Nameless escrita por Guardian


Capítulo 17
Não pergunte, não toque, não... Ah, esquece


Notas iniciais do capítulo

Certo, certo, sei que estou vários meses sumida dessa fic, mas em minha defesa:
1) Queria me focar em Memória, que também estava paralisada há tempos, e olhem só, deu certo! Consegui terminar, então agora posso voltar a focar só nessa ~
2) Estava absolutamente sem ideias e inspiração >
De qualquer forma!
RECAPITULAÇÃO: Mello matou uma mulher que por algum motivo conhecia ele, e após não conseguir obter nenhuma explicação com Klaus, frustrado ele volta para casa onde acontece a primeira cena de beijo dele com Mail. Tentativas de negação, Klaus descobrindo a existência de um ruivo que deveria estar morto, o drama básico das minhas histórias, e finalmente ambos meio que aceitaram a situação como ela é.
(Capítulo de transição, por assim dizer)



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- Mello...

 - Não pergunte.

 - Mello!

 - Eu disse para não perguntar!

 O loiro voltou-se enfim para o ruivo, interrompendo o caminho que fazia até seu quarto. A expressão denunciava toda a irritação além do comum que o tomava naquela noite, quase à beira da raiva, e o canivete no bolso que quase ninguém sabia que ele carregava não era um objeto exatamente bem-vindo naquele estado de humor. Mail sabia, e continuou sustentando o olhar.

 Não levou muito tempo para Mello se cansar daquela disputa visual e retomar o trajeto como se nem o tivesse interrompido; não estava com paciência para parecer calmo, muito menos para qualquer possível interrogatório.

 Claro que essa falta de paciência não sofreu nenhuma miraculosa e repentina modificação a ponto de não ficar bem pouco satisfeito com o ruivo atravessando a mesma porta apenas instantes depois dele. Aquele tempo todo trancado o tinha feito perder a noção do perigo, pelo jeito!

 - Você é surdo? – perguntou baixo, quase em um silvo. Perigoso, um aviso.

 - Se fosse, como poderia responder a isso? – Mail rebateu calmamente, e apesar das palavras, não havia nenhum resquício de sarcasmo em sua voz. Pelo contrário, seu tom soou tão despido de intenções ocultas quanto se tivesse simplesmente indagado o significado de uma palavra desconhecida em outra língua.

 E pego de surpresa por aquilo, Mello momentaneamente,  e sem intenção, deixou essa surpresa substituir qualquer outra emoção em seu rosto. Três meses haviam se passado desde o início daquela estranha convivência, e ele ainda se intrigava com a aparente ausência de noção de medo do ruivo. Hora ele agia como se pouco ligasse, em outra ele parecia sequer se dar conta da situação. Até mesmo Klaus desviava o olhar quando era encarado daquele jeito!

 E esse mínimo instante sem reação foi aproveitado por Mail para cobrir a distância entre eles, parando de frente para o loiro. Mello quase reagiu ao perceber o braço do ruivo subindo em sua direção. Apenas quase.

 Sentiu a ponta dos dedos gelados tocando a ferida em seu lábio superior, e o contato foi muito bem-vindo na região dolorida. Aliviador. Havia um pequeno corte em seu supercílio também, e logo a outra mão de Mail estava sobre o local provocando sensação semelhante.

 - Eu não ia perguntar – falou finalmente, fitando sem piscar os olhos azuis. Retirou a mão que encostava na fronte do loiro, observando com curioso desagrado a leve mancha vermelha deixada em seus dedos pelo sangue seco. Saber que aquela cor vinha do loiro não o agradava de nenhuma forma.

 - Então o quê? – o loiro indagou sem reparar que uma fina camada de algo bem próximo de tranquilidade começava a ser tecida sobre seu anterior turbilhão raivoso.

 - Não gosto dessas marcas – Mail disse simplesmente, passando levemente o dedo por sobre o lábio que começava a inchar – Não importa como as conseguiu, só queria me livrar delas.

 Três meses desde o início da estranha convivência.

 Dois meses desde o início da estranha relação.

 Nenhum dos dois tocava no assunto de forma direta, assim como ambos pararam de tentar procurar por respostas que pareciam não querer ser encontradas. As palavras eram pouco esclarecedoras, então raramente usadas; o que havia ali era um entendimento mútuo e um silencioso pedido de silêncio, como talvez a única maneira de manter tudo aquilo como real.

 Mello ergueu a mão até sua própria boca, a princípio com a intenção de afastar a do ruivo de lá, mas quando percebeu, ao invés de leva-la para longe, o que fez foi segurá-la mais próxima. Se havia algo que sinceramente não compreendia era o modo como muitas de suas reações pareciam se recusar a sair como queria quando Mail estava envolvido.

 Mello não era o tipo de pessoa que desistia de encontrar respostas, especialmente as que o atingiam dessa forma, mas já foi dito anteriormente que ele também não se encaixava no grupo daqueles que apreciavam busca-las dentro de si mesmo. Então ele preferia, ao menos em relação a esse único ponto, permanecer no não entendimento.

 Sinceramente? Havia horas que sequer se reconhecia mais.

 Mail sentiu aqueles dedos acima dos seus, transmitindo-lhes calor, e foi surpreendido pelas palavras que ouviu a seguir.

 - Uns idiotas tentaram me emboscar.

 O loiro não o olhou ao falar, e nem precisava.

 - Deviam ser bons – a voz de Mail saiu neutra, porém o tempo de convivência e conhecimento já era o bastante para o outro notar uma muito bem escondida nota de surpresa nela.

 E ao responder, ele de repente encontrou de volta sua compostura normal, não resistindo a resgatar também uma pontada de ironia – Que nada. Se eu não deixasse eles me acertarem pelo menos uma vez ia ser suspeito para quem olhasse.

 Não veio resposta. Ao invés, o ruivo desprendeu-se daquele pequeno contato e deixou o cômodo com o loiro ainda parado lá no meio. Antes que este pudesse se perguntar o que diabos aquele ruivo estava pensando ou qualquer outro pensamento semelhante, Mail retornou. Segurava uma pequena caixa branca, e ao voltar a se aproximar, fez Mello realizar o caminho até a cama bagunçada puxando-o fracamente pelo braço, apenas como um incentivo.

 Logo Mail entregava um pequeno pacote embrulhado, recheado com cubos de gelo, para o loiro e tirava um recipiente de antisséptico de dentro da caixa.

 E ao pressionar o gelo no machucado, ao sentir Mail afastando as mechas claras de sua testa para poder passar o algodão úmido e retirar aquela cor tão semelhante aos seus cabelos, Mello estava surpreso consigo mesmo. Atônito talvez fosse uma palavra melhor.

“Me deixe ver isso!” o homem disse finalmente perdendo a paciência.

 “Já disse não!” a criança gritou afastando-se mais alguns centímetros do mais velho, mancando dolorosamente e tentando cobrir com a mão o grande corte que havia na sua perna.

 “Mello!” Klaus pela primeira vez gritava com o menino, preocupado demais com o sangue que apesar de já não mais brotar do machucado ainda mantinha a agourenta mancha na pele alva, nervoso demais pela teimosia que enfrentava quando tudo o que queria era tratar daquilo antes que infeccionasse. “Vamos, me mostre para eu poder cuidar disso” falou em tom um pouco mais ameno, tentando a muito custo retomar o controle de seus ânimos.

 Mas ao invés da criança render-se e deixar o mais velho fazer aquilo, para a confusão de Klaus ela se adiantou até o moreno e com um gesto brusco pegou a maleta de primeiros-socorros que ele segurava, voltando à posição inicial com a careta de dor tentando dominar suas feições.

 “Eu não preciso, eu posso cuidar disso sozinho!” foram as palavras que seus lábios pronunciaram. Entretanto, pode ter sido apenas uma impressão devida à surpresa, mas naquele momento Klaus poderia jurar que nos pesados olhos azuis do garoto havia uma frase, talvez um complemento, que causaram um aperto em seu peito: ‘Não quero que me toquem!’.

 Klaus não o tocava. Ninguém o tocava. Ele jamais permitiu ser cuidado por quem quer que fosse. E agora... Sentia-se bem.  Bem de fato. Ao sentir a forma como as mãos de Mail faziam pressão ao cobrir o corte, no modo como o verde quase não se escondia atrás das pálpebras enquanto concentrado naquele local, como mordia o próprio lábio de um jeito que parecia que aquela visão o incomodava. Mello não acharia estranho se houvesse um espelho ali agora e seus olhos estivessem arregalados.

  “Não quero que me toquem”.

 Quando essas palavras tornaram-se mentiras?

 Sem querer seu olhar foi atraído para a caixa de medicamentos, e pela primeira vez a associou a um outro momento não tão distante de sua vida. Foi com aquela caixa que tratou do tiro que ele mesmo havia dado no braço de Mail.

 Não tinha certeza, mas lhe veio a vaga impressão de que por debaixo da compressa de gelo um mínimo sorriso formou-se em seu rosto. Escondido. Quem sabe... Quem sabe fosse algo inevitável desde aquele momento.

 ...

Hm, ridículo. Como se eu algum dia tivesse acreditado em algo como “inevitável”.

 Ridículo...

 ...

 Mas então... Por que não conseguia desfazer aquela sombra de seus lábios?

 E ela continuou lá mesmo quando Mail de repente indagou sem olha-lo nos olhos, mesmo que suas mãos já tivessem terminado o trabalho que lhes havia sido designado.

 - Por que resolveu me contar? O que aconteceu, quero dizer.

 - Eu não sei.


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Notas finais do capítulo

Não consegui me decidir se esse ataque ao Mello teria sido um grupo da faculdade invejoso ou ladrões estúpidos, mas qualquer que fosse ele teria dado um jeito xD (e teria algumas marcas pro Mail cuidar depois ~)
Mas enfim. Para quem ainda continua comigo, e para os leitores novos: é bom estar de volta *---*
Ps: capítulos quinzenais a partir de agora.



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