei todos que podia, mas o sangue continuava a escorrer do ventre que um dia eu sonhei que me daria filhos. Quantos sonhos eu ousei ter! E agora eu destruía a dona de todos eles, agora eu matava meu coração e minha esperança junto com ela. Agora eu causava o desfecho trágico da minha própria historia.

Ela olhou para mim e então para o céu e aquela boca perfeita se entreabriu, mas de lá não saíram palavras, somente um suspiro fraco e triste. Deitei-a no solo e fechei seus olhos agora sem o brilho que eu tanto amava e atirei o punhal fora. Ali, deitada na relva e cercada de flores, ela parecia um anjo ferido e eu a mais desgraçada das criaturas. Mil vezes maldito seja eu!

Olhei para minha amada tentando me convencer de que nada daquilo estava acontecendo, de que ela só estava dormindo. Mas o sangue não me deixou mentir, ele estava em toda a parte, inclusive em mim. Por dentro e por fora eu era só sangue, o sangue dela.

Gritei mais desesperadamente do que pensei que fosse capaz e abracei o corpo frio de Helena, sentindo o perfume dela misturado ao cheiro de morte. Morte: era isso o que eu merecia! Matei algo tão puro que eu já não poderia ter uma vida, por mais miserável e infeliz que ela fosse.

Como eu queria nunca tê-la conhecido! Não por meu sofrimento, porque nem ao menos de sofrer por ela eu sou digno, mas para que ela tivesse sobrevivido. Sobrevivido a mim.

Helena poderia ter conhecido outro homem e sentido por ele o amor que me negou, se casado e ter tido com ele os filhos que eu tanto desejei, ter envelhecido ao lado de alguém que não era eu, e mesmo assim eu ficaria eufórico em saber que ela estava viva e feliz. Mas eu fui mau para com ela e comigo mesmo. Destruí meus sonhos e os dela, junto com toda a pureza do único, verdadeiro e avassalador sentimento que já tive.

Olhei para o lado e vi meu punhal, junto das flores manchadas de sangue. A única coisa que eu podia escutar eram as batidas aceleradas do meu coração, implorando por paz. Eu não lhe daria paz, apenas descanso.


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