Leis da Noite - Mente sobre Materia escrita por Ryuuzaki


Capítulo 14
A Primeira Noite é Inesquecivel - parte 5




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O grupo musical havia terminava uma de suas músicas, e recebia aplausos da maioria dos espectadores. Uma mulher estava ao microfone. Ela possuía uma beleza sutil, entretanto avassaladora, cabelos negros e cacheados que pareciam combinar perfeitamente com a cor morena de sua pele, decerto tinha descendência mexicana, sua estatura era diminuta, talvez não mais que um metro e cinqüenta centímetros, o que, no entanto enaltecia a fartura de seus seios, bem como de suas ancas e combinavam com seu rosto de menina.


                Com facilidade aquela beldade conseguiria um ensaio em uma revista pornográfica, agradando bastante aqueles que gostam de mulheres ao estilo petit. Suas roupas carregavam um pouco da atmosfera local, calça jeans, um apertado casaco do mesmo material, chapéu de vaqueiro, e para completar a indumentária, esporas. Tudo indicava que ela era a vocalista, mais atrás estavam guitarrista, baterista e os outros membros do conjunto, porém, ninguém conseguia sequer se aproximar do brilho da vocalista, quem dirá, escurecê-lo.

O pintor não viu nada que chamasse sua atenção, a não ser a bela cantora, que de per si era um bom motivo para se prestar atenção naquela banda. No entanto, não pretendia prestar atenção nas curvas da cantora e babar, como faziam a maioria dos machos do local, preferia prestar atenção e procurar ouvir novamente o que havia chamado sua atenção, algo que não conseguira identificar de todo.


                A moça que estava no palco, que devia ter lá pelos seus vinte e três anos, embora seu corpo não ajudasse na definição da idade, anunciou a próxima musica que tocariam: March to Destiny, fariam cover de uma tal de Dezperadoz. Ao ouvir a nova canção ser anunciada Michael fechou os olhos, gostaria de ouvir com toda a sua atenção.


               Era certo que a cantora possuía uma bela voz, uma fonação mais do que suficiente para que chegasse a ser profissional um dia, todavia, não era o que o pintor esperava ouvir... Ele achava que só em conjunto com os instrumentos que aquele efeito poderia atingir-lhe os ouvidos.

A música começava. Michael apurou seus ouvidos, tentando absorver o máximo que podia daquele som. A composição tinha um ritmo temático, voltado aos antigos filmes de faroeste macarrônico, ou Spaghetti, com Clint Eastwood. Era um bom som, no entanto, só foi algum tempo depois que a vocal começou a agir, que a criança da noite conseguiu ouvir com toda a agudez que ele achava que podia.


                Conseguiu absorver bastante da letra daquela canção, ela falava sobre um grupo de quatro cavaleiros, que iam ao encontro de seu destino e acabavam por criar certo confronto com um xerife.Uma história agradável, mas, não era para ela que a atenção de Michael se dirigia. Em certo ponto, ele percebeu que conseguia distinguir até mesmo a menor das nuances na voz da artista, bem como captar ruídos que achava serem de uma frequência que ouvidos mundanos jamais conseguiram perceber, e que tornavam toda aquela composição algo digno dos melhores músicos.
 

Ainda de olhos fechados sorriu, ao imaginar o quanto a percepção mortal era fraca e falível... Eles apenas achavam a voz da cantora bela, mas não percebiam o quão aquele padrão sonoro poderia até mesmo hipnotizar uma pessoa, se bem empregado, será que a moça ao microfone saberia o quanto sua voz poderia ser letal? O artista se perguntava se muitos cantores tinham tamanho potencial ou se apenas era aquela espécime em questão.

O grupo terminava sua apresentação e se despedia do público que agora aclamava a pequena banda. Desta vez, todas as pessoas aplaudiram de pé, ainda por cima. Os festejos agora pareciam muito mais sinceros. Talvez Michael estivesse mais certo do que pensava ao usar sua metáfora com a palavra “hipnotizar”. Mesmo com o fim da apresentação o pintor continuava com os olhos prensados, preso à sua rede de pensamentos.


               Foi surpreendido, não achava que o estilo de composição tocado pudesse ser tão belo e harmônico. Riu consigo mesmo, ao pensar que devia ser esse o motivo pelo qual os críticos da musica sempre tinham uma opinião diferente da dele... Talvez eles ouvissem as canções mais como vampiros do que como humanos... Ou, quem sabe, fossem eles mesmos mortos-vivos disfarçados.  

Abriu os olhos novamente, a claridade feriu um pouco seus olhos, havia mantido-os fechados por tanto tempo que se desacostumaram com a luz e então, Michael, melancolicamente suspeitou que cada vez mais ficaria avesso ao brilho, conforme se aprofundaria no poço negro das trevas, que era a vida vampírica. Eram esses os pensamentos que a velha conhecida voz interior falavam à sua cabeça.


                Tentou não ligar para sua imaginação, não agora, queria dar uma ultima olhada naquela suculenta vocalista, a que o havia fascinado por demonstrar o quanto a audição vampiresca era apurada. Frustrou-se ao perceber que ela não se encontrava mais ao palco, onde era o seu lugar, lá estavam apenas seus foscos companheiros, que agora arrumavam os instrumentos, para poderem finalizar a noite.


              O artista pensou em sair do local, procurar outras aventuras possíveis apenas para os seres noturnos em outro lugar, mas, exatamente neste momento um dos garçons passou bem ao seu lado, carregando uma bandeja de comida. Bife mal passado, era o que o recipiente continha.


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