Nameless escrita por Guardian


Capítulo 13
Aceitar? Fugir? Enfrentar? Ou aprender?


Notas iniciais do capítulo

Itálico: flashback do Matt
Negrito: flashback do Mello
Normal: tempo presente



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“Que lugar é esse?”

 O pequeno olhou ao redor girando o rosto de um lado para o outro, bastante curioso com aquele lugar estranho que nunca tinha visto antes. Uma espécie de galpão, armazém, não sabia dizer. Só sabia que o tamanho do local, praticamente o dobro de sua própria casa, chamava sua atenção tanto quanto as estranhas imagens e desenhos que preenchiam as enormes paredes externas.

 “Quem são essas pessoas?”

 Quando olhou mais uma vez para a enorme porta de correr do lugar, viu um grupo de apenas três pessoas parados lá no meio e ao que parecia, fazendo um gesto convidando-os para entrar. O garoto não conhecia nenhum daqueles homens sérios e bem vestidos, mas parecia que era o único, porque não demorou para sentir a mão grande em suas costas, em uma ordem muda para andar até lá.

 “Pai?”

 Mail olhou para cima, mas já estavam passando pela entrada e o rosto do pai tornou-se indecifrável nas sombras do interior do lugar.

 “Isso é o suficiente, não é?”

 O pequeno achou que fosse apenas impressão, mas parecia que a voz de seu pai estava saindo mais fraca do que o normal, além de levemente tremida. Nesse ponto o ambiente quase sem luz, a aparência impecável e singular daqueles homens, o modo como eles o olhavam, parecendo até que o estavam analisando da cabeça aos pés, estavam começando a perturbar Mail.

 “É sempre bom conversar com quem sabe negociar”

 Um dos homens, o mais baixo dos três e que usava uma camisa verde-limão de gosto duvidoso por debaixo do paletó, foi quem falou com um sorriso que o garoto não conseguiu entender o que significava.

 “Espero que você seja um bom garoto, Mail”

E segurou firme o braço do ruivo, tão firme que uma marca avermelhada no formato perfeito de sua mão começou a ser formada no braço alvo e fino.

 Não deu tempo.

 Não deu tempo para o pequeno sentir o medo o dominar, porque o tempo para digerir o que realmente estava acontecendo ali não foi o suficiente antes de sentir algo com um cheiro estranho ser posto em seu rosto e sentir as pálpebras começarem a pesar teimosamente. Não deu tempo para ele olhar uma última vez para seu pai, nem que fosse para se decepcionar por este sequer procurar seu olhar. Não deu tempo para ele perceber que aqueles três não eram os únicos homens naquele lugar, que mais quatro ou cinco saíram de seu esconderijo que era a ausência de luz e também se aproximaram dele.

 Não deu tempo para ele pensar naquele momento, que não era mais uma criança como qualquer outra e que seu nome mais nada valia.

 E quando pôde pensar, concluir exatamente isso, já era tarde. Tarde demais para chorar, gritar, indagar, e principalmente, tarde demais para conseguir fugir.

“Vamos, o moleque é perfeito para o trabalho” o estranho não parava de repetir, acreditando realmente que a força da persistência era o que bastava para convencer Klaus a fazer que queria que fizesse. “É perfeito mesmo, ele está morto para todos. É o fantasma que precisamos!”

 “Eu já disse que não farei isso. Fantasma ou não, ele é muito novo! E além do mais, como esperaria conseguir convencê-lo a fazer algo assim? Caso não saiba, ele é extremamente inteligente” Klaus disse tudo um pouco mais rude do que normalmente faria, mas aquele cara já estava ultrapassando os limites de sua paciência com aquela insistência irritante!

 “Klaus, pense apenas em quantos problemas nós solucionaríamos se...” mas o homem sequer conseguiu finalizar a sentença, porque aquelas poucas palavras eram o que faltavam para atravessar os tais limites e logo estava sendo colocado para fora da casa pelo moreno sem delicadeza alguma.

 Klaus soltou um suspiro cansado e voltou para a sala onde estava antes, deixando-se cair em na única poltrona que ali havia e fechando os olhos para tudo. Céus, como aquilo tudo era cansativo!

 Não demorou muito para se dar conta que novamente não estava sozinho ali.

 - Podemos tomar uma bem gelada quando voltarmos.

 - Claro! – uma risada afetada pôde ser ouvida - Vamos fazer aquele cara se sentir arrependido por ter nos dado esse trabalho quando vir toda sua preciosa adega seca.

 O jovem rapaz esperou os dois homens se afastarem com seus comentários inúteis e desaparecerem pela dobra do corredor, antes de poder voltar a se mover. Certamente esta era a noite perfeita.

 Mail estava com 12 anos quando finalmente teve oportunidade de colocar em prática sua grande tentativa de fuga. Não que não tenha tentado nenhuma vez antes da dita cuja, pelo contrário; mas tais tentativas foram tanto numerosas quanto falhas. Na verdade, a maioria delas foi frustrada antes mesmo de terem a chance de serem postas em prática, por fatores que estavam além do controle de um adolescente.

 “Mas não desta vez. Vai funcionar, agora vai...”. Não era certeza e havia muitos “poréns”, mas era o que Mail não parava de repetir a si mesmo, porque ele precisava acreditar que daria certo, porque ele precisava tentar.

 Conferindo mais de uma vez ambos os lados do comprido corredor, atento a qualquer som que denunciasse a aproximação de alguém, o ruivo andava lenta e o mais silenciosamente possível, quase na ponta dos pés. Aquela era a hora mais propícia e ele sabia disso, mas não desperdiçaria sua tão sonhada liberdade pela ansiedade que sentia em conquista-la. O’Hare aparentemente tinha organizado algum trabalho grande para atrair um cliente importante, então pela primeira vez em meses, haveria uma quantidade mínima de seus homens na casa naquela noite, e a última coisa para a qual dariam atenção, se não se fizesse absolutamente necessário, era para um garoto que nunca se importaram de fingir que não existia.

 Mail conseguiu alcançar a porta lateral dos empregados, que dava diretamente para um isolado bosque esquecido pelo tempo, sem grandes dificuldades. Aquela era a única região da casa onde ele tinha confiança de driblar o sistema de segurança do lugar.

 O garoto correu como nunca correra antes, não se permitindo lançar sequer um olhar para o enorme casarão que deixava para trás. Apenas ao se ver suficientemente longe da construção e ao ter a certeza de que ninguém o havia visto, ou ao menos, se interessado o bastante para segui-lo, foi que ele deu permissão para suas pernas pararem de se mover. Mal podia acreditar. Estava... Estava realmente fora? Estava realmente... Livre?

“O que aquele cara falou...” o garoto loiro surpreendeu seu tutor aparecendo de repente ao seu lado e ignorando o aparente momento de reflexão no qual o mais velho estava mergulhado.

 O moreno abriu os olhos e virou-se surpreso para a criança. Era a primeira vez desde que tudo acontecera, que o ouvia dizer algo. Chegou até mesmo a estranhar aquela voz, mesmo que já a tivesse ouvido algumas vezes anos antes, quando tinha o costume de visitar a mansão dos Keehl.

 “Estava escutando?” o pensamento de que deveria adicionar um tom de desaprovação à pergunta, tal qual um responsável faria, passou por sua mente, mas a nota de divertimento saiu involuntariamente. E também, sabia muito bem que não tinha lá muita vocação para o cargo de responsável.

 “Eu vou fazer” Mihael finalizou como se nada tivesse ouvido. E não tinha mesmo, pra falar a verdade.

 “Você tem alguma noção do que está dizendo?” foram as primeiras palavras que Klaus conseguiu formular e nem ele mesmo reconheceu o timbre de sua voz quando a ouviu sair.

 “Não estava me ouvindo não?” Mihael respondeu já irritado. Vinha fazendo um grande esforço nos últimos meses para tentar sobrepor essa sua natureza impaciente, tentava ser capaz de fingir indiferença para quem sabe assim, a dor que acontecera não o atingisse com tanta potência. Não adiantava. E agora tinha acabado de encontrar, achava, um modo bem mais eficaz de se livrar dessa dor. Inesperado, mas mais do que bem-vindo. “Eu não quero saber de nada, detalhes pessoais, motivos, nada mesmo. Eu só quero que me garanta uma coisa”.

 “O quê?” Klaus ainda estava surpreendido demais para encontrar pergunta melhor. Estava mesmo ouvindo aquilo? Claro que dessa forma muitos dos problemas que tinha seriam solucionados, mas...

 “Que um dia um dos nomes que me passar será o daquele que matou meu irmão”

 E apesar da certeza de que aquela proposta estava errada, de tudo aquilo estava mais do que errado, do receio de aceitar algo daquela gravidade, Klaus sentiu enfim um pequeno sorriso erguer seus lábios ao encarar assim tão diretamente a determinação naqueles olhos azuis tão jovens. É, realmente não tinha qualquer vocação.

 A brisa fria do final de primavera batia em seu rosto como se a prova de que não era um sonho, de que realmente estava ali, sozinho em meio àquelas árvores intimidantes. Perdido, com certeza. Mas longe.

 E com esse pensamento, o alívio e o orgulho da conquista foram mais fortes do que a prudência e o medo, e Mail deixou que a risada baixa deixasse sua garganta, a primeira que se ouvia dar desde, talvez, dias antes de ver pela última vez seu pai.

 Continuou andando por mais um bom tempo conforme a madrugada avançava, mas estava se sentindo tão mais leve, que nem ligava para o tempo que caminhava ou para o lugar que estava indo. Não importava, desde que não voltasse àquele lugar.

 Era para ser a fuga perfeita.

O vento gelado era mais do que reconfortante, a escuridão o escondia e protegia. Os sons eram companheiros constantes e suas pernas não pareciam desejar parar. Era para ser perfeito.

 Nunca mais deveria ser encontrado por eles, nunca mais deveria sentir sua liberdade escapar na nuvem de fumaça que era o produto daqueles cigarros nojentos de O’Hare. Tinha planejado, tinha pensado em cada detalhe, desde como justificar sua falta de documentos a como conseguir dinheiro. Tinha pensado em tudo, menos em um único detalhe, um detalhe que era tudo, menos insignificante. Ele era um garoto de doze anos, sozinho e só com sua inteligência como aliada. Eles eram um grupo organizado com dinheiro de mais e escrúpulos de menos. E não importa o quão bem dotado intelectualmente o garoto fosse, esse detalhe não mudaria tão facilmente. Infelizmente.

 E aqui estava a mais básica diferença entre os nossos dois queridos personagens. Ambos se viram em situações fora de seu controle, ambos com o tempo aprenderam a lidar de alguma forma com a vida que levavam, mas enquanto um tentou desesperadamente fugir antes de ser obrigado finalmente a se resignar, o outro correu em direção àquilo não ligando para mais nada.

 E com isso, e mais tarde eles se dariam conta de tal fato, esse um ensinaria o loiro a temer outra vez, e esse outro ensinaria o ruivo a voltar a enfrentar.

 Mas isso era algo que não tinha como Mello saber quando enfiou depois de várias horas a chave na porta de seu apartamento, pronto a encarar as consequências daquele seu ato estúpido. 


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Notas finais do capítulo

Mil perdões pela demora imensa, não foi proposital, eu juro ó_ò Minhas férias começam hoje, então vou tentar não repetir isso, mas claro que ajuda se a adorada inspiração resolver aparecer mais vezes ¬¬ Esse capítulo inteiro eu escrevi hoje de madrugada, torcendo muito pra bateria do note não acabar já que acabar a energia em casa virou algo diário ._. E agora estou morrendo de sono *comentário inútil*
E claro, eu tenho que deixar um agradecimento enorme pela recomendação diva da AmandaLawliet *----------* Muito obrigada!
E obrigada também aos que ainda lêem ~