Leis da Noite - Mente sobre Materia escrita por Ryuuzaki


Capítulo 15
A Primeira Noite é Inesquecivel - parte 6




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Imediatamente toda a atenção de Michael se voltou para a iguaria, não que estivesse faminto ou algo parecido, afinal, não possuía mais esse tipo de fome. O  aroma que desprendia do prato o atraía, jamais imaginara em nenhuma parte dos confins de sua mente que uma fragrância poderia ser tão sedutora e excitante, era algo que ele não poderia ignorar.



Era o cheiro do sangue. Um odor doce e sedutor que já não apresentava mais a fragrância ferrosa que outrora era aspirada pela sua antiga olfação mortal... Não... Michael agora ERA um vampiro, e o sangue, fosse o que fosse, servia como alimento, sustento e talvez amante. Um festim sangrento retirado do sofrimento alheio.

 

O jovem vampiro se inquietava em sua cadeira, era tão fraco e sua força de vontade era tão pouca que até sangue animal o levava a um estado de ânsia e fome. Michael lutava contra si mesmo, brigava contra aquele impulso dominador que o impelia a atacar.

 

Segurava-se tentando conter aquela sinistra vontade de simplesmente cair por sobre o bife, como um animal esfomeado, fazendo, sem perceber, caretas cômicas, como alguém que se segura de uma ânsia de vômito ou revoga à necessidade básica de excreção.

 

Aquele anseio bestial não sumiu, mesmo quando o garçom se afastou com rapidez do pintor, ao ver sua estranha reação, para que pudesse entregar o pedido à um homem no fundo do Winchester. Parecia que uma vez sendo percebido, o sangue não podia ser simplesmente ignorado.

 

Apenas com o tempo aquela tenra criança da noite iria aprender a ter um mínimo de controle sobre sua sede; no momento, a única coisa que pode fazer foi tentar infrutiferamente deter aquela ânsia pela vida alheia que lhe tomava o comando de suas ações. Logo estava de pé e olhando em direção à um cliente, que esperava desfrutar de sua janta sem interrupções ou criaturas sobrenaturais tentando atacar sua comida.

 

Mesmo com uma distancia maior do que dez metros, pois o bar era bem espaçoso, Michael ainda assim sentia aquele cheiro convidativo, que, mesmo sendo de animais de outra espécie que não a humana, parecia pescar-lhe todos os seus sentidos. Mal sabia o jovem que caso aqueles fluidos fossem frescos e viessem de alguém de sua raça anterior, não conseguiria se segurar, mesmo com o “estômago” cheio como estava.

 

Antes de começar a se mexer, sem ser esta sua intenção, o pintor imaginou o quão distante deveria estar do maldito sangue para que asobrenatural esfera de influência não o atingisse. Não se prendeu muito no assunto, pois, agora tentava desesperadamente controlar os próprios que o dirigiam para onde o cliente com o bife sentava-se.

 

...

 

George desfrutava distraidamente sua carne mal passada. Sair de seu trabalho, vigília noturna de um dos motéis da região, e dar uma passada no winchester para comer um farto pedaço de bife havia se tornado quase um ritual na vida daquele homem que, além de se preocupar com as contas da vida cotidiana, tinha que prestar atenção em diminuir sua massa corpórea e colesterol, algo que o médico da família sempre recomendava para o vigia.

 

Comia sem pressa, sabia exatamente o horário em que voltaria para casa e se deitaria ao lado da esposa sem nem mesmo dar boa noite. George, como muitos cidadãos do mundo globalizado, mais era controlado pela rotina do que senhor da mesma.

 

Em sua gulodice e lapso o homem gordo e porcalhão não notara de imediato o jovem de aparência mais do que desleixada que estava logo ao lado de sua mesa a encarar o prato de comida como um cão faminto ou algo parecido. Assim que percebeu que era observado, George lançou um olhar de estranheza para o rapaz, seria alguma espécie de mendigo, louco... Ou ambos? E o que diabos é aquela mancha queixo dele? Parece até que se melou comendo uma merda de espaguete... Pensava o dono do bife.

 

Logo em seguida, depois das divagações, o cliente procurou voltar sua atenção à comida, moveu seu olhar do estranho até o prato de comida e, com uma nova garfada, comeu mais um pedaço da carne que tanto atraía aquela companhia indesejada. Percebeu que ainda estava sendo, de certa forma, observado, olhou novamente para seu desafeto e, desta vez falou-lhe:

 

- Garoto, eu realmente não estou com humor para lidar com tipos que nem você então, vá embora.

 

Após ralhar com o rapaz, o vigia comeu outro pedaço do bife que havia comprado, uma parte com bastante sangue, diga-se de passagem. Sangue este, que, misturado ao molho que temperava a carne, estava bem ralo e, por causa da pressa em comer, acabou por escorrer dos lábios de George.

 


O homem, porcalhão como era, nem mesmo notou o que acontecera em meio à sua esganação, talvez guardanapo não fosse uma coisa que passasse por sua cabeça freqüentemente. Porém, algo ainda atrapalhava sua, normalmente tranqüila, refeição. O rapaz parecia realmente ter se desinteressado pelo prato de comida, agora olhava diretamente para o rosto do vigia.

 

 

- Eu não falei para você dar o fora?! – esbravejou o homem – Olha aqui garoto, eu já falei que eu não vou ficar dando atenção a malucos como você, porra! – apontou em direção ao desleixado, com o dedo indicador, bem como os outros, um pouco sujo de sangue e molho – Se você não se mexer agora mesmo, eu vou me levantar daqui e chutar...

 

 

George interrompeu seu discurso ameaçador no mesmo instante em que Michael soltou um grunhido ferino e alongava suas presas de caçador. Já não parecia um rapaz, mesmo que sua fisionomia não tenha mudado em nada, o vigia havia visto a selvageria do próprio demônio encarnada naquele rosto delicado e percebeu, neste instante, que o que tomava o rosto do desconhecido não era molho de qualquer tipo de massa, mas sim sangue, o flúido da vida.

 

 

A, naturalmente alta, pressão do homem subiu e sua vista começou a escurecer. Ninguém notou o que acontecia, pois, antes mesmo de George começar a gritar, outra banda havia tomado o palco.

 

...

 


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