Leis da Noite - Mente sobre Materia escrita por Ryuuzaki


Capítulo 16
A Primeira Noite é Inesquecivel - parte 7




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...

 

Michael quase não percebia seus atos. Após começar a ir em direção ao cliente na parte afastada do bar apenas um canto de sua mente parecia estar ligada, e esse pedaço de sua persona era totalmente instintivo, como um animal.

 

Enquanto estava naquele estado, não conseguia controlar nenhum de seus atos. Sabia apenas que buscava sangue, e que aquele homem gordo não seria empecilho para que chegasse ao seu sustento. Iria avançar naquele pedaço de carne ensangüentado no instante o qual se aproximara da mesa, mas então, conseguiu recobrar um pouco de sua consciência e refrear a sua fera interior, o que acabou por fazer com que ele ficasse parado, apenas olhando para a comida e sentindo o cheiro que o incitava a atacar.

 

Dentro de sua mente, uma verdadeira guerra acontecia, entre sua parte animal, seguindo os instintos e procurando por alimento, e seu lado ainda humano, este tentava desesperadamente voltar ao controle e evitar que algo ruim ocorresse. Não sabia porém, que havia um terceiro lado, que optava por um meio termo.


Aquele empate técnico, impasse mexicano, chame do que quiser. O importante é que aquilo perdurou. O vampiro não conseguiu suprimir a sua fera interior e tampouco deixar-se levar pelos desejos sangrentos e primitivos.

 

Mesmo com homem gritando e praguejando para que saísse, nada fez Michael pender para um dos lados. Porém, no ápice de seu irritamento, o porcalhão estendeu o braço ameaçadoramente em direção ao neófito, apontando-lhe o dedo indicador, que estava sujo dos líquidos que compunham o caldo da carne.

 

O que se sucedeu foi inevitável. Tamanha proximidade com seu alimento, mesmo que ralo e diluído, fez com que o novato perdesse as estribeiras. Em pouco mais que um segundo suas presas sobrenaturais já estavam à mostra e sua face tornara-se uma máscara de pura fúria.  Encarar o verdadeiro monstro que o espreitava com uma bela pele de cordeiro fez o homem do bife desmaiar.


 O segundo homicídio do jovem pintor teria sido consumado ali mesmo, dentro de um bar, em meio à uma multidão de potenciais testemunhas. Mas, a deusa da sorte sorriu-lhe aquela noite, e a visão do homem caindo para o lado, em direção ao piso de madeira velha e empoeirada do Winchester, fez com que o suposto imortal reganhasse sua consciência e controle de seus atos.


Assim que voltou a si Michael tratou de dar vários passos para trás, ainda não conseguia aceitar os atos derivados de sua nova natureza. Assustado, passou a mão por seus lábios e sentiu suas presas que, mesmo com a boca entreaberta como estava, deviam ultrapassar seus lábios inferiores.

 

O rapaz entrou em algo semelhante ao pânico, olhou ansiosamente para os lados, tentando descobrir se alguém havia visto o acontecido, relaxou apenas quando percebeu que ninguém olhava em sua direção; um novo conjunto se apresentava ao palco e era para lá que todos olhavam. Suspirou profundamente. Ele estava seguro, por agora, aparentemente ninguém havia visto nem mesmo o causo com o balofo, mas agora tinha que se preocupar em como fazer aqueles odiosos dentes vampíricos sumirem.


Até que não teve tanto trabalho, como achou que teria, com os seus caninos. Era tudo uma questão de imaginar com força que eles estavam normais, como os de um mortal e logo aquelas presas retráteis retornavam ao seu tamanho natural. Era verdade então, mesmo a arma mais clássica dos mortos-vivos poderia ser disfarçada perfeitamente.

 

Tudo no corpo de Michael se transformara para tornar um verdadeiro caçador em pele de cordeiro. Olhou mais uma vez para os lados, queria ter certeza absoluta de que ninguém o vira, e então se levantou, achou que era hora de aproveitar que ninguém havia visto o gordo desmaiado.


Atravessou toda a extensão do estabelecimento sem contratempos. Na verdade, duvidou sequer que havia sido notado; a nova banda havia atraído bastante atenção, talvez o estilo de música agradasse mais os clientes padrão do Winchester. Já havia tirado o peso que envolvia seu peito, o medo de ser descoberto e levado à justiça pelo quase-ataque ao homem que estava caído ao chão, com um prato de bife inacabado.


Chegando à frente da saída teve a fidúcia de que não haveria incidentes que o pusessem em perigo naquela noite e então, sem medo, continuou a andar.


Já conseguia se ver livre do lugar, nada mais o preocupava. Até que chegou a porta de vai-e-vem e a empurrou, dando então seu primeiro passo para fora do bar, neste mesmo instante, sentiu um arrepio. Algo gelado parecia subir por sua espinha, começando a viagem logo acima do cóccix, percorrendo a dorsal e acabando por terminar na base do pescoço, onde atingiu o ápice do incomodo, fazendo Michael contorcer-se por causa da sensação.

 

Ele sabia o que era, sabia o que havia sentido: Medo. Apenas não conhecia o motivo por detrás de se sentir amedrontado justo quando teve a consciência de que nada aconteceria. Olhou para os lados, procurando algo que houvesse causado aquele arrepio sobrenatural.


Nada encontrou. Resolveu acreditar que era alguma espécie de mal pressagio e saiu, andando rápido, se afastando do Winchester. Iria dar a noite por terminada e voltaria para casa, talvez fosse um aviso que tivesse abusado da sorte, ou talvez soubesse que o sol não tardaria a chegar...

                                 

                                      ...


  De dentro do bar, através das cortinas que se encontravam atrás da banda a qual se apresentava, alguém observava atentamente o vampiro, enquanto este saia. A pessoa sorria. Um sorriso malicioso, com presas ao invés de caninos,  que provocou calafrios em Michael, mesmo sem ser visto.

 

...


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