Nameless escrita por Guardian


Capítulo 2
Apenas um trabalho qualquer




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 Escuro, a mais completa escuridão. Era tudo o que havia à minha volta.

 E já que o clima era propício para metáforas, era assim que eu me sentia na maior parte do tempo. No escuro. Já fazia tanto tempo que isso acontecia, que eu nem me incomodava mais com essa sensação persistente e muitas vezes, cansativa.

 Acho que, afinal de contas, era inevitável.

 Eu estava encostado no muro lateral de um velho prédio abandonado, apenas esperando.

 Klaus havia me passado todos os dados necessários para aquele trabalho, e por enquanto cabia a mim a tarefa mais insuportável de todas: esperar.

 Eu definitivamente odiava essa parte!

 O prédio, como eu já disse, é uma construção abandonada já há alguns anos, e localizava-se em um canto esquecido na periferia da cidade. Provavelmente deve ser usado por alguns “moradores próximos” certas noites quando eles precisavam... “Espairecer” um pouco. A Irlanda pode ser um ótimo país, com elevado IDH, e o que mais que quiserem dizer para engrandecer o lugar, mas nem ela, nem nenhum outro país do mundo, estava livre de um conhecido mal: as drogas. Aqui não chegava nem perto do nível dos EUA e da América Central, mas ainda assim não deixava de ter seus próprios consumidores e traficantes.

 E era justamente um desses traficantes que eu vim encontrar aqui hoje.

 1h A.M.

 Foi a hora marcada.

 Faltavam cinco minutos agora.

 Inclinei minha cabeça um pouco para trás, fechando os olhos, para aproveitar a sensação refrescante que o fraco vento gelado da madrugada causava ao entrar em contato com a minha pele.

 Um ronco baixo e macio do motor de um carro foi tornando-se cada vez mais próximo, fazendo eu abrir meus olhos e consultar o relógio.

 Uma hora em ponto. Pelo menos o cara era pontual.

 Assim que o barulho do motor parou de se fazer ouvir, dando a certeza de que o carro havia sido estacionado, desencostei do muro e puxei o capuz do meu casaco, cobrindo-me. Este era até que discreto, considerando alguns dos meus outros, e camuflava muito bem na noite escura, assim como o resto da minha roupa. Toda preta, desde as botas até as luvas.

 Mais do que adequado para aquela noite.

 Klaus me garantiu que nesta noite o lugar estaria deserto, com exceção de mim e meu “convidado”, então não fui tão cauteloso quanto de costume ao adentrar no prédio. Mas claro, eu não era idiota de confiar cegamente naquele cara.

 Um pouco mais de liberdade não quer dizer descuido.

 Hoje podia não estar chovendo, mas lá dentro estava bem úmido, com um número considerável de poças d’água que deveriam ter se acumulado ali desde a tarde passada. Andava devagar, evitando a água, e foi no segundo andar que eu o encontrei.

 Ele não deu indícios de que tinha me visto; mantinha-se parado, apoiado em um dos muitos pedaços de pedra que por ali havia, aparentemente muito tranquilo. Já tinham tentado demolir esse lugar uma vez, há alguns anos, mas nunca chegaram a concluir o serviço. Bom, enquanto tal lugar ficasse fora da vista dos turistas, ninguém via problema em deixá-lo existindo.

 Cogitei por um momento se deveria ou não me aproximar mais dele, e acabei optando por não.

 Não queria sujar minha roupa.

 - Desculpe, o deixei esperando? – perguntei do local onde estava, a uns talvez 10 metros do cara, fazendo minha voz sair mais rouca do que o normal. Só por precaução.

 Como esperado, ele virou para minha direção, procurando a origem da voz.

 - Eu trouxe o combinado – tirou um pequeno pacote do bolso interno – Custará a quantia que eu falei por telefone.

 Ele ainda parecia tranquilo demais.

 Até o fim.

 Um tiro foi o suficiente.

 Só tinha chamado a atenção dele porque não queria acertá-lo pelas costas, por mais hipócrita que isso possa soar. Um único tiro no coração era mais do que eficiente para concluir o trabalho, e eu sempre fazia isso de frente.

 Ah, como era fácil atrair esses traficantes... Bastava fazer parecer que estava interessado em comprar um pouco e mencionar que possuía dinheiro mais que o suficiente e pronto. Nem hesitavam.

 Ridículo.

 Mas não estou aqui para avaliar quem é bom ou mau, esperto ou idiota, afinal de contas. Só estou aqui para fazer o trabalho sujo e nada mais.

 Dei as costas para o corpo agora inerte e manchado do homem e refiz o caminho para a saída. A limpeza não era responsabilidade minha; até o raiar do sol ele já não estaria mais lá, e qualquer evidência de que já esteve, também não.

 Ele podia ter sido um desgraçado ou simplesmente alguém que tinha apanhado da vida e levado a seguir esse caminho, não importa. Ele provavelmente tinha família, pessoas o esperando, objetivos a cumprir. Mas também não me importava. Eu sequer lembrava o nome dele.

 Eu não queria saber nada. Eu não precisava saber de nada disso.

 Era apenas outro trabalho qualquer.


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Notas finais do capítulo

Tá, tá, eu acho bem foda o Mello agindo como assassino de aluguel *¬*